(Is 52,7-10; Sl 97[98]; Hb 1,1-6; Jo 1,1-5.9-14 [breve]).
1. O texto que abre a nossa liturgia da
Palavra soa como um eco da solenidade de ontem. O profeta sonha com um
exultante retorno dos exilados à sua pátria, como se o próprio Deus estivesse
voltando a habitar no meio do seu povo.
2. De fato, o nascimento de Jesus não
deixa de ser para nós uma expressão do amor misericordioso de Deus que volta a
dialogar conosco para entendermos a salvação que nos propõem. Assim pensa o
autor da 2ª leitura. Jesus é outro modo de Deus nos falar e não só com
palavras. Se equipara em nossa existência, num humilde abaixar-se, como um pai
com seu filho pequeno.
3. Se desdobra em comunicar-nos vida
pelos seus gestos e palavras. No resto do texto o autor sagrado se desdobra em
reconhecer o mistério de Sua divindade.
4. É em torno desse mistério do falar
divino que João abre o seu evangelho com esse poema de caráter teológico. A
origem de Jesus vista por ele não remonta ao seu nascimento, mas à Sua
existência, antes de todo o criado. Como Deus nunca falou diretamente ao ser
humano, mas se comunicou de formas diversas, Jesus é chamado de ‘verbo’,
‘palavra’ do próprio Deus, para comunicar o Seu amor pela humanidade.
5. Deus se deixa tocar em Jesus a
partir da nossa própria realidade, nos diz João de um modo singular. Se ele foi
inspiração na criação do Pai, a beleza de Deus se reflete na criação.
6. O tom mais forte dessa apresentação
é mostrá-lo como luz da verdade, ‘que vindo ao mundo ilumina todo ser humano.
Onde há muita luz, há também territórios de sombra. É incômoda a sua presença.
Em meio a alegria da revelação da Luz se instala uma tensão contínua, nesse
jogo de claro e escuro em que caminha a humanidade.
7. Se há uma escolha envolta no
presente que o mundo recebe, a palavra usada pelo evangelista é acolhimento: ‘a
todos os que a receberam, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus’.
Um novo nascimento se dá em nós se nos deixamos inundar pela Luz de Deus. Ele
veio até nós, montou a Sua tenda. Sua Palavra permanece, nos envolve, restaura
e faz renascer.
8. Natal é mais que um dia no
calendário litúrgico da Igreja. É um envolvimento com o mistério de um Deus que
se comunica de muitas formas. Numa atitude contínua de escuta e acolhimento
podemos sempre nos reencontrar com o sentido último dessa filiação a que Jesus
nos chama a viver, para sermos identificados como filhos e filhas da Luz.
Pe. João Bosco Vieira Leite