(At 4,32-35; Sl 117[118]; 1Jo 5,1-6; Jo 20,19-31).
1. O nosso evangelho de hoje se repete
a cada ano. Já fizemos algumas abordagens em torno do mesmo. Gostaria de lançar
um olhar sobre um tema que está presente no Evangelho de hoje, a presença do
Ressuscitado a partir da vida comunitária, mas que tem haver principalmente com
a 1ª leitura.
2. A cada ano a 1ª leitura do 2º
domingo da páscoa nos traz um sumário sobre a primeira comunidade cristã de
Jerusalém contido nos Atos dos Apóstolos, de autoria de Lucas. São uma espécie
de quadro-resumo, onde o autor apresenta uma idealização das primeiras
comunidades.
3. Assim, estas aparecem como sinal da
nova humanidade nascida da Ressurreição de Jesus, que confessa, anuncia e
testemunha como Filho de Deus e Senhor. Se tomados como crônica históricas,
tais sumários, o leitor atento se deparará com outras narrativas que
contradizem tão sublime imagem.
4. Assim não nos deixamos desalentar
com nossa realidade ao tentarmos viver o que nos propõe o autor sagrado. Na
realidade ele está nos propondo um desafio de viver a utopia cristã do amor
fraterno, que é uma nota essencial da doutrina de Jesus.
5. Em que consiste esses sumários que
escutamos a cada ano? Na União fraternal dos fiéis no amor; como consequência
haveria uma comunhão de bens; a experiência da oração em comum (vida
litúrgica); atividade evangelizadora e um estilo de vida que atraia outros à
mesma experiência de vida cristã.
6. Sabemos que a comunidade cristã,
mesmo as primeiras, não viveram de modo pleno o que era proposto, o próprio
livro o atesta. Na realidade, esse ideal cristão ganhou mais consistência nos
institutos de vida consagrada que foram surgindo ao longo do tempo.
7. A mensagem que nos chega de tudo
isso é que a fé no Cristo ressuscitado, quando vivida de modo pleno, deve nos
levar a uma comunhão maior no amor fraterno. O que será sempre uma exigência do
nosso ser cristão. Não somos monges nem comunistas, mas cristãos solidários que
entendem e praticam, mesmo com riscos, o mandamento de Jesus sobre o amor
fraterno.
8. Assim, toda comunidade de fé se alicerça
no anúncio de Cristo, morto por nossos pecados e ressuscitado pela nossa
salvação, centro vital da mesma. Esta se mantém na escuta da Palavra, feita em
comum, no exercício do saber aceitar-se e não somente tolerar, criando um
ambiente de carinho e respeito.
9. Comunidade de Eucaristia e de
oração, pois sem estas não pode haver comunidade, como o Cristo o foi em sua
intimidade com o Pai, em seu ser orante. No mais a comunidade é consciente de
seu papel evangelizador, no testemunho e anúncio da salvação.
10. Por isso, a Igreja, nossa
comunidade em concreto, tem que ser um sinal para o mundo como o foi Cristo:
sacramento e lugar do encontro com Deus. Grande missão, honra e
responsabilidade a nossa; tornar acreditável e eficaz a Ressurreição do Senhor.
Pe. João Bosco Vieira Leite