Segunda, 01 de setembro de 2025

(1Ts 4,13-18; Sl 95[96]; Lc 4,16-30) 22ª Semana do Tempo Comum.

“Então começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabaste de ouvir’” Lc 4,21.

“O texto de Isaías, lido por Jesus numa assembleia litúrgica na sinagoga de Nazaré, possibilitou-lhe explicitar o sentido de sua presença e de sua missão, na Terra. O profeta falava de um Ungido do Senhor, enviado com uma missão bem precisa junto aos marginalizados deste mundo. Por meio deles, os pobres ouviriam Boa Nova da libertação, os angustiados seriam consolados, os presos anistiados, os cegos voltariam a enxergar e os oprimidos ver-se-iam livres da opressão. Estas categorias de pessoas são a síntese da humanidade sofredora, carente de misericórdia. Ao anunciar que a profecia estava se cumprindo naquele momento, Jesus proclamava que, mediante o seu ministério, iniciava-se, para os pobres, aflitos, presos, cegos e oprimidos, o Reino da definitiva libertação. Sua missão consistia em ser a presença libertadora do Pai junto às vítimas do egoísmo humano. Doravante, descortinou-se para elas a possibilidade de reconquistar a dignidade de seres humanos, e de superar a situação a que estavam relegadas. Efetivamente, ao longo do seu ministério, os pobres receberam de Jesus mostras de benevolências: sentiam-se acolhidos e amados por ele. Assim, a profecia tornava-se realidade, mas também deve continuar a ser realizada na vida dos discípulos de Jesus. Também estes, como o Mestre, devem ser, para os pobres, mediação da misericórdia divina. – Espírito de benevolência para com os pobres, que eu seja, a exemplo de Jesus, mediação da misericórdia divina para quem carece libertação” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


22º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Eclo 3,19-21.30-31; Sl 67[68]; Hb 12,18-19.22-24; Lc 14,1.7-14)*

1. Um famoso escultor dinamarquês morou por certo tempo na Itália. A convite do seu rei, voltou para a pátria. Levou consigo algumas estátuas que haviam de projetar o seu nome. Os empregados abriram os caixotes em que elas se achavam. Espalharam pelo jardim as palhas que as envolviam, no verão seguinte, para surpresa de todos, apareceram umas flores típicas de Roma. Brotaram de umas sementes que viajaram agarradas à palha da embalagem. O público passou a visitar a exposição do escultor não só por causa das obras de arte, mas também para admirar flores tão raras em Copenhague.

2. Desde criança aprendemos a importância do primeiro lugar. Na escola, os premiados são os que conseguem o primeiro lugar. Quando se trata de arranjar um emprego, a preocupação é somar o maior número de pontos ou apresentar o currículo mais rico, a fim de ser o preferido.

3. Os certames esportivos atribuem medalhas de ouro ao primeiro lugar. Nas reuniões sociais, o lugar de maior importância cabe às pessoas de alto prestígio. Até mesmo quando se trata de ficar na fila de espera, todos anseiam por chegar em primeiro lugar.

4. Ao elogiar os últimos, Cristo não está consagrando a lei da mediocridade, do mínimo esforço. O critério de escolha para o Reino é diferente.

5. Quem é o ‘primeiro’ deve lembrar-se que é também um fraco, um pecador. Nada nos garante que o primeiro lugar tem segurança permanente. Quem está seguro diante da morte, do universo?

6. Todos temos nosso flanco mais débil, nosso calcanhar de Aquiles. Por isso, o pedestal de agora pode ser apenas uma corda bamba em que nos equilibramos. Logo o primeiro é também o último.

7. Ser humilde não consiste em desvalorizar-se, nem muito menos a tentativa artificial da falsa modéstia. A humildade é a verdade a respeito de nós mesmos: dimana do confronto não com os outros, mas do confronto com Deus.

8. Não se trata de humilhar-se, mas de reconhecer-se. Daí somos levados a descobrir Deus como o doador de todo bem. Dele derivam os nossos dotes. Nasce também a responsabilidade. Porque ser dotado é ser comissionado a repartir.

9. Esta é a forma de retribuição e de gratidão para com Deus. Os dons de Deus não são oferecidos como engodo ao nosso orgulho, mas para nos servir. Os últimos do Evangelho são os que se põem a disposição dos outros. No Reino de Deus não conta a quantidade, o número dos dons, mas a qualidade, aquilo que se é, os sentimentos idênticos aos de Cristo.

10. O que importa verdadeiramente não é ocupar o primeiro lugar. Isto comporta comparação com os outros. Ocupar o seu lugar é o que interessa. Ao desempenhar bem a missão que lhe cabe, qualquer um fará do seu lugar o primeiro.

11. Na realidade, colocando-se lá embaixo no último lugar, nos situamos no lugar certo, pois tudo que alguém tem de bom recebeu de Deus. Reconhece assim que o Senhor é dono de tudo. E aí o próprio Deus fará com que os dons distribuídos por ele sejam reconhecidos.

12. Deus, o primeiro de todos, ao fazer-se homem, tornou-se o último. Levou uma vida na obscuridade. Fugiu da tentação de ocupar o primeiro lugar aos olhos dos homens. Lavou os pés de seus apóstolos proclamando o valor do serviço do mais humilde. Foi aniquilado na cruz, reduzido a reles criminoso. Deus Pai, porém, o enalteceu entre todos, fez dele o primeiro ao ressuscitá-lo.

13. Este é o modelo do cristão. É este Cristo que comungamos debaixo das aparências insignificantes do pão e do vinho. Comprometemo-nos a viver como ele viveu, como o último, para que Deus mesmo nos eleve.  

* Frei Paulo Gullarte

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 30 de agosto de 2025

(1Ts 4,9-11; Sl 97[98]; Mt 25,14-30) 21ª Semana do Tempo Comum.  

“Por isso fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence” Mt 25,25.

“Para mim, a parábola nos convida a viver em função da confiança e não do medo. Quem procura evitar todo e qualquer erro, acaba fazendo tudo errado. Ele próprio transforma a sua vida num inferno cheio de medos. Quem procura controlar tudo por medo, range muitas vezes os dentes à noite, porque tudo o que ele gostaria de suprimir por medo virá à tona de noite e ele terá de reprimi-lo à força. Assim, a vida dele estará marcada por choro e ranger de dentes. A pergunta é por que Jesus usa imagens tão drásticas. Tudo indica que é necessário levar essa atitude receosa ao absurdo, porque temos pena dela por natureza. Existe em nós a tendência de ter pena de nós mesmos. Facilmente, achamos que fomos prejudicados. Tudo na vida é tão difícil. Não dá para viver direito com o pouco que recebemos. Jesus nos quer livrar dessa atitude, pintando em cores tão drásticas essa posição diante da vida. Ele usa a parábola para expulsar o medo pelo medo, para que optemos pelo caminho da confiança e do amor” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 29 de agosto de 2025

(Jr 1,17-19; Sl 70[71]; Mc 6,17-29) Martírio de São João Batista.

“João dizia a Herodes: ‘Não te é permitido ficar com a mulher do teu irmão’” Mc 6,18.

“Caros irmãos e irmãs, celebrar o martírio de São João Batista recorda-nos, também a nós cristãos deste nosso tempo, que não se pode ceder a compromissos com o amor a Cristo, à sua Palavra e à Verdade. A Verdade é Verdade, não existem compromissos. A vida cristã exige, por assim dizer, o ‘martírio’ da fidelidade quotidiana ao Evangelho, ou seja, a coragem de deixar que Cristo quem orienta o nosso pensamento e as nossas ações. Mas isto só se verifica na nossa vida se a nossa relação com Deus for sólida. A oração não é tempo perdido, não é roubar espaço às atividades, inclusive às obras apostólicas, mas é precisamente o contrário: se formos capazes de ter uma vida de oração fiel, constante e confiante, o próprio Deus dar-nos-á a capacidade e a força para viver de modo feliz e tranquilo, para superar as dificuldades e testemunhá-lo com coragem. São João Batista interceda por nós, a fim de sabermos conservar sempre o primado de Deus na nossa vida” (Bento XVI – Um Caminho de Fé Antigo e sempre NovoVol. IV – Mokai) .

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 28 de agosto de 2025

(1Ts 3,7-13; Sl 89[90]; Mt 24,42-51) 21ª Semana do Tempo Comum.

“Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”

Mt 23,44.

“O sentido geral ou espinha dorsal das parábolas que seguem, em todas é o mesmo: deve-se estar preparado por meio de uma vida reta, pela prática das boas obras. Nesta primeira parábola, Jesus exorta os seus a permanecer vigilantes: não sabemos exatamente nem o dia, nem a hora de sua vinda. Nem o dia nem a hora, isto é, o momento da sua chegada, e isto não deve fazer desesperar, ou criar em nós sentimentos ou situações de angústia e temor. Deve-nos, sim, mover a permanecer ativos, em vigilância perpétua e em uma prudente e confiante espera. A angústia e o temor não são obras de Deus, nem são desejadas por Deus. O que Deus mais deseja e o que nos dá é a paz e a serenidade de espírito, a amorosa confiança na sua divina Providência. Velar, estar atento, encontrar-se sempre prontos acompanhando a vigilância com a oração contínua. Vigilância sobretudo naquilo que, de uma ou de outra forma, possa nos separar de Deus, do cumprimento de nossos deveres; vigilância para corresponder adequadamente à nossa vocação ao apostolado. Vigilância para que não haja nada em sua vida que sujeite demais seu entendimento, absorva seus pensamentos, ou entorpeça seu coração. Vigilância para que não se ofusque seu coração, abandonando o caminho do bom agir. Vigilância para que as ocupações cotidianas, os deveres de cada dia não cheguem a ocupar embaraçosamente seu coração, não o abatam por um lado, ou não o encantem por outro, angustiando-o ou inutilizando-o. Não basta nossa vigilância, nem basta nosso interesse, nem nosso esforço; sem ajuda de Deus, nada conseguiríamos e não poderíamos perseverar na prática do bem, no caminho da virtude e, comumente falando, a graça de Deus, a ajuda de Deus é-nos concedida pela oração; por isso, Jesus nos exorta a que oremos sem interrupção. O Senhor quis que a hora de sua chegada nos fosse desconhecida, para que essa hora nos fosse sempre suspeitada e, por não podermos prevê-la, esperamo-la sempre. Outra aplicação deste evangelho é o cuidado que você deve ter consigo mesmo(a) e com sua própria vida. ‘Estais preparados’, adverte-nos o Senhor. Eu quero supor que você é um apóstolo de Jesus Cristo, e os apóstolos do Senhor também devem sentir como ditas para si mesmos estas palavras, não aconteça que enquanto se dedicam aos outros descuidem-se eles de sua própria vida interior. ‘Estais preparados’, isto é, procurai que não vos dominem as coisas materiais ou as obrigações de ordem temporal, embora seja necessário cumpri-las; porém, não se permita que o coração fique preso entre elas sem desejos, nem forças, nem entusiasmo para dedicar-se às coisas do espírito” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 27 de agosto de 2025

(1Ts 2,9-13; Sl 138[139]; Mt 23,27-32) 21ª Semana do Tempo Comum.

“Nós exortamos a cada um de vós, e encorajamos e insistimos, para que vos comporteis de modo digno de Deus, que vos chama ao seu Reino e à sua glória” 1Ts 2,12.

“Deus chama a cada um e a cada uma para a vida, chama também a vivermos em uma família/comunidade e que nela nos santifiquemos, chama também para assumirmos uma grande obra, muito significativa e importante para todos, que é a salvação e sua glória. Paulo deixa claro que ensinava, evangelizava com uma única intenção, que todos fizessem a experiência que ele fez do ressuscitado. Ele quis também que ninguém ficasse parado, mas que usasse de sua própria vida e trabalho para anunciarem a Boa-nova a todos. Ninguém podia ficar de fora do anúncio e da oportunidade oferecida por Deus, a de entrar no seu Reino e sua glória. A edificação de cada pessoa se dá no seu cotidiano. Deus chama conhecendo as limitações de cada pessoa. O Senhor se dispõe a falar através de seus filhos e filhas, de agir através de cada um, pois Ele é o Emanuel – Deus conosco! Disponibilize-se ao Senhor, ouça seu suave chamado, seu forte desejo de ver seus amados felizes, sua ternura em insistir que todos acolham seu Reino e que sejam acolhidos nele. Mesmo em suas dificuldades, medos, anseios, angústias e incertezas. Confie no Senhor, seja fiel a Ele e receba a sua graça e a sua paz! – Amor infinito e bondoso, que sois Deus, olhai com ternura para cada um de nós, para que correspondamos com fidelidade ao vosso chamado. Que mesmo em meio às tempestades e desafios da vida, nunca deixemos de olhar para Vós e que sintamos sempre seu amor misericordioso por nós. Assim seja!” (Anderson Domingues de Lima – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 


Terça, 26 de agosto de 2025

(1Ts 2,1-8; Sl 138[139]; Mt 23,23-26) 21ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vós deveis praticar isto sem, contudo, deixar aquilo” Mt 23,23.

“Jesus Cristo aprova a observância da lei, mas não uma observância por amor ao legalismo, e denuncia a falta de veracidade e honestidade moral, ao silenciar aspectos tão importantes da vontade divina tais como a justiça, a misericórdia e a fidelidade. A lei pela letra ou a lei pelo espírito não são, não devem ser duas proposições contraditórias, mas devem reunir-se, cumprindo a letra, mas animada pelo espírito. São Jerônimo explica-o com estas palavras: ‘É como se Jesus tivesse dito: ‘Jogais para trás os preceitos e as coisas santas e importantes e prosseguis com ardor os atos de religião, que vos proporcionam lucro, ou recusais as pequenas faltas, figuradas pelo mosquito, e cometeis desenfreadamente os maiores delitos, representados pelo camelo, animal grande e desajeitado’. No entanto, o Senhor Jesus nos faz perceber que o mais importante na lei é a Justiça, a misericórdia e a fé. É aqui que devemos colocar todo o nosso cuidado e é aqui que devemos ser exigentes com nós mesmos, aqui é que devemos apontar para o alto, de maneira que cheguemos a uma observância fiel e estrita desses três pontos: a justiça, a misericórdia e a fé. A fé supõe a aceitação incondicional da palavra de Deus, quer essa palavra divina se torne inteligível para nós, quer se torne ininteligível, quer a palavra de Deus convenha aos nossos desejos e conveniências terrenas, quer se oponha a elas. Pela fé, aceitamos a pessoa de Jesus Cristo, tal qual Jesus Cristo é e não pretendo criar um Jesus Cristo de acordo com o nosso gosto e com a nossa vontade. Essa fé absoluta e incondicional é que gera em nós a fidelidade: fidelidade à palavra de Deus, fidelidade à vontade de Deus, aos planos de Deus a nosso respeito, fidelidade à missão que o Senhor nos tenha destinado na terra. A justiça é também ‘o mais importante da lei’ e vem a transformar-se no fundamento de toda a lei, uma vez que toda a lei, para que seja válida, deve ser uma lei justa, que respeite todos os direitos e os direitos de todos e cumpra as exigências dos direitos dos outros. Porém se a justiça reconhecer os direitos de todos, deve reconhecer, aceitar e cumprir antes de mais nada os direitos de Deus, que estão acima de todos os outros direitos e que não podem pospor a nenhum outro direito. Olhe, pois, com atenção e analise com toda retidão, se em sua vida os direitos de Deus ocupam o primeiro lugar; você não poderá reconhecer e aceitar os direitos dos outros, se não reconhece e aceita os direitos que Deus tem em relação a você. Mas se ao olhar para Deus, surge em você a necessidade de justiça, ao olhar para seu próximo, verá a necessidade de observar com ele a justiça e a misericórdia. Você deve ser justo com seu próximo, porque ele também tem alguns direitos sobre você, e somente reconhecendo e aceitando esses direitos, é o que faz com que você pratique a justiça, princípio de toda virtude e fundamento de toda a lei. Com seu próximo, urge também a misericórdia; e a misericórdia supõe um coração bom, compassivo, terno e compreensivo. As relações com seu próximo devem ser presididas por um coração transbordante dos sentimentos: bondade, compaixão, ternura e compreensão. E isto é também o mais importante da lei’, na expressão de Jesus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 25 de agosto de 2025

(1Ts 1,1-5.8-10; Sl 149; Mt 23,13-22) 21ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, guias cegos! Vós dizeis: ‘Se alguém jura pelo templo, não vale; mas se alguém jura pelo ouro do templo, então vale!’” Mt 23,16.

“No intuito de precaver os seus discípulos, Jesus alertava-os quanto ao modo de viver incoerente dos mestres da Lei e dos fariseus. Estes, na ilusão de estarem vivendo uma vida modelar, comportavam-se como cegos que querem ser guias dos outros cegos. A incompatibilidade da pretensão deles manifesta-se de muitas maneiras. Pensando ser os autênticos intérpretes da Palavra de Deus, acabavam por desencaminhar as pessoas, impedindo-as de entrar no Reino dos Céus. Insistiam nos detalhes da Lei, mas descuravam o fundamental. Preocupados com a exterioridade, não permitiam que a vontade de Deus penetrasse, realmente, em seus corações. Resultado: ao invés de serem portadores de salvação, acabavam sendo motivo de condenação tanto para os judeus quanto aos pagãos, convertidos ao judaísmo por sua ação proselitista. O fanatismo dos convertidos tornava-os merecedores de duplo castigo. Outra atitude equivocada dos mestres da Lei e dos fariseus consistia em confundir as pessoas, por meio de uma casuística estéril, levando-as a se afastarem da vontade de Deus. É pura perda de tempo fazer distinções capciosas em torno do mandamento divino se, no fundo do coração, a pessoa não tem a intenção de pautar sua vida por ele. Este tipo de casuísmo é resultado de uma cegueira insensata – Espírito de clarividência, sê meu guia seguro no caminho da fidelidade ao Reino, precavendo-me contra quem, indevidamente, quer arvorar-se em líder” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite


21º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Is 66,18-21; Sl 116[117]; Hb 12,5-7.11-13; Lc 13,22-30) *

1. A pergunta sobre o número dos que se salvam, em certas épocas, gerou em muitos uma angústia terrível. O humilde e doce São Francisco de Sales, por exemplo, viveu essa situação em um período de sua juventude, com uma certeza de que estava excluído do número dos que se salvariam.

2. Mais uma vez a resposta de Jesus não se dá em números, mas em atitude. O que não é uma resposta estranha ou evasiva, mas a atitude de quem busca educar os discípulos a passar do plano da curiosidade para o da sabedoria; das questões ociosas que apaixonam a tantos, para os verdadeiros problemas que dizem respeito à vida.  

3. Assim já percebemos quão absurda é a posição dos que tentam estabelecer um número preciso. Sobre o ‘modo’ de salvar-se Jesus nos diz duas coisas substancialmente: uma negativa e outra positiva; primeiro aquilo que não serve, depois o que serve à salvação.

4. Não serve, ou talvez não baste, o fato de pertencer a determinado povo, a uma determinada raça, tradição ou instituição, ou mesmo ao povo eleito de onde veio o próprio Jesus, que aqui reivindicam privilégios: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti...’.

5. Na versão de Mateus esse contexto se aplica à própria Igreja: não basta o simples fato de ter conhecido Jesus ou de pertencer a Igreja; é preciso mais que isso. É isso que Jesus entende revelar com a imagem da porta estreita. E assim entramos na resposta positiva.

6. Quem se coloca na estrada da salvação não é alguém que traz um título de posse, mas uma decisão pessoal acompanhada de uma coerente conduta de vida. Mateus deixa isso muito claro ao falar de dois caminhos ou de duas portas, uma estreita e outra larga.

7. Essa imagem dos dois caminhos, para os primeiros cristãos, era uma espécie de código moral fundamental. Algo como vida e morte. Conforme um escrito da época, “ao caminho da vida pertenciam o amor a Deus e ao próximo, bendizer que nos amaldiçoa, manter-se distante dos desejos da carne, perdoar a quem te ofendeu, ser sincero, pobre. Ao caminho da morte, de modo contrário, a violência, a hipocrisia, a opressão do pobre, a mentira”.  

8. O caminho do justo é estreito, ao início, mas depois se torna uma via larga, porque nessa se encontra a esperança, a alegria e a paz do coração. O contrário da alegria terrena que tem como característica ir diminuindo, até gerar náusea e tristeza como se pode comprovar em certo tipo de embriaguez gerada pela droga, álcool, sexo. É preciso uma dose ou um estímulo sempre maior para produzir prazer na mesma intensidade; até que o organismo não responda mais e esfacele também o físico.

9. A porta estreita aqui mencionada não é necessariamente aquela que nos levará um dia definitivamente ao paraíso, mas aquela que permite entrar, já nesta vida, no reino pregado por Jesus e de viver as suas exigências. E se quisermos falar em números, como Mateus, são poucos aqueles que aceitam, nesta vida, de tomar com seriedade as exigências do Evangelho, e isto basta olhar ao nosso redor.

10. Não devemos esquecer que o desejo de Deus é salvar a todos (cf. 1Tm 2,4) e, para nossa sorte, Ele é poderoso o bastante para realizar o que quer. Deus tem modos extraordinários de salvar que desconhecemos, e mesmo assim não podemos deixar de observar os modos ordinários de salvação.

11. Essa conclusão pode ser tranquilizante, mas cabe ao próprio evangelho alertar-nos contra uma falsa tranquilidade e colocar um pouco de inquietação em nosso coração. Há casos em que assustar alguém é um ato de caridade. Assim como faz um bom médico, quando não há outro meio de fazer entender a um doente que ele deve parar de fumar, ou de fazer outras coisas perigosas à sua saúde.  

12. A salvação é uma coisa importante para ser deixada ao acaso, ou ao cálculo de probabilidades. O treinador do time de futebol de Liverpool, na iminência de uma partida, declarou certa vez: “Vencer esta partida não é uma questão de vida e morte... É muito mais!”.

13. Não creio que isso se possa dizer de uma partida de futebol, mas se deve dizer de nossa salvação. É uma questão de vida eterna e de morte eterna.

* Com base em texto de Raniero Cantalamessa

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 23 de agosto de 2025

(2Cor 10,17—11,2; Sl 148; Mt 13,44-46) Santa Rosa de Lima.

“O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola” Mt 134,45-46.

“No mundo antigo as pérolas ocupavam um lugar muito especial no coração dos seres humanos. As pessoas desejavam possuir boas pérolas. Elas precisavam ser bonitas e raras. Não consideravam apenas o valor monetário. Elas causavam prazer pela beleza e destacavam o comprador que as possuía e contemplava. Um amante de pérolas estaria disposto a procurar nos mercados do mundo inteiro até encontrar uma pérola de rara beleza. Achando-a, desfazia de tudo com o objetivo de adquiri-la. Era uma vida dedicada e centrada neste objetivo. Assim, nas palavras de Jesus, é o Reino dos Céus. Bonito, valoroso. Quem dele participa faz de tudo para permanecer nele. Se preciso for, deixa para trás todos os empecilhos, ‘vende tudo que tem’ e compra aquela pérola. Em outras palavras, se esforça e valoriza o Reino de Deus. Toma posse como participante ativo deste Reino precioso. Servir a Deus não é uma tarefa fácil, porém prazerosa, alegre, verdadeira. As igrejas da Macedônia, em meio às múltiplas tribulações, que as puseram à prova, transbordaram em tesouros de liberdade [...] espontaneidade e, com insistência, nos rogaram a graça de tomar parte nesse serviço [...]. Ultrapassando nossas esperanças, deram-se primeiramente ao Senhor’ (2Cor 8,2-5). As expressões ‘boas pérolas’ e ‘uma preciosa’ indicam o quanto é preciosa a salvação conquistada por Cristo. É possível admitir que existem muitas outras pérolas a serem consideradas bonitas e valorosas, porém o destaque aponta para aquela que é a melhor e a mais bonita de todas. Costumamos chamar de ‘pérolas’ coisas que nos agradam, textos bens escritos, situações ou pessoas especiais e até gracejos. Onde se encontram nossas avaliações sobre o Reino de Deus? Ele não está distante como pensam alguns. Ele está dentro de nós. – Preciosas são as horas na presença de Jesus. Amém (Arnaldo Hoffman Filho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).    

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 22 de agosto de 2025

(Is 9,1-6; Sl 112[113]; Lc 1,26-38) Bem-aventurada Virgem Maria Rainha.

“O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’” Lc 1,28.

“Quem primeiro exaltou as grandezas de Maria foi o Anjo com esta saudação: ‘Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco’ (Lc 1,28). Com ela está o Senhor a ponto de se tornar seu Filho. Poderá haver maior dignidade do que esta para uma simples criatura? Vem depois Isabel que ‘exclamou em alta voz: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre... bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento das coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor’ (ibidem, 42-45). Maria recebeu a maior bênção de Deus, que a fecundou com a maternidade virginal e divina. Bendita foi Maria proclamada, porque Mãe do Senhor; e bem-aventurada, porque acreditou na palavra de Deus. Anos depois uma outra mulher louva-la-á, transpondo para ela a própria admiração pelo Filho: ‘Bem-aventurado o seio que te trouxe e os peitos que te amamentaram!’ (Lc 11,27). Maria conhece as próprias grandezas e tão límpida é sua humildade que pode cantar sem se perturbar: ‘Bem-aventurada me chamarão todas as gerações porque grandes coisas fez em mim o Onipotente’ (Lc 1,48-49). Humílima, profetizou sua glória sem tomar para si a mínima parcela. A glória de Maria há de servir unicamente para exaltar a Deus que soube fazer, de uma criaturinha, a Mãe de Deus. A realeza de Maria é penetrada inteiramente por esta suave humildade, pela qual é muito mais Mãe que Rainha. Todavia, é Mãe-Rainha: sua realeza é benigna e dulcíssima! Dela se vale para trazer aos homens a salvação merecida pelo Filho. Sua materna realeza torna-a poderosa sobre o Coração de Jesus, para obter graças de conversão e de perdão. Poderosa para reconduzir os pecadores, sustentar os fracos, infundir coragem aos desanimados, força aos perseguidos, para atrair os afastados e dispersos. Invoca-a a Igreja com toda a confiança e convida seus filhos a suplicá-la para que, ‘exaltada ao céu acima de todos os anjos e bem-aventurados... interceda junto ao Filho a fim de que toda a família dos povos chegue felizmente a se reunir num só Povo de Deus, para a glória da Santíssima e indivisa Trindade’ (LG 69)” (Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD – Intimidade Divina – Loyola)

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quinta, 21 de agosto de 2025

(Jz 11,29-39; Sl 39[40]; Mt 22,1-14) 20ª Semana do Tempo Comum.

“Quando o rei entrou para ver os convidados, observou ali um homem que não estava usando o traje da festa” Mt 22,11.

“Mas então vem o contraste que aborrece a tantos. O rei passa a observar os convivas. Um deles não está devidamente trajado com a veste nupcial. Há exegetas que partem do princípio de que a veste nupcial é uma veste recebida como presente. Dizem que em Israel é costume entregar ao convidado também uma roupa condizente com a festa. Nesse caso, a veste nupcial simbolizaria a fé que nos foi dada. Essa intepretação é muito comum na exegese protestante. De acordo com Luz, essa explicação da roupa presenteada não se sustenta do ponto de vista exegético. Na Antiguidade não era necessário comparecer ao banquete nupcial com roupa festiva, e sim com roupa limpa. Portanto, o convidado precisava preparar-se para o casamento lavando antes a sua veste. Os Padres da Igreja tinham diversas interpretações para essa veste: ela simbolizaria a santidade da carne (Tertuliano), as boas ações (Jerônimo), o amor (Agostinho), ou o próprio Cristo do qual os batizados se revestem. A parábola quer dizer, provavelmente, que o convite é um mero presente, mas que o convidado deve contribuir com a sua parte, limpando a sua veste, ou seja, esforçando-se para levar uma ‘vida pura’. O presente exige uma contrapartida. Eu mostro o meu respeito para com o doador, correspondendo a ele com toda a minha existência. O banquete do qual participam bons e maus é uma imagem da Igreja que se compõe sempre de pessoas boas e más. Ela nunca é uma Igreja pura, e sim uma Igreja mista: a Igreja dos pecadores. Nela há lugar também para o pecador. Mas este deve esforçar-se para limpar a sua veste. Quem não corresponder à graça será lançado nas trevas. É uma imagem do juízo final” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite 


Quarta, 20 de agosto de 2025

(Jz 9,6-15; Sl 20[21]; Mt 20,1-16) 20ª Semana do Tempo Comum.

“Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence?

Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?” Mt 20,15.

“O proprietário dirige-se ao porta-voz dos queixosos com o tratamento familiar ‘meu amigo’. Lembrando o contrato feito, pergunta tanto a ele quanto ao leitor irritado com o desfecho da história: ‘Não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou então o teu olho é mau por que sou bom [para com os outros]?’ (20,15). A pergunta é como uma fisgada no coração do porta-voz, como também no coração do ouvinte e do leitor. Com essa pergunta, Jesus descreve a sua própria essência e a de Deus. Deus é bom, mas a sua bondade não pode ser contabilizada. Ela não é devida. Na época da Reforma, essa parábola era interpretada como a vitória da graça sobre qualquer ideia ou pretensão de merecimento. Mas essa é também uma visão unilateral, porque o proprietário dá a cada um o salário justo que ele merece. É que a justiça de Deus que se manifesta no procedimento do proprietário da vinha ultrapassa todo e qualquer cálculo humano” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite 


Terça, 19 de agosto de 2025

(Jz 6,11-24; Sl 84[85]; Mt 19,23-30) 20ª Semana do Tempo Comum.

“E digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha

do que um rico entrar no Reino de Deus’” Mt 19,24.

“Os discípulos ficaram impressionados, quando Jesus, por meio de uma comparação, afirmou ser difícil a salvação dos ricos. É como querer que um camelo atravesse o buraco de uma agulha. Esta forma exagerada de referir-se a algo impossível, era, neste caso, uma constatação e uma advertência. Quem quisesse salvar-se, deveria agir logo, e decidir-se a romper com o apego às riquezas. O rico está impossibilitado de entrar no Reino dos Céus porque, sendo idólatra, faz pouco caso de Deus, preferindo colocar sua confiança nos bens acumulados, e conta com eles para obter a felicidade. Além disso, ele mantém o coração fechado para os seus semelhantes, sendo incapaz de perceber as necessidades dos outros, tentando socorrê-los com gestos concretos. Sua vida consiste em acumular e usufruir, egoisticamente, sem jamais preocupar-se em partilhar. Uma vez que a salvação consiste em viver a plena comunhão com Deus, os ricos estão fadados à condenação, porque optaram por um modo de vida que não comporta a comunhão. A condenação deles, pois, já começa nesta vida. A morte simplesmente eternizará uma situação que eles mesmos escolheram. O ensinamento de Jesus é inequívoco: não existe salvação para um coração apegado às riquezas. – Espírito de altruísmo, longe de mim deixar meu coração apegar-se aos bens deste mundo, a ponto de perder de vista o amor devido aos meus semelhantes (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Segunda, 18 de agosto de 2025

(Jz 2,11-19; Sl 105[106]; Mt 19,16-22) 20ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Se tu queres ser perfeito, vai, vende tudo que tens, dá o dinheiro aos pobres

e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me’” Mt 19,21.

“Essa passagem é a fonte dos conselhos evangélicos na tradição católica. A perfeição que se contempla aqui é a da nova economia, que supera a antiga levando-a a cumprimento. Todos são igualmente chamados a ela, segundo aquele preceito do Mestre, de caráter universal: ‘Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito’ (Mateus 5,48). Mas para estabelecer o Reino, Jesus precisa de colaboradores especialmente disponíveis. A eles é que se pede a renúncia radical às preocupações da família. Jesus necessita de novos dispensadores de seus mistérios. O jovem do evangelho não teve ânimo para decidir-se a seguir o plano que Jesus lhe propunha e, assim, ao ouvir a resposta de Jesus, o jovem entristeceu-se ‘porque possuía muitos bens’ (v. 22). Frustrou-se, então, o plano de Deus. Tremendo poder do homem, que é capaz, pelo abuso de sua liberdade, de frustrar nada menos que os planos do Criador; mas também tremenda responsabilidade, se, por culpa do homem, não se leva a cumprimento aquilo que Deus tinha planejado. Toda vocação é um chamado pessoal de Deus ao homem. E o homem pode anuir, dizendo sim, ou rejeitar o chamado” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite 


Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria – 2025 – Missa do Dia *

(Ap 11,19a;12,1.3-6a.10ab; Sl 44 [45]; 1Cor 15,20-27a; Lc 1,39-56)

1. Encontramo-nos reunidos, mais uma vez, para celebrar uma das mais antigas e amadas festividades dedicadas a Maria Santíssima: a solenidade da sua Assunção na glória do Céu de corpo e alma, ou seja, com todo seu ser humano, na integridade de sua pessoa.

2. Deste modo, contemplando esse mistério recebemos a graça de renovar o nosso amor a Maria, de a admirar e de louvar pelas ‘maravilhas’ que o Todo-poderoso realizou por Ela, e que nela levou a cabo.

3. Celebrando a ação de Deus na Virgem Maria, recebemos mais graça: a de poder ver em profundidade também a nossa vida. Sim, porque inclusive a nossa existência quotidiana, com os seus problemas e as suas esperanças, recebe luz da Mãe de Deus, de seu percurso espiritual:

4. Um caminho e uma meta que podem tornar-se, de certo modo, nosso próprio caminho e a nossa meta. Deixemo-nos orientar pelos trechos da Sagrada Escritura que a liturgia nos propõe. Particularmente a 1ª leitura. Aqui aparece a imagem da Arca da Aliança, também presente na 1ª leitura da missa da Vigília, símbolo da presença de Deus no meio do seu povo, no Antigo Testamento.

5. Mas no Novo Testamento, o símbolo cede lugar à realidade: a verdadeira Arca da Aliança é uma pessoa viva e concreta: a Virgem Maria. Deus não habita num móvel, mas sim numa pessoa concreta; Aquela que trouxe no seu ventre o Filho eterno de Deus que se fez homem, Jesus, nosso Senhor e Salvador.

6. Como sabemos, as tábuas da lei de Moisés, que manifestavam a vontade de Deus, eram conservadas na Arca. Maria é arca da aliança, porque acolheu em si mesma Jesus; recebeu em si a Palavra viva, todo o conteúdo da Vontade de Deus; da verdade de Deus;

7. Acolheu em si Aquele que constitui a Nova e Eterna Aliança, culminada com a oferenda do seu Corpo e do seu Sangue: Corpo e Sangue recebidos de Maria. Por isso a piedade cristã inclui na ladainha em honra a Nossa Senhora o título de Arca da Aliança, arca da Presença de Deus, arca da Aliança do amor que Deus quis estreitar de maneira definitiva com a humanidade inteira em Cristo.  

8. Um outro aspecto sugerido pelo texto é o destino de glória extraordinário que tem Maria, porque está intimamente unida ao Filho, que acolheu na fé e gerou na carne, a ponto de compartilhar a sua glória celestial. A grandeza de Maria, Mãe de Deus, plenamente dócil à ação do Espírito Santo, já vive no Céu de Deus.

9. Hoje cantamos o imenso amor de Deus por esta criatura: escolheu-a como verdadeira “Arca da Aliança”, como Aquela que continua a gerar e o oferecer Cristo Salvador à humanidade e ao mesmo tempo nos convida a tornar-nos também, de nosso modo modesto, ‘arca’ em que está presente a Palavra de Deus, de sermos bem-aventurados pela vivência dessa mesma palavra, como nos indica o evangelho da Vigília.

10. O Evangelho nos apresenta essa Arca em movimento, ‘às pressas’, deixando sua casa para ir até Isabel, e não vai sozinha, leva em seu ventre Jesus: as coisas de Deus merecem pressa, aliás, as únicas coisas do mundo que merecem pressa são precisamente aquelas de Deus, que têm a mesma urgência para a nossa vida.

11. O Espírito Santo abre os olhos de Isabel levando-a a reconhecer em Maria a verdadeira Arca da Aliança, a Mãe de Deus, que vem para a visitar e compartilhar essa Presença Divina. Para fazer saber a ela e a nós que somos também destinatários daquele imenso amor que Deus nos reserva particularmente.

12. Olhando mais uma vez e sempre, para Maria: ela abre-nos à esperança, a um futuro cheio de alegria e ensina-nos o caminho para alcançar: acolher seu Filho na fé; nunca perder a amizade com Ele, mas deixar-nos iluminar e orientar pela sua Palavra; segui-lo todos os dias, mesmo nos momentos em que sentimos que as nossas cruzes se tornam pesadas.

13. Maria, a Arca da Aliança que se encontra no santuário do Céu, indica-nos com clareza resplandecente que estamos a caminho rumo à nossa verdadeira Casa, a comunhão de alegria e de paz com Deus. Amém.

* Com base em texto de Bento XVI

Pe. João Bosco Vieira Leite