Sábado, 24 de abril de 2021

(At 9,31-42; Sl 115[116B]; Jo 6,60-69) 

3ª Semana da Páscoa.

“O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida”

Jo 6,63.

“Perdoe-me o leitor. A questão é muito complexa. No versículo de ontem, Jesus havia dito: ‘[...] Quem come minha carne [...] tem a vida eterna [...]’ – e agora diz: ‘A carne nada serve’. Há contradição? Paradoxo? Mudança de ênfase? Troca de figura? Ou um mal-entendido que o texto não deixa evidente? Opto pela última alternativa, pois houve certo constrangimento no grupo dos próprios discípulos. Pensavam eles num canibalismo pregado pelo próprio Jesus? Talvez. E é isso que Jesus tenta evitar. Mas aí surge outra dúvida: O que é espírito? É o Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade? Seria Ele a pessoa que, segundo as palavras de Jesus, estaria dando a vida? Ou seria Jesus em pessoa que estaria concedendo isso? Com certeza é o próprio Jesus porque foi Ele quem desceu do céu e iria voltar para lá. Logo, a oposição espírito x carne, aqui apresentada, é a oposição entre o filho de Deus, eterno, e aquilo que é passageiro, dependente. Nós, por isso, devemos crer em Jesus como Deus, como a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que assumiu a carne, que se tornou homem por causa de nós. E por essa razão, as palavras que Ele diz são espírito e vida. Palavras, evidentemente, são um meio. Elas não substituem a coisa em si, ou melhor, a pessoa. Mas as palavras, quando são verdadeiras, mantêm, com a essência da pessoa, uma identidade perfeita. No caso de Jesus, isso não poderia ser mais autêntico: Jesus = verdade = identidade. O meio, o instrumento, torna-se igual àquele que o maneja. Portanto, carne e palavra se tornam fundamentais para a nossa vida em fé. – Senhor Jesus, Tu foste nosso Salvador com a glória de ser Deus, pois desceste do céu e para lá voltaste, e com a humildade de ser carne, homem como nós, que morreste na cruz e foste sepultado. Que tuas palavras continuem a ser para nós espírito e vida em todos os momentos da nossa existência. Amém” (Martinho Lutero Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

    Pe. João Bosco Vieira Leite