Terça, 12 de agosto de 2025

(Dt 31,1-8; Sl Dt 32; Mt 18,1-5.10.12-14) 19ª Semana do Tempo Comum.

“Não desprezeis nenhum desses pequeninos, pois eu vos digo que os seus anjos nos céus veem sem cessar a face do meu Pai que está nos céus” Mt 18,10.

“O amor aos pequeninos deve ser um ponto de honra para a comunidade cristã. Trata-se, aqui, de atitudes concretas no apreço, incentivo e estima, mormente em relação a quem está dando os primeiros passos na fé, uma vez que, nem sempre, é capaz de superar os obstáculos com que se defronta. Corre-se o grande perigo de assumir, diante desses pequeninos, uma atitude farisaica de rigorismo, apresentando-lhes exigências descabidas, a ponto de jogá-los fora da comunidade cristã e afastá-los da salvação. A exortação de Jesus – ‘Cuidem de não desprezar um destes pequeninos’ – revela que a fé é uma dinâmica, cujos passos vão sendo dados pouco a pouco. É inútil querer impor-se demais, e determinar o ritmo que devem seguir. Quem está dando os primeiros passos deve ser objeto de especial atenção. O abandono de certos hábitos e a acolhida do modo de ser próprio do discípulo do Reino, muitas vezes, é muito penoso. A simples força de vontade ou a firme decisão de ser diferente podem mostrar-se insuficientes quando se trata de mudar de vida. O efetivamente conseguido não corresponde àquilo que se deseja. Nem por isso, a comunidade tem o direito de desfazer-se de quem vai caminhando com dificuldade. Pelo contrário, este deve ser objeto de atenção redobrada, para não vir a esmorecer na sua opção pelo Reino. – Espírito de apreço e estímulo, torna-me especialmente atento em relação a quem dá os primeiros passos na fé, buscando, penosamente, trilhar caminhos de fidelidade ao Reino (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 11 de agosto de 2025

(Dt 10,12-22; Sl 147 [147B]; Mt 17,22-27) 19ª Semana do Tempo Comum.

“O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens. Eles o matarão,

mas no terceiro dia ele ressuscitará” Mt 17,22b-23a.

“A todos nós custa a aceitação não só da cruz, mas também da ideia da cruz; no entanto, a cruz acompanhará nossos passos e não nos abandonará em toda a nossa vida. O final será certamente a glória da ressurreição, mas a essa glória deverá preceder indefectivelmente a dor da cruz. Se agora você se encontra na etapa da cruz, console-o o pensamento e a certeza da ressurreição e da glória. As palavras de Jesus eram claras; a obscuridade chegava aos apóstolos por não poderem harmonizar a ideia que tinham do Messias com seus padecimentos e sua morte. Por isso, São Lucas diz que ‘eles, porém, não entendiam esta palavra e era-lhes obscura de modo que não alcançaram o seu sentido’ (Lucas 9,45). Os apóstolos ‘ficaram profundamente aflitos’ (v. 22) por não compreenderem os planos de Deus; se tivessem sabido que aquela humilhação e aquelas dores do Mestre confluiriam para a plenitude da glória da ressurreição, o abatimento deles não teria sido tão arrasador. Quantas vezes passa você por momentos semelhantes a este, amargurando-se e mesmo desesperando-se pela cruz que deve levar sobre os ombros; se ao menos você compreendesse que isso faz parte dos planos do Senhor a seu respeito e que tudo deverá contribuir para seu próprio bem e felicidade, você encontraria poderosos lenitivo e estimulante impulso nas provações de sua vida, a fim de suportá-las com mais serenidade e paz em seu coração” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

19º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Sb 18,6-9; Sl 32[33]; Hb 11,1-2.8-19; Lc 12,32-48)*

1. O Evangelho de hoje se presta a várias considerações: a fé, a vigilância; a esmola, o tornar-se pobre. Mas sem adentrar-nos nesses temas que, de alguma forma, já vimos, e voltaremos a ver, podemos nos reter nas palavras iniciais do nosso evangelho: “Não tenhais medo, pequenino rebanho...”.

2. Essa é a frase conclusiva da 1ª parte desse capítulo 12 de Lucas, que está toda dedicada ao ensinamento de Jesus sobre o que os discípulos devem ou não temer. Das palavras de Jesus fica claro que existem dois tipos de medo, de acordo com o objeto que se teme: o temor de Deus e dos homens ou das coisas.

3. O temor de Deus, ou temor religioso, apresenta-se de duas formas. Há um temor que é simples consequência de que Deus é Deus e nós somos seres humanos ou criaturas; é o sentimento do divino ou do sobrenatural, o modo como se manifesta, ultrapassando nossa capacidade de lidar com Sua manifestação.  

4. Há um segundo temor de Deus que está ligado ao pecado e que é ou medo de cometer o pecado ou o medo de havê-lo cometido. Este último se identifica com o sentimento de culpa, ou remorso, como na experiência dos nossos primeiros pais.

5. Em geral quando a bíblia inculca como um valor e um dom do Espírito Santo o temor de Deus fala da primeira espécie de temor: o que precede o pecado e leva a evitá-lo. Este temor é chamado ‘o início da sabedoria’. Mas o objetivo não é permanecer nesse sentimento, mas suscitar o amor: “Amarás o Senhor teu Deus...”.

6. Há uma forma de temor de Deus – o temor reverencial – que é muito próxima do amor e harmoniza também os relacionamentos entre filho e pai. Este pode coexistir também com o sentimento de confiança, como bem expressa o nosso salmo: “Mas o Senhor pousa o seu olhar sobre os que o temem, e que confiam esperando em seu amor...”.

7. Esse amor a Deus deve ser o antídoto aos outros temores que carregamos. O medo é nossa condição existencial; ele nos acompanha da infância até a morte. Não só ligado às fases da vida, mas estão ligados aos aspectos culturais, socais, econômicos e até evolutivos da caminhada humana.

8. Sobre cada um destes medos Jesus pronunciou seu “Não temais!”. Esta é uma palavra eficaz, quase sacramental; como todas as palavras de Jesus, opera o que significa; não é o simples “Coragem!” que dirigimos um ao outro. Em sua própria experiência está a nossa referência.

9. É preciso descobrir no evangelho estes diversos estágios de libertação: da ânsia, das palpitações, das várias neuroses, da pressa, do urgente etc. Ou o evangelho liberta nosso coração ou – como está acontecendo sempre com mais frequência – será o infarto.

10. Não vou entrar em detalhes dos medos humanos ou de suas técnicas de combate, mas no convite que Jesus nos faz. A libertação não está numa ideia ou numa técnica, mas numa pessoa: Jesus que nos amou! O dissipador de todo medo é Jesus; o medo é carência ou perda de liberdade interior e Jesus veio para nos chamar à liberdade.

11. O assunto sobre a libertação dos medos é delicado e nós não devemos cair em receitas fáceis que não correspondem à realidade dos fatos nem ao Evangelho. Jesus pode libertar de toda angústia e o faz infalivelmente se recorremos a ele.

12. O medo é algo muito ingrato, muito próximo ao pecado, muito incompatível para um filho; Jesus sabe disso, por isso pede que lhe peçamos nos libertar: pedi e recebereis. É preciso fazer como se faz com as doenças e as chagas: mostrá-las ao médico; como com os pecados: acusá-los e jogá-los fora.

13. É preciso iluminar nossos medos, tomar quase na mão o próprio coração, parar com calma e dizer ao mesmo: de que estás tremendo? Onde está a nossa confiança em Deus? A solidão é um grande fabricante de medos. Como podemos nos ajudar comunitariamente? “Por que tenho medo, se nada é impossível para ti?...”.

* com base em texto de Raniero Cantalamessa.  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 9 de agosto de 2025

(Dt 6,4-13; Sl 17[18]; Mt 17,14-20) 18ª Semana do Tempo Comum.    

“Jesus respondeu: ‘Porque a vossa fé é demasiada pequena” Mt 17,20a.

“A incapacidade dos discípulos de curar o menino epilético evidenciou o fato grave da pequenez de sua fé. Foi Jesus mesmo quem o disse, ao ser interrogado por eles sobre o motivo de terem sido incapazes de realizar o desejo daquele pai aflito. Sem dúvida, os discípulos, no exercício da missão, experimentaram sua impotência diante de determinadas situações. Aparentemente, estavam fazendo tudo como o Mestre lhes tinha ensinado. Nada de anormal parecia estar ocorrendo com eles. Contudo, não conseguiam dar conta da tarefa de que foram incumbidos. Por que? Porque faltou-lhes fé suficiente e confiança verdadeira em Jesus. A única solução consistia em converter-se, sinceramente, para o Senhor. Bastaria uma fé pequena como um grão de mostarda, para serem capazes de realizar portentos, até mesmo seriam capazes de transportar montanhas! ‘Transportar montanhas’, no linguajar da época, referia-se a algo impossível de ser realizado pelo ser humano. Mas, até coisas humanamente impossíveis, tornam-se possíveis pelo poder da fé. A eficiência da missão do discípulo depende, pois, de sua fé. – Espírito de fé absoluta no Senhor, robustece a pequenez de minha fé, de maneira que eu possa ser eficiente no exercício da missão a mim confiada (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 8 de agosto de 2025

(Dt 4,32-40; Sl 76[77]; Mt 16,24-28) 18ª Semana do Tempo Comum.

“A ti foi dado ver tudo isso, para que reconheças que o Senhor é, na verdade, Deus

e que não há outro Deus fora ele” Dt 4,35.

“Quem é seu Deus? Com quem você faz a experiência plena de vida? Quem lhe estende a mão e o braço forte para libertá-lo? Quem vê seu sofrimento, ouve seu clamor, se compadece de você e vem em seu auxílio? Estamos presos a outras idolatrias e fechamos nossos olhos para a verdade que habita em nós. Estamos escravos de um consumismo desvairado, de uma mídia oportunista, de uma política corrupta e de um ostracismo desmedido. Deus tem se revelado nas pequenas coisas, na diversidade de dons e na partilha do dia a dia. O Senhor vem nos visitar constantemente com o sol e a chuva, com o vento e a brisa suave, com os frutos do campo e os animais da pastagem, com os peixes no mar e as aves no céu e na terra. Vem o Senhor por aquele que está encarcerado, com fome e sede, no leito de um hospital, um idoso abandonado ou em asilo, numa criança no farol, num pedinte pela rua, nos aflitos por desastres naturais etc. ‘A ti foi dado ver tudo isso para que reconheças que O Senhor é na verdade Deus e que não há outro Deus além dele’. O Deus de nossa vida deve ser aquele do qual fazemos a experiência de ressurreição e transformação, deve ser o Senhor que todos os dias tenta nos fazer melhores através de tantos outros que sofrem e precisam de nós. O nosso Deus deve ser o misericordioso que nos inflama de amor. – Deus conosco, vem em nosso auxílio para que, abraçando as coisas que passam, possamos obter as coisas que não passam. Assim seja!” (Anderson Domingues de Lima – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 7 de agosto de 2025

(Nm 20,1-13; Sl 94[95]; Mt 16,13-23) 18ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos:

‘Quem dizem os homens ser o Filho Homem?’” Mt 16,13.

“A identificação do Messias Jesus passa por três etapas. Na primeira, Jesus quer saber o que as pessoas pensam a seu respeito. O povo, seguindo a tradição, considera-o como um dos antigos profetas redivivos. Desta forma, a identidade de Jesus careceria de originalidade, definindo-o a partir de personagens do passado cuja volta era esperada no final dos tempos. Na segunda, a identificação de Jesus revela-se no que o grupo que lhe é mais achegado pensa a seu respeito. É Pedro quem afirma: ‘Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!’ Tais palavras revelam a originalidade de Jesus, sua condição de Filho de Deus. Torna-se desnecessário recorrer a personagens paralelos para identificá-lo. Sua origem é divina, e foi o Pai quem o constituiu Messias. Pedro foi capaz de responder corretamente à pergunta do Mestre, por ter recebido uma revelação da parte do Pai. Na terceira, Jesus vê-se obrigado a acrescentar um elemento importante, não contemplado na resposta de Pedro: o Messias, Filho de Deus, estava destinado a sofrer nas mãos de seus inimigos, morrer e, no terceiro dia, ressuscitar. Logo, era um Messias sofredor. Sem a elucidação feita por Jesus, os discípulos correriam o risco de nutrir uma imagem distorcida a seu respeito. A bem da verdade, era preciso deixar tudo esclarecido. – Espírito que revela o Messias, leva-me a conhecer a verdadeira identidade de Jesus, o qual é, ao mesmo tempo, Filho de Deus e Messias sofredor” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 6 de agosto de 2025

(Dn 7,9-10.13-14; Sl 96[97]; Lc 9,28-36) Transfiguração do Senhor.

“Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante” Lc 9,29.

“Só Lucas relata que Jesus, na hora da sua transfiguração, orava. ‘Enquanto rezava, o aspecto de seu rosto mudou, e suas vestes se fizeram brancas e resplandecentes’ (Lc 9,29). Na oração entramos em contato com a nossa verdadeira essência. Aí tudo o que é superficial é eliminado. Desfaz-se a máscara por trás da qual nos escondíamos. ‘Transfiguração’ significa que transparece o essencial, a nossa original beleza. O brilho divino que existe dentro de nós irradia do nosso rosto. Então reconhecemos que somos a glória de Deus. Enquanto Jesus é transfigurado, aparecem Moisés e Elias. Moisés é o legislador e o libertador. Quando oramos, a nossa vida se ordena, e experimentamos em Deus a verdadeira liberdade. O que os outros pensam de nós já não é tão importante. Elias é o profeta. Na oração descobrimos a nossa missão profética, adivinhamos que com a nossa vida podemos expressar algo que somente através de nós pode se tornar visível neste mundo. Na oração – assim nos ensina o relato da transfiguração de Jesus – entramos em contato com o nosso ‘eu’ verdadeiro, e então a glória de Deus reluz em nós. Verdade é que aquilo que experimentamos orando não pode ser segurado. Escapa-nos sempre de novo. Uma nuvem escurece novamente a nossa visão, e com apenas a lembrança dessa luminosa experiência temos de voltar para o vale, muitas vezes nebuloso, do nosso dia-a-dia” (Anselm Grün – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 05 de agosto de 2025

(Nm 12,1-13; Sl 50[51]; Mt 14,22-36) 18ª Semana do Tempo Comum.

“Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos andando sobre o mar” Mt 14,22-36.

“Na quarta vigília, Jesus, andando sobre as águas, vem ao encontro dos discípulos. Na Bíblia, a quarta vigília é a hora da intervenção solícita de Deus. No mar dos juncos, Javé confundiu os egípcios na quarta vigília. Mas pode ser também uma imagem da crise que nos assola na metade da vida, e que associamos ao número quarenta. Na metade da vida, perdemos o chão seguro debaixo dos pés. Levantam-se em nosso inconsciente os vendavais de nossos recalques. Mas, ao mesmo tempo, o meio da vida é um tempo de transformação. Quando Jesus anda sobre as águas, o destino dos discípulos muda. Mas, num primeiro momento, eles sentem medo, pensando que se trata de um fantasma que está vindo ao seu encontro. A experiência de Deus não é sempre agradável, ela pode assustar-nos a ponto de ficarmos com medo. Mas Jesus mostra-lhes como Deus, o Pai misericordioso, gostaria de se encontrar com o ser humano: ‘Homem de pouca fé, por que duvidaste?’ (14,31). O Deus de Jesus é aquele que nos livra do medo, que nos convida à confiança. Com as palavras ‘Sou eu’, Jesus lembra a revelação de Javé na sarça ardente. Em Jesus, Deus mesmo se revela, o mesmo Deus que tirou o povo de Israel do Egito e o conduziu em segurança através do mar Vermelho” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 4 de agosto de 2025

(Nm 11,4-15; Sl 80[81]; Mt 14,13-21) 18ª Semana do Tempo Comum.

“Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção” Mt 14,19b.

“Era este gesto uma atitude de oração de Jesus, que o repete diversas vezes, o que é confirmado no evangelho. Com isto, Jesus se afastava do costume rabínico que dizia: ‘A regra é que aquele que ora deve ter os olhos baixos e coração elevado aos céus’. Para Jesus, a elevação dos olhos, do olhar para o céu, é uma expressão visível que não só se supõe, mas também produz e ajuda a levantar o coração ao Pai celestial. Tudo isto está afirmando que você deve caminhar na vida com os pés na terra, mas com o coração no céu, e para que ponha seu coração no céu, ajudá-lo-á não pouco o levantar também dos olhos; é preciso que você saiba ver em tudo sua origem: tudo vem de Deus, tudo deve levar você a Deus; não se detenha nesta terra, que é lugar de passagem e não de permanência definitiva e final. Tome, pois, tudo que é deste mundo no seu devido valor como meios que lhe sirvam para chegar à meta, à pátria, ao fim para o qual Deus o/a destinou; não procure explicar nada da vida presente em si e por si, mas enquanto está em relação com a finalidade; assim, por exemplo, a dor, o fato de agora você sofrer, não terá nenhum sentido se você não a considera como um meio que o ajude e lhe sirva para assegurar mais e melhor o fim a que você deve chegar, que não é outro senão a posse de Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

18º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Ecl 1,2; 2,21-23; Sl 89[90]; Cl 3,1-5.9-11; Lc 12,13-21) *

1. Há uma experiência humana que todos, num certo ponto da vida fazemos com maior ou menor clareza: aquela da sua precariedade e fugacidade, do fluir implacável do tempo e das coisas. E diante dessa realidade, são diversas as reações, como esta do autor da 1ª leitura.

2. Suas palavras refletem um estado singular de fé: aquele em que se crê na existência e no juízo de Deus, ainda que não esteja clara para ele uma outra vida para além do morrer. O máximo que ele pode esperar como recompensa pelo bem feito é uma vida longa e uma numerosa prole.

3. O termo ‘vaidade’ traduz uma palavra hebraica que significa vapor que se dispersa no ar. Vai na mesma linha de textos como o de Isaías: o homem é como a erva e como a flor do campo: seca a erva e a flor murcha (40,6-7). Isso gera um desconforto que só na fé em Deus e num grande amor à vida impedem de transformar-se em desespero e revolta.

4. Mas a luz que buscamos vem do Evangelho. Temos uma situação de alguém que pede a intervenção de Jesus numa questão de herança. Um litígio sempre atual que envenena famílias, transforma irmãos em inimigos, situações que findam diante de um tribunal.

5. Jesus rejeita posicionar-se em tal situação. Ele veio proclamar o reino de Deus que é justiça diante de Deus, não só diante dos homens; rejeita ser árbitro em mesquinhas questões de interesses pessoais.

6. Com a recomendação a ter cuidado com a ganância, Jesus quer levá-los a perceber que ao colocarem os bens terrenos em primeiro lugar, muita coisa importante fica em segundo plano. E para fazer-se melhor entender, conta-lhes uma parábola.

7. Aqui o Evangelho entra em sintonia com o autor da 1ª leitura, ao condenar o acúmulo como algo insensato. São como formigas que juntam e juntam para um inverno que nem sabe se alcançarão.

8. Ninguém está dizendo que o ser humano não deve trabalhar ou tornar melhor sua forma de produzir. O que se condena é o viver para acumular, reduzir-se a uma máquina de fazer dinheiro. Se deve fazer dinheiro para viver, não viver para fazer dinheiro.

9. Quantas vidas marcadas pela busca de posse e poder em seus fins trágicos não nos levaram a exclamar como o Evangelho: “Louco!”. A essa sabedoria e bom senso já presentes no Antigo Testamento, ao final do evangelho Jesus acrescenta algo absolutamente novo: existe uma vida para além da morte, uma vida eterna junto a Deus.

10. Esse ser rico diante de Deus, deixa claro que o erro não é acumular, mas acumular para si, quando se poderia ser rico diante de Deus a partir da prática do bem ao próximo. São as riquezas que portamos conosco, quando partirmos dessa vida. O valor não está no que temos, mas no que fizemos.

11. As leituras nos lembram que perdida a fé em Deus e na vida eterna, o ser humano se encontra na situação do autor da 1ª leitura: a vida parece um contrassenso, ou em termos modernos: “Tudo é um absurdo”. Findamos naquilo que certos filósofos e escritores dizem ser ainda pior: a ‘náusea’ diante das coisas. No dizer de Sartre, as coisas são ‘demais’, são opressoras.

12. Nosso Evangelho sugere tomar cuidado com essa via perigosa. É sempre possível encontrar a beleza e a santidade de nossa existência se deixarmos de tão somente querer possuir, ou de só consumir, redescobrindo que a nossa vida aqui prepara e facilita o nosso destino eterno.

13. Concluo com a oração da missa do domingo anterior: “Ó Deus, amparo dos que em vós esperam, sem vos nada tem valor, nada é santo. Multiplicai em nós a vossa misericórdia para que, conduzidos por vós, usemos agora de tal modo os bens temporais, que possamos aderir desde já aos bens eternos”.

* Com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 02 de agosto de 2025

(Lv 25,1.8-17; Sl 66[67]; Mt 14,1-12) 17ª Semana do Tempo Comum.

“Herodes queria matar João, mas tinha medo do povo, que o considerava como profeta” Mt 14,5.

“A voz do Batista tinha ressonância bem marcante no povo e, por isso, Herodes temeu a ascensão que João ia adquirindo perante o povo; por sua vez o povo temia Herodes por suas represálias; neste ambiente e nesse momento ressoa a voz apostólica e profética do Batista, gritam o ‘Não te é permitido’ (v. 4) aos poderosos da terra, quando o profeta se converte na voz dos sem voz, dos que não têm que os defenda contra a injustiça e a opressão. A luta do justo com o mundo não cessa nunca; as insídias de Herodíades por seu adultério tampouco cessava; é a eterna luta do mal contra o bem e a perene repulsa do bem contra o mal. João denuncia a Herodes seu pecado e o faz com energia e com inteireza de espírito; e a palavra de João produzia no rei remorsos que rasgavam e torturavam sua consciência; por isso, e pensando que o silenciasse, proferiu encarcera-lo; porém nem o cárcere, nem a dor dos tormentos, nem o temor de outros males puderam silenciar a voz profética do Batista” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 01 de agosto de 2025

(Lv 23,1.4-11.15-16.27.34-37; Sl 80[81]; Mt 13,54-58) 17ª Semana do Tempo Comum.

“E ficaram escandalizados por causa dele. Jesus, porém, disse: ‘Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!’” Mt 13, 57.

“O Evangelho faz uma constatação surpreendente: Jesus tornou-se um obstáculo para a fé do povo de sua terra. Por que isto, se todo o seu empenho concentrava-se em abrir seus ouvintes para a fé? Por que seus conterrâneos de Nazaré fecharam-se na incredulidade? Os nazaretanos levantavam sérias dúvidas sobre a origem dos milagres e da sabedoria de Jesus. Não podia tratar-se de sabedoria humana, pois conheciam muito bem seus familiares, sua condição social e o nível de seus conhecimentos. Sabedoria divina também não podia ser. Seria ousadia demais alguém do nível de Jesus pretender possuir sabedoria e poderes próprios de Deus! Teriam eles também suspeitado que a extraordinária capacidade do Mestre provinha do mau espírito? Em todo caso, não sendo capazes de superar satisfatoriamente a aporia em que se encontrava, optaram pelo desprezo e pelo fechamento. A atitude do povo de Nazaré não chegou a intimidar Jesus. Ele soube interpretar sua experiência à luz da história de Israel, na qual a rejeição dos profetas, enviados por Deus, é uma constante. O desprezo à pessoa do Mestre soma-se aos dos profetas do passado. Por outro lado, Jesus limitou sua ação taumatúrgica, não caindo na tentação de querer provar sua condição messiânica. Afinal, o obstáculo para a fé finda-se no preconceito de seus conterrâneos. Quando se libertassem desta prevenção, estariam em condições de reconhecer a origem divina do poder e da sabedoria de Jesus. – Espírito que liberta dos preconceitos, predispõe-me a acolher o Messias Jesus, na pobreza de sua origem social, embora sendo ele o Filho de Deus (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 31 de julho de 2025

(Ex 40,16-21.34-38; Sl 83[84]; Mt 13,47-53) 17ª Semana do Tempo Comum.

“Então a nuvem cobriu a tenda da reunião e a glória do Senhor encheu o santuário” Mt 13,34.

“O Livro do Êxodo termina com uma cena de grato aparato, de que o Lecionário nos oferece os elementos essenciais: a construção da ‘Tenda da Reunião’ por Moisés (vv. 16-21) e a tomada de posse como ‘morada’ da parte de Deus (vv. 34-38). O povo que caminha pelo deserto não está sozinho: o Senhor viaja com ele e guia-o para a terra de liberdade que lhe prometeu. [Compreender a Palavra:] A construção da Tenda da Reunião, tal como a construção da Arca da Aliança para guardar as tábuas da Lei (‘o Tabernáculo’: v. 20) não são uma iniciativa de Moisés, mas a execução obediente da vontade divina (vv. 16,18,21). O santuário desejado pelo Senhor é, por conseguinte, o espaço que Ele quer que lhe seja reservado pelo povo, para tornar manifesta a Sua presença no meio do povo. Neste Seu espaço, Deus vai e vem livremente, tornando-Se visível e inacessível ao mesmo tempo, precisamente como a nuvem que, descendo sobre a Tenda, indica a presença e a cobre mesmo à vista dos homens, ou como fogo que ilumina de noite e ao mesmo tempo os impede que se aproximem. O Senhor pede para habitar no meio do povo, para continuar a ser o seu guia (fogo que ilumina) e o seu protetor (nuvem que cobre): é Ele que marca as etapas do caminho (v. 36), indicando assim o futuro de vida e de liberdade, possível somente se as pessoas se colocam debaixo da Sua proteção e se entregam à Sua vontade” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum I] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 30 de julho de 2025

(Ex 34,29-35; Sl 98[99]; Mt 13,44-46) 17ª Semana do Tempo Comum.

“Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os bens e compra aquela pérola”.

Mt 13,46.

“O centro de convergência da parábola do tesouro escondido e da pérola preciosa encontra-se na decisão do agricultor e do comerciante, de desfazer-se de todos os seus bens para adquirir o bem encontrado, por ser sobremaneira precioso. O bom senso mostrou-lhe a conveniência de investir tudo na aquisição do bem maior. A perda redundaria em ganho, a loucura revelar-se-ia sabedoria. Assim comporta-se o discípulo em relação ao Reino. Sua descoberta leva-o a redimensionar toda a sua vida, dando um sentido novo a cada um dos seus aspectos, subordinando-os ao absoluto do Reino. O discípulo predispõe-se a qualquer sacrifício. Nada lhe parece demasiadamente pesado, quando se trata de colocar o Reino e seus valores no centro de sua existência. O discípulo vê-se confrontado com a responsabilidade de fazer uma opção que revolucionará toda a sua vida. Nem sempre estará seguro do passo que deverá dar. Daí a possibilidade de se deixar levar pelo medo e pela incerteza. A convicção do discípulo, ao tomar esta decisão, dependerá do modo como foi tocado pelo Reino. Quanto mais profunda for a experiência superficial dificilmente levara a uma opção radical. Aí se revela quem, de fato, fez-se discípulo do Reino – Espírito da radicalidade, reforça minha opção pelo Reino e seus valores, para que eu coloque sempre mais como o centro da minha vida (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 29 de julho de 2025

(1 Jo 4,7-16; Sl 33[34]; Jo 11,19-27) Santos Marta, Maria e Lázaro.   

“Então Jesus disse: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra viverá’” Jo 11,25.

“A ressurreição de Lázaro é um sinal da glória de Deus. Por isso também é um sinal daquilo que Deus realiza em nós. Não temos motivo para duvidar da historicidade da ressurreição de Lázaro. Mas não basta perguntar pelo que aconteceu naquele tempo. Mais importante é interpretar as imagens daquela cena de tal forma que nós mesmos façamos parte dela. Lázaro já está na sepultura faz quatro dias. Seu corpo já está em decomposição. O que está sepultado se putrefaz. Essa lei se aplica também a nós. Se estamos excluídos da relação com Jesus, apodrecemos e o nosso verdadeiro ser se deteriora. Marta chama a atenção para o fato de o defunto já estar cheirando mal. A falta de contato leva a um mau cheiro, a uma emanação destrutiva. Pela sua encarnação, Jesus deu à nossa vida um novo sabor, o sabor do vinho. Isso se mostra no primeiro sinal operado por ele, nas bodas de Caná. Por sua morte e ressurreição, Jesus expulsa o cheiro de putrefação de nossa vida. Como no primeiro sinal, realiza um milagre atendendo aos rogos de uma mulher. O primeiro sinal faz alusão à transformação do homem operada pela encarnação de Deus em Jesus. O sétimo sinal remete à transformação pela morte e ressurreição de Jesus. É a transformação da própria morte. Jesus menciona diante de Marta a fé como condição prévia para ver a glória de Deus. O que é dito a Marta é dirigido também ao leitor. Àquele que crê pode ver na narrativa da ressurreição de Lázaro, já no presente, um raio da glória de Deus” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 28 de julho de 2025

(Ex 32,15-24.30-34; Sl 105[106]; Mt 13,31-35) 17ª Semana do Tempo Comum.

“Embora ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que todas essas plantas”

Mt 13,32a.

“O evangelho de hoje diz que esta semente é menor que qualquer outra semente; na apreciação popular judaica, o grão de mostarda era considerado o termo comum de comparação entre as coisas pequenas. Assim, dizia-se: ‘pequeno como um grão de mostarda’; o Senhor Jesus faz outras coisas senão empregar a expressão popular. De qualquer maneira, o que aqui se quer expressar é que o Reino de Deus tem começos modestos e logo expande-se com vigor; para isso o Senhor emprega as duas parábolas: a da mostarda e a do fermento. Deus emprega meios simples para chegar ao homem; Deus sempre busca a simplicidade e a pobreza de espírito mesmo nas obras de maior transcendência; pensa apenas na humildade da Virgem na Encarnação, na pequenez dos sinais sacramentais: vinho, pão... na Eucaristia, na rudeza dos apóstolos para a fundação da Igreja. Os homens não entendem os caminhos de Deus, e por isso pretendem grandes inciativas e preparativos para suas obras, enquanto a fé nos ensina que quanto maior é a obra pretendida por Deus mais insignificantes costumam ser os começos e os instrumentos dos quais se serve sua divina Providência. Assim é o Reino dos céus, o Reino de Céus; tão pequeno e simples quanto um grão de mostarda; assim começa a fundamentar-se no coração do homem. Dê, pois, graças a Deus, porque, para que seu Reino deite raízes em seu coração, não será necessário fazer grandes coisas, ou empreender atividades extraordinárias, e sim ser-lhe fiel nas coisas de cada dia. A semente deve esconder-se sob a terra, deve apodrecer; se não apodrecer, não germina, não se desenvolve, não produz fruto. Não devemos estranhar que o Reino de Deus passe frequentemente por momentos difíceis e desagradáveis. São necessários para sua própria purificação. Por outro lado, essa parábola dá-nos este ensinamento com respeito à Igreja: do mínimo surgirá o máximo; dos começos tão simples e humildes a Igreja chegará à grandeza de sua universalidade; todas as etnias e todos os povos aconchegarem-se a ela; daí que possamos considerar esta parábola como uma profecia sobre a universalidade da Igreja” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

17º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Gn 18,20-32; Sl 137[138]; Cl 2,12-14; Lc 11,1-13)*

1. No Evangelho desse domingo Lucas nos conta como nasce a oração do Pai nosso. Uma oração que se propaga nos séculos, como um fluxo de oração que da cabeça se estende a todo o corpo. Comentaremos brevemente essas sete petições que a compõe integrando o texto breve de Lucas com o mais amplo de Mateus, que utilizamos oficialmente.

2. “Pai nosso que estais no céu” – É característico da oração de Jesus, ao longo dos evangelhos, começar dirigindo-se a Deus como Pai, como ninguém havia ousado e com tanta intimidade, além de dá a conhecer que Ele é o Filho único de Deus.

3. A oração cristã é um grito confiante de filho dirigido a um Deus que se tem como amoroso e bom. Mas sem tons frágeis ou sentimentais, porque sabemos que Ele está no céu, acima de nós, tanto quanto está distante o céu da terra.

4. Assim, Jesus não está trocando a imagem do Deus poderoso do Antigo Testamento, por um Deus todo bondade. A novidade é outra: permanecendo o Altíssimo, Onipotente e transcendente – mas agora nos é dado como nosso pai. Um pai que é bom, mas também forte, livre, capaz de defender-nos dos perigos.  

5. “Santificado seja o teu nome” – A santificação do nome de Deus está atrelada às nossas palavras e testemunhada com a vida. “Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16). O seu contrário seria a blasfêmia.

6. “Venha o teu Reino” – O Reino de Deus está no coração da mensagem e da vida de Jesus. Significa o desejo de que a mensagem de Jesus chegue, em extensão, até os confins da terra, e penetre, em intensidade, todos os aspectos da vida humana; que plasme toda a nossa existência.

7. O que significa também que o pecado não reine em nosso corpo mortal; ao mesmo tempo uma instância missionária e apostólica se esconde em nosso pedido ao Senhor da messe.  

8. “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” – A vontade de Deus é que todos os seres humanos sejam salvos. É uma vontade de amor, ainda que não a compreendamos. Não uma atitude de resignação. Como Maria em seu “sim”, o nosso desejo é que o projeto divino se cumpra o quanto antes. É quando a vontade de Deus se torna também a minha.

9. “O pão nosso de cada dia nos dai hoje” – Depois de termos rezado pelo Reino, Jesus nos leva a rezar pelo resto. Nossa oração não deve começar pelo “dá-nos; dá-nos, dá-nos”. Pedimos o alimento e tudo aquilo que sustenta a vida. Não se trata de escolher entre o pão espiritual (Eucaristia, Palavra de Deus) e o pão material. A palavra de Jesus abraça todas as duas coisas juntas. E pedimos não só para nós.

10. “Perdoai-nos os nossos pecados, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” – É o único pedido onde não só pedimos algo, mas prometemos também algo. Talvez sejam as palavras que dizemos com certa apreensão. Podemos ainda não estar pronto ao perdão, mas pedimos que Deus nos ajude nessa empreitada.

11. “Não nos deixeis cair em tentação” – Pedimos que Deus nos esteja vizinho nas tentações e não permita que nossa liberdade se dobre ao mal. Diz Paulo: “Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação, ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela” (1Cor 10,13).

12. “Mas livrai-nos do mal” – O que vem aqui traduzido como mal, no texto original pode significar duas coisas: o mal no sentido moral, daquilo que nos fazem ou daquilo que fazemos, que é o mais danoso. O outro sentido é mais pessoal, trata-se do maligno em si. Para esses dois significados a nossa oração funciona como um pequeno exorcismo.

13. Pode ser que de vez em quando rezemos de forma distraída, sem sentimento, quase no automático. Não desanimemos. Não podemos medir a alegria de Deus ao ser chamado de pai por uma sua criatura. O Pai Nosso é “um resumo de todo o Evangelho”, dizia Tertuliano. Rezá-lo com fé é tomar um banho de Evangelho. Experimentemos fazê-lo em família vez em quando.

* com base em texto de Raniero Cantalamessa

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 26 de julho de 2025

(Eclo 44,1.10-15; Sl 131[132]; Mt 13,16-17) Santos Joaquim e Ana, pais da bem-aventurada Virgem Maria.

“Vamos fazer o elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações” Eclo 44,1.

“São Joaquim e Santa Ana devem ter pensado muitas vezes que Deus queria algo de grande daquela sua filha, cumulada de tantos dons humanos e sobrenaturais, e oferecê-la-iam a Deus como os hebreus costumavam fazer com os seus filhos. Os pais que fortalecem o seu amor na oração saberão respeitar a vontade de Deus a respeito dos seus filhos, sobretudo quando eles recebem uma vocação de entrega plena de Deus – muitos saberão até pedi-la ao Senhor e deseja-la para esses filhos –, porque ‘não é sacrifício entregar os filhos ao serviço de Deus – costumava dizer o bem-aventurado Josemaria Escrivá –: é honra e alegria’, a maior honra, a maior alegria. E os filhos ‘sentirão toda a beleza de dedicarem as suas energias ao serviço do Reino de Deus’, por assim o terem aprendido de muitas maneiras no lar paterno. O amor no casamento ‘pode ser também um caminho divino, vocacional, maravilhoso, instrumento para a completa dedicação ao nosso Deus’ (Josemaria Escrivá). Esse amor deve ser eficaz e operativo no que se refere ao seu fruto, que são os filhos. O verdadeiro amor manifestar-se-á no empenho em formá-los para que sejam trabalhadores, austeros, bem educados no sentido pleno da palavra..., e assim venham a ser bons cristãos. Que lancem raízes nas suas lamas as sementes das virtudes humanas: a rijeza, a sobriedade no uso dos bens, a responsabilidade, a generosidade, a laboriosidade... E sempre a alegria de uma alma transparente. Os pais não devem esquecer nunca que são administradores de um imenso tesouro de Deus e que, por serem cristãos, formam uma família na qual está presente o próprio Cristo, o que lhe dá umas características próprias. Não devem ter recebido de singularizar-se num ambiente em que muitas vezes a vida familiar nada mais é do que uma sucessão de transigência e permissivismo covarde: pais sem autoridade, filhos rebeldes, que convivem todos como se estivessem numa pensão. Um lar cristão é um remanso de paz e alegria, em que os filhos desenvolvem a sua personalidade própria com uma liberdade amadurecida na responsabilidade e no conselho oportuno e firme dos pais. Peçamos hoje a São Joaquim e Santa Ana que os lares cristãos sejam lugares onde se encontre facilmente a Deus. Recorramos também a Nossa Senhora. ‘Todos unidos, elevemos a Ela os nossos corações e, por sua mediação, digamos a Maria, filha e Mãe: Mostra-te como Mãe para todos, oferece a nossa oração, que Cristo a aceite benigno, Ele que se fez teu Filho’ (João Paulo II)” (Francisco Fernandez-Carvajal – Falar com Deus – Vol. 5 – Quadrante)

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 25 de julho de 2025

(2Cor 4,7-15; Sl 125[126]; Mt 20,20-28) São Tiago, Apóstolo.

“Jesus, então, respondeu-lhes: ‘Não sabeis o que estais pedindo.

Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?’” Mt 20,22.

“De Tiago, portanto, podemos apreender muitas coisas: a sua prontidão ao receber o chamado do Senhor, inclusive quando nos pede para abandonar o ‘barco’ de nossas inseguranças humanas; o entusiasmo ao segui-lo pelos caminhos que Ele nos indica para além de nossa ilusória presunção; a disponibilidade para sua testemunha com valentia, se necessário até o sacrifício supremo da vida. Assim, Tiago Maior constitui para nós um exemplo eloquente de generosa adesão a Cristo. Ele, que no início havia pedido, por meio de sua mãe, sentar-se com seu irmão junto ao Mestre em seu reino, foi o primeiro que bebeu o cálice da paixão, que compartilhou com os apóstolos o martírio. E, por último, podemos concluir que o caminho, não só exterior, mas especialmente interior, do monte da transfiguração da agonia, simboliza toda a peregrinação da vida cristã, entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, como diz o Concílio Vaticano II. Seguindo Jesus como Tiago, sabemos que, mesmo nas dificuldades, estamos no caminho correto” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 24 de julho de 2025

(Ex 19,1-2.9-11.16-20; Sl Dn 3; Mt 13,10-17) 16ª Semana do Tempo Comum.

“Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram,

desejaram ouvir o que ouvis e não ouviram” Mt 13,17.

“Jesus falava ao povo por meio de parábolas, era a sua pedagogia. Um dia, depois de ter contado a Parábola do Semeador, os discípulos questionaram a sua forma de ensinar. Jesus, então, respondeu: ‘Falo em parábolas para provocar os corações. Aqueles que buscam o Reino, compreendem e são fortalecidos. Os que não compreendem, poderão mudar de caminho. Mas, se insistirem em continuar surdos e cegos, o que podemos fazer? Não poderão alegar que não foram avisados... O que vocês estão vendo é exatamente aquilo que está no Profeta Isaías: Muita gente escuta, mas não compreende; olha, mas não enxerga. E se não enxergam e não compreendem, é porque as mentes estão confusas, e os olhos e ouvidos estão tapados... Felizes são vocês, que enxergam e escutam; e eu digo para vocês, muitos profetas desejaram ver o que vocês veem... (Mt 13,10-17)’. Como se vê, Jesus tinha muito claro o que queria (seus objetivos) e o terreno em que pisava (contexto social, cultural, religioso). Embora tivesse muita vontade de anunciar o Reino, sabia que nem todos os ouvintes acolheriam sua mensagem. Ainda assim, não desanimava. Seguia em frente, lançando as sementes. Algumas, certamente, cairiam em terra boa, e isso já valeria o esforço. Nos dias de hoje, temos muito mais oportunidades para conhecer e compreender a mensagem de Cristo. Não faltam, em todo o Brasil, cursos e estudos bíblicos, retiros e grupos de leitura e partilha da Palavra. Somos privilegiados. Você já pensou em fazer parte de algum desses grupos? Que tal experimentar? Não perca tempo. Como disse o Mestre, ‘felizes os que enxergam e escutam!’ – Que privilégio temos em ouvir tua Palavra, em poder crescer com teus ensinamentos. Por isso, pedimos, Senhor: desperta bem os nossos sentidos, purifica-nos de nossos pecados e fortalece-nos no caminho da fé, para que a tua Palavra encontre sempre abrigo em nossos corações. Amém (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia 2015 – Vozes) 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 23 de julho de 2025

(Ex 16,1-5.9-15; Sl 77[78]; Mt 13,1-9) 16ª Semana do Tempo Comum.      

“O Senhor disse a Moisés: ‘Eu farei chover para vós o pão do céu. O povo sairá diariamente

e só recolherá a porção de cada dia’” Ex 16,13a-b.

“Deus atendeu a necessidade do povo, enviando pão e carne para alimentá-lo por quarenta anos. Só a graça de Deus para salvar o seu povo naquele deserto. Sem esta interferência todos morreriam. Ela veio no momento certo e saciou as necessidades físicas do povo. Dois aspectos são importantes. Deus providenciou comida para matar a fome do povo e também quis provar o seu povo para ver se ele, de fato, era obediente. Essa estratégia divina visava ensinar o povo a viver na dependência dele. Não deveria confiar na sua própria força e capacidade. Deveria recolher apenas uma porção diária. Aquilo que sobrava estragava. As pessoas estavam sendo educadas a confiarem na subsistência divina. No dia seguinte, tudo poderia ser recolhido novo e fresquinho. E Deus disse: ‘Este é o alimento que o Senhor está mandando para vocês comerem’. Pão é sinônimo de sustentação e pode ser traduzido em linguagem comum e representar todos os tipos de alimentos e até ser representado pelo governo que promove paz e segurança. Também pode representar o bom vizinho que ajuda a cuidar de nossos bens. Pão é também o próprio Jesus que desceu do céu e alimenta espiritualmente nossos corações com alegria e perdão. Jesus ensinou a orar: ‘Dá-nos o pão de cada dia’. Do céu vêm as chuvas que molham a terra e a preparam para receber a semente. Uma vez ver germinada, produz os frutos disponíveis ao sustento dos seres vivos. Isto é graça que se transforma no coração agradecido em adoração e obediência ao Deus todo-poderoso. – Senhor! Não queremos ser ingratos e agredi-lo em nossa insensatez. Queremos confiar, agradecer e aprender a sermos obedientes e valorizar o teu sustento. Muito obrigado pelo pão de cada dia. Amém (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia – 2017 – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de julho de 2025

(Ct 3,1-4; Sl 62[63]; Jo 20,1-2.11-18) Santa Maria Madalena, discípula de Jesus.

“Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: ‘Eu vi o Senhor!’ e contou o que Jesus lhe tinha dito”

Jo 20,18.

“Portanto há diferentes mulheres que de formas distintas gravitaram em torno da figura de Jesus com funções de responsabilidade. Constituem um exemplo eloquente as mulheres que seguiam Jesus para ajudá-lo com seu sustento, de que Lucas nos oferece alguns nomes: Maria Madalena, Joana, Susana e ‘muitas outras’ (cf. Lc 8,2-3). Os Evangelhos também nos informam que as mulheres, diferentemente dos Doze, não abandonaram Jesus no momento da Paixão (cf. Mt 27,56.61; Mc 15,40). Entre elas destaca-se em particular Madalena, que não só presenciou a Paixão, mas também a foi a primeira testemunha, a mensageira do Ressuscitado (cf. Jo 20,1.11-18). Precisamente a Maria Madalena, santo Tomás de Aquino lhe reserva um qualificativo singular de ‘apóstolo dos apóstolos’ (Apostolorum apostola), dedicando-lhe este bonito comentário: ‘Assim como uma mulher havia anunciado ao primeiro homem palavras de morte, também uma mulher foi a primeira que anunciou aos apóstolos palavras de vida’ (Super Ioannem, Ed. Cai, parágrafo 2519)” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 21 de julho de 2025

(Ex 14,5-18; Sl Ex 15; Mt 12,38-42) 16ª Semana do Tempo Comum.

“No dia do juízo, os habitantes de Nínive se levantarão contra esta geração e a condenarão,

porque se converteram diante da pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas”

Mt 12,41.

“O exemplo dos antigos pagãos questiona a nós, os cristãos de hoje. Eles se arrependeram dos seus pecados e conseguiram o perdão. Qual a nossa atitude pessoal e comunitária? Prestemos atenção no contraste entre eles e nós. Jonas pregou uma vez; Jesus muitas vezes. Jonas falou; Jesus falou e fez muitos milagres, que provam a verdade do que afirmava. Jonas foi um profeta; Jesus é mais que um profeta. Jonas pregava a destruição da cidade; Jesus prega a construção do novo Reino de Deus. Os judeus não tinham desculpas; porém em nossos dias também nós não o temos. Nós, como os judeus de então, fomos objeto dos atos de bondade do Senhor e a nós se nos falou por meio do próprio Jesus, com o que temos comprometido nossa vida de testemunho e de apostolado; nós temos todos os meios que a graça nos dá e nos sentimos incentivados por todas as exigências do nosso batismo e de nossa vida de consagração ao amor do Senhor. Nossa verdadeira conversão será com certeza o milagre que os homens esperam de nós para converterem-se ao Senhor, mas também com os homens” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

16º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Gn 18,1-10; Sl 14[15]; Cl 1,24-28; Lc 10,38-42)*

1. As exigências da vida moderna obrigam-nos a correr a um ritmo estonteante e fazem-nos deixar para trás coisas fundamentais. A Palavra de Deus que a liturgia deste domingo nos propõe convida-nos a redescobrir as prioridades e valores que tornam a nossa vida mais humana e mais cheia de sentido.

2. A 1ª leitura propõe-nos o exemplo de Abraão, o homem que não se importa de gastar tempo com o “outro”. Quando aparecem junto da sua tenda três visitantes inesperados, Abraão acolhe-os, prepara-lhes um banquete, oferece-lhes o que tem de melhor.

3. Em cada pessoa que nos “visita”, é Deus que vem ao nosso encontro. O tempo que gastamos a acolher e a cuidar dos nossos irmãos é um tempo que enche de significado a nossa vida. Podemos aprender também que o divino sempre se apresenta por surpresa em nossa vida.

4. Embora tal não seja afirmado abertamente, fica no ar a ideia de que o dom do filho é a resposta de Deus à atitude hospitaleira de Abraão. Deus recompensa o seu servo Abraão pela sua bondade, pela sua solicitude, pelo seu amor gratuito.

5. A imagem de Deus que este texto apresenta é muito bela: o Deus de Abraão é um Deus que vem ao encontro do homem, que se detém junto dele, que aceita entrar na sua tenda e sentar-se à sua mesa, estabelecendo assim laços de família com o ser humano. É o Deus do diálogo e da comunhão, que se apresenta em nossa vida e que se dispõe a concretizar os sonhos e as aspirações humanas.

6. Como é que vemos as pessoas que, a cada passo, se cruzam conosco? Que valor lhes atribuímos? Vemos o “outro” – aquele ou aquela que Deus envia ao nosso encontro – como uma “prenda” de Deus ou como uma ameaça ao nosso bem-estar, à nossa segurança, ao nosso comodismo?

7. Assim a leitura nos prepara para o Evangelho, onde duas irmãs – Marta e Maria – acolhem Jesus na sua casa. Marta prepara para o hóspede uma boa refeição; Maria senta-se aos pés de Jesus, a escutar o que Jesus diz. São duas atitudes válidas, próprias do discípulo.

8. Muitas vezes, este episódio foi lido à luz da oposição entre ação e contemplação, com Marta representando a vida ativa e Maria a vida contemplativa. Mas a questão essencial que sobressai neste relato não é a “bondade” de um estilo de vida em detrimento de outro.

9. O que está em causa, nesta história de duas irmãs que acolhem Jesus na sua casa, é a definição da “atitude” do discípulo, de qualquer discípulo.

10. Há discípulos que, diante da urgência do trabalho apostólico, se envolvem completamente na ação, com generosidade e entrega; mas, absorvidos pela voragem do trabalho, deixam de ter tempo para se sentar aos pés de Jesus e para escutar Jesus; no meio da agitação que os envolve, perdem o sentido das coisas, deixam de perceber o rumo em que devem caminhar.

11. Assim, Lucas aproveita para sugerir que a escuta da Palavra de Jesus deve preceder a ação. A ação sem a escuta de Jesus torna-se mero ativismo que, mais tarde ou mais cedo, se esvazia de sentido.

12. Mais do que uma história de acolhimento ou de hospitalidade, esta narração parece ser, sobretudo, uma catequese sobre o discipulado. Quem é o verdadeiro discípulo de Jesus? Qual deve ser a preocupação primordial daquele que se dispõe a seguir Jesus?

13. É verdade que “a messe é grande e os trabalhadores são poucos” (Mt 9,37); mas nenhuma ação dará frutos consistentes se não assentar na escuta de Jesus, no encontro com a Palavra de Jesus.

14. Todos os discípulos – todas as Martas – necessitam de encontrar tempo para se sentarem calmamente aos pés de Jesus, para escutarem a Palavra de Jesus, para acolherem a paz que brota de Jesus, para redescobrirem o caminho que Jesus os convida a percorrer.

15. Os discípulos que vão com Jesus a caminho de Jerusalém e os discípulos que se dispõem a seguir Jesus em qualquer época da história devem estar conscientes disto.

* Reflexão com base em exegese dos padres Dehonianos (site português).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 19 de julho de 2025

(Ex 12,37-42; Sl 135[136]; Mt 12,14-21) 15ª Semana do Tempo Comum.

“Os filhos de Israel partiram de Ramsés para Sucot. Eram cerca de seiscentos mil homens a pé,

sem contar as crianças” Ex 12,37.

“O breve texto narrativo compõe-se de duas partes: a primeira conta a saída de Israel do Egito, detendo-se sobre o número dos que saíram, sobre as suas classes e sobre a falta de mantimentos para a viagem (vv. 37-39); a segunda apresenta uma descrição da Páscoa, através da indicação do tempo da permanência de Israel no Egito e, sobretudo, a perene qualificação daquela noite como ‘noite de vigília’, para o Senhor e para os Israelitas (vv. 40-42). [Compreender a Palavra:] Israel inicia a caminhada. Depois de anos de escravidão é finalmente um povo livre e pode começar a viagem que o levará à terra dos antepassados. A caminhada para a liberdade tem uma dimensão de urgência que não admite hesitações: parte-se sem se quer preparar mantimentos, que serão necessários ao longo da viagem. Vão também os rebanhos, para indicar não só a riqueza do povo, mas para manifestar também que a escravidão terminou, inclusive para os animais: todo o Israel e tudo o que lhe pertence participa do projeto de libertação de Deus. Israel, além disso, deixa o Egito juntamente com uma grande multidão de outra gente, um modo para sublinhar de novo o motivo de uma libertação que se alarga, envolvendo até quem não pertence diretamente ao povo. É a memória do fato de que em Abraão e na sua descendência todos os povos serão abençoados (cf. Gn 12,3). Pode causar admiração o número extraordinário dos Israelitas que partiram, ‘seiscentos mil homens’ (v. 37), entende sugerir que todo o Israel, mesmo o Israel futuro, estava presente na saída do Egito” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum I] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 18 de julho de 2025

(Ex 11,10—12,14; Sl 115[116B]; Mt 12,1-8) 15ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu-lhes: ‘Nunca lestes o que fez Davi quando ele e seus companheiros sentiram fome?”

Mt 12,3.

“Jesus foi firme ao rebater as críticas dos fariseus quando viram os discípulos colhendo espigas de trigo e comendo-as, em dia de sábado. Para os fariseus, este fato configurava-se como um aberto desrespeito à Lei. E, pior ainda, praticado com anuência do Mestre Jesus. Algo de errado estava acontecendo: alguém, pensando ensinar em nome de Deus, mostrava-se incapaz de respeitar a Lei dada pelo mesmo Deus. Daí podia-se concluir, sem perigo de errar, que Jesus não vinha da parte de Deus. Entretanto, este desrespeito à Lei de Deus era só aparente, Jesus estava em perfeita comunhão com Deus ao concordar que, quem estivesse com fome, podia encontrar um meio de saciá-la, mesmo atropelando uma Lei religiosa. O imperativo da vida estava perfeitamente de acordo com a vontade de Deus. Errado seria obrigar o discípulo do Mestre a desfalecer pelo caminho, embora tivessem alimento à mão, só porque a colheita estava no rol das atividades proibidas em dia de sábado. O gesto de Jesus teve um antecedente no Antigo Testamento, na pessoa de Davi. Fugindo da perseguição de Saul, chegara faminto a um santuário, cujo sacerdote, na falta de outro pão, ofereceu ao fugitivo o pão consagrado, que só aos sacerdotes era permitido comer. Gesto sensato, pois o pão consagrado destinava-se a garantir a vida de um ser humano. Portanto, a atitude do sacerdote foi plenamente agradável a Deus. O mesmo aconteceu com Jesus! – Espírito de flexibilidade, que eu seja contaminado pela observância à Lei, sabendo que, para Deus, o imperativo da vida é mais importante (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 17 de julho de 2025

(Ex 3,13-20; Sl 104[105]; Mt 11,28-30) 15ª Semana do Tempo Comum.

“Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” Mt 11,30.

“O Senhor está se referindo aqui à opressão de tanto formalismo na observância da lei, que os rabinos exigiam rígida e asperamente; no entanto, Jesus promete ser manso e bondoso, simples e compreensivo. Por sua vez, diz o Senhor que seu jugo, a lei que ele impõe, é suave, é suportável, não é opressor. Essas palavras de Jesus devem fazer-nos pensar que se a observância da lei, seja da lei natural ou da lei eclesiástica, ou de outra qualquer lei legítima à qual estejamos submetidos em razão de nossa vocação, nos é pesada e difícil, devemos pensar que não é tanto a lei, mas sim as disposições pessoais com as quais enfrentamos o cumprimento da lei, as causadoras desse peso e dessa dificuldade. Por isso nos diz: ‘Aprendei de mim’, se bem que apesar de ser essa a tradução mais corrente e literal, a intenção do Senhor, ao falar assim, é dizer-nos que ‘nos deixemos instruir por ele’, que aprendamos o que ele ensina na sua escola a seus discípulos, que também nós frequentemos sua escola. Consequentemente, mais que como exemplo, Jesus se apresenta a nós aqui como Mestre que ensina, mas que ensina o que primeiramente ele fez e viveu. Assim nos diz Lucas: ‘Contei toda a sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus’ (Atos 1,1)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 16 de julho de 2025

(Zc 2,14-17; Sl Lc 1; Mt 12,46-50) Bem-aventurada Virgem Maria do Carmelo.

“A minha alma engradece ao Senhor, e se alegrou o meu espírito em Deus, meu salvador” Lc 1, 46-47.

“Maria é verdadeiramente ‘a honra e a glória do nosso povo’ (cf. Jd 15,9), honrada não só pelos carmelitas, mas também por inúmeros fiéis espalhados no mundo inteiro, como Rainha e esplendor do Carmelo. Sob este título, seu culto remonta os primórdios da Ordem Carmelita. Liga-o a tradição à branca nuvenzinha avistada no monte Carmelo enquanto o profeta Elias suplicava a Deus que pudesse fim a uma longa seca. Naquela nuvenzinha semelhante ‘à palavra da mão de um homem’ (1Rs 18,44), que surgiu do mar e logo recobriu o céu de grossa nuvens carregadas de chuvas, reconheceu-se uma figura da Virgem Maria. Ao dar ao mundo o Salvador, foi portadora da vivificante água da graça. ‘Chova as nuvens o justo’ canta a Igreja no Advento, retomando um versículo de Isaías (45,8). A Virgem é bendita, toda santa e cheia de graça desde o primeiro momento de sua imaculada conceição, a mística nuvem que deu ao mundo o Salvador. Comprazem-se seus filhos em aplicar a Nossa Senhora do Carmo, juntamente com a Liturgia, o cântico do profeta: ‘Muitíssimo me alegrarei no Senhor, minha alma exultará no meu Deus, porque me revestiu com veste de salvação, cobriu-me com o manto da justiça’ (Is 61,10). Tais palavras são como um prelúdio do Magnificat, o Canto de Maria! Muito bem exprimem a gratidão da Virgem pelos privilégios com que a ornou Deus, preparando-a para Mãe de seu Unigênito. Dela, de fato, como de um jardim maravilhoso, ‘fará germinar a justiça’ (ibidem, 11), isto é, Jesus bendito ‘tornado para nós... justiça, santificação, redenção’ (1Cor 1,30). Maria não conserva só para si os dons insignes de que foi enriquecida, mas os reparte com todos os homens; a todos deu seu Jesus, e a todos quer revestir com suas ‘vestes de salvação’, com seu ‘manto de justiça’, ou seja, com a graça e a santidade merecidas pelo Filho. Eis o significado do escapulário e do bentinho de Nossa Senhora do Carmo, símbolos expressivos de sua obra materna em favor de seus devotos que a escolheram por especial padroeira” (Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD – Intimidade Divina – Loyola)

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 15 de julho de 2025

(Ex 2,1-15; Sl 68[69]; Mt 11,20-24) 15ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus começou a censurar as cidades onde fora realizada a maior parte de seus milagres,

porque não se tinham convertido” Mt 11,20.

“Como os antigos profetas, Jesus lançou terríveis invectivas contra Corozaim, Betsaida e Cafarnaum, cidades que se recusaram a acolher sua pregação e converter-se de seus pecados. A impenitência destas cidades era injustificável. Afinal, a pregação de Jesus tinha sido suficientemente clara, revelando as exigências de Deus para aquele povo pecador. E mais, suas palavras haviam sido confirmadas por meio de numerosos milagres. Portanto, só lhes restava dar ouvidos às palavras de Jesus, e se converterem. As palavras incisivas do Mestre são justificáveis. Sua passagem pela vida das pessoas corresponde a um apelo escatológico, último, dirigido pelo Pai. Rejeitá-lo significa fechar-se à oferta da salvação provinda de Deus. Acolhê-lo é sinal de abertura para o Pai e para a vida eterna propiciada por ele. Seria admirável se Jesus, vendo alguém colocar-se no caminho da condenação, nada fizesse para demovê-lo desta atitude insensata. Ao falar duro, estava tentando chamar as cidades impenitentes ao bom senso. Bastava ver o que aconteceu com Sodoma e Gomorra, para se darem conta do futuro que teriam pela frente. Insistir na impenitência correspondia a caminhar para o mesmo destino delas. – Espírito de penitência, que eu saiba acolher o apelo de Jesus, e me disponha a mudar de vida, segundo as exigências do Reino (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 14 de julho de 2025

(Ex 1,8-14.22; Sl 123[124]; Mt 10,34—11,1) 15ª Semana do Tempo Comum.

“Quem não toma a sua cruz e não me segue não é digno de mim” Mt 10,38.

“Tomar a cruz ou carregá-la quer dizer: o verdadeiro discípulo de Jesus deve estar disposto a padecer qualquer tipo de sofrimentos, privações e humilhações, antes que romper a fidelidade ao Senhor. Os sinóticos repetem muitas vezes a mesma frase: ‘tomar a cruz’; é sinal de que da boca do Senhor saiu com frequência e calou fundamente no coração dos seus discípulos, pela ênfase com que a pronunciara o Mestre. Seguir Jesus com a cruz, ir atrás dele, outra coisa não é senão seguir e imitar seus exemplos, moldar nossa vida à dele, viver de seu espírito. Tudo isso exigirá as próprias renúncias de todo discípulo do Senhor. Só o amor explica a renúncia à família, à formação do próprio lar, inclusive à aceitação da cruz, até o martírio se for preciso” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

15º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Dt 30,10-14; Sl 68[69]; Cl 1,15-20; Lc 10,25-37)*

- Uma senhora, que levava uma criança pela mão, veio a cair desmaiada na estação do metrô. Foi levada a uma enfermaria. No meio da confusão, a criança quase foi esquecida. Uma jovem a pegou no colo enquanto a mãe era medicada. E ali ficou até que retomasse os sentidos. Nesse ínterim, procurou acalmar e distrair a criança. Devolveu-a a mãe. Ao se despedir perguntou-lhe se queria que telefonasse para algum parente ou amigo para vir buscá-la. A senhora, então, lhe respondeu: - ‘Eu não tenho ninguém!’.

- Não ter ninguém é o mesmo que não ter alguém pela gente. Sem nenhuma pessoa que se interesse pela gente, não ser importante para o outro.

1. No nosso Evangelho, logo percebemos que a preocupação do mestre da Lei está no fazer. Jesus faz que entenda que o principal é o ser, o resto é consequência. Na palavra de Nosso Senhor, o amor a Deus não está longe do amor ao próximo, mas em íntima conexão, tanto assim que se fundem.

2. O amor ao próximo deve deitar raízes no amor a Deus, do contrário corre o perigo de esgotar-se. Perguntava-se à madre Teresa de Calcutá por que ela e suas irmãs se impunham tantas horas de oração, após um dia inteiro dedicado aos pobres e doentes.

3. Ela respondeu que justamente da familiaridade com Deus buscava força para servir os marginalizados, superar o cansaço e a repugnância, como também a ingratidão.

4. Separada do amor de Deus, a filantropia se irrita e desanima ao verificar que nem sempre o serviço ao próximo é gratificante. A filantropia acaba perdendo de vista a verdadeira dignidade do ser humano, as motivações profundas da sua dedicação.

5. Cristo não toma partido nas longas discussões sobre o raio de atingimento do termo ‘próximo’. Não se perde em determinar se se reduz aos familiares de casa ou se estende até o pagão convertido ao judaísmo, passando pela graduação dos amigos, vizinhos e compatriotas. A interrogação gira sobre a indicação do ‘próximo’.

6. Jesus apresenta uma contra pergunta, a qual inverte os termos da conversa, apontando não mais quem deve ser o objeto do amor, mas quem é o seu sujeito. Não se trata de saber quem é o meu próximo, mas de quem eu sou próximo? De todo aquele se aproxima de mim ou de quem eu me aproximo.  A parábola do samaritano é a concretização do amor ao próximo: doação.

7. O amor é bem característico. Não se confunde com o gostar, o qual implica um tipo de sentimento que se volta sobre si. Não é pura simpatia: esta seleciona os amigos em função de si. É mais do que solidariedade, porquanto esta é abstrata e não compromete.

8. Mais imperiosa do que a afinidade racial, nacional e religiosa, é a necessidade da ajuda. Sou o próximo para o outro quando me coloco no seu lugar, fazendo-lhe o que faria por mim ou para um ente querido nessas circunstâncias. 

9. São 27 Km que separam Jerusalém de Jericó. É uma estrada que avança por regiões escarpadas e desertas. Sua situação se presta para covis de assaltantes. Foi chamada de passagem sangrenta. Provavelmente o sacerdote e o levita se perguntaram: ‘Se eu parar, o que será de mim?’ O samaritano se fez uma pergunta diferente: ‘Se eu não parar, o que será do homem ferido?’.

10. Para prestar auxílio, corre-se o risco de renúncias pessoais: gasto de tempo, abalo de posição, mal-entendidos, sacrifício de comodidade, etc. Mas o essencial no preceito do amor é sair de si mesmo.

11. O samaritano fez a caridade por inteiro, não deixando nada para trás. Desde sua aproximação do ferido até a providência para gastos ulteriores, sua dedicação foi total. Nada teve de façanha heroica, apenas fez o necessário para salvar uma vida.

12. A atenção, eis o que se revela como condição de um amor concreto: estar atento para perceber o que é útil para aquela pessoa, naquele preciso momento de sua indigência. O samaritano não se restringiu ao indispensável, foi mais longe.  A caridade é o que se acrescenta à justiça.

13. Cristo é o Bom Samaritano. Se doou a todos, socorrendo principalmente os mais necessitados. Sua doação foi arriscada: pôs-se ao lado dos mais fracos. Não deixou nada para preencher em sua doação: deu-se até a morte na cruz. Quando alguém recorre a nós, nesse momento somos Cristo para ele. O que estende a mão para nós, representa Cristo.

(reflexão retirada do livro “À escuta de Deus” – Frei Paulo Gollarte - Vozes)   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 12 de julho de 2025

(Gn 49,29-32; 50,15-26; Sl 104[105]; Mt 10,24-33) 14ª Semana do Tempo Comum.

“O discípulo não está acima do mestre nem o servo acima do seu senhor” Mt 10,24.

“Na perspectiva de Jesus, o ideal do discípulo é ser como o mestre. Em outras palavras, é no mestre que o discípulo deve se espelhar. Se consideramos as instruções recebidas pelos discípulos, constatamos que Jesus propõe-lhe como projeto de vida, os mesmos princípios que pautaram a sua ação missionária. Como ele, os discípulos teriam a missão de ir pelo mundo anunciar o Evangelho, e realizar os sinais indicativos da presença do Reino. Deveriam abrir mão de qualquer recompensa e viver a gratuidade e a pobreza. Deveriam estar preparados para a rejeição, a perseguição, o martírio. Contudo, não deveriam se preocupar, pois estariam sob a proteção do Espírito do Pai. Este lhes inspiraria a respeito do testemunho a ser dado. Por sua vez, o Pai irá preparar-lhes uma recompensa condigna, por terem vivido o discipulado com fidelidade. Tudo isto já tinha sido experienciado por Jesus, desde o início de seu ministério. Portanto, sua proposta aos discípulos é um projeto existencial, não uma imposição. Ele a pôs em prática, antes de transformá-la em pauta de ação para os seus seguidores. No exercício de sua missão, os discípulos encontram em Jesus um modelo consumado de vivência missionária. Só quem estiver disposto a partilhar a mesma sorte do Mestre, estará em condições de se tornar seu seguidor. – Espírito de conformidade com Jesus, disponha-me a partilhar a missão do Mestre, fazendo-me como ele, fiel até o fim, o projeto do Pai” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 11 de julho de 2025

(Gn 46,1-7.28-30; Sl 36[37]; Mt 10,16-23) 14ª Semana do Tempo Comum.

“Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes

e simples como as pombas” Mt 10,16.

“Devendo viver rodeados de tantos perigos e de tão encarniçados inimigos, deveremos manter-nos sempre com prudência e simplicidade, deveremos ser sempre circunspectos, a fim de evitar que, de um modo ou de outro, possam interpretar nosso viver como um antitestemunho de nossa fé, de nossa fé; mas ao mesmo tempo viver com simplicidade e humildade, querendo bem a todos, tratando-os com respeito e compreensão amistosa. O sentido do termo aramaico, empregado por São Mateus, e traduzido por ‘simples’, indica preferivelmente ‘ser perfeitos’. A perfeição consiste na simplicidade, na singeleza e ausência de complicações. Ao verdadeiro apóstolo de Jesus nada deve ser complicado; para ele, o mais simples e perfeito a que deve tender é viver no amor de Deus. Porém não devemos confundir a simplicidade com a ingenuidade, nem o apostolado com o ímpeto descontrolado, nem a prudência com o cálculo egoísta. Certo medo e timidez, certa preguiça para o apostolado, certo egoísmo em nossa vida comunitária, costumamos cobri-los com as aparências de prudência e moderação” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite