(Is 52,13—53,12; Sl 30[31]; Hb 4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1—19,42)
Paixão do Senhor.
“Ele tomou o vinagre
e disse: ‘Tudo está consumado’. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito”
Jo 19,30.
“Esta cena da Cruz
tem um silêncio impressionante, fato consumado, agora a própria cruz tem por si
só a sua fala. O amor fala mais no impacto, no desafio, na dor. O amor só se
revela quando se entrega para que o outro comece a viver a partir dessa
entrega. Já não tinha mais nada para dar, tinha dado tudo, só faltava o último
sopro do Espírito. Mas o amor verdadeiro não termina nunca; não morre,
silencia. Quem morre por um ideal morre serenamente, com aquela tranquilidade
de quem deu o melhor de si. Não há desespero nem barulho; há aquela quietude de
mãe e pai sentados na varanda e vendo os filhos crescendo com muita luta. Quem
entrega o Espírito dá um presente vivo que renasce sempre nos outros. Não se
mata um ideal; ele renasce sempre em outra pessoa, em outro lugar. ‘Tudo está
consumado!’ não significa passividade, o desânimo de não saber mais o que
fazer; mas sim a satisfação pelo serviço prestado, pelo dever cumprido, ‘o
toque de otimista confiança do operário que realizou bem a sua obra’ (Benoit).
Morrer voluntariamente por uma grande causa é uma morte que não é morte: é
vida! Desde então a cruz revela o impacto de uma entrega total e também a calma
que passa uma vida abnegada. Aquele silêncio dos enamorados frente a um amor
que vale a pena ser abraçado, a cabeça inclinando-se para repousar no colo do
coração. – Senhor, tua cruz me revela a vida que brota dos sacrifícios
verdadeiros, daquela entrega escondida e silenciosa que fala por si só. Amém” (Vitório
Mazzuco Filho – Graças a Deus [1995] – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite