4º Domingo do Advento – Ano C


(Mq 5,1-4a; Hb 10,5-10; Lc 1,39-48).

1. Miqueias é mais um desses profetas do Antigo Testamento que tem que lidar, a mando de Deus, com toda a mudança de direção de Israel dos caminhos do Senhor; ele anuncia a intervenção de Deus com um novo nascimento; humilde, como sempre foi a ação divina para mostrar o poder de Deus através da fragilidade humana.

2. O pequeno texto que nos é oferecido é um retrato perfeito de tudo aquilo que se tornou Jesus para o novo povo de Deus. Ele porta consigo a paz e todo aquele que segue sua proposta de vida encontrará a paz. Sua missão é trazer de volta ao coração de Deus aquele que dele se afastou.

3. A novidade introduzida por Cristo, para que o homem encontre a paz seguia pelos caminhos do perdão, da não violência e da renúncia ao acúmulo de bens materiais. Mas há algo mais precioso ainda que o autor da carta aos hebreus traz à tona. O dom maior da nossa comunhão com Deus é o dom de si mesmo.

4. Numa época em que ainda se oferecia sacrifícios no Templo, seja para reparação dos pecados ou por agradecimento, ele aponta para algo mais precioso e comprometedor. Muito do nosso culto a Deus corre sempre o risco de ficar na exterioridade de coisas que fazemos, sem uma autêntica adesão à vontade de Deus.

5. Se Cristo veio para fazer a vontade de Deus, sua mãe não poderia comungar de outro desejo. O texto que Lucas nos oferece é uma narrativa teológica, não um simples dia na vida de Maria de Nazaré. A saudação de Paz que Maria traz em seus lábios, conforme a tradição judaica, soa como a realização de uma antiga promessa, por isso Lucas enche seu texto de reações emocionais.

6. O diálogo entre as duas mulheres foi pinçado pelo autor de textos do Antigo Testamento, Juízes, Judite, 2 Samuel etc. Trazem o selo de um Deus que realiza grandes coisas a partir de frágeis instrumentos.  Maria não é só símbolo de um frágil instrumento, ela é também a casa onde Deus habita de um modo particular, para sinalizar um novo âmbito das relações. Chega de tendas e templos.

7. Esse é o único domingo da liturgia em que Maria é colocada no centro; mesmo quando celebramos a Assunção é apenas um deslocamento de data. É um domingo envolvido na alegria daqueles que descobriram na escuta da Palavra de Deus sua fonte de alegria e de esperança, por isso é chamada de “Bem-aventurada”.

8. Acreditar nunca foi fácil, particularmente quando se vai na contra mão de uma sociedade decadente em seus valores, insistindo na construção da paz, da não violência, do não vingar-se. Maria nos deixa a vivência e o convite a também acreditarmos na palavra de Deus. A celebração do Natal pode ser um encontro de pessoas que dão um pouco de si para aliviar o peso da vida.



Pe. João Bosco Vieira Leite