5º Domingo do Tempo Comum - Ano A

(Is 58,7-10; Sl 111[112]; 1Cor 2,1-5; Mt 5,13-16)

1. Esse texto da 1ª leitura tem um tom profundamente quaresmal. Ele trata de uma nova forma de jejuar que agrada a Deus: voltar-se para a necessidade do outro. Tem sacrifício maior? Israel pensava que seu culto, sua liturgia solene, seus sacrifícios seriam o grande chamariz do povo escolhido. O profeta vai dizer que o que atrai o olhar humano são as obras de amor.

2. Paulo já havia falado de como as escolhas de Deus fogem da sabedoria humana, o maior exemplo é ele mesmo, pois crê que a palavra de Deus tem força em si mesma. Nosso tempo cria superestruturas de espetáculo para falar de Deus e transmitir a Palavra, quando o maior testemunho deveria ser uma vida transformada pelo poder do Espírito.

3. Duas pequenas alegorias dão continuidade ao sermão da montanha. Os bem-aventurados serão como sal e luz no mundo, como foi o próprio Jesus.

4. O símbolo do sal, tão exorcizado em nosso tempo, traz consigo uma gama de significados culturais e práticos. Para Jesus o cristão é alguém que busca, pela sabedoria do evangelho, dar sabor ao mundo. O verdadeiro sentido de nossa vida estaria em tão somente gozar o momento presente sem nos darmos contas de outras realidades que nos desafiam como as dores e as injustiças humanas?

5. O cristão se envolve com a realidade que o cerca para dar o devido equilíbrio que impede a humanidade de se corromper. Sal não deixa de ser sal, quimicamente falando, mas um cristão pode perder-se em não levar a sério a palavra e o testemunho do próprio Jesus e sua vida não ter nada a nos dizer ou acrescentar.

6. A 2ª comparação vem reforçar a 1ª. Uma cidade no topo da montanha não passa despercebida. Toda luz deve estar num lugar alto, que ilumine a todos, como num poste. Jesus não está chamando ninguém para ser destaque de escola de samba, usando uma linguagem desse nosso fevereiro.

7. Ninguém  fixa o olhar na luz, mas percebe o que ela ilumina. O bem deixa seus rastros. Se alguém deve ser elogiado é o próprio Deus que nos inspirou que nos deu o dom e a capacidade de realiza-lo.

8. Quando Jesus pede a Madre Teresa de Calcutá que seja luz d’Ele e para Ele, ela deixa atrás de si um rastro de luz que questiona sua escolha de viver dessa forma. Sua vida ilumina o evangelho de Cristo, mesmo tendo este luz própria. Jesus propõe aos seus discípulos permitir que essa palavra se concretize de alguma forma em seu modo de viver.

9. Se é verdade que as palavras convencem e os exemplos arrastam, é possível que nossa forma de viver leve outros a viverem a fé ou desistir dela. Há muita forma de vida cristã carregada de sombras que não atraem e perturbam nossa forma de compreender o cristianismo.

10. Ainda que muitos não façam a opção do caminho de fé que fizemos, não podemos esconder o que verdadeiramente cremos, não pelo convencimento do outro, mas por aquilo que praticamos.


 Pe. João Bosco Vieira Leite