17º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Gn 18,20-32; Sl 137[138]; Cl 2,12-14; Lc 11,1-13)*

1. No Evangelho desse domingo Lucas nos conta como nasce a oração do Pai nosso. Uma oração que se propaga nos séculos, como um fluxo de oração que da cabeça se estende a todo o corpo. Comentaremos brevemente essas sete petições que a compõe integrando o texto breve de Lucas com o mais amplo de Mateus, que utilizamos oficialmente.

2. “Pai nosso que estais no céu” – É característico da oração de Jesus, ao longo dos evangelhos, começar dirigindo-se a Deus como Pai, como ninguém havia ousado e com tanta intimidade, além de dá a conhecer que Ele é o Filho único de Deus.

3. A oração cristã é um grito confiante de filho dirigido a um Deus que se tem como amoroso e bom. Mas sem tons frágeis ou sentimentais, porque sabemos que Ele está no céu, acima de nós, tanto quanto está distante o céu da terra.

4. Assim, Jesus não está trocando a imagem do Deus poderoso do Antigo Testamento, por um Deus todo bondade. A novidade é outra: permanecendo o Altíssimo, Onipotente e transcendente – mas agora nos é dado como nosso pai. Um pai que é bom, mas também forte, livre, capaz de defender-nos dos perigos.  

5. “Santificado seja o teu nome” – A santificação do nome de Deus está atrelada às nossas palavras e testemunhada com a vida. “Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16). O seu contrário seria a blasfêmia.

6. “Venha o teu Reino” – O Reino de Deus está no coração da mensagem e da vida de Jesus. Significa o desejo de que a mensagem de Jesus chegue, em extensão, até os confins da terra, e penetre, em intensidade, todos os aspectos da vida humana; que plasme toda a nossa existência.

7. O que significa também que o pecado não reine em nosso corpo mortal; ao mesmo tempo uma instância missionária e apostólica se esconde em nosso pedido ao Senhor da messe.  

8. “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” – A vontade de Deus é que todos os seres humanos sejam salvos. É uma vontade de amor, ainda que não a compreendamos. Não uma atitude de resignação. Como Maria em seu “sim”, o nosso desejo é que o projeto divino se cumpra o quanto antes. É quando a vontade de Deus se torna também a minha.

9. “O pão nosso de cada dia nos dai hoje” – Depois de termos rezado pelo Reino, Jesus nos leva a rezar pelo resto. Nossa oração não deve começar pelo “dá-nos; dá-nos, dá-nos”. Pedimos o alimento e tudo aquilo que sustenta a vida. Não se trata de escolher entre o pão espiritual (Eucaristia, Palavra de Deus) e o pão material. A palavra de Jesus abraça todas as duas coisas juntas. E pedimos não só para nós.

10. “Perdoai-nos os nossos pecados, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” – É o único pedido onde não só pedimos algo, mas prometemos também algo. Talvez sejam as palavras que dizemos com certa apreensão. Podemos ainda não estar pronto ao perdão, mas pedimos que Deus nos ajude nessa empreitada.

11. “Não nos deixeis cair em tentação” – Pedimos que Deus nos esteja vizinho nas tentações e não permita que nossa liberdade se dobre ao mal. Diz Paulo: “Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação, ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela” (1Cor 10,13).

12. “Mas livrai-nos do mal” – O que vem aqui traduzido como mal, no texto original pode significar duas coisas: o mal no sentido moral, daquilo que nos fazem ou daquilo que fazemos, que é o mais danoso. O outro sentido é mais pessoal, trata-se do maligno em si. Para esses dois significados a nossa oração funciona como um pequeno exorcismo.

13. Pode ser que de vez em quando rezemos de forma distraída, sem sentimento, quase no automático. Não desanimemos. Não podemos medir a alegria de Deus ao ser chamado de pai por uma sua criatura. O Pai Nosso é “um resumo de todo o Evangelho”, dizia Tertuliano. Rezá-lo com fé é tomar um banho de Evangelho. Experimentemos fazê-lo em família vez em quando.

* com base em texto de Raniero Cantalamessa

Pe. João Bosco Vieira Leite