Festa da Sagrada Família – Ano B

(Eclo 3,3-7.14-17a; Sl 127[128]; Cl 3,12-21; Lc 2, 22-40).

1. Dentre os valiosos conselhos que compõem o livro do Eclesiástico, boa parte se volta para as relações humanas e particularmente aquelas familiares; é preciso ter presente o tempo em que foram escritos. O mandamento de honrar pai e mãe aparece aqui esmiunçado com promessa de bênção divina. Um grande exercício de paciência se requer de ambas as partes como expressão de amor.

2. É dentro dessa linha que o pensamento paulino se serve da expressão ‘revestir-se’, para lembrar-nos que na convivência comunitária ou familiar o amor não é automático. Há um exercício do cultivo de certas virtudes que tornam possível a convivência. O que depende de você para manter essa amizade, essa convivência, essa família?

3. Não é atoa que esse texto faz parte da liturgia do matrimônio. Não basta ser batizado para ser uma comunidade ou uma família cristã. É preciso essa atenção à Palavra que Jesus nos propõe ao longo do ano em nossa liturgia ou na leitura que fazemos da Sagrada Escritura. Uma leitura atualizada às mudanças dos tempos.

4. Essa atitude de escuta fez parte da Família de Nazaré, em parte é por causa disso que a chamamos de ‘Sagrada’. Nós a acompanhamos na vivência dos ritos sagrados do seu tempo. Uma pobre família vai ao Templo apresentar seu filho e ao mesmo tempo resgatá-lo a partir de uma oferta prevista, por ser primogênito.

5. A primeira lição que recolhemos é esse dever dos pais de introduzirem os filhos nessa relação com o sagrado, do que significa ser cristão; tão importante quanto as outras coisas que fazem parte da vida e da sobrevivência.

6. Como não se trata de um menino qualquer, eis que a rotina dos pais é alterada por algumas revelações inesperadas que falam de sua missão: ‘Luz para as nações’. Como toda luz, pode ser incômodo para alguns que preferem permanecer na sombra; pela realidade materna Maria será alcançada pela própria dor do Filho.

7. Ao velho Simeão se une Ana nesse louvor dos sinais de Deus que se realizam e que faziam parte da espera do seu povo. As mudanças nas estações da vida podem nos sugerir outras atividades. O ser humano não pode ser avaliado só pela capacidade de produzir, mas também do que é capaz de transmitir às futuras gerações.

8. A Jesus, naquele exato momento de sua vida cabia-lhe a submissão necessária a seus pais. E nesses processos da vida Ele cresce em sabedoria e graça, compreendendo que o ser humano é assim: ser de relações e de constantes descobertas sobre si mesmo, sobre o mundo e das possibilidades de dar sentido à sua existência. Famílias são importantes nesse processo, ainda que a nossa sociedade decadente diga o contrário, destituindo-as de seu papel.


Pe. João Bosco Vieira Leite.