Festa da Sagrada Família – Ano C


(Eclo 3,3-7.14-17a; Cl 3,12-21; Lc 2,41-52).

1. Vivenciado esse mistério da entrada de Jesus no mundo feito criança, é natural que nos perguntemos como se desenvolveu a sua infância, como era sua convivência familiar.

2. Os evangelhos nos permitem entrever certa normalidade no modo como Jesus se insere não só na vida do seu povo, mas também no convívio familiar. Aquilo que eles não dizem ou detalham da tradição judaica nos é ilustrado por outros  textos, como do livro do Eclesiástico, cheio de conselhos valiosos e úteis para todas as situações da vida, aos quais todo bom judeu prestava ouvido.

3. Grande parte está voltada para a convivência familiar como este que aponta para a situação do envelhecer e das debilidades que traz consigo. Honrar é respeitar, reconhecer o valor e a dignidade do outro. Com a linguagem de um tempo, ele nos traz valores que são eternos e quase divinos, pois estão sob o olhar da dinâmica de um Deus que tem por princípio o cuidado com a vida.

4. Paulo vai um pouco além, pois a compreensão já avança no tempo e as comunidades cristãs revelavam facilmente a difícil, mas necessária convivência humana.  Para uma convivência perfeita, sete atitudes ou virtudes são indicadas, como uma espécie de roupa a cobrir o corpo, como Adão e Eva que se dão conta da sua nudez, não física, mas da fragilidade e pobreza humana.

5. Ao final ele lança um olhar sobre a família nesse núcleo esposos e filhos, o amor é a recomendação central que se traduz em atitudes práticas num testemunho desses novos caminhos apontados por Cristo.

6. A família de Nazaré nos é apresentada como modelo a partir dos seus encontros e desencontros, mesmo tendo a Jesus em seu meio. Lucas lança um olhar teológico sobre uma experiência vivida por Maria e José, quando pela 1ª vez levaram o filho nessa peregrinação anual a Jerusalém e na volta o garoto aparentemente se perdeu.

7. Aquele que havia sido levado ao templo ainda garoto tem a oportunidade de mais livremente andar por ele e escutar os mestres e fazer-lhes perguntas. É nisso que ele se entretém esquecidos dos pais. Quando os pais retornam e o encontram a resposta de Jesus já denuncia sua atitude, em todo o tempo, de fazer a vontade do Pai, nos diz Lucas.

8. Maria e José não compreendem, mas são tocados por essa lembrança de a quem verdadeiramente ele pertence. Mas Jesus retoma o sentido de sua convivência familiar e dela faz também a vontade de Deus.
* nesse encontro de Jesus com a cidade o Templo, se escondem, no pensamento de Lucas, todos os processos da paixão de Jesus, desse perder e reencontrar a partir da cruz e da constante releitura da palavra de Deus.

9. Às famílias ficam algumas recomendações práticas: ajudar os filhos nesta entrada no mundo religioso, na importância da Palavra e da transmissão da fé. Há muita coisa que estamos delegando a terceiros e não estão funcionando. A compreensão de sua missão de inserirem os filhos nesse campo mais amplo da vida; eles não são propriedade, o que não tira dos filhos a obrigação de escutar os pais, de honrá-los.

10. São muitos os fatos dramáticos e quase inexplicáveis que atravessam as famílias, por isso precisamos sempre nos reaproximarmos da Palavra de Deus e sob a sua luz meditar sobre tantos eventos. Com Maria também nós colocamos nesta humilde atitude de tentar entender nesse processo desacelerador que é o meditar e o refletir que podem nos ajudar a melhor entender e agir.



Pe. João Bosco Vieira Leite