8ª Semana do Tempo Comum – Ano A

(Is 49,14-15; Sl 61[62]; 1Cor 4,1-5; Mt 6,24-34).

1. Depois de um discurso carregado de uma certa radicalidade, a liturgia nos apresenta textos quase poéticos para nos comunicarem o ser de Deus e injetar confiança em nós em tempos sempre mais difíceis. Esse pequeno trecho de Isaias traz a lembrança de uma situação de abandono vivida de modo pessoal e geral por Israel.

2. Deus seria como o ser humano, capaz de abandonar seu povo por causa de seus pecados? Para responder a tal indagação, ele recorre a imagem mais expressiva de um amor incondicional: o amor materno. Ainda assim, existindo mães que possam abandonar seus filhos, Deus jamais o faria, porque Ele é Deus e não age como os seres humanos. 

3. Encerramos a leitura da Carta aos Coríntios com o lembrete de Paulo que todo pregador do evangelho é apenas um servo de Cristo. Que a comunidade não se apegue demais a ele para que se conserve nele a liberdade de pregar o evangelho, consciente de que será julgado por Deus mesmo quanto a sua fidelidade.

4. Para falar do exercício da confiança em Deus, primeiramente Mateus recomenda não apegar-se demasiadamente ao dinheiro, pois este transforma o homem, seja ele rico ou pobre. É sempre possível que este roube o lugar de Deus, concentrando nossa atenção e nossa busca numa certa demanda de prazeres.

5. O mais grave para Mateus não é só a perda da confiança em Deus, é o esquecimento do pobre, do necessitado. Não se fala de esmola, mas de partilha. Esses dois senhores não convivem bem.

6. O restante do texto é quase poético num refrão que nos convida a não ficarmos aflitos, não nos inquietarmos, mas isso não significa quietismo, acomodação, preguiça. Em meio à busca de sobreviver, não permitamos que a angústia acabe por piorar a situação nos roubando a paz e a certeza de que a nossa vida está nas mãos de Deus.

7. Se é verdade que a criação traz a marca do seu Criador, então contemplemos as aves dos céus e os lírios do campo. Esses pequenos seres estão incluídos nos cuidados divino. Se assim o é para eles, muito mais será para o ser humano, pois Deus tem particular olhar para nós. A natureza traz em si o equilíbrio próprio da criação. Nós interferimos nesse equilíbrio. Por vezes a ganância de alguns gera a fome e o sofrimento de outros. Mateus é o evangelista que nos recorda que Deus está conosco. Assim podemos rezar com o salmista: só em Deus a nossa alma tem repouso; abramos diante dele o nosso coração.



 Pe. João Bosco Vieira Leite