(Is 25,6a.7-9; Sl 24[25]; Rm 8,14-23; Mt
25,31-46).
1. A festa de todos os santos e a celebração do dia de
finados estão ligadas ao fato de tratarem sobre as realidades últimas de nossa
existência. A liturgia de ontem queria
nos conduzir a uma visão que dá um sentido à nossa existência: há um destino,
há uma meta, o nosso agitar-se não é sem objetivo.
2. Dessa luz que nos vem da palavra de Deus, compreendemos
que a nossa vida é uma sucessão de saídas e entradas, guiadas não por um
destino cego, mas pelo amor Deus por nós. Do nascimento, às sucessivas etapas
da vida, chegaremos entre entradas e saídas, ao momento de deixarmos esse mundo
em que vivemos e, mais das vezes, em demasiado nos apegamos.
3. Se contemplamos atentamente a dramática existência a que
estamos submetidos e se entendemos a dinâmica amorosa do querer divino,
certamente essa não é a última resposta de Deus para nós. A ideia dessa
passagem, desse êxodo, pela morte não nos agrada, nem agradou ao próprio Jesus
em sua humanidade. Sua redenção se torna completa quando ele atravessa as águas
da morte para entrar no reino do Pai. Assim acolhemos a sua palavra de não
temer, com sua mão a nos levantar do susto e do medo cada vez que contemplamos
essa realidade.
4. A nossa liturgia da palavra se abre com um alegre convite
a um banquete onde Deus reunirá todos os povos da terra para além de seus
conflitos pessoais e perdas. O autor poeticamente vislumbra o fim da morte e do
pranto e canta a realização da salvação divina alimentada em nossa esperança e
porque não dizer, em nossa perseverança. É provável que o autor contemple os
tempos messiânicos, e realmente, se contemplamos a Jesus em seu caminhar
conosco e na sua morte redentora, entendemos bem a alegria do profeta e a
realização de nossa esperança.
5. Como na 2ª leitura de ontem, Paulo nos recorda a condição
filial que o batismo nos trouxe. Pelo Espírito nos unimos a Cristo em sua morte
e em sua ressurreição. Para Paulo, ninguém, nem nada nesse mundo pode nos
separar do amor de Deus, da realização de nossa esperança, a não ser nós
mesmos, nos diz Jesus no evangelho.
6. A alegria da 1ª leit. e a certeza de Paulo desse amor de
Deus por nós parecem esbarrar nesse texto de Mateus, gerando certa inquietação.
Estamos diante de uma parábola, que é sempre uma imagem ilustrativa de
ensinamento que se quer transmitir e aqui o autor sagrado quer sublinhar para
nós aquilo que é importante termos presente na vida.
8. Certamente Mateus não teve a intenção de revelar-nos o
que acontecerá no fim do mundo, mas conduzir-nos a uma reflexão, um abrir os
olhos, para as escolhas que estamos fazendo aqui e agora. A solidariedade, a
caridade, o bem que fazemos ao outro, ainda que não sejamos religiosos, será
sempre o canal que nos une ao Deus que nos quer salvar, e nos faz provar de sua
santidade.
9. Não buscamos a recompensa, buscamos ser humanos, a
identidade fraterna que nos levou a descobrir que Deus é comunhão de pessoas. O
que virá depois? Não sabemos com exatidão. Para além da misericórdia que sempre
age para além de nossos cálculos, resta-nos construir o nosso céu no esforço
contínuo de responder ao amor que Deus tem por nós em Cristo Jesus.