(Dn 7,13-14; Sl 92[93]; Ap 1,5-8; Jo
18,33b-37)
1. Oficialmente o ano litúrgico se encerra com essa festa de
hoje. A liturgia da palavra para falar do reinado de Jesus se serve de textos
um tanto densos e enigmáticos. O escrito de Daniel remonta ao ano 150 a.C., a
figura do Messias sempre esperado por Israel é agora vista a partir desse
“filho do homem”.
2. Daniel quer transmitir aos seus leitores uma mensagem de
esperança depois dessa sucessão de reinados terríveis, dizendo que Deus, o
ancião de muitos dias, nos concederá um reinado diferente, o mais próximo
possível de nossa humanidade. Não é atoa que Jesus toma esse título para si nos
evangelhos; ele entende a sua missão e o seu reinado como um serviço a
humanidade; assim deveriam pensar aqueles que atribuem a si qualquer função de
liderança.
3. A 2ª leitura reforça esse pensamento sobre a soberania de
Jesus, tanto que o autor do Apocalipse insere, em seu escrito, a mensagem de
Daniel. Um texto também escrito para alimentar a esperança e inserir coragem
aos seus leitores. O destaque do texto, depois de meditarmos esses dias sobre o
sacerdócio de Cristo, é a ideia de que ele fez de nós o reino de sacerdotes.
4. Se na origem da palavra, está a ideia de “dom sagrado”,
nossa vida, com tudo que ela contém, é o que de melhor oferecemos a Deus. Pra
quê sacrifício maior do que abraçar a vida com tudo que ela tem e o fazer nessa
consciência de prestar um serviço a Deus e ao próximo?
5. Assim, num último momento, Jesus oferece a Pilatos um
retrato de seu reinado, não compreendido por seus discípulos que o quiseram
fazer um rei aos moldes dos soberanos da terra. Está ali só e desarmado.
Pilatos poderia rir de tal rei, mas se vê embaraçado, pois Ele diz que para
além desses reinados marcados pelo poder, riqueza e ambição, há algo que é mais
forte e duradouro.
6. Ele está acontecendo lentamente, como o fermento na
massa, como um grão de mostarda que foi semeado. Ali onde o serviço, a doação
generosa ao outro, onde o respeito pela sua dignidade; o encontro e o diálogo
acontecem, novas relações se estabelecem. Realmente não parece algo desse mundo
tão marcado por disputas, de interesses outros.
7. Assim, como ele mesmo afirmou ser a luz do mundo, seu
reinado se reflete entre nós cada vez que tentamos construir uma comunidade que
tenha por fundamento o amor, a partilha e a compreensão. Com sinais assim
podermos sempre distinguir onde de fato ele é rei, onde de fato somos também
sacerdotes: dom sagrado, expressão do amor de Deus.
Pe. João Bosco Vieira Leite