1º Domingo da Quaresma – Ano C


(Dt 26,4-10; Sl 90[91]; Rm 10,8-13; Lc 4,1-13).

1. Somos naturalmente atraídos em nossa atenção para o evangelho das tentações sofridas por Jesus, de alguma forma nos identificamos com elas. Mas a liturgia da Palavra amplia nossa visão nos dizendo que a força na tentação está também na nossa fidelidade a Deus, nosso reconhecimento, nossa profissão de fé.

2. Assim podemos acolher a 1ª leitura Ela trata do rito da apresentação das primícias no templo; um ato de agradecimento nas colheitas Àquele que criou as possibilidades. Nele, a apresentação das ofertas era acompanhada com uma profissão de fé, segundo prescreve Moisés. Esses frutos não incinerados no altar, mas distribuídos aos pobres de Israel: levitas, estrangeiros, órfãos e viúvas. 

3. Não basta professar a fé, ou tão somente celebrar os ritos. Nosso reconhecimento da generosidade divina se traduz na Sua providência para com os pobres da terra.

4. A quaresma, como preparação à Páscoa traz no seu centro a fé na ressurreição de Cristo. Paulo nos convida a reafirmá-la com a boca e com o coração. Aquilo que afirmamos com os lábios deve ter produzido em nós uma vida nova, deve estar nos ajudando a ser pessoas melhores. Paulo prioriza o combate a qualquer tipo de preconceito. Professar juntos a fé nos desafia nessa busca do reconhecimento de que Deus é Pai de todos e generoso para com aqueles que o reconhecem e o invocam.

5. As tentações sofridas por Jesus parecem um pouco longe de nossa órbita comum, mas na realidade querem apenas simbolizar toda espécie de tentação que faz parte do caminho de fé. A única diferença entre Jesus e nós é o fato de não ter se deixado vencer. O autor quer deixar claro que em sua vida mortal, assumindo a nossa natureza, viveu todas as nossas experiências.

6. A tentação de levar uma vida acima dos outros mortais, a ponto de usar seu poder para saciar as suas “fomes”, livrar-se das dificuldades, não encarnar tanto assim a nossa realidade. A prioridade de Jesus era usar o seu poder em benefício dos outros e não de si mesmo. Levou seu compromisso até a cruz, até as últimas consequências.

7. Nessa breve cena está a tentação do isolamento egoísta, “dos outros que se virem”, da nossa relação com os bens materiais, do acúmulo, da exploração, da busca do prazer tão somente. Quem à luz da Palavra de Deus contrapõe a própria vida, aprende o exato valor de cada coisa e as colocas em seu devido lugar, sem idolatrias.

8. Na 2ª cena o demônio afirma seu poder sobre todas as coisas, de fato; ele serpenteia por todas as realidades humanas. Seja o saber ou a riqueza material, nos avantajamos diante dos outros. A humilhação, o controle, a agressão, a intolerância etc. São formas de domínio que às vezes não nos damos conta e ainda podemos achar que estamos servindo a Deus, quando na realidade seguimos a lógica do diabo.

9. No mundo em que vivemos, é difícil não enredar-se por certa lógica esquecidos da lógica de Jesus, reinar é servir.

10. Na terceira cena joga-se com a imagem de Deus, constantemente manipulada e desmantelada. Será que Deus é tão bom assim como dizem? Que tal testá-lo? Essa cena tem ecos na caminhada de Israel no deserto e nos seus embates com Deus. Jesus sempre se recusou a exigir que Deus mostrasse o seu poder, apenas confiou, abandonou-se em suas mãos.

11. Seria possível também a nós acreditar nesse amor mesmo quando as coisas não vão tão bem como gostaríamos? No fundo, no fundo, não estamos a exigir provas de seu amor? Há os que pulam de galho em galho em sua vida religiosa como a procurar um Deus mais “forte”, esquecidos que Jesus é nosso modelo de vida e em nada, na sua humanidade foi poupado.

12. O diabo se afasta momentaneamente, para voltar no momento de Sua Paixão. Enquanto isso, olhando para o quadro das tentações de Jesus perguntamo-nos como anda as nossas relações com as coisas, com as pessoas e com Deus.


Pe. João Bosco Vieira Leite