(Jl 2,12-18; Sl 50[51]; 2Cor 5,20—6,2; Mt 6,1-6.16-18)
Cinzas.
A Igreja nos convida a nos prepararmos
para a celebração da Páscoa com um tempo de preparação que se chama Quaresma;
na simbologia dos quarenta dias, se esconde o tempo bíblico de uma mudança significativa.
Quaresma é tempo de conversão, de traçar um outro rumo, tomar nova direção.
Isso não é simples. É preciso um tempo que nos permita amadurecer o desejo,
rever as prioridades. Eis o tempo que a Igreja nos oferece. A liturgia da
palavra começa com um convite de retornar ao Senhor feita pelo profeta, mas
onde foi que nos distanciamos? A um povo que conhece os ritos penitenciais de
uma época, ele convida à prática de exercícios que traduzam o nosso desejo de
reparação, de retorno. Um apelo a misericórdia divina ecoa no salmo que segue à
leitura. É a oração de Davi que se eleva na consciência do seu pecado. Paulo
acentua, em outro tempo, que essa reconciliação com Deus pode se dar em Jesus
Cristo. Veja que prova de amor Deus nos dá em seu Filho. Ele vem para
salvar. Feliz quem se deixa encontrar por Ele. Em Mateus recolhemos algumas
indicações que como viver esse tempo penitencial: a prática da oração, não só
em práticas externas ou comunitárias, mas na sinceridade do nosso coração e na
presença do Senhor; o jejum e a abstinência nos ajuda a retomar o controle
sobre si mesmo, o autodomínio que sempre precisamos sobre as paixões que advêm
da existência e das relações; a esmola ou a caridade nos ajuda a perceber a
necessidade do outro e a minha no desapego sobre as coisas que mais me dominam
que me servem de fato. Tudo isso praticado na presença do Senhor. Só a Ele de
fato interessa o nosso esforço de retomar a comunhão que perdemos. São apenas
indicações para o caminho, outras coisas podem fazer parte desse itinerário.
Talvez como o jovem rico, diremos: “tudo isso já tenho observado. Que me
falta?” Talvez lhe falte uma convivência melhor com a palavra de Deus; um
retorno ao sacramento da penitência; uma reconciliação pendente. Bom, você tem 40
dias para refletir e assim celebrar a Páscoa na certeza de que em Jesus, Deus
faz nova todas as coisas. Uma boa caminhada quaresmal.
Pe. João Bosco Vieira Leite