(1Jo 2,12-17; Sl 95[96];
Lc 2,36-40)
Oitava de Natal
Na esteira dos encontros que nos trazem a liturgia desses
dias, João nos lembra que encontrar o Salvador traz como primeiro dom o perdão
dos pecados, aquilo que em nós é eliminado por sua misericórdia é também o que
fez com que Ele nos encontrasse: “Ó feliz culpa que nos fez merecer tão
grande redentor...”, cantaremos na Páscoa celebrando a vitória de Cristo.
Mas o Seu objetivo não é tanto os pecados em si, mas restabelecer nossa
comunhão com o Pai, revelando quem é Deus em sua origem. Ele não é indiferente,
nem um Deus dominador: ele é a origem da vida, a fonte do amor. Para ser também
nosso Pai nos enviou o seu Filho. É pelo Pai que recebemos a força de superar
todos os obstáculos, para que em nós a vida se transforme e nos permita vencer
todo mal.
Na continuidade do evangelho de ontem, “ao lado de Simeão
aparece Ana. Enquanto Simeão é descrito como homem piedoso e justo, Ana é
chamada de profetisa. A fé, como Lucas
entende, nunca é representada somente pelo homem. Ao lado do homem precisa ser
colocada uma mulher, para expressar um outro aspecto da aceitação de Jesus pela
fé. Lucas tinha descrito o homem como justo e piedoso. O caráter da mulher,
Lucas o esclarece descrevendo a história de sua vida e o que ela fazia na
época. É a arte do escritor, revezando descrição com narração. Ana passara por
todas as fases da vida feminina: virgindade, vida de esposa e de viúva. É uma
mulher orante. Ela fica constantemente no templo. E é uma profetisa. Enxerga
profundamente. Ela percebe aquilo que Deus está fazendo em Jesus. Em Jesus, a
salvação que todos os piedosos israelitas ansiavam tornou-se realidade para
todo o gênero humano. Todos serão libertados do seu cativeiro, libertados da
sua alienação. E hão de tornar-se seres livres, assim como Deus os tinha
idealizado ao criá-los” (Anselm Grun – “Jesus, modelo de ser humano” – Loyola).
Lucas conclui esses episódios da infância salientado o
crescimento de Jesus em sabedoria e graça diante de Deus, apoiado em Maria e
José e sua experiência de fé e de vida. Alguns elementos da vida comum com que
Jesus ilustrará suas parábolas nascem daí. Rezemos hoje para que nossas
famílias tenham também a estabilidade necessária, o amor e o cultivo da fé para
que possam ajudar os mais jovens nesse processo de crescimento humano e divino.
Pe. João Bosco Vieira Leite