(Lv
19,1-2.17-18; Sl 102[103]; 1Cor 3,16-23; Mt 5,38-48)
1. Santidade e perfeição se misturam em nossa
liturgia da Palavra para lembra-nos o nosso compromisso de buscar viver na
presença de Deus. O que se entendia no passado sobre santidade como separado,
isolado dos outros, na concepção de Israel, Jesus traduz como um modo de viver
e pensar diferente em meio ao mundo que lhe cerca.
2. O nosso texto da 1ª leitura já mostra uma certa
evolução onde a santidade se traduz em um modo de viver, mas dentro de um povo.
Jesus transcende essa visão limitada e pede aos seus discípulos que sejam sal e
luz do mundo.
3. Antes de chegarmos ao evangelho encerramos essa
sessão da carta de Paulo sobre a sabedoria do mundo e sabedoria de Deus. Esse
seguir a sabedoria do mundo tem gerado discórdias e divisões dentro da
comunidade. A loucura do evangelho, diz Paulo pode nos ajudar a encontrar
equilíbrio nesse mundo em desarmonia.
4. Ouvimos as quatro antíteses no domingo anterior
e hoje as duas últimas. Elas soam altas e exigentes, para fazer pensar. Se ódio
gera ódio, gentileza gera gentileza. Mas a premissa do Antigo Testamento de
onde parte Jesus, já era uma evolução, pois reprimia um castigo desproporcional
a quem errou.
5. Jesus parte de situações concretas de
experiência dos ouvintes na prática da justiça, na busca dos seus direitos. Um
texto que não pode ser tomado ao pé da letra. Mas exige uma disposição interior
de sofrer injustiças, de aceitar a humilhação para romper um ciclo demoníaco de
ofensa-violência através do perdão.
6. ‘Olho por olho, dente por dente’ sempre fez
parte do nosso cardápio, só uma atitude diferente pode romper esse ciclo.
* É como se o texto nos dissesse: ‘que posso fazer
para acabar com esse sofrimento que se arrasta?’.
7. Para os seus discípulos, Jesus propõe um amor
parecido com aquele de Deus, que faz chover sobre bons e maus, que não vê ao
outro como inimigo. Talvez como alguém com quem eu tenha que aprender a lidar,
para que evitemos todo recurso à violência, salvo aquilo que diz o Catecismo,
quando se trata de defender a própria vida.
8. As palavras de Jesus continuaram soando como uma
loucura, particularmente nesse nosso tempo que alimenta o ódio, o medo do
diferente, a violência. Como dizia Mahatma Gandhi, ‘nessa lei do olho por olho,
nós vamos acabar cegos’. Talvez o ditado popular nos ajude a entender a palavra
de Jesus: ‘em terra de cego quem tem um olho é rei’. A Palavra provoca a nossa
reflexão e a nossa identificação cristã enquanto filhos e filhas de Deus.
Pe. João Bosco Vieira Leite