2º domingo da Quaresma – Ano C


(Gn 15,5-12.17-18; Sl 26[27]; Fl 3,14—4,1; Lc 9,28b-36).

1. Vários temas atravessam a nossa liturgia da Palavra desse 2º domingo quaresmal. O tema da oração como encontro da experiência do sagrado, do inexplicável por Abraão e pelos discípulos na montanha.
* O tema da perseverança no caminho muitas vezes difícil da vida de fé, como o foi para Abraão e para os discípulos, caminharam como se visse o invisível. No convite de Paulo aos filipenses em continuarem firmes na fé.

2. A fé de Abraão é colocada aqui em destaque na 1ª leitura. Um texto quase poético; Deus o convida a sonhar não só com a terra que busca, mas com uma grande descendência.
* Abraão acredita em Deus e em resposta Deus estabelece com ele uma aliança através de um antigo rito. O texto quer salientar a gratuidade de Deus que não exige nada do homem: apenas que seja fiel, que acredite, que persevere.
* A promessa de Deus é continuar nos amando, mesmo quando os nossos erros parecerem maiores que o nosso desejo de acertar. A resposta da fé é fundamental.

3. Paulo convida os filipenses a perseverança porque sabe que a comunidade vive a constante tentação do estilo de vida dos que não abraçaram a fé.
* Paulo pede a capacidade de lançar um olhar para além, para o próprio mistério da ressurreição do homem em Cristo. Esse mesmo mistério cujo véu levantou-se por um instante para Pedro, João e Tiago.

4. O texto traz uma carga teológica na sua elaboração. Primeiro nos indica a motivação dessa subida: orar. Foi o caminho percorrido por Cristo para entender e acolher a vontade de Deus na sua vida.
* Se assim não fosse, toda a desordem do processo da Paixão que atravessaria pareceria algo sem sentido e cruel.

5. Lucas não fala de transfiguração, mas de “mudança de aparência”. Como se a experiência de Jesus na oração o tenha levado a uma espécie de transformação do ser.
* vez ou outra o encontro de oração pessoal ou mesmo comunitário pela escuta da Palavra e pela experiência simbólica, pode mexer conosco e dar-nos um pouco mais de clareza do caminho que devemos seguir. Toda subida exige algum esforço.

6. Tanto Lucas como os outros evangelistas trazem a presença do Antigo Testamento através de Moisés e Elias numa clara afirmação de que em Jesus, toda a sagrada escritura ganha sentido.
* Por outro lado se afirma que Jesus encontrou na Palavra a força não só para vencer as tentações, mas para seguir adiante. Só Lucas afirma que eles conversavam sobre o que lhe iria acontecer.

7. Os discípulos sempre aparecem em suas reações como pouco entendedores do que acontecerá a Jesus, de sua paixão.
* A interpretação mais comum dessa ideia das tendas sugeridas por Pedro é a de permanecer ali, nessa agradável situação distante de todas as dificuldades que às vezes experimentamos individual ou comunitariamente.

8. Jesus propõe não parar, mas seguir o caminho. Mesmo experimentando a montanha, vez ou outra, ainda somos seres da planície. Constantemente puxados para baixo.
* De qualquer forma, ou outros elementos que aparecem no texto são indicadores de uma experiência de Deus, onde lhes fica claro o convite a ouvir e a seguir a Jesus.

9. Os discípulos que passaram por essa experiência, naquele momento não tinham como partilhar o que nem eles mesmos entenderam.
* Nós já fazemos um caminho na fé, experimentamos a montanha e a planície, e mesmo considerando absurda a proposta de Jesus, sabemos que nela se esconde uma vida mais plena seja aqui ou depois.

10. Viemos aqui para renovar a nossa fé, pedir forças para seguir o caminho, sem esquecermos que sempre podemos partilhar com os outros um pouco da nossa experiência pessoal e dos dons que Deus nos concedeu, até o dia em que também faremos nossa passagem e formos também transfigurados.



Pe. João Bosco Vieira Leite