Terça, 8 de dezembro



Imaculada Conceição de Maria 
(Gn 3,9-15.20; Sl 97[96]; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38)

1. Esse ano a festa da Imaculada se dá sob o chamado do Papa Francisco a vivenciarmos esse Ano Santo extraordinário da misericórdia.
* Dois motivos se escondem por trás desta data: primeiramente o encerramento do Concílio Vaticano II em 1965; um abrir-se da Igreja para as novas realidades do mundo moderno; manter o diálogo e renovar as estruturas evangelizadoras e ao mesmo tempo motivar a continuidade desse processo iniciado com o Concílio.

2. Mas a celebração da Imaculada Conceição de Maria é, para nós cristãos, o início da realização das promessas divinas, onde a misericórdia de Deus se manifestou após o pecado humano.
* O autor do Gn quis deixar para nós, através de uma narrativa simbólica, como Deus, desde sempre vem em busca do homem, manifestando o seu amor incansável.

3. O autor sagrado quis lançar luzes sobre várias questões da existência humana, das relações e da sobrevivência. É um texto que vale a pena debruçar-se como reflexão e estudo.
* O trecho que nos é oferecido vem depois do pecado de Adão e Eva, da não aceitação dos seus próprios limites. Eles queriam ser como Deus.

4. A serpente personaliza a insensatez humana, as astúcias que o homem emprega para alcançar a felicidade. Em síntese, diz ele, erramos cada vez que rejeitamos a luz divina para seguir nossos caprichos.
* Enquanto não nos desfizermos dessa imagem do Deus legislador para entendê-lo como Deus amor, não compreenderemos seus mandamentos.  Só se pode confiar em Deus se estivermos convencidos do seu amor.

5. Caso contrário, tornamo-nos vítima da serpente: confiamos em nossas próprias intuições, nos nossos vãos pensamentos. A nudez é apenas símbolo de nossa condição criatural e natural que devemos aceitar.
* Desses processes humanos da fome, da dor, do cansaço, da ignorância sobre tantas coisas.  Se não aceitamos, buscamos esconder o que nos parece uma derrota.

6. A pergunta de Deus “onde estás?” é sempre atual. Pode ser que nesse momento eu não esteja onde deveria estar. Talvez fechado em meu mundinho, Deus e os outros me são indiferentes ou uma ameaça.
* A proposta de Deus, diz o autor sagrado, é colocar-nos em luta contra tudo aquilo que nos afasta da proposta divina, a vitória será de Deus, ao final; o texto nos lança ao coração do evangelho.

7. Essa vitória de Deus é cantada por Paulo já na 2ª leitura. Ele fala da nossa vocação a sermos santos e irrepreensíveis; algumas traduções trazem: imaculados.
* É sob esse título que invocamos o nome de Maria nesse dia. No projeto divino ela foi a escolhida para ser um sinal do triunfo de Deus sobre o mal.

8. Na totalidade de sua existência, suas escolhas sempre estiveram em sintonia com as de Deus. É justa a alegria de Paulo, pelos inúmeros benefícios já concedidos e por aqueles que ainda concederá.
* Sim, é verdade que às vezes a vitória em nossa vida é da serpente, são muitos os dramas e sofrimentos nessa vida, mas suas mãos criadoras ainda tecem os fios da história e nos conduzirá a vitória final.

9. Esse ano da Misericórdia tem Lucas como o grande ilustrador do rosto misericordioso do Pai em Jesus Cristo. Ele se inspira nas antigas narrativas de nascimentos extraordinários para nos dizer como Jesus entrou em nossa história.
* É Deus que mais uma vez intervém para mudar o curso, mas diferentemente das outras vezes, é seu Filho mesmo que Ele vai nos enviar.

10. Ele gosta de surpreender, e nunca se repete. Longe dos palácios reais, dos grandes heróis de Israel, ele escolhe uma virgem de um pobre e insignificante vilarejo.
* pobreza e virgindade, aqui, significam abertura, capacidade de acolhimento. Lucas terá uma predileção pelo pobre material, mas contempla também aquele que nada tem ou se esvazia para deixar-se inundar pela graça.

11. O diálogo entre Maria está repleto de referências ao Antigo Testamento, e não vou aqui entrar em detalhes. A intenção de Lucas é deixar claro que no filho de Maria, todas as profecias se realizam.
* Tudo converge para a santidade do Filho que trará em seu ventre, mas como ser inundada de santidade e não tornar-se também santa?

12. O hino de Paulo ganha aqui sua primeira fonte inspiradora. Antes mesmo de ter todas as respostas, ela resolveu confiar naquilo que Deus é capaz de fazer: “Porque para Deus nada é impossível...”.
* Maria é esse sinal de vitória que hoje celebramos. Mesmo em nossa pobreza, medo, pecados, incertezas, ele continua sendo o Deus do impossível, o Deus que nos procura: “Onde estás?”.



Pe. João Bosco Vieira Leite