Quarta, 21 de abril de 2021

(At 8,1-8; Sl 65[66]; Jo 6,35-40) 

3ª Semana da Páscoa.

“Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”

Jo 6,35.

“No discurso do pão, João desenvolve uma visão própria da eucaristia. O discurso do pão só começa a fazer sentido quando o ligamos a outros textos em que João se refere à eucaristia. As bodas de Caná são um texto eucarístico. Foi por causa desse texto que os Padres da Igreja chamaram a eucaristia de baquete de núpcias que Jesus, o noivo divino, celebra conosco. Onde ele nos oferece, segundo as palavras de Irineu, o ‘compendii poculum’, isto é, o cálice da síntese em que se encontram todos os mistérios da vida e do amor de Jesus (cf. LÉON-DUFOUR, 1983, p. 344s). Na alegoria da videira (Jo 15), Jesus explica o que significa permanecer nele. Quem, como ramo, permanece na videira produz fruto em abundância. Não existe verdadeira eucaristia sem que produzamos frutos, os frutos do amor. No lugar em que os evangelhos sinóticos falam da instituição da eucaristia, João descreve o lava-pés (Jo 13). Assim, o lava-pés é também uma imagem da eucaristia. Na eucaristia, Jesus nos mostra o seu amor até a consumação. Ele nos limpa pela sua palavra e pelo amor que podemos experimentar em sua carne e em seu sangue. No lava-pés não se trata apenas de purificação, mas também da cura das feridas. Na eucaristia nos é permitido experimentar a pureza que nos vem por meio de Cristo: somos aceitos em nossa totalidade, inclusive os pés que tocam a terra e que se sujam dia após dia. Na eucaristia, Jesus inclina-se até os nossos pés, para tocar-nos onde nem mesmos estamos dispostos a aceitar-nos e onde estamos feridos. Ele cura as nossas feridas dedicando a elas carinhosamente a sua atenção. A última cena em que João faz referência à eucaristia é a refeição matinal do ressuscitado em companhia dos discípulos à beira do lago de Tiberíades (Jo 21,9-13). Eucaristia significa encontro com o ressuscitado. Na eucaristia, o ressuscitado, vindo da outra margem, entra na manhã cinzenta de nossa existência, na noite da nossa frustração, criando aí um ambiente de amor e aconchego. Além do pão, oferece também o peixe. O peixe foi visto sempre como alimento do paraíso, como comida da imortalidade. No discurso do pão, Jesus diz que aquele que come a sua carne e bebe seu sangue tem a vida eterna. Na refeição matinal com o ressuscitado, João nos dá uma ideia do sentido dessas palavras. No peixe, Jesus nos oferece o alimento da vida eterna, o alimento que nos faz participar da vida divina, imortal, imutável e imperecível do ressuscitado” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite