Quinta, 26 de junho de 2025

(Gn 16,1-12.15-16; Sl 105[106]; Mt 7,21-29) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus,

mas o que põe em prática a vontade do meu Pai que está nos céus” Mt 7,21.

“Não basta invocar o Senhor, é preciso viver conforme sua santíssima vontade, acomodando nossas obras aos princípios evangélicos. Não basta um cristianismo de fórmula; não são as palavras, mas as obras que fazem com que acreditem em nós, como verdadeiros discípulos do Mestre, como autênticos consagrados ao Senhor. Não basta o exterior, que possamos oferecer ao mundo que nos circunda; não basta viver em comunidade, nem apresentar-se como alma consagrada a Deus, nem ser fiéis a determinados regulamentos, necessários por sua vez. É preciso, antes demais nada, viver íntima e profundamente as palavras do Senhor e viver com plena fidelidade a palavra que nós a ele demos. Porque ele nos falou; falou-nos chamando-nos; e nós escutamos a sua voz e respondemos a essa voz, dando-lhe nossa palavra de fidelidade e de amor. Afirma-se que é a fé que salva. E é muito certo; isso está afirmado muitíssimas vezes na Bíblia, o que não nos permite pôr em dúvida. É o Senhor quem nos salva; por isso o chamamos de nosso Salvador, e como tal o amamos e o adoramos; nunca nos ocorreria pensar que nós temos sido nossos próprios salvadores; seria um despropósito demasiado grosseiro admiti-lo. A palavra de Deus exige decisão, definição, mas uma definição não no campo ideológico, e sim no campo da vida. A fé é um compromisso vital, que compromete toda a vida, todos os ambientes da vida, tudo que faz com que a vida seja nossa vida e que abrange tudo aquilo no qual nós devemos injetar nossa vida. Jesus não quer ser aceito somente como Senhor e Mestre que ensina uma doutrina, mas sobretudo como caminho e uma vida que nós devemos percorrer e viver” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 25 de junho de 2025

(Gn 15,1-12.17-18; Sl 104[105]; Mt 7,15-20) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Portanto, pelos seus frutos vós os conhecereis” Mt 7,20.

“O ‘Sermão da Montanha’ sublinha, nestes últimos textos, o aspecto operativo da vida cristã, através de uma série de dois pares antitéticos: depois de duas portas e de dois caminhos, agora apresenta-nos dois tipos de profetas, como depois apresentará os dois tipos de discípulos e as duas casas. Dirigindo-se a destinatários de formação judaica, habituados a terem como referência guias espirituais, Jesus aborda um problema importante para eles: quais são os verdadeiros profetas, de entre as muitas vozes que se levantam a indicar um caminho? [Compreender a Palavra:] No decurso da história de Israel, surgiram muitos falsos profetas pretendendo desviar o povo, prometendo felicidade e bem-estar em troca da aprovação e do sucesso. O falso profeta pensa na sua vantagem pessoal, no seu bem-estar e no seu enriquecimento, denunciando repetidamente os profetas da verdade: Amós, Miquéias, Isaías, Jeremias... O falso profeta é como um lobo no rebanho, interessado apenas em alimentar o seu ego. Os seus frutos são evidentes: corrupção; maus costumes; desordens; discórdias; opressão; culto da pessoa; superstição até a idolatria. Tal como espinheiros e silvas produzem maus frutos. Os verdadeiros profetas, pelo contrário, colocam-se contra a corrente; anunciado verdades incômodas, são perseguidos e mortos pela sua fidelidade à Palavra. O verdadeiro profeta é aquele que, lendo a História e interpretando-a à luz da Palavra de Deus, consegue provocar para a conversão as pessoas com quem vem a contactar. Os seus frutos falam claro” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum I] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 24 de junho de 2025

(Jr 1,4-10; Sl 70[71]; 1Pd 1,8-12; Lc 1,5-17) Natividade São João Batista.

“... eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até os confins da terra” Jr 1,5.

“Neste segundo canto do servo de JHWH é o próprio servo que toma a palavra e traça uma breve biografia de si próprio e da sua atividade. Dirige-se às ‘terras de Além- Mar’, imaginadas nas extremidades do mundo inteiro (v. 1). Apresenta o seu chamamento desde o seio materno, a proteção divina que recebeu e a glória divina que Deus quer manifestar através dele (vv. 1-3). Mudando de argumento, o servo recorda a sua fadiga e insucesso (v. 4). Deus, como resposta, confia-lhe uma missão ainda mais ampla (vv. 5-6). [Compreender a Palavra:] A tradição cristã interpreta, e com razão, este canto referindo-o à pessoa e à obra de Jesus. Surpreende, à primeira vista, que a liturgia hodierna o aplique a João Batista. Também Paulo se serviu do início deste trecho para apresentar a sua vocação e missão (cf. Gl 1,15) enquanto, segundo a mentalidade hebraica, o enviado se coloca na mesma linha de quem o envia. Deus confia a João Batista a missão de apontar às multidões, ‘Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira o pecado do mundo!’ (Jo 1,29), de Lhe administrar o Batismo (cf. Mt 3,13-17), de se colocar, em determinado momento, de parte: ‘É preciso que Ele cresça e eu diminua’ (Jo 3,30)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum I] – Paulus).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 23 de junho de 2025

(Gn 12,1-9; Sl 32[33]; Mt 7,1-5) 12ª Semana do Tempo Comum.

“Não julgueis e não sereis julgados” Mt 7,1.

“Para julgar alguém é elementar dispor de todos os elementos de julgamentos necessários; assim não sendo, faremos algo fundamentalmente imprudente e injusto. Porém nenhum de nós dispõe desses elementos de juízo, ninguém conhece seu próximo na totalidade de sua intimidade pessoal. Consequência: nada mais lógico nem mais razoável que a advertência do Senhor Jesus: ‘não julgueis’. Há certos acontecimentos, em si tão claros, que não admitem dúvidas sobre sua moralidade: a moralidade dos acontecimentos em si. E neste caso podemos e devemos emitir nosso julgamento. Sobre outros fatos, já não tão claros, será prudente suspender o julgamento. Isso quanto aos fatos. Mas o que nunca poderemos julgar são as pessoas e as motivações ou intenções, que tenham podido pretender ao realizar esses atos. Devemos censurar as coisas que são manifestamente más. Mas nunca nos será permitido julgar ou censurar as pessoas; preferivelmente, devemos tender a justifica-las, ainda em seus mesmos atos injustificáveis” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

12º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Zc 12,10-11; 13,1; Sl 62[63]; Gl 3,26-29; Lc 9,18-24) *

1. O evangelho deste domingo quer nos ajudar a dar uma resposta à pergunta: “Quem é Jesus?” Na resposta de Pedro percebemos um salto de qualidade, com relação ao que diz o povo. Dizer “João Batista, Elias ou um dos profetas”, é deixar-se guiar por parâmetros humanos.

2. Dizer: “o Cristo de Deus”, é diferente; significa afirmar que Jesus é único. Profetas são vários. O Messias é um só. O termo “Cristo” é a tradução grega do aramaico Messias, que significa “ungido”, “consagrado”. O uso deste termo deriva do fato de que na Bíblia as pessoas escolhidas para ser rei, sacerdote e profeta recebiam uma investidura mediante o sinal do óleo perfumado derramado sobre a cabeça.

3. Sempre mais claramente a Bíblia fala de um “Ungido” especial que aparecerá ao fim dos tempos para instaurar o Reino de Deus sobre a terra. Pois bem, eis o momento fatídico, onde pela 1ª vez alguém reconhece que Jesus, o filho do carpinteiro de Nazaré, é o próprio Messias esperado por séculos.

4. Tanto quanto nos admira a reação de Jesus à resposta de Pedro, nos causa estranheza que eles não devem contar a ninguém. E ainda mais, o discurso que se segue desfaz toda a resposta de Pedro. Não se fala de triunfo, mas de derrota, de morte, ainda que no final a ressurreição inverterá tudo.

5. Jesus não é o Messias? Certo que é! Mas o tipo de Messias que só será compreendido na conclusão da sua vida. Por isso, enquanto não chegar o momento final é melhor não usar abertamente este título pois traria um fatal engano às pessoas.

6. Jesus corrige profundamente a ideia de Messias que está estreitamente conexa com a de “povo eleito”. Para o povo, o Messias é o futuro filho de Davi, que instaurará militarmente o domínio do povo eleito sobre todos os povos. Jesus, ao contrário, associa à figura do Messias à imagem do servo sofredor de Isaías, que vence com humildade, mansidão e amor.

7. Essa ideia deformada do Messias segue aparecendo em nossa história numa espécie de messianismo de tipo terreno, étnico e político, dominado pela crença de um momento luminosamente resolutivo do futuro. Neste sentido, o comunismo foi uma forma de messianismo.

8. Também o nazismo, ao seu modo, era e degeneração da ideia de povo eleito e de Messias. A própria ciência pode dar lugar a um perigoso messianismo, quando pretende, sozinha, dar a resposta a todos os problemas da humanidade.

9. Esta mentalidade contagiou também a literatura e os meios de diversão para crianças e adolescentes, com um messianismo espúrio. Ali tem sempre um salvador, um super-homem, que chega no último momento e subjuga os inimigos. A violência é o ingrediente que nunca falta. A compreensão de quem é Jesus pode embaraçar-se nesse meio.

10. O conhecimento de Jesus pode constituir um antídoto precioso à idealização da força que facilmente pode sugerir-se aos adolescentes. Lhes ajuda a compreender que existe um outro tipo de força muito mais incomum e digna de admiração.

11. São Paulo nos permite completar essa resposta sobre quem é Jesus na 2ª leitura (vv. 27-28). Parece difícil explicar tal conceito, particularmente às crianças, e, no entanto, isso pode ajudá-las a entender melhor quem é Jesus. Não obstante tudo, elas ainda conservam frescos certos valores que nós adultos perdemos.

12. O apóstolo nos diz que Ele nos fez indistintamente ‘filhos de Deus’. Que ninguém deve sentir-se superior ou inferior porque é branco ou preto, macho ou fêmea, de uma classe social ou de outra. Ele fez da humanidade uma só família.

13. Podemos redescobrir quem é Jesus ao tentarmos explicar as crianças concentrando-nos no essencial, nas palavras simples que podemos resumir, para não esquecer facilmente: Jesus é o Messias esperado, o Filho de Deus, que veio salvar-nos dos nossos inimigos; não com violência, mas com amor; dando sua vida, não tirando as dos outros.

*Com base em texto de Raniero Cantalamessa.  

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sábado, 21 de junho de 2025

(2Cor 12,1-10; Sl 33[34]; Mt 6,24-34) 11ª Semana do Tempo Comum.

“Portanto, não vos preocupeis com o dia de manhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações!

Para cada dia, bastam seus próprios problemas” Mt 6,34.

“Nada mais contrário à espiritualidade do Sermão da Montanha do que a ansiedade por causa da sobrevivência pessoal, em termos de satisfação das necessidades materiais. A preocupação exagerada em relação aos bens deste mundo revela que a opção fundamental do discípulo do Reino está alicerçada na própria segurança e nos esforços humanos para consegui-la, e não em Deus. Quem orienta sua vida pela busca do Reino de Deus e sua justiça, não tem por que deixar-se dominar pela avidez de bens materiais. O olhar do discípulo centra-se no que é essencial. O resto vem-lhe por acréscimo. Numa sociedade como a nossa, em que somos pressionados a consumir e acumular para garantir o nosso futuro, e na qual se exalta o valor do trabalho, da produção e da planificação, é desafiador pôr em prática este ensinamento de Jesus. Muitos irão considerá-lo utópico e impraticável. Outros acharão que seus destinatários são um pequeno grupo de pessoas especiais, capazes de se manterem radicalmente livres diante do consumismo moderno. Outros, ainda, o tomarão como fundamento de uma religião ecológica, baseada num estilo de vida espontâneo, sem preocupações. Nada disso corresponde ao pensamento de Jesus. Seu esforço concentrou-se em levar os discípulos a terem confiança total em Deus e na sua providência. Esta será a opção orientadora de suas vidas, eles saberão como colocá-la em prática. – Espírito de fé na Providência, num mundo que valoriza a acumulação de bens, ensina-me a viver uma vida despojada, totalmente confiada no amor previdente do Pai” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 20 de junho de 2025

(2Cor 11,18.21-30; Sl 33[34]; Mt 6,19-23) 11ª Semana do Tempo Comum.

“O olho é a lâmpada do corpo. Se o teu olho é sadio, todo o teu corpo ficará iluminado” Mt 6,22.

“Se seu olho está sadio, se seu olho é simples, você verá tudo com simplicidade e candura. Tudo é da cor do cristal com que se olha. Se seu olho é branco, você verá tudo branco, limpo e correto. As coisas não costumam ser tão más como nós julgamos. Nós é que colocamos malícia nelas; nós é que corrompemos as coisas, por nossa má intenção, pela malícia com que as olhamos, usamos e julgamos. Costumamos ter duas medidas: uma para nós e outra para os outros. É a lei do funil: a área mais larga é para mim, a área mais apertada é para outros. Em sentido bíblico, o olho do homem é seu coração, que deve conservar-se simples, limpo, alheio a toda má intenção, a qualquer tipo de malícia. O ensinamento do Senhor é que o homem inteiro, na parte intelectual e na parte afetiva, deve ser correto e bom: seus pensamentos, suas ideias, seus julgamentos, seus ensinamentos e seus afetos, tudo há de estar de acordo com a lei da saúde espiritual, de que deve gozar os filhos de Deus. ‘Onde está teu tesouro, lá também está teu coração’ (v. 21), e isso quer dizer que toda pessoa deve pensar, sentir, agir com retidão, para que seus pensamentos, seus sentimentos e suas obras possam ser elencados como tesouros com os quais poderá ganhar o céu” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 19 de junho de 2025

(Gn 14,18-20; Sl 109[110]; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11-17) Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.

“Então Jesus tomou os cinco pães e dois peixes, elevou os olhos para o céu, abençoou-os, partiu-os

e os deu aos discípulos para distribuí-los à multidão” Lc 9,16.

“Hoje a Liturgia apresenta esta solenidade do Corpo e Sangue de Cristo em relação ao Sacerdócio de Cristo, cujo dom supremo é a Eucaristia: Sacrifício oferecido ao Pai e banquete apresentado aos homens. A 1ª leitura (Gn 14,18-20) recorda a mais antiga figura de Cristo Sacerdote: Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus altíssimo. Em ação de graças a Deus, pela vitória de Abraão, oferece Melquisedeque um sacrifício de ‘pão e vinho’, símbolo da Eucaristia. Desta misteriosa personagem, nenhuma indicação dá a Bíblia, quer acerca de sua origem, quer da sua morte. Por isto, escreve S. Paulo: ‘Sem pai, sem mãe, sem genealogia, a sua vida não tem começo nem fim; comparável... ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre’ (Hb 7,3). Melquisedeque é chamado ‘sacerdote eterno’ porque dele não se conhece princípio nem fim. Com maior razão pertence tal título a Cristo, cujo sacerdócio não tem origem humana e, sim, divina: é, por conseguinte, eterno no sentido mais absoluto. A Igreja aplica a Jesus o versículo de hoje, repetido no salmo de meditação: ‘Sois sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque’. No Novo Testamento, terminado o sacerdócio levítico, é unicamente o eterno de Cristo que se prolonga no tempo através do sacerdócio católico. A 2ª leitura (1Cor 11,23-26) apresenta Cristo Sacerdote no ato de instituir a Eucaristia, Sacrifício do Novo Testamento. A narração é transmitida pelo Apóstolo conforme a tradição e o que ele mesmo ‘recebeu do Senhor’ (ibidem, 23). Como Melquisedeque, Jesus oferece ‘pão e vinho’, mas sua bênção realiza o grande milagre: ‘Isto é meu Corpo que é dado por vós... Este cálice é a Nova Aliança no meu Sangue’ (ibidem, 24-25). Não mais pão, e, sim, o verdadeiro Corpo de Cristo; não mais vinho, e, sim, o verdadeiro Sangue. Jesus antecipa na Eucaristia o sacrifício que fará no Calvário, em seus membros dilacerados; antecipadamente o deixa em testamento aos seus, como vivo memorial da Paixão: ‘Fazei isto... em memória de mim’ (ibidem). Pelo que conclui S. Paulo ‘todas as vezes que comeis deste pão e bebeis deste cálice, anunciais a morte do Senhor’ (ibidem, 26). Não é ‘memória’ que se limita a evocar um fato passado, nem é anúncio com simples palavras, porque a Eucaristia torna atualmente presente, embora em forma sacramental, o sacrifício da cruz e o banquete da última ceia. Aos fiéis de todos os tempos Nosso Senhor oferece a mesma realidade para que se possam unir ao Sacrifício de Cristo e se alimentar com seu Corpo e Sangue ‘até que ele volte’ (Missal Romano). A Eucaristia, como banquete, é o argumento do Evangelho do dia sob a transparente figura da multiplicação dos pães (Lc 9,11b-17). Não já o longínquo simbolismo do pão e do vinho oferecidos a Deus por Melquisedeque, e, sim, um ato de Jesus, evidente prelúdio da Ceia eucarística. Jesus toma os pães, ergue os olhos ao céu, benze-os, parte-os e os distribui, gestos estes que repetirá no cenáculo quando transubstanciar o pão em seu Corpo. Outro gesto particular chama-nos a atenção: multiplicam-se os pães em suas mãos, e delas passam às dos discípulos que os distribuem à multidão. Igualmente será sempre ele que fará o milagre eucarístico; mas se servirá dos sacerdotes que serão os ministros e tesoureiros da Eucaristia. Por fim, ‘todos comeram e ficaram fartos’ (ibidem, 17). A Eucaristia é baquete oferecido a todos os homens para saciarem a fome de Deus, de vida eterna. A solenidade de hoje é convite a despertar a fé e o amor para com a Eucaristia, para que, mais famintos dela, cheguem os fiéis com maior fervor à Comunhão e saibam suscitar esta fome salutar nos irmãos indiferentes” (Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD – Intimidade Divina – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 18 de junho de 2025

(2Cor 9,6-11; Sl 111[112]; Mt 6,1-6.16-18) 11ª Semana do Tempo Comum.

“Dê cada um conforme tiver decidido em seu coração, sem pesar nem constrangimento,

pois Deus ‘ama quem dá com alegria’” 2Cor 9,7.

“Para convidar os Coríntios a serem generosos na coleta para os cristãos da Igreja de Jerusalém (2Cor 8,4; Rm 15,26), Paulo serve-se da sabedoria popular, segundo a qual se semearmos pouco ou muito, pouco ou muito se recolhe também (v. 6); e da Sagrada Escritura, segundo a qual ‘Deus ama quem dá com alegria’, e que a justiça de quem dá aos pobres dura para sempre (vv. 7-9). Por outro lado, a dádiva que se faz aos pobres vem do próprio Deus e Deus multiplicará quer a semente quer o fruto (vv. 10-11). [Compreender a Palavra:] Paulo é grande também, melhor dizendo, precisamente quando se ocupa de coisas pequenas: é disso exemplo este texto que mostra o Apóstolo (como todo o bom pároco) comprometido com uma recolha de fundos. Porque ninguém abre de boa-vontade o porta-moedas, deve motivar o gesto que está pedindo aos Coríntios, e a sua grandeza consiste em nada impor e em saber fazer valer as razões humanas, psicológicas e, sobretudo, teológicas. Quem investe pouco arrisca pouco, diz Paulo, mas recolherá também pouco. O exemplo que utiliza para se fazer entender é o da sementeira, bem conhecido de quem vive no campo, mas também compreensível pelos habitantes da cidade e por todos, enquanto expressão de uma lei universal. O Apóstolo reforça, depois, o seu apelo com as palavras autorizadas da Escritura. Sem motivações tudo é difícil, e, no entanto, os Coríntios, encorajados pelas palavras da Carta, irão distinguir-se pela sua generosidade” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum I] – Paulus).       

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 17 de junho de 2025

(2Cor 8,1-9; Sl 145[146]; Mt 5,43-48) 11ª Semana do Tempo Comum.

“Portanto, sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” Mt 5,48

“Essa magnanimidade de coração, que implica o amor aos próprios inimigos, será fruto, ao mesmo tempo que uma manifestação de que somos verdadeiramente filhos de Deus. Por isso, o Senhor adverte que essa é a maneira pela qual os outros reconhecerão em nós a filiação divina. A bondade de Deus é essencial e ela abarca e ama a todos os homens e a todos beneficia com os dons naturais e sobrenaturais: o sol nasce para todos, para todos é oferecida a graça divina. Ao imitar essa atitude do Pai celestial, o cristão participa de sua bondade infinita. É este o espírito filial, que torna possível para o cristão o descobrimento de um irmão, inclusive naquele que o persegue. Jesus nos propõe o Pai como exemplo de toda perfeição. Exige de nós que constantemente tendamos para o Pai, para imitá-lo na sua santidade; um esforço permanentemente para viver em nós a mesma vida do Pai, que nos faça realmente seus filhos, da mesma natureza que ele, com a mesma bondade, com a mesma santidade e perfeição dele” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 16 de junho de 2025

(2Cor 6,1-10; Sl 98[97]; Mt 5,38-42) 11ª Semana do Tempo Comum.

“Eu, porém, vos digo: não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!” Mt 5,38-42.

“A Lei do Talião – ‘olho por olho, dente por dente’ – não encontrou guarida no ensinamento de Jesus. Aquele princípio legal havia sido importante para coibir as arbitrariedades no caso de violência ilimitada, para fazer valer o direito. E funcionava como mecanismo de controle da selvageria e do barbarismo, nas relações interpessoais. Era um passo em direção às relações humanas civilizadas. O discípulo do Reino submete-se a uma lógica diferente. Recusa-se a entrar no jogo do malvado, de forma a desarticular, no seu nascedouro, a espiral da violência. Responde o mal com o bem, não se valendo do que lhe garante o direito. O direito de retaliação é substituído pelo princípio no trato mútuo. A reação paradoxal que Jesus sugeriu aos discípulos, diante da violência, tem uma finalidade concreta: mostrar as possibilidades extremas de aplicação do seu ensinamento. Quem é movido por um amor incondicional ao próximo, descentrando-se de si mesmo, será capaz de fazer gestos radicais para coibir a violência, sem responder com a mesma moeda. O discípulo, na linha das Bem-aventuranças, caracteriza-se como manso e pacífico. Por ser manso, recusa-se terminantemente a recorrer à violência. Por ser pacífico, tudo faz para que os laços com o próximo não sejam rompidos. Mesmo à custa de gestos paradoxais! – Espírito de mansidão, torna-me capaz de não deixar levar pelo desejo de vingança, diante da violência, e sim, de agir conforme o ensinamento de Jesus” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Santíssima Trindade – Ano C

(Pr 8,22-31; Sl 08; Rm 5,1-5; Jo 16,12-15) *

1. “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, ao Deus que era e que vem”. Assim cantamos na aclamação ao Evangelho, fazendo ecoar e ressoar a doxologia trinitária mais conhecida e diariamente várias vezes repetida, porque amada. Hoje completada com as palavras do Apocalipse 1,8.

2. Nos textos que hoje a liturgia da Palavra nos oferece como alimento escolhido e abundante, Deus deixa-Se entrever, de diversos ângulos, de modo sutil, no seu mistério trinitário. Esse fio de ouro que a atravessa, e quer atravessar e entrelaçar, por pura graça, a nós também.

3. O Evangelho é esse principal fio de luz que ilumina os outros textos e que quer iluminar a nossa vida. É Jesus que está reunido com os seus discípulos nesta última tarde de sua vida terrena. É a quinta vez que, no Evangelho de João, Jesus fala da vinda do Espírito Santo. Sempre apontando para o futuro.

4. “Quando vier”, diz Jesus. Na Bíblia, “vir” é um dos verbos próprios de Deus. É Deus que “vem” ao encontro do seu povo. Jesus é “Aquele que vem”. O Espírito “virá”, com liberdade soberana, divina, pessoal.

5. Ele é o “Espírito da verdade”. Jesus já havia se apresentado como Caminho, Verdade e Vida. O Espírito está, portanto, particularmente vinculado a Jesus. E sua ação consiste em “conduzir”, ao longo do íngreme Caminho, até a meta, que é o próprio Cristo. A relação dos discípulos com Jesus, e a adesão a Jesus é ainda parcial.

6. Revela-se que o Espírito vem de maneira autônoma, soberana, divina, mas não falará a partir de si mesmo, mas de Jesus, que o envia. Assim como Jesus não fala a partir de si mesmo, mas do Pai que o enviou. Mas o que é do Pai é também do Filho, assim o Espírito comunica o que é do próprio Deus.

7. Entre o Pai e o Filho tudo é comum: a Vida, a Divindade, a Glória. Três termos precisos e preciosos para indicar exatamente o Espírito Santo, que é a Vida, a Divindade, a Glória que une consubstancialmente o Pai e o Filho, sendo o Espírito Santo a divina Comunhão entre os três, o único Deus.

8. O Espírito age na interioridade da inteligência da fé, avivando as brasas do desejo da Palavra primeira e criadora no coração de cada ser humano. Esse ensinamento é comparado com a unção de óleo que penetra lentamente. É óleo derramado em nossos corações, como diz Paulo na 2ª leitura.

9. Assim podemos compreender um pouco dessa Sabedoria que nos fala o Livro dos Provérbios. Nesse maravilhoso hino, Deus e a Sabedoria entretecem um diálogo do qual brotam todas as maravilhas da criação, mas que tem como objetivo principal “os filhos dos homens”.

10. E foi precisamente a partir desse encontro feliz entre a divindade e a humanidade que a tradição cristã identificou na Sabedoria divina aqui celebrada o retrato do próprio Cristo. Aquele que João diz que “estava no princípio junto de Deus” (Jo 1,2-4), ou mesmo no dizer de Paulo: “Todas as coisas foram cridas por meio d’Ele” (Cl 1,15-17).

11. São pequenos traços ou pegadas da Trindade que os nossos textos revelam sobre esse mistério em torno do qual nossa vida gravita. Sim, Deus é Pai, é Filho, é Espírito Santo. É na comunhão das três pessoas que somos chamados a viver, e já vivemos.

12. Assim podemos concluir com as palavras admiradas de Paulo: “Ó abismo de riqueza, de sabedoria e de ciência em Deus! Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos! Dele e para Ele são todas as coisas. A Ele a glória por toda a eternidade! Amém” (Rm 11,33.36).

* Com base em texto de D. Antônio Couto.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 14 de junho de 2025

(2Cor 5,14-21; Sl 102[103]; Mt 5,33-37) 10ª Semana do Tempo Comum.

“Eu, porém, vos digo, não jureis de modo algum: nem pelo céu, porque é trono de Deus, nem pela terra, porque é o suporte onde apoia os seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande rei” Mt 5,34-35.

“Em outras palavras, ensina e manda Jesus: não devemos jurar de forma nenhuma. Quando ele afirma que não devemos jurar ‘nem pelo céu, nem pela terra, nem por Jerusalém’, está usando uma figura retórica que poderia ser traduzida, hoje, pela simples expressão ‘de forma nenhuma’ ou ‘nunca’. Por quê? O que estaria por detrás desse ensinamento, quando nossas igrejas nos pedem juramentos de amor e de fé em seus vários sacramentos? Estariam estes juramentos em oposição aos ensinamentos evangélicos? Certamente que não! A proibição de Jesus aponta para uma outra realidade: a da fragilidade da fé e do amor cristãos. Tanto a fé quanto o amor são vulneráveis, são frágeis e só são fortes e inabaláveis pela graça de Deus que os sustenta. Quem afirma: ‘Eu creio em Deus’ ou ‘amo meus irmãos por fidelidade a Cristo’, pode tornar-se alvo de zombaria dos que não acreditam nem aceitam as obras de caridade evangélica. Diante do mundo da descrença e do mal, os crentes se encontram desarmados, pois todos podem ter mil razões para crer e mil para não crer. A fé não é, em última análise, um raciocínio, não tem argumentos apodíticos, não é uma evidência, nem é um sentimento incontestável. Pelo contrário, ambos, fé e amor religiosos, são frágeis por natureza, embora sejam uma certeza iluminada, pela graça de Deus. Não é, por isto, com juramentos, que eles se sustentam, mas por graça e ajuda de Deus. Como diz São Cipriano, todos podem ser mártires da fé, mas, aos mártires, só Deus os pode coroar. – Senhor Deus, grande e bom, amparai nossa fragilidade e fortalecei nossa fé, dando-nos consistência no amor. Isto vos pedimos por Jesus, o autor e consumador da fé que professamos. Amém (Neylor J. Tonin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 13 de junho de 2025

(2Cor 4,7-15; Sl 115[116B]; Mt 5,27-32) 10ª Semana do Tempo Comum.    

“E tudo isso é por causa de vós, para que a abundância da graça em um número maior de pessoas

faça crescer a ação de graças para a glória de Deus” 2Cor 4,15.

“Para falar da vitória de Cristo, da qual somos chamados a dar testemunho, Paulo utiliza a imagem de um general romano que volta a Roma vitorioso. Pelo seu caminho queimam-se incensos prenunciando sua vitória e anunciando-a pelo caminho. Seus oficiais eram símbolo e prenúncio de vida, enquanto que os oficiais vencidos eram prenúncio de morte. Paulo utiliza essa imagem em sua Segunda Carta aos Coríntios, assinalando a necessidade de fidelidade àquilo que professamos com nossa fé. Cristo, vitorioso, irmana todos numa só vitória, a vitória da vida, a vitória do sentido. A realidade não pode mais ser tomada de assalto pelo absurdo que nos rodeia diariamente, seja como tragédias, como exploração, como violência. Em meio a tudo isso, a pessoa de fé deve sustentar uma postura de esperança concreta, que gera vida e que perfuma a própria vida e a própria existência, gerando sentido, gerando forças para continuar a caminhada de construção de um mundo melhor. Cristo é nossa vitória, a garantia da vitória, mas as batalhas precisam ser travadas por cada um, Ele não pode simplesmente tirar as dificuldades de nossas vidas. Por isso mesmo, que não seja o odor do medo e do desespero que exalamos em nossa caminhada. Mas nosso testemunho seja firme, testemunho de confiança e esperança, testemunho de quem já vive essa realidade em comunhão com Deus. – Deus e Senhor nosso, tudo o que temos e somos pertencem a ti. Tudo o que construímos e todo o bem que fazemos são inspirados em ti, e buscam forças na experiência de fé que nos concede. Queremos vivenciar cada vez mais essa comunhão vitoriosa em nossas vidas, estando dispostos a vencer nosso egoísmo e pequenez, para que tua vitória resplandeça através de nós. Amém! (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 12 de junho de 2025

(2Cor 3,15—4,1.3-6; Sl 84[85]; Mt 5,20-26) 10ª Semana do Tempo Comum.

“Eu, porém, vos digo, todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo; ...” Mt 5,22a.

“’Ouvistes o que foi dito... mas vos digo...’ (v.21). Aos da antiga lei foi dito: ‘Não matarás’; mas agora ‘Eu vos digo: todo aquele que se irar...’ (vv. 21-22). Jesus está se atribuindo uma autoridade superior à de Moisés, o grande legislador do povo de Deus; está dizendo muito claramente que ele é superior à própria lei e que tem autoridade para mudá-la. Não só proíbe o homicídio, mas também a ira, o insulto; não só devem ser evitados os pecados externos, mas também os internos e as ofensas causadas pela palavra: a ira e as injúrias. Se Tiago chega a afirmar que ‘a língua (...) nenhum homem a pode domar. É um mal irrequieto, cheio de veneno mortífero’ (Tiago 3,8), não posso ser eu tão extremamente audacioso, que chegue a julgar que nunca ofendo a ninguém com minha língua; muito ao contrário, deverei estar atento e deter-me a examinar, quando e como me escapam palavras ferinas, que possam molestar seu próximo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 11 de junho de 2025

(At 11,21-26; 13,1-3; Sl 97[98]; Mt 10,7-13) São Barnabé, apóstolo.

“Então eles jejuaram e rezaram, impuseram as mãos sobre Barnabé e Saulo e deixaram-nos partir” At 13,3.

“Os dois, Paulo e Barnabé, entraram logo em conflito, no início da segunda viagem missionária, porque Barnabé queria tomar como companheiro João Marcos, enquanto Paulo se opunha, já que o jovem se separara deles durante uma viagem anterior (cf. At 13,13; 15,36-40). Portanto, mesmo entre os santos se produzem conflitos, discórdias e controvérsias. E isto me parece muito consolador, pois vemos que os santos não ‘caíram do céu’. São homens como nós, também com problemas difíceis. A santidade não consiste em não equivocar-se nunca, ou em não pecar. A santidade cresce com a capacidade de conversão, de arrependimento, de disposição para voltar e começar, e especialmente com a capacidade de reconciliar e de perdoar. E assim Paulo, que se havia comportado de maneira mais dura com Marcos, no final se reencontra com ele. Nas últimas cartas de São Paulo, a Filemon e na segunda a Timóteo, Marcos aparece como ‘meu colaborador’. Portanto, o que santifica não é o fato de não equivocar-se nunca, mas sim a capacidade de reconciliação e perdão. E todos podemos aprender este caminho de santidade. Barnabé, com João Marcos, voltou a viajar para Chipre (cf. 15,39) por volta do ano 49. A partir deste momento perderam-se seus vestígios. Tertuliano lhe atribui a Carta aos Hebreus, algo a que não falta credibilidade, já que, sendo da tribo de Levi, Barnabé podia ter algum interesse pelo tema do sacerdócio. E a Carta aos Hebreus nos oferece uma interpretação extraordinária do sacerdócio de Jesus” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 10 de junho de 2025

(2Cor 1,18-22; Sl 118[119]; Mt 5,13-16) 10ª Semana do Tempo Comum.

“Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens” Mt 5,13.

“Insosso, enjoativo, insípido, desagradável e monótono são as características apontadas por Jesus para classificar pessoas que, figuradamente, perdem suas funções neste mundo. Há falta de sal, de gosto, de tempero, de equilíbrio e de verdade. Quando o relativismo e o besteirol tomam conta evidencia-se a mediocridade e o desinteresse por coisas valorosas. Pode ser até interessante para muitos, porém, para o ser pensante que por Deus foi criado, é o fim do bom gosto, da seriedade e do compromisso. Jesus encarregou seus discípulos para muitas tarefas e uma delas é ser sal da terra. Deveriam eles transmitir os propósitos divinos de tal maneira que possibilitaria que outras pessoas descobrissem a razão do viver, do ser, das coisas que estão à sua volta. Não é uma atividade muito fácil. Seria necessário negar a si próprio, deixar o egoísmo de lado, ser uma pessoa exemplar, honesta, verdadeira. O sal como tempero equilibrado indica um gosto adequado aos alimentos e também os conserva. O sal espiritual faz o mesmo e oferece esperança de um mundo melhor, mais amoroso e compreensivo. É essencial para os moradores deste planeta que os cristãos vivam intensamente a fé. Na Igreja, na família ou na sociedade em geral devem demonstrar dedicação, seriedade e integridade. Onde estiverem levarão a esperança de um mundo melhor e a real possibilidade em torná-lo menos medíocre. – Senhor! Onde houver ódio, ofensa, discórdia, dúvida, erro, desespero, tristeza e trevas que eu leve o amor, perdão, união, fé, verdade, esperança, alegria e luz. Que Jesus seja sempre a inspiração do meu viver. Amém (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes)

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 9 de junho de 2025

(Gn 3,9-15.20; Sl 86[87]; Jo 19,25-34) Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja.

“Ele tomou o vinagre e disse: ‘Tudo está consumado’. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” Jo 19,30.

“A descrição artística da paixão culmina nos três versículos com que João relata a morte de Jesus. Ele usa três vezes a palavra ‘telestai’, que quer dizer: está consumado, terminado, o objetivo foi alcançado, tudo está completado. Na cruz se completa o amor que Jesus dedicou aos seus. O amor de Deus, ou seja, o motivo da encarnação (3,16), chega ao seu término. Todas as palavras desse texto estão cheias de simbolismo. Inclusive a palavra de Jesus: ‘Tenho sede’ (19,28). Jesus quer beber o cálice da morte, para que tudo seja consumado e ele chegue à sua meta. A sua sede lembra a sede da samaritana. Não é só o ser humano que tem sede de Deus, em Jesus vemos que Deus também tem sede do homem que corresponde ao seu amor. Mas Jesus tem que passar pelo mesmo sofrimento experimentado pelo salmista: ‘Quando tenho sede, dão-me vinagre a beber’ (Sl 69[68],22). Com o vinagre, Jesus bebe até o fundo a amargura humana. E assim ele livra o homem do veneno de seus sentimentos amargurados” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Pentecostes

(At 2,1-11; Sl 103[104]; 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23)*

1. As leituras da festa de Pentecostes nos permitem colher um aspecto fundamental da ação do Paráclito: o Espírito Santo como criador, ou a potência criadora do Espírito, como cantamos no salmo: “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda face renovai”.

2. O nosso evangelho salienta o gesto de Jesus que sopra sobre os apóstolos, recordando o gesto criador de Deus ao soprar e dar vida ao ser humano. Cristo está nos dizendo que o Espírito Santo é o sopro divino que dá vida à nova criação, como fez no passado. Criar é uma prerrogativa divina.

3. Proclamar que o Espírito Santo é criador, significa dizer que a sua esfera de ação não está restrita só à Igreja, ainda que nela aja de modo diferenciado, mas se estende, de diferentes maneiras, à toda criação. Nenhum tempo, nenhum lugar, está excluído de sua benéfica ação.

4. Ele age fora da Bíblia e dentro dela; age antes de Cristo, ao tempo de Cristo e depois de Cristo, ainda que jamais separado d’Ele. Ninguém pode subtrair-se à sua luz benéfica, como ninguém pode subtrair-se ao calor do sol.

5. A coisa mais importante, a propósito da força criadora do Espírito Santo, não é compreendê-lo ou explicar suas implicações, mas fazer a experiência. E o que significa fazer a experiência do Espírito como criador? Para descobrir é preciso voltar ao Gênesis.

6. Lá se diz que a terra, criada por Deus, “era sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,1-2). O texto nos deixa perceber que à Sua presença, o criado assume seus contornos, a luz separa-se das trevas, a terra firme do mar e tudo toma uma forma definitiva.

7. O Espírito Santo é aquele que faz passar o criado do caos ao cosmo, que faz disso algo belo, ordenado, limpo: faz disso um “mundo”, segundo o significado original dessa palavra. A ciência nos ensina que este processo durou milhares de anos, mas o que a Bíblia quer nos dizer em sua linguagem simples e altamente imaginativa, é que a lenta evolução para a vida e a ordem atual do mundo não vem ao acaso, obedecendo a cegos impulsos da matéria, mas por um projeto, colocado nela, desde o início, pelo Criador.

8. E essa ação criadora de Deus não ficou restrita ao início. Ele não só conserva a criação, mas governa com sua Providência o mundo, mas também no sentido que sustenta e comunica continuamente ser e energia, impulsiona, anima e renova a criação.

9. Aplicado ao Espírito Santo, isto significa que é Ele que sempre faz passar do caos ao cosmo, da desordem à ordem, da confusão à harmonia, da deformidade à beleza, da velhice à juventude. Tudo isso, não de maneira mecânica e súbita, mas agindo ao interno da mesma evolução natural das coisas e das espécies, ‘renovando a face da terra’.

10. Tudo isso em todos os níveis: no macrocosmo e no microcosmo, no universo inteiro como em cada ser humano em particular. Devemos crer que, não obstante as aparências, o Espírito Santo opera no mundo e o faz progredir. Quantas descobertas novas, não só no campo físico, mas também naquele moral e social.

11. Certamente há nesse momento tanto caos em torno a nós: moral, político, social. O mundo tem agora tanta necessidade do Espírito de Deus, por isso não devemos cansar de invocá-lo com as palavras do salmo: “Envia teu Espírito Senhor, e da terra toda face renovai”.

12. Mas olhemos também esse pequeno mundo que é nosso coração com seus desejos, projetos, propósitos, repleto de contrates e em luta entre eles, que faz de nós um enigma a nós mesmos. Carregamos em nós um vestígio desse caos primordial. É desse abismo que nosso espírito invoca ao Senhor, a fim de que crie, em mim, novos céus e nova terra.   

13. Por isso, a cada dia, é importante iniciar a jornada com o Espírito Santo, para que transforme o nosso caos noturno na luz da fé, da esperança e da caridade. “Vinde Espírito Santo...”.  

* com base em texto de Raniero Cantalamessa 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 07 de junho de 2025

(At 28,16-20.30-31; Sl 10[11]; Jo 21,20-25) 7ª Semana da Páscoa.

“Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e que as escreveu;

e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro” Jo 21,24.

“O capítulo 21 termina de uma maneira estranha: ‘É este discípulo que testemunha essas coisas e as escreveu, e nós sabemos que o seu testemunho é conforme a verdade. Jesus fez ainda muitas outras coisas; se as escrevessem uma a uma, o mundo inteiro não poderia, penso eu, conter os livros que se escreveriam’ (21,24-24). Não precisamos ler tudo o que se escreveu sobre Jesus. Basta meditar sempre de novo as palavras que o discípulo amado nos transmitiu no evangelho de João. Elas nos querem abrir os olhos para o que é essencial. Não se trata de saber muito, importa, isso sim, entender. Não se trata de contar a história de Jesus em sua ordem cronológica. Importa ver nele o revelador que afasta o véu que cobre tudo, para que entremos na realidade, concordando com o maravilhoso, como diz Peter Schellenbaum. Fundiu-se com a realidade, estar de acordo com o que é real, continua Schellenbaum, leva a um novo sentir da vida, uma nova experiência direta, à vida verdadeira, pois muitas vezes estamos mortos, presos em obsessões recorrentes (SCHELLENBAUM, 2001, p. 306s). Segundo Gregório de Nissa, a última frase do evangelho de João nos mostra que o espírito de Deus ultrapassa toda a compreensão humana. Por isso é impossível encerrá-lo em livros. O mundo inteiro é incapaz de abarcar a plenitude dos ensinamentos de Cristo. ‘Como Deus criou todas as coisas com sabedoria, e como a sua sabedoria não tem limites, é impossível para o mundo, restringido pelos seus próprios limites, conter em si toda sabedoria ilimitada’ (Citado segundo SANFORD, 1997, p. 213, v. 2). Todo livro escrito só tem o sentido de ajudar a compreender o mistério da vida e do amor que Jesus revelou e que o discípulo amado testemunhou” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 6 de junho de 2025

(At 25,13-21; Sl 102[103]; Jo 21,15-19) 7ª Semana da Páscoa.

“Tinham somente certas questões sobre sua própria religião e a respeito de um certo Jesus que já morreu, mas que Paulo afirma estar vivo” At 25,19.

“Agripa é testemunha da última grande apologia de Paulo: o Apóstolo dá testemunho não só diante dos governadores, mas também diante de um rei (cf. Lc 21,12 e At 9,15). O processo segue o modelo do processo de Jesus, o primeiro mártir: também o Mestre compareceu diante do procurador romano e depois perante Herodes Antipas (cf. Lc 23,4.14.22). De igual modo para Paulo temos três declarações explícitas da sua inocência (cf. At 23,29; 25,18.25). A história de Jesus continua na história do discípulo. [Compreender a Palavra:] Já passaram dois anos e Paulo continua preso. Festo aproveita a visita do rei Agripa e de Berenice para lhes expor o caso de Paulo, já que ele, como bom romano, não consegue compreender o motivo do ódio dos judeus. Ao resumir o desacordo entre o ‘prisioneiro’ e os judeus, o pagão Festo oferece-nos uma descrição que chega ao âmago do problema; trata-se de ‘discussões a respeito de um Jesus que morreu e que Paulo afirma estar vivo’ (v. 19). No centro da discussão e do debate está, portanto, o tema da ressurreição. Para um pagão ou para um estranho à esperança cristã – como os intelectuais de Atenas – a ressurreição dos mortos podia parecer só uma teoria extravagantemente mítica. Pelo contrário, na perspectiva cristã, a morte/ressurreição de Jesus é o centro, o coração da Boa Notícia. Festo reafirma a sua linha de conduta inspirada nos princípios do direto romano. Paulo, por sua vez, sabe aproveitar a oportunidade de que lhe é oferecida pelo direito: ‘apelou para que a sua causa fosse decidida pelo imperador’: v. 21. Paulo chegará a Roma graças ao seu apelo a César. E com ele, o Evangelho chegará ‘aos extremos da terra’ (At 1,18)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 05 de junho de 2025

(At 22,30; 23,6-11; Sl 15[16]; Jo 17,20-26) 7ª Semana da Páscoa.

“... para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, e para que eles estejam em nós,

a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” Jo 17,21.

“No evangelho anterior, Jesus tinha nos proposto o tema da unidade dos discípulos, mas insiste, agora, mais intensa e de maneira mais evidente na necessidade dessa unidade e, inclusive, faz a afirmação de que essa unidade deverá transformar-se no sinal pelo qual o mundo conhecerá os discípulos de Cristo e pelo qual o mundo verá obrigado a crer em Jesus, como Filho de Deus. Jesus ora por toda a Igreja futura; o ser uno de Jesus com o Pai há de entender-se analogamente aos seus de sempre, em uma exigência radical de unidade, de tal forma que seja um sinal, perante o mundo, de que ele foi enviado de Deus para a salvação do mundo. A unidade que a Igreja deverá construir em todos os seus filhos, gozá-la-ão estes, depois, na glória do Filho retornado ao Pai. Ao terminar Jesus essa oração ao Pai, pede pela Igreja e por todos aqueles que pertencerão a ela, até a consumação dos séculos. Jesus pediu para seus apóstolos a união dos corações e dos espíritos no amor de Cristo, e continua pedindo-a hoje para todos os fiéis; pede-a para que essa unidade não só una os discípulos no amor, vencendo todas as barreiras, mas para que essa unidade dos cristãos seja um argumento verdadeiro e forte que convença o mundo da verdade de sua missão. Todos os cristãos hão de ser uma mesma realidade, ter um só coração e uma só alma para a fé e a caridade, sendo esta união o melhor testemunho que podem dar de que Jesus Cristo ressuscitou e continua vivendo e atuando ainda hoje em sua Igreja. Se é certo que a unidade dos cristãos vai ser o testemunho e o argumento mais convincente da divindade da Igreja, não é menos certo que o contrário, a desunião, a divisão, as dissensões, os partidarismos opostos, as facções e outras ervas daninhas semelhantes são o maior antitestemunho que os cristãos podem apresentar perante o mundo não crente. O Concílio Vaticano II apresenta-nos a Igreja como sacramento da unidade para o mundo inteiro e recomenda vivamente: ‘O sagrado Concílio exorta os fiéis a que se abstenham de toda inconsequência ou ciúme imprudente, que possam prejudicar o progresso da unidade’. Se bem que essas palavras se refiram à união de todas as confissões cristãs, quando deverão urgir aos cristãos de uma mesma confissão, uma mesma fé, um mesmo batismo, um mesmo e único Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 04 de junho de 2025

(At 20,28-38; Sl 67[68]; Jo 17,11-19) 7ª Semana da Páscoa.

“Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste,

para que eles sejam um assim como nós somos um” Jo 17,11.

“Os discípulos foram motivo de preocupação para Jesus, no final de seu ministério. Sua oração insistente ao Pai, implorando em favor deles, revela o amor que lhes devotava, e o anseio de que permanecessem fiéis. Jesus pede ao Pai: ‘Guarda-os em teu nome’, ou seja, não permitas que sejam contaminados pela idolatria do mundo, com seu germe de ódio e divisão, e seu egoísmo preconceituoso e excludente. Deixando-se guiar pelo Pai, os discípulos estariam no caminho da salvação. ‘Livra-os da ação do Maligno’. Este não retrocederá nem deixará de investir contra os discípulos de Jesus, só porque estavam sob a proteção do Pai. A audácia deste espírito do Mal seria tamanha o ponto de querer competir com o Criador. Era preciso que o Pai tomasse as dores dos discípulos, para não se tornarem vítimas do Maligno. ‘Consagra-os na verdade’. Por que seriam tentados a seguir insinuações espúrias, Jesus implora ao Pai que lhes aponte sempre as sendas da verdade, que conduzem à comunhão com ele. Sem esta ajuda, os discípulos não poderiam discernir o erro e a mentira, fatais para quem se encaminha para o Pai. A súplica de Jesus resume as necessidades dos discípulos, em vista das pelejas que travariam com o mundo. Para não serem vencidos, precisariam de proteção constante de Deus, e deveriam permanecer unidos, a exemplo do Pai e de seu Filho Jesus. – Espírito de proteção, nas batalhas contra o mundo, coloca-te ao meu lado, cobrindo-me com a bênção protetora do Pai (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 03 de junho de 2025

(At 20,17-27; Sl 67[68]; Jo 17,1-11) 7ª Semana da Páscoa.

“Eu te glorifiquei na terra e levei a termo a obra que me deste para fazer” Jo 17,4.

“A obra de Jesus consistiu em glorificar Deus em sua vida. Agora ansiando pelo momento em que Deus o glorificará recebendo-o de volta na glória que desfrutava junto de Deus, ‘antes que o mundo existisse’ (17,5). Nessas palavras se resume toda a atuação de Jesus de deixar este mundo, onde se viu constantemente confrontado com a resistência e a incompreensão dos homens, para voltar ao Pai. A morte que o aguarda não lhe causa pavor, já que é a passagem que o levará ao Pai. Nela se dará a verdadeira Páscoa, a passagem da terra da alienação e do cativeiro para a terra da promissão que é a terra do amor e da glória de Deus. Como cristãos devemos participar desse desejo de Jesus de deixar este mundo e ir ao Pai. Na fé já realizamos essa passagem. E sempre que rezamos, entramos nesse lugar, sentimos saudade da verdadeira pátria em que estaremos em casa para sempre, onde os nossos olhos se abrirão e onde veremos Deus como ele é” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 02 de junho de 2025

(At 19,1-8; Sl 67[68]; Jo 16,29-33) 7ª Semana da Páscoa.  

“’Vós recebestes o Espírito Santo quando abraçastes a fé?’ Eles responderam:

‘Nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo!’” At 19,2.

“Lucas constrói a sua narração nas grandes cidades. Depois de Jerusalém, Antioquia e Corinto, agora é a vez de Éfeso (cf. At 19). Dois elementos se cruzam no texto: a atividade geral, constante, de Paulo, e alguns episódios que se tornam exemplos de situações e de problemas. Eis então a conversão de alguns discípulos de João Batista (é o trecho de hoje: vv. 1-7), o conflito com os exorcistas ambulantes (vv. 12-20), a revolta dos ourives (vv. 23-41). Os três episódios sevem de exemplo: mostram a confrontação do cristianismo com a comunidade dos discípulos de João Batista, com a magia e o paganismo. [Compreender a Palavra:] Chegado a Éfeso vindo das regiões do planalto, Paulo encontra alguns ‘discípulos’ que não conheciam nem o batismo de Jesus nem o Espírito Santo. O texto chama-lhes ‘discípulos’, e isto significa que de qualquer modo os considera cristãos, embora muito incompletos, tendo aderido à fé (‘Quando abraçastes a fé’) não tinham ainda feito uma opção plenamente cristã, referindo-se, porventura, ora a João Batista ora a Jesus. Paulo explica a esses homens que, no pensamento de João, o Batismo por ele ministrado era o sinal de um regresso a Deus e de uma mudança radical de vida que se teria realizado aderindo ‘Àquele que ia chegar depois dele, isto é, Jesus’ (v. 4). Estes discípulos são agregados à comunidade cristã mediante um duplo sinal eclesial: recebem o Batismo ‘em nome do Senhor Jesus’ (v. 5) e o dom do Espírito Santo pela imposição das mãos de Paulo (v. 6). Renova-se assim o Pentecostes, como em Jerusalém (cf. At 2,1-13) e na casa de Cornélio (cf. At 10,44-46)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Ascensão do Senhor – Ano C

(At 1,1-11; Sl 46[47]; Ef 1,17-23; Lc 24,46-53)

1. Entre os evangelistas, Lucas é o que mais põe em relevo a Ascensão de Cristo ao céu. É com esse fato que ele termina o seu evangelho e começa a narrativa dos Atos dos Apóstolos, como nos recorda a 1ª leitura. É uma maneira de afirmar que a Ascensão encerra “o tempo de Jesus” e inaugura “o tempo da Igreja”.

2. Mas esse encerramento do ‘tempo de Jesus’ não significa que Ele tenha se ausentado, ao contrário, se estabelece para sempre em meio a nós, ainda que as figurações sobre esse fato nos deem a ideia de uma partida, os Atos nos diz que uma nuvem o encobriu...

3. Jesus desaparece, sim, da vista dos apóstolos, mas para estar presente de um outro modo, mais íntimo, não fora, mas dentro deles. Como a Eucaristia que contemplamos; adoramos. Depois recebemos e desaparece dentro de nós inaugurando uma presença nova e mais forte.

4. Se Jesus não é mais visível, como se poderá crer, como saberá o mundo de sua presença? A resposta é simples e clara: ele se faz presente através dos seus discípulos! Tanto nos Atos como no Evangelho, Lucas associa estreitamente a Ascensão ao tema do testemunho: “Vós sereis testemunhas de tudo isso”.

5. Conhecemos um pouco desse testemunho dos apóstolos que tem em Pentecostes o seu impulso inicial e que se seguiu através dos seus sucessores, bispos, sacerdotes. Mas esse “vós”, num sentido mais amplo, se estendia a todos os batizados e que creem em Cristo.

6. Então, se todos são testemunhas, é necessário saber o que deve fazer uma testemunha. Testemunha é um que ‘atesta’, que afirma uma coisa. Mas nem todos que atestam uma coisa são testemunhas, só quem atesta uma coisa que viu e ouviu pessoalmente. Não quem se refere a algo que soube através de outros...

7. Paulo VI, que celebramos nessa quinta passada, tem uma célebre afirmação: “O mundo tem necessidade mais de testemunhas que de mestres”. Nosso tempo ‘pipoca’ de mestres, verdadeiros e falsos, mas escasseia de testemunhas, pois segundo o provérbio, há uma grande diferença entre o dizer e o fazer.

8. A testemunha é alguém que fala com a vida. Nesse sentido, Cristo é o modelo de testemunho, que diante de Pilatos, se define como ‘testemunha da verdade’. De fato, ele viveu até a última vírgula tudo que ensinou e dá a sua vida para dar testemunho da verdade.

9. E assim o seguiram de modo bem próximo os mártires do 1º século da Igreja, e em menor escala seguiram-se tantos outros como Maximiliano Kolbe, Edith Stein, Oscar Romero, os sete monges trapistas de Tibhirine na Argélia, as irmãs e os missionários que estão entre as vítimas de guerras e de guerrilheiros na África, na América Latina.

10. Mas não queremos nos perder nesse aspecto do testemunho. Existe, particularmente, o assim chamado ‘martírio cotidiano’, isto é, o testemunho de todo dia, que por vezes não é menos exigente que o martírio de sangue. Que está presente na vida dos pais que devem ser para os filhos ‘as primeiras testemunhas da fé’.

11. A alma de uma criança é como uma chapa fotográfica: tudo que vê e escuta nos anos da infância se incidem nela e um dia se ‘desenvolverá’ e dará seus frutos, bons ou ruins.

12. Jesus sabe que sozinhos não somos capazes de dar testemunho. Se deixar-nos sós, faremos como Pedro no processo da paixão, negando a cada momento. Por isso, antes de desaparecer aos olhos dos discípulos, ele nos faz uma promessa na 1ª leitura: “Recebereis o poder do Espírito Santo, que descerá sobre vós para serdes minhas testemunhas...”

13. Vivamos esses dias de espera para a festa de Pentecostes em intensa oração: “Vem Espírito...”.     

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 31 de maio de 2025

(Sf 3,14-18; Sl 12; Lc 1,39-56) Visitação da Bem-aventurada Virgem Maria.

“Maria disse: ‘A minha alma engrandece o Senhor’” Lc 1,46.

“Na liturgia das Vésperas, de tardinha, canta-se diariamente o Magnificat. É o canto de louvor, cantado por Maria. Canta não apenas aquilo que Deus fez a ela, mas a atuação de Deus na história, como Deus agiu em Jesus Cristo, derrubando todas as normas deste mundo. Em Jesus, Deus inverteu as relações de poder deste mundo. Lucas compõe o hino de Maria com orações judaicas. Tem semelhança com salmos dos fariseus. Mas ao mesmo tempo alude a temas gregos. A inversão das relações é um ‘topos’ conhecido também na literatura grega. A liturgia cristã tem interpretado o Magnificat não apenas em função do nascimento de Jesus, mas vendo-o também à luz de sua morte e ressurreição. Na morte e ressurreição de Jesus, Deus acabou com todos os critérios deste mundo. No nascimento de Jesus já se torna claro que o Senhor do mundo nasce como criança pobre, e que os ricos, por isso, ficam de mãos vazias. O que se iniciou no nascimento de Jesus completou-se na sua morte e ressurreição – o crucificado torna-se rei, o morto torna-se o príncipe da vida. A luz brilha na escuridão, o sepulcro torna-se o espaço da vida. No Magnificat, Lucas refere-se à Igreja um cântico que descreve o mistério de Jesus em imagens que ao mesmo tempo simbolizam também a transformação da nossa própria vida. Ao olharmos para o Cristo e para Maria, revela-se-nos que também para nós Deus fez grandes coisas. Neste cântico, portanto, misturam-se não apenas o passado com o presente, mas ao mesmo tempo a vivência de Maria com as minhas experiências pessoais, e o destino de Jesus com a minha própria sorte. Lucas é mestre na arte de transpor o passado para o presente, de ligar a vida de Jesus à história da Igreja e à nossa história muito pessoal. No Magnificat ele consegue isso de maneira insuperável. Na morte de cada dia, pois, louvamos neste cântico, em comunhão com Maria, nossa irmã na fé, a bondosa ação de Deus para conosco” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 30 de maio de 2025

(At 18,9-18; Sl 46[47]; Jo 16,20-23) 6ª Semana do Tempo Pascal.

“... porque eu estou contigo. Ninguém te porá a mão para fazer mal.

Nesta cidade há um povo numeroso que me pertence” At 18,10.

“Paulo, num encontro particularmente difícil da viagem (cf. At 18,5-6), tem uma visão: o Senhor confirma-o na sua missão. Por isso fica em Corinto ainda durante um ano e meio ensinando a Palavra de Deus. Novamente os judeus se opõem e arrastam-no ao tribunal, mas o procônsul Galião remete os judeus para a sua própria Lei (cf. v. 15). Expulsos do tribunal romano, os judeus começam a discutir entre si e apoderam-se do pobre Sóstenes, chefe da sinagoga, a quem maltratam na presença do procônsul, que assiste indiferente a tudo. [Compreender a Palavra:] Paulo é confirmado pelo Senhor na sua caminhada missionária. As palavras que Jesus lhe dirige são ao mesmo tempo um dom e uma tarefa. ‘Não temas’ (v. 9a): é o imperativo que encontramos em muitas narrações do Antigo Testamento relativas a vocação (cf. Is 41,10; Jr 1,18). Nestas é Deus que fala aos seus vocacionados, mas no texto de hoje a exortação vem do próprio Jesus Ressuscitado. O convite a que não tema baseia-se num fundamento sólido: ‘Eu estou contigo’. É uma promessa que mostra certeza, já que o Senhor tem ‘um povo numeroso nesta cidade’ (v. 10). A certeza do missionário apoia-se na fidelidade de Jesus: este é o aspecto do dom. Mas inclui também uma tarefa: ‘Continua a falar, não te cales’ (v. 9b). Temos nestas palavras um admirável retrato do missionário: o missionário é aquele que, antes de mais e em primeiro lugar, anuncia a Palavra. Ninguém tem o direito de o mandar calar, nenhum obstáculo justifica o seu silêncio. Recebeu uma Palavra que, precisamente porque recebida, deve anunciar, sempre em qualquer parte. E se algum ou muitos a rejeitam, o missionário não para: dirige-se para outros mais disponíveis ao acolhimento. E mesmo quando é rejeitado, sempre fica nesse lugar alguém que acolheu a Boa Notícia” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 29 de maio de 2025

(At 18,1-8; Sl 97[98]; Jo 16,16-20) 6ª Semana da Páscoa.

“Em verdade, em verdade vos digo, vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará.

Vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza de transformará em alegria” Jo 16,20.

“A linguagem enigmática de Jesus deixava confusos os discípulos. Estando para concluir seu ministério, referia-se a um tempo de separação, seguido de um tempo de reencontro. Falava em ir para o Pai. No ar, pairava algo de abandono, de ruptura. Os discípulos não se sentiam preparados para enfrentar esta realidade. Também não estavam em condições de compreender o que se passava com Jesus. O pano de fundo das palavras de Jesus tem a ver com o destino de morte e de ressurreição que o esperava. O tempo da não-visão corresponderia à experiência de morte a ser enfrentada por ele. Sem o apoio de sua presença, a comunidade ficaria exposta à tristeza, à confusão, e à zombaria do mundo. Julgando ter alcançado seu objetivo de eliminar o Filho de Deus, seus inimigos teriam motivos para se alegrar com o desespero dos discípulos. O tempo da visão correspondia à Páscoa. Momento de reencontro do Senhor com sua comunidade, sem as limitações do tempo e do espaço. E, por isso, motivo de alegria para os discípulos. Pelo contrário, tempo de tristeza para o mundo, que verá frustrados todos seus intentos de eliminar o Filho de Deus. Ver-se-á derrotado, quando pensava ter sido vitorioso. A alegria sucede à tristeza. Ela é o ponto de chegada para o discípulo que sabe compreender o sentido da morte de Jesus, e se prepara para colhê-lo na Ressurreição. – Espírito de júbilo, transforma, em alegria, a tristeza de meu coração, fazendo-me compreender que o Ressuscitado está vivo, no meio de nós” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 28 de maio de 2025

(At 17,15.22—18,1; Sl 148; Jo 16,12-15) 6ª Semana da Páscoa.

“Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso disse que o que ele receberá e vos anunciará é meu” Jo 16,15.

“Neste texto a ação de Espírito é explicada em relação às três Pessoas Divinas: ao mesmo Espírito (v. 13), ao Filho (v. 14), ao Pai (v. 15). A conclusão dos três versículos é sempre a mesma: ‘há de anunciá-lo’. O Espírito, concedido aos crentes, agirá neles e auxiliá-los-á a compreender as antigas profecias. Assim o Espírito anuncia e abre para uma verdade diferente das que o ‘mundo’ propõe. O Espírito permite aos crentes penetrar na profundidade da Escritura na qual estão contidas, na linguagem dos homens, as palavras de Deus e da qual, segundo a bela expressão de São Gregório Magno, o homem pode ‘captar o coração de Deus’. Afirma a Dei Verbum, no número 12, que ‘a Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi escrita’. É por isso necessário que os fiéis, com a sua vida, permitam verdadeiramente ao Espírito que fale. Esta atitude não tem nada de abstrato ou fantasioso, mas requer atenção aos acontecimentos concretos de cada dia, pedindo a Deus o dom do discernimento; requer oração, amor para com o próximo, o abandono da idolatria no tocante ao dinheiro e ao poder sobre os outros e, muito importante, a celebração da liturgia. Com efeito, a assembleia litúrgica é o lugar privilegiado para a escuta da Escritura. Nela Cristo está ‘presente na sua Palavra, pois que é Ele que fala quando na Igreja se lê a Sagrada Escritura’ (Sacrosantum concilium, 7). Tudo isto nos diz que para entrar na lógica nova de Jesus, para nos deixarmos instruir nisto pelo Espírito, temos diante de nós um caminho novo já marcado: a vida cristã diária e normal” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de maio de 2025

(At 16,22-34; Sl 137[138]; Jo 16,5-11) 6ª Semana da Páscoa.

“Paulo e Silas responderam: ‘Crê no Senhor e serei salvo tu e todos de tua família” At 16,31.

“Para compreendermos o texto é necessário ter presente que a reação desencadeada contra Paulo e Silas (v. 22) foi causada pela intervenção de Paulo: o Apóstolo tinha libertado de um espírito uma jovem escrava, a qual queria colocar o seu poder ao serviço dos ‘servos de Deus Altíssimo que anunciam o caminho da salvação’ (At 16,17). A Boa notícia de Jesus não precisa desta propaganda ambígua. Os donos da jovem veem dissipar-se os lugares provenientes dos oráculos pronunciados pela jovem (cf. At 16,16.19).Por esse motivo os dois missionários são açoitados e metidos na prisão. [Compreender a Palavra:] A narração começa sob o signo de uma perseguição injusta e termina num clima de alegria partilhada. Paulo e Silas, embora perseguidos, entoam louvores a Deus. A intervenção de Deus foi inesperada. Um terremoto abre dois caminhos: o da libertação dos prisioneiros e do carcereiro para a fé. Deus intervém na vida do carcereiro e transforma-o de cego executor das ordens dos magistrados, num homem à procura de luz. Por isso coloca aos missionários uma pergunta precisa: ‘Senhores, que devo fazer para ser salvo?’ (v. 30), a mesma que os primeiros crentes tinham feito a Pedro (cf. At 2,32) e que as multidões faziam a João Batista (cf. Lc 3,10). A resposta foi: ‘Acredita no Senhor Jesus’ (cf. v. 31). Toda a casa do carcereiro acolhe o anúncio dos missionários. Este lava as chagas de Paulo e de Silas e, por sua vez, é lavado pelo Batismo: uma transformação dupla e significativa. Por fim o texto sublinha o clima de alegria que nasce de terem acreditado em Deus e que se exprime numa refeição fraterna, uma velada alusão à Eucaristia (v. 34)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de maio de 2025

(At 16,11-15; Sl 149; Jo 15,26—16,4) 6ª Semana do Tempo Pascal.

“Eu vos digo isso para que vos lembreis do que eu disse, quando chegar a hora” Jo 15,4.

“O risco maior a que os discípulos poderiam correr, seria o renegar sua própria fé. A isto se refere Jesus, quando falou de ‘escândalo’. Para que os discípulos o evitassem, Jesus lhes expusera, com toda a clareza, o destino de ódio e perseguição que lhes estava reservado. Mas também lhes prometeu enviar um Defensor, para estar sempre com eles. A missão dos discípulos consistiria em dar testemunho do Mestre, sem se deixarem intimidar. Missão dura, ao se virem expulsos da sinagoga, sua comunidade de fé, ou vítimas da sanha assassina dos seus inimigos. Julgando estar prestando um serviço a Deus, banindo-os da face da terra como indivíduos blasfemos, esses não teriam escrúpulos de assassiná-los. Então, deveriam ter fé redobrada para, por Jesus e pela causa do Reino, não desistirem da missão abraçada. Aqui entra em jogo a própria condição de discípulo, provada pelos acontecimentos. Quem se deixou ajudar pelo Paráclito e teve sua fé reforçada por ele, fará frente às investidas dos inimigos, mantendo-se fiel a Jesus. Quem titubear, ou, pior ainda, debandar, demonstrará estar longe de ter compreendido as reais exigências do discipulado, estar despreparado para ser discípulo. O discípulo fiel, embora submetido a provações, não se escandaliza. Lembrando-se das palavras do Senhor, ele resiste por saber-se bem protegido pelo Espírito de Verdade, enviado pelo Pai. – Espírito de firmeza, nos momentos de provação, vem em meu socorro, para que eu não sucumba à tentação de apartar-me de meu Mestre e Senhor (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

6º Domingo da Páscoa – Ano C

(At 15,1-2.22-29; Sl 66[67]; Ap 21,10-14.22-23; Jo 14,23-29)

1. Estamos à dois domingos da Festa de Pentecostes e já temos uma menção ao Espírito Santo no Evangelho de hoje. Jesus está se despedindo dos seus discípulos e lhe promete enviar o Espírito, como sinal da sua contínua presença entre nós.

2. O Espírito Santo, esse desconhecido, esse esquecido, esse ‘parente pobre’ da Santíssima Trindade, adquire toda a sua importância decisiva de protagonista justamente quando vem esquecido. Paradoxalmente nos damos conta d’Ele, quando não está.

3. Quando o Espírito Santo não está presente assumimos uma atitude de defesa, nos refugiamos na sacristia, levantamos muros para proteger-nos contra o mundo externo. Vemos inimigos por toda parte. E assim evitamos a entrada desse ‘sopro’ do Espírito, que seria fator de perturbação dessa paz aparente.

4. Quando o Espírito não está presente se criam oposições arbitrárias, irredutíveis entre realidades que deveriam estar harmonizadas: o dever político e a contemplação. O sacro e o profano, a Igreja e o mundo. Tradição e renovação. Autoridade e responsabilidade. Oração e amor ao próximo. O Espírito é princípio de unidade.

5. O Espírito é a alma da Igreja. Quando se descuida da alma, para conservar a coesão, se reforça a carcaça. Ficamos presos às estruturas. Nos preocupamos mais com elas do que com as pessoas. Com as normas do que com a vida e a alegria de viver.

6. E assim, por essa ausência, se proliferam as leis, a regulamentação, as normas detalhadas. Substituímos o ‘sopro’ original pelos códigos. Com menos presença do Espírito, vem em primeiro plano a ordem e a disciplina exterior. A uniformidade dos comportamentos se sobrepõe a verdadeira unidade dos corações em Cristo.

7. E poderíamos acrescentar ainda mais coisas, mas creio que isso já seria suficiente para intuirmos e sublinharmos a gravidade e a dramaticidade de Sua ausência. E assim se faz necessário e urgente abrir às portas a esse ‘Desconhecido’ cuja presença se faz sentir quando está ausente.

8. Jesus fala da presença do Espírito em termos de memória e fantasia. “O Espírito vos recordará tudo que vos tenho dito”; e mais adiante: “Muitas coisas ainda tenho a dizer, mas no momento não sois capazes de suportar. Quando vier o Espírito da verdade, ele vos ensinará toda verdade... e vos anunciará as coisas que virão” (16,12-13).

9. O Espírito nos faz olhar para trás para recordar, mas nos obriga a olhar para frente, para inventar, para antecipar. A memória não pode acomodar-se no passado num sentido nostálgico. Deve fazer que o passado reviva no presente e prepare o futuro. A memória não deve tornar-nos escravo do passado, mas livres para o hoje.

10. O nosso poder de conservação é rigorosamente proporcional à nossa capacidade de renovação e de criação. A visão do passado é justa e necessária. É útil. Mas deve ser operacional, não contemplativa.

11. Um terreno incapaz de fazer germinar novas sementes é inadequado até mesmo para conservar e alimentar as plantas que já possui. Para salvar o presente, é necessário garantir o futuro. A verdadeira importância do passado se demonstra olhando o futuro. Se se ama verdadeiramente o passado, preocupemo-nos com o futuro.  

Pe. João Bosco Vieira Leite