Sábado, 01 de fevereiro de 2025

(Hb 11,1-2.8-19; Sl Lc 1; Mc 4,35-41) 3ª Semana do Tempo Comum.

“Então Jesus perguntou aos discípulos: porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” Mc 4,40.

“Disse Sêneca: ‘As coisas que nos assustam são em maior número do que as que efetivamente fazem mal. Afligimo-nos mais pelas aparências do que pelos fatos reais’. Jesus estava ciente que a maior parte dos nossos medos são imaginários, estão na mente e, assim, sofremos por antecipação e sem necessidade. Mas, mais do que isso, o Cristo faz um contraponto entre medo e fé. É como se a fé expulsasse o medo, ambos não conseguem conviver muito bem. A Carta aso Hebreus nos traz uma interessante definição de fé como sendo ‘a certeza do que vamos receber, as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver’ (Hb 11,1). Assim sendo, se esperamos boas coisas, receberemos boas coisas. Por outro lado, se, influenciados pelo medo limitador, aguardamos coisas ruins, corre o risco de que elas nos alcancem de fato. Podemos, pela fé, atrair sobre nossas vidas o bem ou o mal. Certa vez, um colega de seminário disse-me que ‘medo é fé no inimigo’, e parece que é por aí mesmo... Quando afirmamos medo, estamos declarando que acreditamos que a negatividade tem mais poder do que a positividade e, se cremos assim, assim será conosco, mas também vale ao contrário. Por isso, atraia a prosperidade, a saúde e a felicidade com pensamentos positivos. O bem é sempre mais poderoso que o mal. É o nosso medo que concede poder ao lado negativo. Mas, se nos mantivermos confiantes e enchermos nossas mentes com fé, não haverá espaço para nenhum medo e nenhuma negatividade. ‘Se tens fé, acharás que o caminho da virtude e da felicidade é muito curto’ (Marcus Fabius Quintilianus). – Deus de toda bondade, enche nossos corações com o dom da fé, para que expulsemos dele todo medo que atrofia a existência humana. Faze-nos confiantes e amoráveis sempre. Amém (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 31 de janeiro de 2025

(Hb 10,32-39; Sl 36[37]; Mc 4,26-34) 3ª Semana do Tempo Comum.

“Não abandoneis, pois, a vossa coragem, que merece grande recompensa” Hb 10,32.

“A primeira leitura da liturgia hodierna compreende os dois textos que concluem a ‘terceira parte’ da Carta aos Hebreus: enquanto a primeira (vv. 32-35) retoma alguns temas exortativos tratados anteriormente, a segunda (vv. 36-39) não só é conclusiva, mas até pode ser considerada um texto de passagem, introdutório à ‘quarta parte’ da Carta. Sobre o apelo à generosidade vivida no passado (primeira parte) apoia-se o convite a perseverar, hoje, na vida de fé (segunda parte). [Compreender a Palavra:] O entusiasmo dos inícios, característica dos jovens, mais sensíveis e abertos a deixar-se interpelar pelos valores do espírito; mas também dos neo-convertidos, ou seja, daqueles que acabaram de encontrar o sentido da vida e se apercebem da urgência do compromisso que dele deriva, deveria ficar na memória dos crentes como um modelo que sempre incita a uma vida autêntica. Pelo contrário, com o passar do tempo, as dificuldades e os desgastes do dia-a-dia, o peso de uma realidade opaca ou o atraso do cumprimento da Palavra – ou não ver imediatamente os seus frutos – arriscam-se a cobrir com uma camada opaca, embotar a generosidade e fazer esmorecer até os espíritos mais fervorosos. A vida adulta é, no entanto, um compromisso de fidelidade que pede para levar em frente responsavelmente as tarefas e compromissos assumidos no encontro com o Senhor. O próprio Evangelho avisa para a tentação que nasce do desgaste das contradições, sempre à espreita: ‘O Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar fé sobre a terra?’ (Lc 18,8)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 1] – Paulus).          

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 30 de janeiro de 2025

(Hb 10,19-25; Sl 23[24]; Mc 4,21-25) 3ª Semana do Tempo Comum.

“Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote ou debaixo da cama?

Ao contrário, não a coloca num candeeiro?” Mc 4,21.

“A pregação de Jesus não visava a um grupinho de privilegiados, membros de uma confraria esotérica, rodeada de mistérios. Pelo contrário, o Mestre desejava que sua mensagem fosse conhecida por todos sem excluir ninguém. Todos tinham esse direito, embora permanecendo livres de aceitá-la ou rejeitá-la. O lugar da Palavra, na história humana, assemelha-se àquele ocupado por uma lâmpada, assim que é acesa. Seria insensatez acender uma lâmpada para, em seguida escondê-la debaixo de um caixote ou da cama. Será necessário encontrar um lugar estratégico, de forma que seus raios atinjam todos os cantos do ambiente, mesmo os mais escondidos. Assim acontece com a Palavra de Deus: não é privilégio de um punhado de pessoas. Antes, como a lâmpada, deverá ser colocada no lugar certo, para iluminar a todos. Dando continuidade à missão de Jesus, compete aos discípulos descobrir qual é o lugar ideal para a proclamação da Palavra, a fim de que ela possa atingir o maior número de pessoas. Daqui se deduz a necessidade de o discípulo de Jesus ser corajoso na proclamação do Reino. Em cada circunstância, deverá descobrir o lugar melhor para anunciá-lo. – Espírito de ousadia, que eu não tenha medo de proclamar a Palavra do Reino, que ilumina a humanidade” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 29 de janeiro de 2025

(Hb 10,11-18; Sl 109[110]; Mc 4,1-20) 3ª Semana do Tempo Comum.

“Por fim, aqueles que recebem a semente em terreno bom são os que ouvem a Palavra,

a recebem e dão fruto; um dá trinta, outro sessenta e outro cem por um” Mc 4,20.

“Atendendo vários casais diariamente, uma coisa que tenho percebido, é que tem muita gente confundindo opressão com felicidade. Quando os israelitas eram escravos no Egito e foram libertos, no meio de sua caminhada vários sonhavam em voltar para o Egito, pois confundiam felicidade com opressão, de tão acostumados que estavam com a opressão (Ex 16,3). Hoje é assim para muitos casais. Você já viu aquele casal que, quando estão juntos, agem de um jeito, normalmente, um se submetendo ao outro? Mas quando estão sozinhos, aquela pessoa ‘submissa’ se solta e mostra todo o seu esplendor humano? Isto é, seus frutos de boa terra. Pois é, tem muita gente criativa, inteligente, com tudo para frutificar, mas que se submete de tal forma em um relacionamento que confunde sua própria opressão achando aquilo felicidade. Igual aos israelitas com saudades das comidas do Egito. O pior: muitas dessas pessoas não têm forças e, às vezes, nem mesmo querem quebrar esses grilhões mentais que consideram como sendo um bem, uma família perfeita. Isso pode levar à doença, loucura até. É um caso clássico de insensatez. Deus não aprova nada que te leve para longe dele ou que te diminua enquanto ser humano. Felicidade verdadeira requer total liberdade e igualdade. Fora disso, só temos opressão, dominação, arrogância travestida com nome de amor e felicidade. Se você está em uma relação assim, ela precisa ser curada, e isso é plenamente possível. Ser boa terra não é receber qualquer semente, mas somente a semente do bem. Se seu relacionamento está te oprimindo converse com seu cônjuge, busque ajuda profissional e religiosa e salve sua relação, salvando a si mesmo, e assim você produzirá frutos existenciais a trinta, sessenta e cem por um. – Amável Jesus, que transformemos nossos relacionamentos em verdadeira alegria, respeitando a dignidade de cada um. Amém” (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 28 de janeiro de 2025

(Hb 10,1-10; Sl 39[40]; Mc 3,31-35) 3ª Semana do Tempo Comum.

“É graças a essa vontade que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo,

realizada uma vez por todas” Hb 10,10.

“Fazemos parte do Corpo de Jesus Cristo e nele somos santificados (tornados mais parecidos com Jesus através da adesão ao seu projeto), mas isso não nos faz robozinhos, todos iguais, fabricados em série. Pense bem: A consulta de todos os médicos tem o mesmo valor? Os honorários de todos os advogados são iguais? O trabalho de todos os engenheiros custa o mesmo tanto? A resposta é um sonoro ‘não’. Afinal, existem profissionais iniciantes, recém-formados, formados em escolas de menor fama, e existem aqueles com anos de experiência, graduações em grandes universidades, pós-graduações inclusive no exterior etc. Obviamente, os honorários deste segundo grupo são maiores, devido ao maior preparo e maior conhecimento em sua área. Contratar o Messi (jogador argentino e craque do Barcelona) e um jogador recém-promovido para o profissional não custaria a mesma coisa para o seu time. Isto vale para todos os segmentos profissionais. Na vida espiritual não é diferente. Embora todos sejamos filhos de Deus, há alguns que se ‘especializam’ mais, no dizer teológico se santificam mais, buscam andar mais perto de Deus. Muito embora a santidade esteja à disposição de todos e todas, alguns se empenham mais por alcançá-la, isso é inegável, afinal, nem todos são Francisco de Assis, Martin Luther King ou Teresa de Calcita, não é? Mas todos nós fazemos parte do mesmo Corpo destes heróis da fé e, portanto, podemos também glorificar a Deus com uma vida voltada para o bem. Vamos fazê-lo? Vamos começar agora? – Deus, somos parte do corpo de Cristo e, embora diferentes, cada um tem seu valor e sua função neste corpo. Ajuda-nos a identificar a nossa tarefa e a realizá-la com o maior zelo possível. Amém (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 27 de janeiro de 2025

(Hb 9,15.24-28; Sl 97[98]; Mc 3,22-230) 3ª Semana do Tempo Comum.

“Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado; será culpado por um pecado eterno”

Mc 3,29.

“Jesus denomina como pecado contra Espírito Santo a oposição à mensagem de salvação, porque essa atitude carrega consigo uma oposição à própria salvação; daí que esse pecado não se possa perdoar, por não oferecer a base para o perdão, que é a penitência ou arrependimento e a aceitação da salvação que se encontra na mensagem de Jesus. Finalmente, o Espírito Santo é o amor do Pai e do Filho; é substancialmente, pessoalmente Amor. Portanto, tudo que esteja contra o amor está diretamente contra o Espírito Santo, toda falta de amor é falta contra o Espírito, tudo que procure destruir o amor orienta-se diretamente para destruir o Espírito Santo em nós. O pecado contra o amor é pecado contra o Espírito Santo e esse pecado não tem perdão, pois para receber o perdão é preciso deixar de odiar, é preciso começar a amar e, quando começamos a amar, já começamos a nos afastar do pecado, já começamos a adentrar o campo do amor, o campo do Espírito, já não estamos contra o Espírito, porque não estamos contra o amor” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo do Tempo Comum - Ano C

(Ne 8,2-6.8-10; Sl 18B[19]; 1Cor 12,12-30; Lc 1,1-4;4,14-21)

1. Os domingos do Tempo Comum acompanham a vida pública de Jesus. No domingo passado estivemos com Ele, seus discípulos e Maria, em Caná numa festa de casamento, que João, o evangelista, se serve para falar-nos do Deus que vem amar e alegrar seu povo como um esposo a sua esposa. Seu 1º sinal.

2. O episódio do nosso Evangelho de hoje é também marcado por esse caráter de início da obra de Jesus, seria o prólogo de Lucas: estamos em Nazaré, onde Jesus, casual ou providencialmente, faz a leitura e o comentário ao texto do profeta Isaías.

3. Nosso evangelho é iluminado pela 1ª leitura onde temos a instituição judaica da leitura pública dos textos sagrados e sua explicação. É desse modelo judaico das sinagogas que herdamos a nossa liturgia da Palavra. O termo sinagoga significa reunião ou assembleia, e é praticamente sinônimo de ‘ekklesia’, que em português virou ‘igreja’.

4. O Salmo que se segue canta o valor e beleza dessa Palavra. O termo Lei que aqui aparece nos recorda a leitura retirada dos 5 primeiros livros da Bíblia, seguida de um texto profético. Um salmo que casa bem com esse Domingo da Palavra de Deus, instituído pelo Papa Francisco em 2019.

5. Para nós, esse ano, esse texto do profeta Isaías lido por Jesus tem particular ressonância, pois tem sua origem no jubileu celebrado pelos judeus. Somos também chamados a viver esse ano Jubilar da vinda de Cristo entre nós e da esperança que Sua palavra nos traz.  

6. Peregrinamos em meio a muitas realidades e a vida precisa de momentos fortes para nutrir e robustecer a esperança, insubstituível companheira que permite vislumbrar a meta: o encontro com o Senhor Jesus. E é claro sem esquecer a sua companheira necessária que se chama paciência.

7. Jesus surpreende a multidão que o escuta com esse ‘hoje’ que aponta n’Ele a presença do Espírito, como cumprimento de uma longa espera. Mas não basta que o Messias apareça. É preciso entrar, abraçar o seu projeto de vida, a sua Boa Nova, para que esse se concretize. Para isso Ele nos dá o Seu Espírito.

8. Na 2ª leitura, é Paulo que nos fala, como consequência desse abraçar o projeto de Jesus, o que significa viver essa vida em comunidade. Se para os judeus a Palavra vinha através da Lei e dos Profetas, para os cristãos, a Palavra vem através de Jesus e deve criar raízes e produzir frutos em nós pela força do Espírito.

9. Seguimos, assim, na escuta e leitura da 1ª Carta aos Coríntios. Aqui Paulo expressa sua preocupação pela unidade da comunidade eclesial, tão diversificadas em vários aspectos. Paulo recorre à imagem do ‘corpo social’, do discurso político, para lembrar essa dependência que temos uns dos outros para que este corpo eclesial funcione.

10. Paulo descreve as diversas vocações dos membros desse corpo como dons de Deus (ou do Espírito), ‘carismas’, que servem para manter viva a unidade. As frases finais sugerem que se respeite as diferenças e que se escute o que os outros nos ensinam. A unidade não é uniformidade, mas o fruto da respeitosa escuta do outro.  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 25 de janeiro de 2025

(At 22,3-16; Sl 116[117]; Mc 16,15-18) Conversão de São Paulo.   

“Porque tu serás a sua testemunha, diante de todos os homens, daquilo que viste e ouviste” Mc 16,16.

“No apostolado de Paulo não faltaram dificuldades, que ele enfrentou com coragem por amor a Cristo. Ele mesmo lembra ter sofrido ‘muito mais pelas fadigas; muito mais pelas prisões; infinitamente mais pelos açoites; frequentemente em perigo de morte; ...fui flagelado três vezes, uma vez fui apedrejado, três vezes naufraguei... fiz muitas viagens; sofri perigos nos rios; perigo por parte de ladrões, perigos por parte dos meus irmãos de raça; perigo por parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigo por parte dos falsos irmãos. Mais ainda: morto de cansaço; muitas noites sem dormir, fome e sede; muitos jejuns, com frio e sem agasalhos. E isto sem contra o resto: a minha preocupação cotidiana, a atenção que eu tenho por todas as igrejas’ (2Cor 11,23-28). Numa passagem da Carta ao Romanos (cf. 15,24-28), revela o seu propósito de dirigir-se até a Espanha, no extremo Ocidente, para anunciar o Evangelho por todas as partes, até os confins da terra conhecida de então. Como não admirar um homem assim? Como não agradecer ao Senhor por nos haver dado um apóstolo deste padrão? É evidente que não teria podido enfrentar situações difíceis e às vezes desesperadoras se não tivesse uma razão de valor absoluto, diante da qual nenhum limite poderia considerar-se insuperável. Para Paulo, esta razão, sabemos, é Jesus Cristo, de quem escreve: ‘o amor de Cristo é que nos impulsiona... e assim, aqueles que vivem, já não vivem para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou’ (2Cor 5,14-15), por nós, por todos. De fato, o apóstolo oferecerá o supremo testemunho de seu sangue sob o imperador Nero, aqui, em Roma, onde conservamos e veneramos os seus restos mortais. Dele escreveu Clemente Romano, meu predecessor nesta sede apostólica nos últimos anos do século I: ‘Pela inveja e a discórdia Paulo se viu obrigado a nos mostrar como se consegue o prêmio da paciência... Depois de pregar a justiça ao mundo todo e depois de chegar aos extremos confins do Ocidente, enfrentou o martírio diante dos governantes; assim saiu deste mundo e alcançou a santidade, convertendo-se no maior modelo de perseverança’ (Aos Coríntios 5). Que o Senhor nos ajude a colocar em prática a exortação que nos deixou o apóstolo em suas cartas: ‘Sejam meus imitadores, como também eu sou de Cristo’ (1Cor 11,1)” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 24 de janeiro de 2025

(Hb 8,6-13; Sl 84[85]; Mc 3,13-19) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram até ele” Mc 3,13.

“O chamado dos doze foi de suma importância para o ministério de Jesus. Superava-se, assim, o risco de cair numa forma de personalismo, no qual tudo estivesse centrado na sua pessoa, sobrando pouco ou nenhum espaço, até mesmo para o Pai. Os Evangelhos, pelo contrário, testemunham que o Pai e seu Reino constituíram os eixos da vida de Jesus, sendo o ponto de convergência de tudo quanto ele dizia ou fazia. A presença dos doze, no ministério de Jesus, expressa sua disposição de partilhar com eles a missão recebida do Pai. Como Jesus, os doze teriam a tarefa de pregar, proclamar a Boa Nova do Reino e expulsar os demônios, manifestando, assim, a eficácia do Reino na vida de quem era oprimido por foças malignas. Desde o início, o relacionamento entre Jesus e seus companheiros de missão foi de proximidade e confiança. Não era usual esta forma de os mestres tratarem seus discípulos. Em geral, a veneração do discípulo pelo mestre exigia que se mantivesse uma respeitosa distância entre eles. Era uma forma de sublinhar o desnível da relação: superioridade do mestre – inferioridade do discípulo, sabedoria de um – ignorância do outro etc. Fazendo-se próximos de Jesus, os discípulos são introduzidos numa nova pedagogia. O Mestre irá instruí-los com o testemunho de sua própria vida, fazendo-os partilhar de sua missão e destino. – Espírito que predispõe para o discipulado, dá-me disposição para acolher, com docilidade, o apelo de Jesus a compartilhar sua missão (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 23 de janeiro de 2025

(Hb 7,25—8,6; Sl 39[40]; Mc 3,7-12) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Todo sumo sacerdote, com efeito, é constituído para oferecer dádivas e sacrifícios;

portanto é necessário que tenha algo a oferecer” Hb 8,3.

“O pregador continua a descrever a comparação entre o sacerdócio levítico do Antigo Testamento e o Sacerdócio de Cristo. Cruzam-se considerações de grande profundidade teológica: a oferta de Jesus é única, enquanto Ele não ofereceu animais, mas ofereceu-Se a Si mesmo; além disso o Sacerdócio de Cristo permanece para a eternidade, dado que Jesus ressuscitou; finalmente, a Sua mediação salvífica é eficaz e definitiva, ao contrário da dos Sacerdote do Antigo Testamento. [Compreender a Palavra] Mediante um rito de imolação de animais e de derramamento do seu sangue sobre as várias partes do seu corpo, Moisés consagrou Aarão Sumo Sacerdote (cf. Lv 8,22-30). Essa ação tornou-se exemplar para qualquer candidato ao Sumo Sacerdócio, servindo para ‘aperfeiçoar’ o homem, de modo a tornar o sacerdote agradável a Deus. O autor da Carta aos Hebreus exprime indiretamente um juízo bastante negativo sobre esse rito; com efeito, acha que a sua eficácia era totalmente externa, porquanto não eliminava os pecados (cf. Hb 7,27). Por outras palavras, podemos dizer que o sacerdócio de Aarão, espelho da Lei mosaica, era ineficaz sob o ponto de vista salvífico. Ao invés, Cristo, através do mistério pascal, foi estabelecido ‘perfeita para sempre’ pelo Pai (7,28), entrou no santuário na presença de Deus, tornando-Se um modo eficaz e definitivo mediador de salvação (7,25; 8,1-2). Qual é então o sentido do culto do Antigo Testamento? O autor não tem dúvidas: o culto antigo é uma prefiguração com cumprimento realizado por Cristo e relacionar-se com ele, como um modelo com a obra final” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 1] – Paulus).     

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 22 de janeiro de 2025

(Hb 7,1-3.15-17; Sl 109[110]; Mc 3,1-6) 2ª Semana do Tempo Comum.

“E perguntou-lhes: ‘É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixa-la morrer?’ Mas eles nada disseram” Mc 3,4

“Nem todo silêncio é bom ou sábio. Obviamente, se não tem algo edificante, proveitoso e animador para dizer, permaneça silente. Palavras desnecessárias são totalmente dispensáveis. Mas, muitas vezes, a vida nos exige uma resposta. Tem gente que fica em silêncio por não ter o que dizer, outros ficam quietos para não se comprometerem e outros o fazem por sabedoria. Sabem que, de fato, eles não serão ouvidos, serão no máximo escutados. Jesus, costumeiramente, deixava seus adversários em silêncio por não terem respostas às suas questões, pois se eles respondessem algo se comprometeriam e era tudo o que eles não queriam. Falar é comprometer-se com alguém ou alguma causa, falar é apoiar e, para fazê-lo, um número grande de gente prefere ficar calada. Quem apoia o erro, mesmo que indiretamente (com o silêncio), é cúmplice dele e de todos os seus desdobramentos, como disse São Tiago: ‘Aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando’ (Tg 4,17). Quanto à pergunta do Cristo, é lícito fazer o bem todos os dias. Se tivermos de deixar de ir a uma missa ou a um culto para socorrer alguém e leva-lo a um hospital, nisto também estamos adorando a Deus. Portanto, podemos fazer bem a Deus no sábado, no domingo, no Natal, nos dias santos, enfim, podemos e devemos fazer o bem sempre. Este é um dos grandes ensinamentos de Jesus: pessoas são mais importantes do que dogmas. Vamos viver como Ele viveu? Aprendamos com Jesus. – Amado Jesus, que aprendamos contigo a preferir às pessoas ao invés das coisas, que compreendamos que os ensinamentos, dogmas e doutrinas existem em benefício do ser humano e não o inverso. Que não sejamos dominados por nenhuma ideologia, mas que sejamos livres como o Cristo. Amém (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 21 de janeiro de 2025

(Hb 6,10-20; Sl 110[111]; Mc 2,23-28) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Portanto, o Filho do Homem é senhor também do sábado” Mc 2,23-28.

“A postura de Jesus contrastava com a dos fariseus. Estes, apegados às tradições, suspeitavam dele quando o viam atropelar, com sua liberdade, os costumes dos antigos. Era como se estivesse ferindo a sensibilidade alheia. O Mestre admirava-se da visão estreita dos fariseus, uma vez que, nas Escrituras, já se encontravam atitudes e gestos semelhantes ao seu. Por isso, agora, recordava-lhes um fato ligado a Davi, quando este, fugindo da perseguição de Saul, foi parar num lugar chamado Nobe, junto ao sacerdote Aquimilec (segundo o Evangelho, Abiatar). Davi e os seus companheiros estavam com fome. Nada tendo para lhes oferecer, o sacerdote deu-lhes os pães consagrados, que só aos sacerdotes era permitido consumir. E nem por isso ficou cheio de escrúpulos ou com peso na consciência. Seu gesto foi profundamente humanitário. Tanto no caso de Davi como no dos discípulos de Jesus, a não-observância da tradição não aconteceu por leviandade. A vida humana estava em perigo. Precisava ser salva, mesmo contrariando as convenções religiosas. Agindo com liberdade, Jesus ensinava aos discípulos como a religião deveria ser praticada com bom senso. Certas demonstrações de fidelidade às tradições religiosas acabam se tornando um espetáculo de insensatez, quando se chocam com o direito à vida. – Espírito de bom senso, livra-me de praticar um tipo de religião muito fiel às tradições humanas, mas pouco conforme ao querer do Pai (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 20 de janeiro de 2025

(Hb 5,1-10; Sl 109[110]; Mc 2,18-22) 2ª Semana do Tempo Comum.

“Ninguém põe vinho novo em odres velhos, porque o vinho novo arrebenta os odres velhos

e o vinho e os odres se perdem. Por isso, vinho novo em odres novos” Mc 2,18-22.

“A vida pagã, ou segundo os princípios do mundo, é o odre velho e gasto. A vida cristã é uma vida nova, com novos princípios de valorização das coisas e com novos rumos e novas metas por alcançar. Daí que pretender ser cristão, mas seguindo os princípios do mundo, suas normas de conduta e seus costumes, aplicando sua escala de valores, pretender aparentar um formalismo cristão, no entanto com uma realidade de vida pagã ou mundana, é pretender conciliar o inconciliável ou, para expressar-nos de acordo com o evangelho, é pretender colocar o vinho novo do evangelho no odre velho de mentalidade e formas de vida ultrapassadas ou envelhecidas na prática de princípios injustos e imorais. Ser cristão é uma coisa muito séria, nada fácil e muito comprometedora. Se o mundo é governado pelo egoísmo, o cristão sabe que deve amar o seu próximo como a si mesmo. Se o mundo vive impregnado de desejos e intenções mal intencionados, o cristão tem de viver uma forte transparência de consciência. Se no mundo predomina o amor ao bem-estar e à sensualidade, o cristão rememora que Jesus Cristo exige-lhe uma vida de abnegação de si mesmo. Se o mundo se governa pela violência, o cristão é dirigido pela paciência. O mundo é o odre velho carregado de paixões, gasto por seus excessos, rasgado por suas ambições, e o cristão é o vinho novo, forte e generoso, aprazível e comprometido, que não pode restringir-se nem limitar-se pela estreiteza do odre velho do mundo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Is 62,1-5; Sl 95[96]; 1Cor 12,4-11; Jo 2,1-11)

1. O evangelho de hoje nos informa que um dia, em Caná da Galileia, se celebrava um casamento e que também haviam sido convidados Jesus, sua mãe e seus discípulos e que, ao fim da festa, vindo a faltar o vinho, Jesus, a pedido de Maria, transforma a água em vinho.

2. A narrativa se conclui com esta nota: “Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia”. Pode não parecer, mas esta nota nos oferece a chave de leitura de todo o episódio e nos introduz um elemento de grande valor espiritual.

3. Devido ao seu valor simbólico, as núpcias em Caná pretende anunciar ao mundo que com a vinda de Jesus inicia o tempo em que Deus celebra com a humanidade uma aliança de caráter esponsal. Esta realidade já havia sido contemplada pelos profetas:

4. (Diz o Senhor) “Eu noivarei contigo para sempre, eu noivarei contigo, pela justiça e pelo direito, pelo amor e pela ternura” (Os 2,21) e mesmo Is na 1ª leitura: “... pois o Senhor agradou-se de ti e tua terra será desposada... e como a noiva é a alegria do noivo, assim também tu és a alegria de teu Deus” (62,4b.5b).  

5. Tomando esse significado das núpcias de Caná, penso que não nos é difícil perceber uma certa chamada de atenção a esses cristãos que vivem sua religiosidade em clima de asfixia espiritual, de frieza, de medo e de oprimente ascetismo.

6. Desde o momento em que Deus julgou oportuno fazer-se esposo de nossa alma e estabelecer uma relação de amor, levar adiante o próprio caminho de fé numa atmosfera de tristeza ou mesmo de angústia, é um contrassenso.

7. É certo que a vida é estressante, cheia de incógnitas e, em algumas ocasiões, até mesmo dramática. Mas é justamente porque às vezes podemos nos encontrar sós e abandonados, é que Deus quer colocar-se ao nosso lado e nos sustentar com a força do seu amor.

8. E se ao teu lado está Ele, o Senhor enamorado de ti, por que atormentar-se, entristecer-se? Ao invés de afligir-se e de te deixares levar pelo desencorajamento, volta para Ele o teu coração e tem presente que nem sempre lhe agrada rostos tristes, melancólicos, sempre abatidos, enlutados.

9. Se por um acaso, te sentires propenso a imaginar o Senhor com um rosto zangado de juiz ou policial, quero lhe oferecer esta delicada confidência que o místico hindu dirige a seu deus:

10. “Aonde quer que eu vá, Tu és o meu companheiro – que me toma pela mão e me conduz. Na estrada em que caminho – Tu és o solo em que firmo meus pés. Ao meu lado Tu carregas o meu fardo. Se ao longo da estrada eu me perco, Tu, ó deus, me redireciona – E me impulsiona a seguir adiante. Agora a tua alegria me penetra, me circunda – E eu sou como uma criança – Que brinca em dia de festa”.  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 18 de janeiro de 2025

(Hb 4,12-16; Sl 18[19B]; Mc 2,13-17) 1ª Semana do Tempo Comum.

“Enquanto passava, Jesus viu Levi, o filho de Alfeu, sentado na coletoria de impostos e disse-lhe: ‘Segue-me!’ Levi se levantou e o seguiu” Mc 2,14.

‘Levi encontrava-se sentado à mesa de trabalho, despreocupado em relação a tudo que não fosse cobrança de impostos, pensando na polpuda comissão que lhe tocaria naquele acerto de contas. Porém, de repente, ante o despacho dos impostos, percebe-se uma sobra serena e estilizada; Levi levanta os olhos, disposto a entabular a costumeira conversação comercial de pagamento, quando o homem que tinha diante de si fixa nele o olhar e diz-lhe uma única palavra: ‘Segue-me’. Ninguém sabe o que se passou na alma de Levi; era tão desusada aquela assaz cura e decisiva palavra: ‘Segue-me’. Levi não sabia sequer quem pronunciava aquela frase; mas algo deve ter ecoado no mais profundo de sua consciência, uma luz esclarecedora acendeu-se em seu interior. Olhou nos olhos de Jesus de Nazaré e neles viu tudo, e compreendeu tudo, e agora já não é estranho o desembaraço do evangelho quando afirma: ‘Levi levantou-se e o seguiu’. Se você percorre brevemente sua vida a analisa com cuidado, poderá constatar que Deus o/a chamou também de muitos modos em não poucas ocasiões e para variadas missões, ora em relação à santificação pessoal ora no exercício de seu apostolado. Você foi chamado(a) por Deus, mas como é que você respondeu a esse chamado? As inspirações da graça, as moções do Espírito Santo, os impulsos para melhorar ou para atuar apostolicamente são verdadeiros chamados de Deus. Como você os recebe, como os segue, como responde a eles?” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 17 de janeiro de 2025

(Hb 4,1-5.11; Sl 77[78]; Mc 2,1-12) 1ª Semana do Tempo Comum.

“O paralítico então se levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. E ficaram todos admirados

e louvavam a Deus, dizendo: ‘Nunca vimos uma coisa assim’” Mc 2,12.

“Porque as pessoas têm um certo prazer mórbido no sofrimento? Por que enfatizam tanto o que negativo? Por que espiritualizam a falta e o choro? Se observarmos o universo veremos nele prevalecer sempre a abundância, em todos os sentidos. Não seria, então, mais lógico e natural pensarmos e enfatizarmos o positivo? Não seria essa a ideia do Criador? Veja o Evangelho de hoje, algumas pessoas ficaram bravas porque Jesus Cristo fez o bem (Mc 2,7). Ainda hoje não é assim que funciona em muitos lugares? Tem gente que só enxerga valor e coisa boa se for alguém do seu grupo, da sua turma. Como Jesus não era da turma daquelas, começaram a questionar sua autoridade. Mas Ele não retroagiu: fez o bem mesmo assim e muitos se admiraram. Quando se encontra gente assim, para que discutir? Para que debater? Para que brigar? É muito melhor, mais sábio e mais prudente dar a sua opinião, ouvir respeitosamente a do outro, e, mesmo discordando dela, aprender, no silêncio, algo com o próximo. Quem sabe você está certo, quem sabe ele está, ou talvez o certo seja uma mescla da sua opinião com a dele ou, de repente, ambos estão certos ou ambos estão equivocados. No entanto, uma coisa é fato, geralmente discussão e bate-boca não levam a lugar nenhum. Como disse, o universo aponta para a abundância do bem. Façamos o bem sem ter que ficar brigando, discutindo, disputando. O bem sempre vence, a verdade sempre prevalece. Se você já foi injustiçado mesmo fazendo o bem, faça como Jesus: não desista, continue a fazer o que é certo e siga o seu caminho em paz. – Querido Jesus, dá-nos o dom da paz para fazermos o bem mesmo que incompreendidos por outros. Amém” (Sandro Bussinger Sampaio – Graças a Deus [1995] – Vozes).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 16 de janeiro de 2025

(Hb 3,7-14; Sl 94[95]; Mc 1,40-45) 1ª Semana do Tempo Comum.

“Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade,

levando-o a afastar-se do Deus vivo” Hb 3,12.

“Deus é sempre fiel a suas promessas. Nós, seu povo, nem sempre o somos. Gostaríamos que o plano de Deus se adequasse aos nossos projetos pessoais. E, por isso, somos inconstantes no que se refere à escuta e à prática da voz de Deus, que nos vem por sua Palavra (Jesus) e os acontecimentos cotidianos. Escutar a voz de Deus deverá ser uma atitude interior de atenção que contempla Deus agindo no hoje de nossas vidas. A incredulidade da qual o versículo acima se refere é ignorar o que Deus nos fala no nosso hoje, no momento presente de nossa história. Ignorar a voz de Deus é no íntimo uma falta de fé, pois a verdadeira fé se expressa pela obediência à Palavra de Deus quando Ele se comunica conosco. Somente quando respondemos positivamente aos apelos de Deus será possível encontrar o repouso prometido a cada geração dos seguidores de Deus (Lawrence O. Richards). Escutar a voz de Deus é um esforço contínuo para que adequemos nossa vida à vida que Deus deseja para nós. A vontade de Deus é que não nos afastemos de seu amor e de sua ação misericordiosa. O seu desejo é que sejamos tal qual Ele é (cf. Lc 6,36). Este é também o desejo de Jesus para sua comunidade de fé, pois todo o tempo em que esteve conosco mostrou um grande prazer em fazer a vontade de Deus, não sem lutar contra o seu ‘homem interior’ que buscava as coisas do interesse humano (cf. Mt 4,1-11; Lc 4,1-13). Quais são as exigências que a Palavra nos tem provocado a escutar? – Ó Deus presente na vida e a história do teu povo, ensina-nos a te escutar nas realidades de nossas comunidades. Amém (Gilberto Orácio de Aguiar – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).   

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 15 de janeiro de 2025

(Hb 2,14-18; Sl 104[103]; Mc 1,29-39) 1ª Semana do Tempo Comum.

“Por isso devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso

e digno de confiança nas coisas referentes a Deus a fim de expiar os pecados do povo” Hb 2,17.

“São duas as dimensões que o autor da Carta aos Hebreus evoca nesta passagem. A primeira, horizontal, está ligada à solidariedade de Jesus com os homens, revelada no mistério da Encarnação e da morte de Cruz. A segunda dimensão é vertical, representada pela relação de Jesus com Deus: Ele é ‘digno de fé’, ou seja, merecedor de confiança da parte de Deus. [Compreender a Palavra:] O primeiro aspecto sobre o qual o autor se debruça é a partilha que Jesus experimentou. ‘Carne’ e ‘sangue’ são símbolos muito eloquentes da historicidade e da fragilidade humana, assumida pelo Filho de Deus. O autor especifica este aspecto recorrendo a uma categoria singular: a do Sumo Sacerdócio. Em que consiste o Sumo Sacerdócio de Cristo? Existe uma variação sobre o tema em relação às passagens do Antigo Testamento, que colocam a ênfase sobre a separação radical entre o Sumo Sacerdote e os homens. Jesus partilhou com os homens, todos como Seus irmãos (v. 17), cada prova, cada tentação, incluindo o sofrimento e a morte. O Seu Sumo Sacerdócio consistiu nisto. Compreendemos assim os dois adjetivos expressivos utilizados na Carta: ‘fiel’ e ‘misericordioso’ (v. 17). Jesus é ‘fiel’, podemos confiar n’Ele. Com esta expressão foi designado Moisés, superior a todos os profetas (cf. Nm 12,1-8); mas a fiabilidade de Jesus é maior, porque por meio d’Ele os homens podem entrar em relação com o próprio Deus. Jesus, Sumo Sacerdote, é ainda misericordioso ao ser capaz de socorrer os homens na sua fragilidade e nos seus pecados, com a finalidade de lhes dar a salvação” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 1] – Paulus).          

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 14 de janeiro de 2025

(Hb 2,5-12; Sl 8; Mc 1,21-28) 1ª Semana do Tempo Comum.

“Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade,

não como os mestres da Lei” Mc 1,22.

“A autoridade com que Jesus falava e realizava milagres chamava atenção das pessoas. Embora houvesse muitos mestres e se tivesse notícias de indivíduos capazes de operar prodígios, ele se distinguia de todos os demais. Não era um milagreiro qualquer, nem um rabi como tantos outros. Em que consistia a sua originalidade? As palavras e ações de Jesus apontavam para algo que o superava. Não correspondiam àquilo que se podia esperar de um ser humano comum. Por exemplo, o modo como se defrontava com os espíritos imundos, e os submetia destemidamente, tinha algo de insólito. O segredo de tudo isto é que Jesus era detentor de um poder, recebido de Deus. Era o Pai mesmo que agia por meio do Filho. Por isso, o povo percebia existir algo especial no que ele fazia. O próprio Jesus afirmava não agir por conta própria, e sim, por iniciativa divina. Jamais dissera estar nele a fonte do seu poder. Antes, buscava sempre levar seus ouvintes e espectadores a atribuir a Deus tudo o que viam e ouviam. As ações do Mestre eram verdadeira revelação do Pai. Ao constatar que Jesus ensinava, com autoridade, uma doutrina nova, as pessoas podiam reconhecer, logo, a ação de Deus no meio delas. – Espírito de poder, reveste-me com a força divina, para que eu possa, como Jesus, revelar a bondade do Pai em favor da humanidade (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 13 de janeiro de 2025

(Hb 1,1-6; Sl 96[97]; Mc 1,14-20) 1ª Semana do Tempo Comum.

“Depois que João Batista foi preso. Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus...” Mc 1,14.

“Não vivemos para as coisas. É preciso viver para os homens e, ainda melhor, para Deus. Não adoremos a técnica, o dinheiro, a cultura. Pedro não muda de profissão, mas daqui para frente sua meta será a salvação dos homens. As coisas estão ordenadas para os homens, e os homens estão ordenados para Deus; no entanto, com muita frequência preocupam-nos mais as coisas do que os homens e dispensamos mais esforços e trabalhamos para conseguir coisas do que para melhorar os homens e sua situação. Ao proclamar a boa nova de Deus, proclama-se a libertação de tudo quanto possa oprimir o homem, e o homem, assim libertado, transforma-se em transmissor dessa libertação para todos os irmãos. Pedro e André dão-nos uma bela lição da prontidão com que devemos seguir o chamado do Senhor: ‘Eles, no mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no’ (v. 18). Para eles, as redes eram tudo, pois eram instrumento de seu trabalho e de seu sustento cotidiano; no entanto, não duvidaram um momento sequer, deixam as redes e acompanharam o Senhor. Porém o Senhor jamais se deixa vencer em generosidade e, assim, os fez pescadores de homens, colaboradores da obra da Redenção. Deus também chamou você para ‘proclamar a boa nova’. Jesus une a primeira proclamação de sua mensagem à escolha dos seus discípulos; escolhe-os precisamente para isso: para proclamar a boa nova de Deus; por isso os discípulos devem renovar-se entre todos eles deve-se cumprir a missão profética do Senhor, e assim o Senhor, com o correr dos dias, vai escolhendo e chamando os homens para colaborarem na ação salvífica que deve realizar no mundo. E Jesus Salvador continuará presente em sua ação salvadora mediante o ministério de alguns homens escolhidos por ele para serem seus profetas e apóstolos” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Batismo de Jesus – Ano C

(Is 42,1-4.6-7; Sl 28[29]; At 10,34-38; Lc 3,15-16.21-22)

1. O batismo, segundo a espiritualidade sacramental, imprime no coração do batizando, um caráter indelével. Deus o marca, caracteriza-o espiritualmente, de uma forma diferente, uma vez que ele já era e tinha sido feito ‘à imagem e semelhança’ do Criador.

2. A criação como que insere a pessoa na vida e nos destinos do mundo. O batismo a insere na vida da Santíssima Trindade e a incorpora em Cristo e na missão de sua Igreja.

3. Jesus, antes de assumir publicamente a missão de evangelizar o mundo, passou pelo ritual do batismo, deixando-se marcar indelevelmente pela mão e pela voz de Deus. Diz o evangelista que o céu se abriu, uma pomba posou sobre ele e a voz do Espírito Santo o consagrou.

4. Ele, que viera para fazer a vontade do Pai, ia agora testemunhá-lo proclamando seu amor e os caminhos divinos da salvação. E Deus confessa que se compraz em seu Filho. Dele Deus se agrada.

5. O mesmo acontece em nosso batismo: nossa alma se transforma em templo da Santíssima Trindade, o céu se abre sobre nós e Deus confessa que nos ama, que se compraz com nossa vida. E somos enviados para renunciar a Satanás e confessar nossa fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

6. Quantos batizados se lembram disso e como vivemos nossa consagração batismal? Temos a marca de Deus, temos o seu caráter. Um batizado não pode, por isto, fazer o jogo do senhor deste mundo, que é o demônio, mas ser, como Jesus, um evangelizador das estruturas sociais e um missionário das boas relações entre as pessoas.

7. Ele é a encarnação de Deus no tempo e um testemunho da voz do céu que o envia para proclamar aos irmãos um ano de graça e salvação. Amém.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 11 de janeiro de 2025

(1Jo 5,14-21; Sl 149; Jo 3,22-30) Semana da Epifania.

“É o noivo que recebe a noiva, mas o amigo, que está presente e o escuta, enche-se de alegria ao ouvir a voz do noivo. Esta é a minha alegria e ela é completa. É necessário que ele cresça e eu diminua” Jo 3,29-30.

“João Batista comportou-se de maneira exemplar diante do Messias Jesus, cujo ministério estava iniciando. Tratava-se de dar por encerrada sua missão de precursor, e retirar-se de cena, abrindo espaço para Cristo. O texto evangélico expressa a consciência do Batista. Ele reconhecia que recebera de Deus a missão de preparar os caminhos do Messias. Portanto, não dependeu de sua iniciativa pessoal, nem resultou de mera intuição humana. Assim, uma vez cumprida a tarefa recebida, só lhe restava colocar-se humildemente, no seu lugar, sem incorrer na tentação de competir com o Messias. Quem escutara João, podia testemunhar em seu favor. Jamais ele afirmara ser o Cristo. Sua consciência de precursor impedia-o de confundir os papéis. Simplesmente fora mandado para precedê-lo. Nada mais! Ter-se-ia equivocado se tivesse feito as atenções confluírem para si. Ele era um simples instrumento que Deus se servia para conclamar e preparar as pessoas para a chegada do Messias. Daí seu contentamento por saber que Jesus dera início a seu ministério. Como uma esposa alegra-se com a chegada do esposo, ele havia atingido o auge da felicidade! – Espírito de contentamento, como João Batista, quero alegrar-me com a presença de Jesus na nossa História, que revela o amor de Deus de por nós (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 10 de janeiro de 2025

(1Jo 5,5-13; Sl 147[147B]; Lc 5,12-16) Semana da Epifania.

“E Jesus recomendou-lhe: ‘Não digas nada a ninguém. Vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela purificação o prescrito por Moisés como prova de tua cura’” Lc 5,14.

“Existe neste milagre uma ordem, que Jesus dá ao leproso, para que vá apresentar-se ao sacerdote para que, assim, sua cura ficasse legal e oficialmente reconhecida. É vontade de Deus que você não prescinda do sacerdote no trabalho de sua salvação e santificação. É certo que somente Jesus é nosso Salvador e Redentor. É unicamente a ele que devemos o perdão e a graça. Mas ele quis que esse perdão e essa graça nos venham por meio do ministério sacerdotal. O sacerdote é apenas um homem, nada mais que um homem, mas com poderes sobrenaturais, que lhe foram concedidos diretamente por Jesus Cristo. Como sacerdote, é o representante de Deus, a pessoa que está na terra em lugar de Jesus Cristo, o ministro oficial da Igreja. Não detenha tanto seu olhar nesse homem, nessa pessoa humana, que tem qualidades ou defeitos, no seu caráter ou temperamento, com esta ou aquela maneira de ser. Olhe sempre para o sacerdote com verdadeiro espírito de fé, sobretudo quando você recorrer a ele para receber o sacramento da penitência” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 09 de janeiro de 2024

(1Jo 4,19—5,4; Sl 71[72]; Lc 4,14-22) Semana da Epifania.

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção

para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos

e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos” Lc 4,18.

“Nestas palavras do profeta Isaías, Jesus formula seu próprio programa. É interessante que Lucas combina dois textos: o texto messiânico de Isaías 61, 1s e a frase ‘para pôr em liberdade os oprimidos’, de Isaías 58,6. Neste último texto trata-se do verdadeiro jejum, do jejum que agrada a Deus. Não foi por acaso que Lucas ajuntou esses textos. Jesus cumpre as tarefas do Messias. Ele é o homem que, na sua piedade, agrada a Deus. E com essa combinação de dois textos Lucas sugere que nós, como discípulos de Jesus, temos a incumbência de pôr em liberdade os humilhados, de aplanar o caminho da liberdade para os que estão machucados, abatidos, oprimidos, esgotados. Jesus entende a si mesmo como cheio do Espírito Santo. E considera sua tarefa anunciar uma boa nova aos pobres. Esses pobres são, por um lado, os economicamente fracos, os sem diretos sociais, mas, de outro, também os presos, os cegos e os aflitos. Quando Jesus cura alguém, Lucas vê isso como a libertação de grilhões que o mantinham preso. Como exemplo da cura de doentes, Lucas coloca aqui apenas os cegos. A eles Jesus quer dar o ‘poder enxergar novamente’, ou, como é dito literalmente: ‘poder levantar os olhos’. Aqueles que tinham fechado seus olhos diante da realidade deverão ‘levantar de novo os olhos’, descobrir, com seus próprios olhos, a beleza do mundo. É curioso que Lucas aqui insiste somente nos olhos. Mas o olhar era para os gregos o sentido mais importante. Para os gregos, Deus é aquele que é contemplado (Theos, ‘Deus’, vem de ‘theastai’, ‘ser contemplado’). O ser humano vive a sua dignidade ao contemplar. Muitas vezes, porém, a sua vista é nebulosa. Ele vê a realidade através dos óculos embaçados de suas projeções ou de seus padrões neuróticos. Seu olhar é desfigurado pelas ilusões que ele cria sobre o mundo. Quando é capaz de enxergar o que é real, de levantar os olhos, de olhar livremente ao redor, então ele é realmente um ser humano” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 8 de janeiro de 2025

(1Jo 4,11-18; Sl 71[72]; Mc 6,45-52) Semana da Epifania.

“Ele viu os discípulos cansados de remar, porque os ventos eram contrários. Então, pelas três da madrugada, Jesus foi até eles, andando sobre as águas, e queria passar na frente deles” Mc 6,48.

“A coragem com que o discípulo enfrenta os reveses do mundo testemunha sua fé. Pressões de todos os lados, tentações para esmorecer, dívidas a respeito da validade de ser discípulo, são algumas das formas de confronto pelas quais passa o discípulo do Reino, levando-o a correr o risco de se sentir frustrado acerca de sua vocação e missão. Muitas vezes, as investidas do mundo parecem insuperáveis. E o discípulo é desafiado a crer para além das evidências, se quiser sobreviver e manter-se fiel a Jesus. A experiência de enfrentar uma tempestade, no meio do lago da Galileia, num pequeno barco, revela este desafio. Era noite, e a barca encontrava-se no meio do lago. Os discípulos remavam penosamente, mas sem resultado, porque o vento era contrário. O risco de afogamento era evidente. Não parecia haver solução para o caso! É então que aparece Jesus. Inicialmente, eles imaginaram tratar-se de um fantasma. E puseram-se a gritar de pavor. Mas, num segundo momento, encorajados pelo Mestre, são capazes de reconhecê-lo. A fé dos discípulos revelou-se tão frágil, a ponto de levá-los a confundir Jesus com um fantasma. Também foi insuficiente para fazê-los enfrentar os embates da vida. Só uma fé sólida, purificada de todo medo, possibilita ao discípulo sobreviver, nas tempestades do mundo. – Espírito de bravura, concede-me uma fé sólida, que me leve a resistir aos embates da vida e contar com a força reconfortante do Senhor (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 7 de janeiro de 2025

(1Jo 4,7-10; Sl 71[72]; Mc 6,34-44) Semana da Epifania.

“Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor.

Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas” Mc 6,34.

“Uma breve introdução apresenta Jesus como o pastor de um rebanho esfomeado (v. 34a). Capaz de o guiar para pastagens abundantes em erva, nutre-o antes de mais com a Sua palavra (v. 34b) e depois com o pão multiplicado para todos. (vv. 35-41). O quadro final (vv. 42-44) retrata Jesus como o profeta esperado há muito tempo que inaugura os tempos messiânicos. [Compreender a Palavra:] A multiplicação dos pães é um episódio característico na atividade taumatúrgica de Jesus. Presente em todos os evangelhos, deve ser tido em séria consideração, mas pela sua mensagem do que pelos pormenores históricos, os quais não são conhecidos nalguns aspectos. São três os pontos de referência da nossa compreensão. Antes de mais, o fato narrativo: apresentado como uma só multiplicação por São Lucas e por São João, o episódio é de novo narrado numa dupla versão por São Marcos e por São Mateus, no interior da chamada ‘seção dos pães’ (Mc 6,30—8,21; Mt 14,13—16,12). Em segundo lugar, as tradições do Antigo Testamento: o alimento fornecido milagrosamente e com abundância remete para a ação de Deus que sacia o Seu povo no deserto e para a multiplicação dos pães para cem pessoas pelo profeta Eliseu. Faz parte desta herança também a tradição rabínica que descreve a espera do Messias como a espera de um novo Moisés ou do ‘Profeta’ capaz de repetir os milagres do Êxodo num modo surpreendente. Finalmente, é preciso não esquecer a influência exercida sobre os evangelhos pela praxe litúrgica que manda repetir alguns gestos – abençoar, partir o pão, dispor-se numa certa ordem – com termos específicos quer pela liturgia de Jerusalém quer pela de Antióquia. São Marcos e seus leitores liam o episódio com antecipação da Última Ceia e do baquete messiânico: duas realidades muito sentidas nas celebrações eucarísticas da comunidade. O valor querigmático da narração pode ser entendido na dificuldade dos discípulos em entenderem as intenções do Senhor. Na inteira seção dos pães este aspecto está unido ao tema do endurecimento do coração: é demasiado grande para os discípulos aquilo que o Senhor está revelando” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Advento - Natal] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 6 de janeiro de 2025

(1Jo 3,22—4,6; Sl 02; Mt 4,12-17.23-25) Semana da Epifania.

“Daí em diante, Jesus começou a pregar, dizendo: ‘Convertei-vos, poque o Reino dos céus está próximo”

Mt 4,17.

“A síntese da pregação de Jesus é a conversão e o anúncio do Reino de Deus. O reconhecimento de nossos desvios e o arrependimento de nossos pecados é o primeiro passo para a conversão e o elemento indispensável para a santidade no caminho da santificação. Por isso, João prega a penitência para os judeus, que se esqueceram de Deus, e por isso também Jesus Cristo prega a penitência e a conversão a uma vida de santidade. Por isso Jesus ensina que pretender entrar no Reino de Deus supõe mudar de costumes pelo arrependimento. Aqui ‘a conversão’ (metánoia) é mais que um simples arrependimento de faltas passadas; é uma mudança radical de conduta. O sentido que a conversão tem, no evangelho, é que se lhe dá caráter escatológico, pois associa-se à chegada iminente do Reino de Deus e do Messias que deverá instaurá-lo. Na pessoa de Jesus, Deus toma a iniciativa da reconciliação e do oferecimento do perdão; mas para que surta seu efeito esta iniciativa, é necessário que o homem, por seu lado, abandone o orgulho e consinta em voltar-se para Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Epifania do Senhor

(Is 60,1-6; Sl 71[72]; Ef 3,2-3.5-6; Mt 2,1-12)*

1. Podemos recolher dessa narrativa, que é uma mescla de história, teologia e simbolismo, alguma coisa prática para a nossa vida. Como toda a Bíblia, esta página também foi escrita para o nosso ensinamento.

2. É perceptível na narrativa três reações diversas ao anúncio do nascimento de Jesus: aquela dos magos, a de Herodes e dos sacerdotes. Comecemos por Herodes. Ele fica perturbado com a notícia e convoca os sábios da corte, não para conhecer a verdade, mas para corrigir um possível engano.

3. Essa intenção se manifesta ao pedir aos magos que retornem com notícias, transformando-os numa espécie de espiões. Herodes representa a pessoa que já fez sua escolha. Entre a vontade de Deus e a sua, ele claramente escolheu a sua.

4. Não se trata de verificar alguma espécie de ódio de Deus ou coisa parecida. Ele não vê vantagem e decidiu eliminar qualquer coisa que perturbasse o estado das coisas. Ele chega àquele estado definido por Sto. Agostinho: “O amor a si que é o leva até ao desprezo de Deus”. Pensa ser seu dever agir assim para o bem de todos.

5. Nosso mundo segue repleto de ‘Herodes’. Não tem manifestação de Deus que baste. São como cegos; não veem nem querem ver. Só um milagre da graça, e para nossa sorte esses ainda ocorrem, para destruir essa couraça de egoísmo.

6. A reação dos sacerdotes e mestres da Lei é estranha, pois sabem exatamente onde este deve nascer; podem até dar as indicações necessárias de como chegar, mas eles mesmos não se movem. Como placas sinalizadoras na estrada.

7. Essa atitude também simboliza algo muito presente entre nós, sabemos o que significa seguir Jesus, podemos até explicar detalhes aos outros, mas nos falta a coragem e a radicalidade de colocar tal seguimento em prática. E isso não diz respeito somente a nós sacerdotes, mas a todos nós batizados. Sabemos onde Jesus se encontra: nos pobres, nos humildes, nos sofredores..., mas nem sempre vamos lá.

8. Por fim temos os magos, os protagonistas da festa. Eles não nos ensinam com as palavras, mas com os fatos, não com aquilo que dizem, mas com o que fazem.

9. Deus se revela a eles, como sempre o faz, a partir da sua experiência, utilizando os meios que estes têm à disposição: prescrutando os céus, não têm dúvidas, e colocam-se a caminho; deixam suas seguranças e partem com uma simples afirmação, como se não tivessem feito nada de extraordinário: “Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.

10. Vimos e viemos; são as lições que nos deixam. Se tivessem calculado os perigos e as dúvidas da viagem, teriam perdido a determinação inicial e se perdido em vãs e estéreis considerações. Agiram rápido. Este é o segredo quando se recebe uma inspiração de Deus. Como Abraão, partiram sem saber exatamente onde iriam chegar.

11. Os magos deixam claro que vieram para adorar. Para eles, adorar é tributar a máxima honra possível, reconhecer em alguém a soberania absoluta. É a primeira vez que esse verbo no Novo Testamento vem colocado em relação a Cristo: o primeiro, implícito, mas claríssimo, reconhecimento da sua divindade.

12. Podemos afirmar que em seu objetivo não são movidos pela curiosidade, mas pela autêntica piedade. Não buscam aumentar o seu conhecimento, mas exprimir sua devoção e submissão a Deus. A adoração é um sentimento religioso de redescoberta da força e da beleza de Deus.

13. Só a Deus nós adoramos, daí esse cuidado que devemos ter em nosso vocabulário ao atribuir nossa admiração, reconhecimento, apreço e gosto, sejam por coisas ou pessoas.

14. Um último detalhe. Os magos após encontrarem a Cristo não voltam pelo mesmo caminho. Mudando a vida, se muda a via. O encontro com Cristo deve determinar uma mudança, seja de caminhos, seja de hábitos. Também nós não podemos voltar para casa como viemos. A Palavra do Senhor deve mudar alguma coisa dentro de nós, que nos ajude a rever o nosso pensar e o nosso agir.

15. Herodes, os sacerdotes, os magos. Com quem queremos assemelhar a nossa vida ou ela se assemelha? Ver o Menino, sentir uma grande alegria, voltar por outro caminho. São propostas contínuas que a Palavra de Deus nos faz sempre.   

*Com base em reflexão de Raniero Cantalamessa

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 04 de janeiro de 2025

(1Jo 3,7-10; Sl 97[98]; Jo 1,35-42) Tempo do Natal.

“João estava de novo com dois dos seus discípulos e, vendo Jesus passar, disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus!’ Ouvindo essas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus” Jo 1,35-37.

“Volta João a falar do Cordeiro de Deus, assim como o fez ontem. É ele, também, quem, no capítulo 10, apresentará Jesus como o Bom Pastor que conhece suas ovelhas e é capaz, por elas, de dar a vida. Nos dois versículos de hoje, há duas ideias que mereceriam reflexão: João fixa a vista em Jesus e os dois discípulos, sem discutir, seguem a Jesus, abandonando a João. Podemos nos perguntar: Onde estamos nós, neste momento, fixando nossa vista? O que nos atrai, o que nos prende, o que nos preocupa, onde estamos colocando o nosso coração? Não devemos, é verdade, perder de vista o bem, a virtude, a coragem de viver, a necessidade dos outros, os grandes ideais da sociedade, a retidão de comportamento e a bondade do coração. Mas não podemos fixar nossos olhos nas ambições pequenas da vida e nas tentações fugazes e aparentes de bens menores. Jesus Cristo, Cordeiro de Deus, é o bem maior e definitivo, permanente e último, que não podemos perder de vista. Ele deve ser a pulsação do nosso coração e a respiração de nossa vida. E, por isto, devemos segui-lo, não importando as dificuldades que experimentamos e as fraquezas espirituais que possamos sentir. É preciso fixar religiosamente o olhar em sua pessoa e colocar nossos passos decididamente em seu caminho, pois ele é a nossa salvação e a grande promessa de felicidade de Deus. É ele quem nos dá forças para amar nossa família e sermos bons até para nossos inimigos. Com ele, os caminhos podem nos conduzir ao Calvário, mas nosso sepulcro não ficará para sempre sigilado. Cristo é o grande desafio. Aceitando-o, todos os demais desafios serão pequenos, e até mais dignos de serem enfrentados. – Senhor Deus, grande e bom, dai-nos a graça de não perdermos Jesus de vista e a coragem de segui-lo, pelos caminhos da vida, até Jerusalém. Amém” (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 03 de janeiro de 2025

(1Jo 2,29—3,6; Sl 97[98]; Jo 1,29-34) Tempo de Natal.

“No dia seguinte, João viu Jesus aproximar-se dele e disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus,

que tira o pecado do mundo’” Jo 1,29.

“O encontro de João Batista com Jesus possibilitou-lhe manifestar sua certeza de que realmente se tratava do Messias esperado. E mais, tornar pública sua fé. O Precursor reconheceu ser Jesus ‘o Cordeiro de Deus’ cuja missão seria abolir o pecado do mundo. A expressão ‘Cordeiro de Deus’ aludia tanto ao cordeiro pascal quanto ao Servo de Javé que, pelos sofrimentos por causa de sua fidelidade a Deus, foi comparado a um ‘cordeiro conduzido ao matadouro’. Por um lado, a presença e a atuação de Jesus na história humana trariam a marca da libertação, sob a mão protetora de Deus, como acontecera no Egito. Por outro, toda a existência do Messias era entendida como serviço e fidelidade a Deus, numa recusa radical de pôr-se a serviço de outro senhor, mesmo devendo pagar um preço caro por sua decisão. Ambas as possibilidades estão plenamente de acordo com o que haveria de ser seu projeto de vida. Além disso, João Batista confessa que foi por obra de Deus que chegou a reconhecer Jesus como o Messias. E isto se deu por ocasião do batismo do Mestre, quando O Espírito Santo pairou sobre ele. A fé do Precursor consistiu, também, em reconhecer Jesus como ‘o Filho de Deus’. Portanto, um Messias para além das tradicionais expectativas messiânicas. – Espírito que nos predispõe à fé, ilumina minha mente para que eu possa reconhecer Jesus como o Filho de Deus, vindo ao mundo para livrá-lo do pecado” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 02 de janeiro de 2025

(1Jo 2,22-28; Sl 97[98]; Jo 1,19-28) Tempo do Natal.

“E esta é a promessa que ele nos faz: a vida eterna” 1Jo 2,25.

“Somos todos criados à imagem e semelhança de Deus; logo, todos temos uma fagulha do Divino em nós. Assim sendo, temos um pouco de eternidade potencialmente em nós; no entanto, vida eterna não significa apenas a continuidade da existência espiritual no pós-morte física; significa outrossim, vida com qualidade, vida em abundância, vida ao lado de Deus (Jo 10,10). Tem muita gente que vive a vida inteira buscando ‘salvar a alma’, como se a alma fosse algo etéreo, fantasmagórico, meio ‘gasparzinho’. Na verdade, a salvação cristã é uma salvação holística, isto é, o ser humano todo salvo para o bem: espiritual, física, econômica, emocionalmente etc. A promessa do Cristo inclui vida em abundância; portanto, a partilha com menos favorecido, o empenho por saúde para todos, o apoio a educação acessível e de qualidade também fazem parte essencial da salvação. O grande problema é que muita gente vê religião como válvula de escape do inferno, que seria um lugar onde, isolado do Criador, a criatura sofreria tormentos eternos. Ler a Bíblia com essa ideia de salvação acaba jogando a pessoa no mercantilismo da fé e na troca com Deus: eu faço isso e Deus me dá aquilo. Não é isto a vida eterna. Vida eterna é, acima de tudo, gratuidade. Deus em sua graça alcança e acolhe a cada um de seus filhos pelos méritos de Cristo (1Jo 2,1-2), sem barganha, sem troca e sem pagamento de preço. Este mesmo Cristo só requer de seus seguidores que, efetivamente, amem a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Você está disposto a acolher esta vida eterna em você? Ou ainda está entendendo a fé em um sentido mercadológico? Acolha o dom de Deus gratuitamente e exerça sua fé para o bem de todos. – Jesus, ajuda-nos a compreender o verdadeiro sentido da vida eterna que Tu nos dás e conceda-nos promover a vida também para o próximo. Amém” (Sandro Bussinger Sampaio – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite