Quarta, 18 de dezembro de 2024

(Jr 23,5-8; Sl 71[72]; Mt 1,18-24) 3ª Semana do Advento.

“José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria em segredo” Mt 1,19.

“O paralelismo com as histórias que se contavam sobre o nascimento de Moisés, e que na época de Mateus eram muito difundidas em Israel, começa com as inquietações de José quando este descobre que a sua noiva, Maria, está grávida (cf. Limbeck,33). A gravidez fora do casamento era punida com a morte por apedrejamento. José é um homem justo, mas não obedece à lei cegamente. Ele procura coadunar a justiça com a misericórdia. Esse é um assunto da maior importância para Mateus. Se José visasse apenas o cumprimento da lei, deveria ter entregue Maria execração pública. Mas ele não quer fazer justiça à lei, e sim ao ser humano. Ele é representante de uma linha do farisaísmo que combina justiça com misericórdia. Por isso, pretende dispensar Maria dos compromissos do noivado, entregando-lhe uma carta de repúdio; assim faria jus tanto à lei quanto à noiva. Mas enquanto José ainda procura uma saída honrosa, aparece-lhe em sonho um anjo. Este explica-lhe o que aconteceu, mesmo que José, neste momento, não consiga entender todo o seu alcance. A criança que a sua noiva está esperando é do Espírito Santo. Nesse sonho, José se parece com um amigo de Deus, que é inteirado pelo anjo dos planos misteriosos que Deus tem para o seu povo. A criança que nascerá de Maria será importante para todo o povo. José é instruído a acolher Maria para que o filho dela se torne legalmente o seu próprio filho. E, então, o anjo desvenda o mistério da criança: ela é produto da ação divina, da intervenção do Espírito Santo. Mas, legalmente, José é considerado seu pai e por isso deverá dar-lhe o nome. E Mateus acrescenta o significado desse nome: ‘Ele salvará o povo dos seus pecados’ (1,21). Por povo entende-se aqui não apenas Israel, mas toda a humanidade, inclusive os pagãos. Como filho de Davi, Jesus constituirá para si um novo povo, que ele libertará dos grilões do pecado. Estamos já diante de um dos temas centrais do evangelho de Marcos: Jesus não apenas anuncia o perdão, ele exerce realmente o poder pleno de perdoar aos homens os seus pecados. Ele redime os homens do pecado em que estes se enredaram, privando-se, assim, da união com Deus. Em Jesus, cumpre-se a promessa messiânica: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, ao qual darão o nome de Emanuel, o que se traduz: Deus conosco’ (1,23). Com o nascimento de Jesus, Deus estabelece um novo começo para todos os seres humanos. Ele transforma em realidade o que prometera repetidamente pela boca dos profetas: que ele construirá uma nova Jerusalém, que o antigo já passou, e que o novo surgiu. Em Jesus, Deus mesmo estará conosco, em nosso meio. Deus estará com o seu povo não apenas na figura de Jesus terreno, mas também no Jesus glorificado, e isso todos os dias, até o fim do mundo. Com o nascimento, tem início, portanto, um processo salvífico que agirá até que chegue a plenitude dos tempos. Em Jesus, Deus empenhou a sua palavra: ele quer estar conosco sempre, eternamente. Na descrição do nascimento de Jesus, Mateus revela a sua habilidade de ligar o início ao fim. O que teve início no nascimento será confirmado do discurso de despedida do Cristo ressuscitado: ‘Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos’ (28,20)” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite