Quarta, 01 de janeiro de 2025

(Nm 6,22-27; Sl 66[67]; Gl 4,4-7; Lc 2,16-21) Santa Maria, Mãe de Deus.

“Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” Lc 2,19.

“A sucessão de fatos em torno do nascimento de Jesus desafiava a compreensão de Maria. Sua fé profunda e sua disponibilidade para colaborar no projeto salvífico de Deus não bastavam para leva-la a entender tudo quanto se falava a respeito do menino Jesus. No entanto, ‘observava todas as coisas, meditando-as em seu coração’. Como filha de seu povo, Maria esperava a intervenção divina na História, por meio de seu Messias. Eram muitas as especulações a este respeito. Havia mesmo quem se apresentasse como Messias, esperando ser reconhecido como tal. Outros tentavam descrever a identidade do Messias, recorrendo aos mais variados esquemas, muitas vezes divergentes. Em meio a tantos desencontros, Maria conservava somente uma certeza: a promessa do Senhor haveria de realizar-se. E ansiava por esse dia! O confronto com o seu próprio filho exigiu dela esforço de repensar tudo. Sem dúvida, não estava no seu plano a perspectiva de se tornar tão próxima do Messias, de ser sua mãe. Foi-lhe necessária, desde o início, profunda reflexão, para descobrir o significado de cada evento, em que ela mesma estava implicada. Descortinava-se, para Maria um vasto horizonte que unia sua vida e seu destino ao do Messias Jesus. Sua condição de Mãe do Filho de Deus era algo demasiadamente sublime para ser entendido imediatamente. Daí ser preciso reconsiderar tudo, no íntimo do seu coração. – Espírito de interioridade, ensina-me a considerar, como Maria, o sentido da presença do Senhor na minha vida, e o que isto me reserva na sua obra de salvação” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 31 de dezembro de 2024

(1Jo 2,2,18-21; Sl 95[96]; Jo 1,1-18) Oitava de Natal.

“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus” Jo 1,1

“Mateus e Lucas relatam fatos que precederam a atividade pública de Jesus. Descrevem como e sob quais circunstâncias Jesus nasceu como ser humano. Em João, porém, não se descreve como, constata-se apenas o fato. João não apresenta um relato uma narrativa, ele decanta num hino o mistério da humanização de Deus em Jesus Cristo. Para João é extremamente importante que Jesus se tenha tornado homem. Houve um tempo em que alguns exegetas achavam que João acentua a divindade de Jesus a tal ponto que sua humanidade fica em segundo plano. Na verdade, são os sinóticos que chamam Jesus de homem apenas três vezes; em João essa designação é usada ao todo 19 vezes. Jesus é a manifestação de Deus justamente por ser um homem completo. João acha impossível contar o mistério da encarnação, nem mesmo recorrendo a uma linguagem puramente teológica. A única maneira de fazer isso é cantar um hino que glorifica em imagens o mistério da encarnação. Revela-se aí a essência da teologia joanina (cf. BUTLER, 1998, p. 37ss). João descreve o mistério de Jesus em imagens. Por isso é sempre importante na interpretação do prólogo respeitar o caráter figurativo das palavras” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 30 de dezembro de 2024

(1Jo 2,12-17; Sl 95[96]; Lc 2,36-40) Oitava de Natal.

“Não saia do templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações” Lc 2,37b.

“Ana era uma profetisa, como a chamava São Lucas, isto é, uma mulher consagrada a Deus e intérprete de seus desígnios. Ana, pois, pode ser uma figura não só do religioso ou da religiosa consagrados a Deus e à ação apostólica da Palavra ou da caridade, mas também pode encarnar a figura do leigo comprometido que, com o testemunho de sua palavra, anuncia profeticamente a evangelização em seus ambientes temporais e com o testemunho de sua vida santifica e sobrenaturaliza toda a atividade humana, pois Ana prestava um culto constante com a prática da oração e a vida de penitência. No testemunho que deu sobre o Menino Jesus, é claro que estava inspirada e dirigida pelo Espírito de Deus. Magnífico exemplo de mulher cristã, que pode indicar a você os passos a seguir em sua vida de leigo(a) comprometido(a), se é que você não é consagrado(a) ao Senhor: a vida de oração e o sacrifício inerente à observância de suas obrigações de estado e todas as exigências de sua entrega à ação profética de ser verdadeiro anunciador do Reino de Deus, evangelizando o mundo que o circunda” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sagrada Família – Ano C

(Eclo 3,3-7.14-17; Sl 127[128]; Cl 3,12-21; Lc 2,41-52) * 

1. O domingo depois do Natal nos leva ao encontro da Sagrada Família e nesse ano nos traz o episódio da perda e reencontro do menino Jesus entre os doutores no Templo. E tudo se conclui com esse ato de obediência de Jesus e dessa busca da Virgem de entender tudo isso.

2. A intenção da Igreja é sempre propor a Sagrada Família como um modelo e uma fonte de inspiração para todas as famílias humanas. É natural que nos perguntemos o que há em comum entre a família de Jesus e a nossa? Não seria um exagero esperar que correspondamos a esse modelo? Um casal que nem tinha vida sexual ativa?  

3. Já há um certo tempo as estatísticas nos apontam o aumento das separações e o mais inquietante é o número alto entre os que apenas iniciaram a vida matrimonial! Como entender tal situação?

4. Comentando esses dados, uma socióloga falava do ‘analfabetismo do amor’. Se crê que para casar basta a atração física e um entendimento sexual muitas vezes já provado. Todo o resto é deixado no vago, ou se pensa que virá por si. Comumente “a atração se conjuga com a superficialidade, o esquecimento, a traição, o costume à banalização do sexo que muito apressadamente deixa de lado a ternura, o encontro aprofundado entre duas pessoas, roubando o tempo do conhecimento recíproco, do silêncio, do olhar, dos projetos”.

5. A família de Nazaré é um apelo forte aos valores espirituais que comumente faltam aos jovens casais e que são indispensáveis para formar um matrimônio que resista ao tempo: conhecimento e estima recíproca, capacidade de sair de si mesmo, de cultivar projetos e ideias comuns, silêncio, oração!

6. Prestemos atenção ao modo como Maria aborda o menino após encontra-lo, parece um simples detalhe, mas revela algo importantíssimo: “Olha que teu pai e eu estávamos angustiados à tua procura...”. Maria e José formam um único sujeito. Maria não pensa somente em sua angústia, mas também naquela do marido, antes, coloca a dele em primeiro lugar.

7. Casar-se significa passar do singular ‘eu’ para o plural ‘nós’. Se não acontece esta mudança que confere uma nova identidade, a união será só superficial e instável. O matrimônio é mais que um pacto, uma coabitação, uma união de sexos. A Bíblia lembra que o objetivo da união é ser ‘uma só carne’.

8. Quantos casais nos deixam em dúvida sobre sua união quando só ouvimos: ‘eu, eu, eu’ e raramente ou nunca: ‘meu marido e eu; minha esposa e eu’. Ainda permanecem ‘indivíduos’, não se tornaram ainda ‘conjugal’. A palavra derivada de ‘jugo’, que pode ter uma conotação negativa, mas é preciso redescobrir a beleza desta imagem, não aplicada aos animais, mas de pessoas humanas que livremente se submeteram ao próprio jugo, da união de suas vontades e por isso mesmo deve ser ’um jugo suave e leve’ como nos diz Jesus de si mesmo.

9. Em algumas imagens da Sagrada Família, Maria se apoia no peito de José, talvez fazendo referência a figura masculina em que a mulher se coloca numa atitude de confiança e abandono. Esses novos tempos são críticos de tal atitude feminina.

10. Mas ignoramos uma coisa: o homem também tem necessidade, para ser forte, da confiança da mulher, tanto quanto a mulher precisa da força do homem para ser confiante. Nos nossos critérios distorcidos pelo pecado nós privilegiamos a força em detrimento da ternura.

11. Deus é sumamente força e sumamente ternura juntamente, sem que possamos dizer qual das duas qualidades é a mais importante. O que a Sagrada Família nos propõe não é um projeto fora da realidade.

12. Mas não obstante as crises familiares, um matrimônio “com a pessoa certa” continua a ser, para muitos jovens, o sonho de uma vida. Que estes não se envergonhem de seu sonho e como diz o pe. Zezinho: “Que bom que tens coragem de sonhar!”

*Com base em reflexão de Raniero Cantalamessa

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 28 de dezembro de 2024

(1Jo 1,5—2,2; Sl 123[124]; Mt 2,13-18) Santos Inocentes Mártires.

“Depois que os magos partiram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse:

‘Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise!

Porque Herodes vai procurar o menino para mata-lo’” Mt 2,13.

“O triste episódio da perseguição do Messias Jesus e o da matança dos inocentes de Belém seguem paralelos aos fatos ocorridos no passado, com o recém-nascido Moisés, no Egito. O Evangelho relaciona Moisés e Jesus, visando identificar este último como libertador do povo, e guia do verdadeiro Israel. Herodes faz lembrar a figura do faraó egípcio, que odiou mortalmente os israelitas, os quais queriam eliminar, lançando mão de meios violentos e cruéis. Apesar da perseguição sistemática, o pequeno Moisés foi salvo pela Providência divina, que guiava os acontecimentos para que não se concretizasse o plano malvado do faraó. Jesus, por sua vez, foi salvo pela intervenção direta de Deus, que, em sonho, orientou José a respeito das medidas que deveriam tomar. As crianças de Belém, com menos de dois anos, cruelmente trucidadas, evocam os filhos dos hebreus, do sexo masculino, vilmente assassinados logo que saiam do vente materno. Assim como a salvação de Moisés inseria-se num grande projeto de libertação do povo, do mesmo modo, o menino Jesus foi poupado da morte porque o Pai lhe havia reservado a tarefa ingente de salvar a humanidade. Então surgiria o verdadeiro Israel, formado segundo o coração de Deus. A presença do menino Jesus no Egito faz dele o verdadeiro Moisés. De lá, também haveria de começar sua missão libertadora. – Espírito de entrega à Providência divina, dá-me inteligência para perceber como Deus guia minha vida, segundo a sua vontade, para fazer de mim instrumento de libertação” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 27 de dezembro de 2024

(1Jo 1,1-4; Sl 96[97]; Jo 20,2-8) São João Apóstolo e evangelista.

“Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu e acreditou” Jo 20,8.

“A experiência de fé de João é a luz que deve iluminar o nosso olhar e conduzir-nos a um conhecimento profundo de Cristo. O primeiro compêndio do Evangelho de São João exprime nestes termos a finalidade do testemunho escrito: ‘Para que acrediteis que Jesus é o Messias o Filho de Deus. E para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome’ (Jo 20,31). Trata-se de uma profissão de fé que nasce da experiência daquilo que São João viveu e intuiu naquela manhã de Páscoa. Uma compreensão tornada possível e credível por estar estabelecida na sua relação de amor e de amizade com Jesus. Assim aconteceu também a Maria de Magdala, que na sua procura, é movida pelo amor e pelo afeto por Jesus e, quando o Ressuscitado a chama pelo nome, reconhece-O e encontra-O vivo. Podemos, portanto, intuir a riqueza do ensinamento sobre o amor proposto num modo articulado por São João, quer no Evangelho quer nas Cartas, sobretudo a referência ao amor enquanto caminho para o conhecimento de Deus (1Jo 4,7). Mas no contexto litúrgico da festa de hoje, convém fixarmo-nos na finalidade a que o autor se propõe ao escrever a sua primeira Carta: ‘Nós escrevemos estas coisas para que a nossa alegria fique completa’ (1Jo 1,4). Não é a simples satisfação de um escritor que, se não escreve, não se sente realizado. O contexto de pequeno ‘prólogo’ da Carta dá a entender o sentido profundo da afirmação: João sente-se como no meio de dois polos. De um lado, está a realidade da Encarnação, que ele viveu como testemunha direta; é comovedora a insistência ao dizer que viu, que tocou na carne do Verbo da vida, a grandeza de poder testemunhá-lo a todos para permitir a todos entrarem em comunhão com Ele. Do outro, o conjunto da humanidade, daqueles que são chamados à comunhão de vida com o Pai, vida que se revelou em plenitude na ‘manifestação’ do Filho. São João oferece aos seus leitores, destinatários da Carta, o testemunho da revelação recebida para gerar a comunhão com os irmãos, que afinal é comunhão com o Pai e com o Filho. Plenitude de alegria significa por isso participar juntos nesse mistério de vida que difunde e cresce através do testemunho, proclamando e aceito” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Advento - Natal] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 26 de dezembro de 2024

(At 6,8-10; 7,54-59; Sl 30[31]; Mt 10,17-22) Santo Estevão, diácono e protomártir.

“Vós sereis odiados por todos por causa do meu nome. Mas quem perseverar até o fim, será salvo” Mt 10,22.

“Desde o início, Jesus advertiu os seus discípulos a respeito do destino de perseguição e de morte que os aguardava. Também as comunidades cristãs não tardaram a fazer esta mesma e dura experiência. No âmbito judaico, sofreram terríveis pressões das autoridades religiosas ligadas à sinagoga, furiosa por serem incapazes de reconduzi-las aos rígidos padrões da Lei judaica. Por isso, os discípulos começaram a ser julgados em tribunais, flagelados nas sinagogas, denunciados diante das autoridades civis. Tudo por causa da fé! No âmbito pagão, tiveram sorte semelhante. Foram vítimas dos próprios familiares, movidos por um ódio tão incontrolado, a ponto de fazê-lo morrer. A orientação de Jesus era clara: ‘Mantenham-se em paz, não se preocupem, pois o Pai está com vocês!’ Os sinais desta presença fortalecedora seriam claramente perceptíveis: deveriam mostrar-se totalmente confiantes diante dos tribunais, porque falariam sob a inspiração do Espírito do Pai, que lhes colocaria na boca as palavras convenientes. Para isso, seriam revestidos com uma força tal, que os capacita a perseverar em meio aos sofrimentos. A salvação dos discípulos dependeria de sua capacidade de perseverar nas adversidades. Deste modo, iriam dar provas de sua total fidelidade ao Pai. – Espírito de coragem perseverante, nas adversidades da vida, vem em meu auxílio, ajuda-me para que não arrefeça a minha adesão a Jesus e ao Reino” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 25 de dezembro de 2024

(Is 52,7-10; Sl 97[98]; Hb 1,1-6; Jo 1,1-18) Missa do dia.

“E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória,

glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade” Jo 1,15.

“O Evangelho segundo João é uma proclamação da messianidade e divina filiação de Jesus. Lembremo-nos bem de que o Logos, de que fala João, é a Palavra de Deus, o Verbo, a segunda pessoa da Trindade; assim entenderemos melhor a linguagem deste sublime primeiro capítulo do Evangelho joanino. A palavra de Deus estava em Deus, preexistindo desde toda a eternidade e, portanto, tão eterna e sábia quanto Deus Pai. Mas São João apresenta-nos depois esse Verbo, esse Logos ou Palavra de Pai, vindo ao mundo, sempre enviada pelo Pai e enviada para cumprir uma missão: a de transmitir ao mundo uma mensagem de salvação. João apresenta o caráter pessoal desse Verbo ou Logos. É verdade que o Logos foi anteriormente empregado na concepção panteísta própria do estoicismo, como também neoplatônico o empregam como um ‘demiurgo’, isto é, um ente intermediário entre Deus e o mundo sensível. Mas o Logos de São João é totalmente diferente, é uma pessoa vida, o Cristo histórico, criador e redentor do mundo. No Novo Testamento, a Palavra ou Logos designa antes de mais nada a Sagrada Escritura no seu conjunto e, assim, podemos observar que São Paulo expressa habitualmente a mensagem cristã com o termo ‘evangelho’ e também com o de ‘palavra de Deus’” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 24 de dezembro de 2024

(2Sm 7,1-5.8-12.14.16; Sl 88[89]; Lc 1,67-79) Missa da Manhã.

“Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque a seu povo visitou e libertou” Lc 1,68.

“Assim começa o conhecido ‘Cântico de Zacarias’, pai de João Batista, quando, ‘cheio do Espírito Santo’, abriu sua alma e rezou. Deus acabara de lhe destravar a língua que ficara muda por causa de sua dúvida, ao lhe anunciar o anjo que sua mulher, estéril e avançada em anos, teria a graça de um menino. O castigo acordou-lhe o espírito e reascendeu-lhe a fé. E ele cantou, rezou, derramou diante do Senhor seu coração, reconhecendo que a Deus nada é impossível, nem mesmo dar vida a um útero enrugado pela esterilidade. E, olhando para o histórico do Povo Eleito, bendisse o Deus de Israel que, ao longo dos tempos, sempre visitou e resgatou os pobres, os abandonados, os sem esperança, suscitando ‘um Salvador poderoso, na casa de Davi, seu servo’. E se olharmos para nossa história, tantas vezes também sem esperança, como reagimos nós? Devemos confessar que, inúmeras vezes, nos quedamos mudos ou levantamos nossa voz contra o céu, reclamando da ausência aparente de Deus e do abandono em que nos encontramos. Como nos enganamos, quando atropelamos a paciência de Deus com as urgências de nossas necessidades, desconhecendo que Ele tem seu tempo, diferente do nosso! Deus não abandona, mesmo quando nos sentimos abandonados. Ele não deixa de visitar seu povo e já o visitou, definitivamente, com um grande e poderoso Salvador, chamado Jesus. Cabe-nos cantar, rezar, agradecer e esperar. Sua mão poderosa já venceu Pilatos e a morte e nenhum Herodes conseguirá matar o Menino. – Senhor Deus, grande e bom, queremos, hoje, ecoar o Cântico de Zacarias e agradecer-vos pelo poderoso Salvador que temos. E perdoai nossas impaciências, socorrendo nossas desesperanças. Amém (Neylor J. Tonin – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 23 de dezembro de 2024

(Ml 3,1-4.23-24; Sl 24[25]; Lc 1,57-66) 4ª Semana do Advento.

“... e estará a postos, como para fazer derreter e purificará os olhos de Levi e os refinará como ouro

e como prata, e eles poderão assim fazer oferendas justas ao Senhor” Ml 3,3.

“O livro do Levítico lança as bases da santidade sacerdotal da antiga aliança: ‘os sacerdotes serão santos para Deus e não lhe profanarão o nome, pois são eles que oferecem os sacrifícios ao Senhor’ (Lv 21,6). Porém, a santidade ali exigida é mais ritual e exterior, não atingindo o cerne do espírito. Por isso, não raro acontecem confrontos entre profetas e sacerdotes, aqueles combatendo a decadência moral destes. Isto é evidente e sobretudo em Malaquias, o último dos profetas veterotestamentários: ‘Os lábios dos sacerdotes guardam o conhecimento e da sua boca procura-se ensinamento, pois ele é o mensageiro do Senhor. Mas vós vos afastastes do caminho, fizestes tropeçar a muitos pelo ensinamento; destruístes a aliança com Levi’ (Ml 2,7-8). Daí a necessidade de uma vigorosa purificação, de uma espiritualidade autêntica, que vá ao mais profundo do coração. Esta foi a grande preocupação de Jesus ao convocar os apóstolos, que seriam os primeiros sacerdotes da nova Aliança. Após uma noite inteira de oração, ‘chamou a si os que Ele mesmo quis... Escolheu doze entre eles para ficarem em sua companhia e para enviá-los a pregar’ (Mc 3,13-14). O primeiro empenho do apóstolo deve ser ‘ficar em companhia do Mestre’. Somente através de uma vida de oração e de intimidade com Deus o levita da nova Aliança será um ‘outro Cristo’. O envio em missão deve ser uma decorrência deste ‘estar junto’ ao Mestre. De outro modo, como o ramo poderia produzir seus frutos, se não permanecer unido ao tronco da Videira? – Senhor, dai à vossa Igreja ministros santos, que andem de maneira digna da vocação para a qual foram chamados, e que se apresentem como autênticos modelos para o rebanho que vós mesmo lhes confiastes. Amém” (Geraldo de Araújo Lima – Graças a Deus [1995] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo do Advento – Ano C

(Mq 5,1-4; Sl 79[80]; Hb 10,5-10; Lc 1,39-45)*

1. Neste 4º domingo de Advento, que precede de pouco o Natal do Senhor, o Evangelho narra a visita de Maria à sua prima Isabel. Este episódio não é um simples gesto de gentileza, mas representa com grande simplicidade o encontro do Antigo Testamento com o Novo. Podemos dizer que Lucas ‘trabalha’ a sua narrativa, como quem revisita a história da salvação.

2. As duas mulheres, ambas grávidas, encarnam de fato a expectativa e o Esperado. A idosa Isabel simboliza Israel que espera o Messias, enquanto que a jovem Maria traz em si o cumprimento desta expectativa, em benefício de toda a humanidade.

3. Nas duas mulheres encontram-se e reconhecem-se antes de tudo os frutos do seio de ambas, João e Cristo. Comenta o poeta cristão Prudêncio: “O menino contido no seio senil, saúda, pelos lábios de sua mãe, o Senhor filho da Virgem”. A exultação de João no seio de Isabel é o sinal do cumprimento da expectativa: Deus está para visitar o seu povo.

4. Isabel, acolhendo Maria, reconhece que está a se realizar a Promessa de Deus à humanidade e exclama: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?”

5. A expressão “bendita entre as mulheres” refere-se no Antigo Testamento a Jael (Jz 5,24) e a Judite (Jd 13,18), duas mulheres guerreiras que se preocupam por salvar Israel. Agora, ao contrário, dirige-se a Maria, jovenzinha pacífica, mas também corajosa, que está para gerar o Salvador do mundo.

6. Assim também o salto de alegria de João evoca a dança que o rei Davi fez quando acompanhou a entrada em Jerusalém da Arca da Aliança (1Cr 15,29). A Arca, que continha as tábuas da Lei, o maná e o cetro de Aarão (cf. Hb 9,4) era o sinal da presença de Deus no meio de seu povo.

7. O nascituro João exulta de alegria diante de Maria, Arca da nova Aliança, que traz no seio Jesus, o Filho de Deus feito homem.

8. A cena da Visitação expressa também a beleza do acolhimento: onde há acolhimento recíproco e escuta, onde se dá espaço ao outro, ali estão Deus e a alegria que vem d’Ele.

9. Imitemos Maria no tempo do Natal, visitando quantos vivem em dificuldade, em particular os doentes, os presos, os idosos e as crianças. E imitemos também Isabel que acolhe o hóspede como o próprio Deus.

10. Sem o desejar nunca conheceremos o Senhor, sem o esperar não o encontraremos, sem o procurar nunca o descobriremos. Com a mesma alegria de Maria que vai apressadamente ter com Isabel, vamos também nós ao encontro do Senhor que vem.

11. Rezemos para que todos os seres humanos procurem Deus, descobrindo que é o próprio Deus que nos vem visitar primeiro. É d’Ele sempre a iniciativa. A Maria, Arca da Nova e Eterna Aliança, confiemos o nosso coração, para que o torne digno de acolher a visita de Deus no Mistério do seu Natal.    

* Com base em texto de Bento XVI 

Pe. João Bosco Viera Leite

Sábado, 21 de dezembro de 2024

(Ct 2,8-14; Sl 32[33]; Lc 1,39-45) 3ª Semana do Advento.

“Com um grande grito, exclamou: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” Lc 1,42.

“Isabel, iluminada pela luz do Espírito, converte-se em profecia, ao descobrir o mistério de Maria e conhecer em que seu ventre estava o esperado ao longo de toda a história do povo de Israel, esperado pelos patriarcas e anunciado pelos profetas. A expressão ‘bendita entre as mulheres’ (v. 42) é uma frase que eleva ao superlativo o adjetivo ‘bendita’, por ser o modo hebraico de expressar o superlativo, enfatizando o positivo, como se em bom português viesse a ser: ‘tu és benditíssima’, ou melhor, ‘tu és muitíssima bendita’. Aqui podemos descobrir, sem nenhum esforço, tanto a inspiração de Isabel, que fala não pelo que pudesse conhecer naturalmente, mas, antes, porque inspirada pela luz do Espírito Santo, vê na Virgem o instrumento providencial da salvação, que virá por intermédio do ‘fruto de seu ventre’, o Redentor de Israel, a quem não pode deixar de aclamar como bendito. Bendiga você também a Maria Santíssima e, ao rezar a ave-maria, oferece-lhe a homenagem de sua devoção e de seu carinho filial. Acostume-se a não mecanizar a reza da ave-maria, mas faça-o consciente e fervorosamente” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 20 de dezembro de 2024

(Is 7,10-14; Sl 23[24]; Lc 1,26-38) 3ª Semana do Advento.

“O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’” Lc 1,28.

“Em vez de usar o costumeiro ‘ave’ ou ‘salve’, preferimos traduzir por ‘alegrai-vos’, que empregamos no ‘Deus vos salve, Maria...’. Os ‘ave’ ou ‘salve’ têm um sentido muito latino, mas o que melhor fica em português, em nossa língua, é ‘alegrai-vos’ ou ‘parabéns’, Maria, por terdes sido favorecidos por Deus, com a plenitude de sua graça e pelo favor divino que Deus operou em vós. Outro motivo de congratulações, desta vez dado por Isabel sua prima, é ‘bendita sois entre as mulheres e bendito é o fruto de vosso ventre’, que tomamos do versículo 42 desta mesma passagem. De Maria não se diz, como de Zacarias e Isabel, que era fiel cumpridora da lei; dá-se um passo muito à frente, quando o anjo a chama ‘cheia de graça’, favorecida com a plenitude do dom de Deus, plenitude de graça, que inclui não somente a imunidade do pecado original, mas também o conjunto de todas as virtudes e dons, que nos tornam agradáveis a Deus. A plenitude de graça que encontramos em Maria Santíssima conceder-nos-á quantas graças necessitamos para cumprirmos a missão para a Divina Providência nos tenha atribuído durante nossa vida. É isso mesmo, nosso esforço por aumentar continuamente a graça tem de ser permanente e contínuo. Ao repetir as palavras da ave-maria, recorde que ela está cheia de graça, para conceder-lhe o que você necessita” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 19 de dezembro de 2024

(Jz 13,2-7.24-25; Sl 70[71]; Lc 1,5-25) 3ª Semana do Advento.         

“Nos dias de Herodes, rei da Judeia, vivia um sacerdote chamado Zacarias, do grupo de Abia.

Sua esposa era descendente de Aarão e chama-se Isabel” Lc 1,5.

“No contexto do advento do Messias Jesus, despontam dois personagens, autênticos modelos de piedade: Zacarias e Isabel. Seus nomes estarão para sempre ligados ao Messias. Zacarias, nome que significa ‘Deus se lembra’, era sacerdote do baixo-clero de Jerusalém. Sua profunda religiosidade tornava-o íntimo de Deus. Como os grandes personagens do passado, apesar de sua fidelidade, chegara a uma idade avançada sem ter gerado filhos que lhe garantissem a descendência. Péssima experiência, numa sociedade onde a prole era sinal da bênção divina. Ele, porém, recorreu incansavelmente a Deus, até que sua oração foi atendida, muito além do que esperava. O Senhor dar-lhe-ia um filho, cheio do ‘espírito e poder de Elias’, cuja missão seria promover um grande processo de reconciliação, visando ‘preparar para o Senhor um povo perfeito’. Essa promessa seria demasiadamente difícil de ser realizada, devido à idade muito avançada do casal. Foi preciso um sinal divino: a experiência de mudez de Zacarias, para provar a autenticidade da mensagem divina. Embora levantando objeções, este comportou-se como autêntico homem temente a Deus. Por isso, Deus lembrou-se dele. Isabel, nome que significa ‘Deus é plenitude’, manteve viva a chama da esperança de gerar um filho, apesar da velhice e da esterilidade. Por isso, experimentou a bondade divina que se dignou livrá-la da ignomínia de não ser mãe. – Espírito de humilde piedade, a exemplo de Zacarias e de Isabel, faze-me viver em íntima comunhão com Deus, confiando sempre que ele irá atender às minhas súplicas” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 18 de dezembro de 2024

(Jr 23,5-8; Sl 71[72]; Mt 1,18-24) 3ª Semana do Advento.

“José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria em segredo” Mt 1,19.

“O paralelismo com as histórias que se contavam sobre o nascimento de Moisés, e que na época de Mateus eram muito difundidas em Israel, começa com as inquietações de José quando este descobre que a sua noiva, Maria, está grávida (cf. Limbeck,33). A gravidez fora do casamento era punida com a morte por apedrejamento. José é um homem justo, mas não obedece à lei cegamente. Ele procura coadunar a justiça com a misericórdia. Esse é um assunto da maior importância para Mateus. Se José visasse apenas o cumprimento da lei, deveria ter entregue Maria execração pública. Mas ele não quer fazer justiça à lei, e sim ao ser humano. Ele é representante de uma linha do farisaísmo que combina justiça com misericórdia. Por isso, pretende dispensar Maria dos compromissos do noivado, entregando-lhe uma carta de repúdio; assim faria jus tanto à lei quanto à noiva. Mas enquanto José ainda procura uma saída honrosa, aparece-lhe em sonho um anjo. Este explica-lhe o que aconteceu, mesmo que José, neste momento, não consiga entender todo o seu alcance. A criança que a sua noiva está esperando é do Espírito Santo. Nesse sonho, José se parece com um amigo de Deus, que é inteirado pelo anjo dos planos misteriosos que Deus tem para o seu povo. A criança que nascerá de Maria será importante para todo o povo. José é instruído a acolher Maria para que o filho dela se torne legalmente o seu próprio filho. E, então, o anjo desvenda o mistério da criança: ela é produto da ação divina, da intervenção do Espírito Santo. Mas, legalmente, José é considerado seu pai e por isso deverá dar-lhe o nome. E Mateus acrescenta o significado desse nome: ‘Ele salvará o povo dos seus pecados’ (1,21). Por povo entende-se aqui não apenas Israel, mas toda a humanidade, inclusive os pagãos. Como filho de Davi, Jesus constituirá para si um novo povo, que ele libertará dos grilões do pecado. Estamos já diante de um dos temas centrais do evangelho de Marcos: Jesus não apenas anuncia o perdão, ele exerce realmente o poder pleno de perdoar aos homens os seus pecados. Ele redime os homens do pecado em que estes se enredaram, privando-se, assim, da união com Deus. Em Jesus, cumpre-se a promessa messiânica: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, ao qual darão o nome de Emanuel, o que se traduz: Deus conosco’ (1,23). Com o nascimento de Jesus, Deus estabelece um novo começo para todos os seres humanos. Ele transforma em realidade o que prometera repetidamente pela boca dos profetas: que ele construirá uma nova Jerusalém, que o antigo já passou, e que o novo surgiu. Em Jesus, Deus mesmo estará conosco, em nosso meio. Deus estará com o seu povo não apenas na figura de Jesus terreno, mas também no Jesus glorificado, e isso todos os dias, até o fim do mundo. Com o nascimento, tem início, portanto, um processo salvífico que agirá até que chegue a plenitude dos tempos. Em Jesus, Deus empenhou a sua palavra: ele quer estar conosco sempre, eternamente. Na descrição do nascimento de Jesus, Mateus revela a sua habilidade de ligar o início ao fim. O que teve início no nascimento será confirmado do discurso de despedida do Cristo ressuscitado: ‘Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos’ (28,20)” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 17 de dezembro de 2024

(Gn 49,2.8-10; Sl 71[72]; Mt 1,1-17) 3ª Semana do Advento.

“Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” Mt 1,1.

“Mateus, ao contrário de Lucas, não conta a história da infância de Jesus, preferindo começar com a sua árvore genealógica, que se inicia com as palavras: ‘Biblos genseos Jesou Christou’, o que se pode traduzir como: ‘O livro das origens de Jesus’. Com isso, Mateus faz uma referência à passagem de Gn 2,4: ‘Esta é a história das origens do céu e da terra’. O evangelista pretende expressar, pelo uso dessas palavras, o mistério de Jesus. Descrevendo como a história chegou a Jesus, revela a importância deste. A história de Israel começou com a promessa feita a Abraão: ‘Em ti serão abençoadas todas as famílias da terra’ (Gn 12,3). Essa história cumpre-se em Jesus. Ao mesmo tempo, Deus cria nele um novo começo. Assim como Deus criou no início o céu e a terra, criou em Jesus o homem, que é o sentido e a meta da criação. Em Jesus, realiza-se o que fora prometido a Abraão: ele se torna uma bênção para todas as gerações futuras” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 16 de dezembro de 2024

(Nm 24,2-7.15-17; Sl 24[25]; Mt 21,23-27) 3ª Semana do Advento.

“Eu o vejo, mas não agora; e o contemplo, mas não de perto. Uma estrela sai de Jacó,

e um cetro se levanta de Israel” Nm 24,17.

“Numa cidade a Leste do rio Jordão, viveu no século VIII a.C. um célebre mago, Balaão, filho de Beor. Era consultado pelos amonitas e pelos galaaditas e a sua fama era tão grande que, quando a Bíblia foi escrita, o autor sagrado introduziu-o na sua narração e atribuiu-lhe quatro oráculos nos quais é anunciado o futuro radioso de Israel. No último oráculo, o mais importante, e que a leitura de hoje transcreve, Balaão profetiza que em Israel haveria de surgir uma estrela, um astro de estirpe real. No Médio Oriente antigo a estrela indicava um deus. Qual é o personagem que o ilustre vidente preanuncia? [Compreender a Palavra:] Quando o Evangelista São Mateus narra que alguns magos do Oriente viram uma estrela que nascia e vieram a Jerusalém para adorar o rei dos judeus que nascera, não pensa em nenhum corpo celeste. Refere-se, pelo contrário, ao astro da linhagem de Jacó anunciado no Antigo Testamento: declara aos seus leitores que a estrela esperada não é senão Jesus e convida a manter o olhar fixo n’Ele para orientarem as suas vidas segundo a vontade de Deus. Balaão, o mago pagão, avistou de longe o Messias: ‘Eu vejo-o – disse ele –, mas não é agora; eu contemplo-o mas não de perto’. Conseguiu avistar a estrela de Jacó porque cultivava a disposições interiores justas, disposições que hoje são pedidas a quem quer que deseje contemplar a Estrela, Cristo. Vejamo-las. Antes de cada oráculo, Balaão apresenta-se como homem de olhos penetrantes. Era, portanto, alguém que se detinha na superfície das coisas, mas apontava para além das aparências, perscrutava em profundidade, sabia ver o coração das pessoas. Depois afirma ser aquele que ouve a palavra de Deus e conhece a sabedoria do Altíssimo. Não se deixava distrair pelo palavreado, pelas conversas e espetáculos frívolos; vivia na escuta da Palavra de Deus e em todos os momentos sintonizava os seus pensamentos com a ciência do Senhor. Finalmente, declara que cai em êxtase e os seus olhos se abrem. Uma cortina espessa – constituída pelo orgulho, pelas paixões, pelos interesses, pelos preconceitos – não nos permite ver as pessoas e os acontecimentos com os olhos de Deus. Só quando deixamos cair esse véu poderemos avistar ‘a estrela de Jacó’, Cristo, a única estrela à qual vale a pena confiar a vida” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Advento - Natal] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo do Advento – Ano C

(Sf 3,14-18; Sl Is 12; Fl 4,4-7; Lc 3,10-18) *

1. Neste 3º domingo de Advento a liturgia nos convida à alegria do espírito, seja no convite de Sofonias à cidade de Jerusalém e à sua população, seja nas palavras de Paulo a nós cristãos de todos os tempos, na 2ª leitura. O próprio Deus é representado com sentimentos análogos. É Deus mesmo que experimenta essa alegria, nos diz Sofonias.

2. Esta promessa realizou-se plenamente no Mistério do Natal que em breve celebraremos, e que pede para ser renovado no ‘hoje’ da nossa vida e da nossa história.

3. A alegria que a liturgia desperta nos corações dos cristãos, não está reservada só a nós; é um anúncio profético destinado à humanidade inteira, de modo particular aos pobres, neste caso aos mais pobres de alegria!

4. Pensemos nos nossos irmãos e irmãs que em algumas regiões do mundo vivem o drama da guerra: que alegria podem viver? Como será o Natal deles?

5. Pensemos em tantos doentes e pessoas sozinhas que, além de serem provadas no físico, também o são no ânimo, porque com frequência se sentem abandonadas: como partilhar com eles a alegria sem faltar com respeito ao seu sofrimento?

6. Mas pensemos também especialmente nos jovens que perderam o sentido da verdadeira alegria, e a procuram em vão onde é impossível encontrá-la: na corrida exasperada pela autoafirmação e o sucesso, nos falsos divertimentos, no consumismo, nos momentos de êxtase, nos paraísos artificiais da droga e de qualquer forma de alienação.

7. Não podemos não confrontar a liturgia de hoje e o seu ‘Alegrai-vos!’ com estas dramáticas realidades. Como nos tempos do profeta Sofonias, é precisamente a quem está na prova, aos ‘feridos da vida e órfãos da alegria’ que dirige de modo privilegiado a Palavra do Senhor.

8. O convite à alegria não é uma mensagem alienante, nem um paliativo estéril, mas, ao contrário, é profecia de salvação, apelo a um resgate que parte da renovação interior. Por isso a voz do Batista ressoa aos nossos ouvidos.

9. Há uma alegria que nasce também de um esforço de corrigirmos o que em nós não vai de acordo com a vontade de Deus, e de olharmos as realidades que nos cercam, ainda que não possamos dar solução a tudo.

10. Para transformar o mundo, Deus escolheu uma humilde jovem de uma aldeia da Galileia, Maria de Nazaré. A ela o anjo comunica: alegra-te, o Senhor está contigo! Nessas palavras encontram-se o segredo autêntico do Natal: Deus está conosco, é Ele a fonte da verdadeira alegria.  

* Inspirado em texto de Bento XVI         

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 14 de dezembro de 2024

(Eclo 48,1-4.9-11; Sl 79[80]; Mt 17,10-13) 2ª Semana do Advento.

“Jesus respondeu: ‘Elias vem e colocará tudo em ordem’” Mt 17,11.

“A figura do profeta Elias povoava o imaginário messiânico do povo. Pelo fato de ter sido arrebatado aos céus, acreditava-se que ele haveria de voltar no final dos tempos, como precursor da era messiânica. No profeta Malaquias encontramos uma referência a esta crença, onde o Senhor promete: ‘Eis que vou enviar-vos Elias, o profeta, antes que chegue o dia do Senhor, grande e terrível’. Os inimigos de Jesus suspeitavam de sua condição messiânica, dentre outras coisas, porque Elias ainda não havia feito sua aparição na história humana. Ou seja, a profecia a respeito de sua volta devia ainda se realizar. Jesus deu-se ao trabalho de esclarecer esta questão. Por um lado, aceitou a tradição da volta de Elias, com a missão de predispor as pessoas para acolherem o Messias vindouro. Por outro, identificou João Batista com o Elias esperado. É evidente que não pensava ser João Batista uma espécie de reencarnação de Elias, mas que tinha realizado a missão atribuída a Elias. De fato, tanto sua figura austera quanto sua pregação faziam lembrar o antigo profeta. Além disso, João tinha consciência de estar a serviço de outrem, e não se arvora em Messias. Sua pregação apontava para alguém maior do que ele, que estava para vir. Exatamente como deveria fazer Elias. E este alguém era Jesus! -  Espírito que nos prepara para acolher o Messias, faze-me atento à pregação de João Batista que nos predispõe a receber o Messias que vem” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 13 de dezembro de 2024

(Is 48,17-19; Sl 01; Mt 11,16-19) 2ª Semana do Advento.

“Mas a sabedoria foi reconhecida com base em suas obras” Mt 11,19b.

“Como meninos caprichosos que recusam todos os jogos que lhe são oferecidos, os judeus recusam todas as insinuações de Deus, tanto a penitência de João, como a condescendência de Jesus. Apesar da má vontade dos homens, o sábio desígnio de Deus realiza-se e se justifica a si mesmo pela conduta que inspira a João Batista e a Jesus. Por meio de uma bela parábola, tomado do modo de proceder das crianças caprichosas, descreve graficamente o ânimo versátil e inconsequente com que julgam a vida e a doutrina do Batista e de Cristo. A frase de São Mateus, ‘esta geração’ (Mateus 11,16), refere-se a todos aqueles que recusam a doutrina de Cristo e do Batista. João tinha aparecido, levando vida austera de rigorosa penitência, pois alimentava-se de gafanhoto do mato e mel silvestre, o que devia mover os ouvintes a receber seus ensinamentos. No entanto, essa mesma vida de asceta foi atribuída pelos fariseus ao demônio ou à loucura. Por sua vez, Jesus levava uma vida comum, acomodando-se em sua maneira externa de proceder ao uso dos outros homens e atraindo a simpatia de todos, mesmo dos publicanos e pecadores, cujo trato evitava, porque tinha vindo busca-los para salvar. Interpreta-se sua vida como a de um homem desregrado no comer e no beber. João, que vivia na austeridade do deserto, era tomado como endemoninhado (Lucas 7,33) e Cristo, que comia com os pecadores para salvá-los, era tido por glutão. Quando se tem malícia no coração, interpretam-se maliciosamente todas as coisas, e mesmo as pessoas mais santas são mal julgadas. Isso deve levar você a purificar seu próprio coração, para que não julgue nunca as ações de seu próximo, porque comumente, quando vemos o mal nos outros, não é porque o mal esteja neles, mas sim porque temos mal em nossos olhos manchados e corrompidos pela sujeira de nosso coração” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 12 de dezembro de 2024

(Gl 4,4-7; Sl 95[96]; Lc 1,39-47) Bem-aventurada Virgem Maria de Guadalupe, padroeira da América Latina.

“Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a afiliação adotiva” Gl 4,4-5.

“Conheço muitos pais que decidiram adotar filhos. Não é um processo tão simples. Exige muita documentação, muita vontade e muito amor para se concluir um processo de adoção. Louvável a atitude desses pais. Um professor de ensino religioso da minha filha adotou três irmãos. Ela ficou encantada com alegria da nova família e a forma como o assunto foi abordado em sala de aula. Mesmo assim, muitas crianças esperam em orfanato pelo milagre de algum dia serem buscadas por pais adotivos dispostos a amá-las. De certa forma nós também éramos órfãos de pai. O Apóstolo Paulo diz no texto aos gálatas que Deus enviou seu filho para resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. Deus assume aqui a nossa paternidade. Toda a sua obra teve como finalidade nos legitimar como filhos amados de Deus. Nascemos de novo. Assim foi que obtivemos bens eternos: a remissão dos pecados, a justiça, a glória da ressurreição e a vida eterna. Assim como todos os filhos, tornamo-nos herdeiros. Não precisamos fazer nada para receber esta herança. Apenas cremos que Deus enviou ao mundo o seu Filho para nos salvar de todos os pecados. Nestes próximos dias iremos falar muito mais sobre este presente de Deus, já que se aproxima o Natal de Jesus. O Pai enviou o seu Filho, nascido de mulher. Cristo é, assim, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Ele veio para nos resgatar e assim não vivemos mais sob a Lei, mas pela fé. Assim como uma criança sente no seu coração a felicidade de ser buscada pelos seus pais adotivos num orfanato, nós sentimos uma alegria inexplicável ao conhecermos o verdadeiro amor de Deus para com os seus filhos. Amor é a palavra que explica a atitude de Deus para conosco e nos leva a estender esta mesma ação ao nosso próximo. – Querido Pai, como estamos felizes com a tua presença em nossa vida. Tu nos proteges e nos fortalece. Obrigado. Amém (Douglas Moacir Flor – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 11 de dezembro de 2024

(Is 40,25-31; Sl 102[103]; Mt 11,28-30) 2ª Semana do Advento.

“Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vosso fardos, e eu vos darei descanso” Mt 11,28.

“Em Mateus, Jesus tem autoridade não só quando ensina (7,28-29), como no ‘Sermão da Montanha’ (Mt 5—7), mas também quando cura doenças. Essa autoridade é reconhecida pelo centurião romano, que diz: ‘Dize uma só palavra e meu servo ficará bom’ (8,8). Bastou tomar a sogra de Pedro pela mão e ela ficou curada. Jesus cura não para mostrar sua autoridade, mas porque sente compaixão das pessoas que sofrem. Ele é o servo sofredor, solidário com os sofredores: ‘Ele levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças’ (8,14-17). Jesus tem poder de acalmar a tempestade e expulsar demônios (8,23-24). Pode perdoar os pecados e também curar o paralítico, mas é questionado pelos escribas (9,1-8). Chama como discípulo um cobrador de impostos e come com pecadores, porque ‘não veio para chamar os justos, mas os pecadores’ (9,9-13), no entanto é criticado pelos fariseus. Cura a filha do chefe da sinagoga que parecia morta (9,18-26) e dois cegos que clamavam: ‘Filho de Davi, tem piedade de nós’ (9,27). Vê o sofrimento do povo e sente compaixão dele, ‘porque estavam cansados e abatidos, como ovelhas sem pastor’ (9,36). Escolhe os apóstolos para ajuda-lo nesta missão e fazer a mesma coisa que Ele fazia (10,1-42). Manda dizer a João Batista que lhe pergunta se era Ele o Messias: ‘Ide dizer a João o que ouvis e vedes: os cegos veem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados’ (11,2-6). Ele é o Messias esperado, que ‘louva o Pai porque esconde estas coisas aos sábios e entendidos e as revela aos pequeninos’ (11,25). É o pastor que procura as ovelhas perdidas, cansadas, sobrecarregadas pelo peso da Lei. É capaz de aliviar o peso porque carrega junto com os sofredores suas enfermidades (11,28-30) – Jesus, Filho de Deus, manso e humilde de coração, Tu manifestas o amor misericordioso do Pai para com os que sofrem. Dá-nos a graça de mostrar um pouco deste amor aos nossos irmãos sofredores. Amém (Ludovico Garmus – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 10 de dezembro de 2024

(Is 40,1-11; Sl 95[96]; Mt 18,12-14) 2ª Semana do Advento.

“Em verdade vos digo, se ele a encontrar, ficará mais feliz com ela do que com as noventa e nove

que não se perderam” Mt 18,13.

“Esta simples parábola tem dupla finalidade: provar a misericórdia de Deus para com os pecadores, e por isso a liturgia coloca aqui, depois da cura do paralítico, ao qual além de devolver a saúde, perdoa-lhe os pecados (Lucas 5,20-23). Porém, aqui, São Mateus a apresenta para demonstrar o amor especial que Jesus tem para com os humildes, aos quais o escândalo pode extraviar. A afirmativa que se faz aqui não quer dizer que o bom Pastor ame a ovelha desgarrada mais que as noventa e nove, que permaneceram junto a ele, e sim que no momento em que a recupera experimenta, por essa razão particular, um júbilo e uma alegria que não sente pelas outras. A alegria de ter as noventa e nove sempre consigo é habitual, enquanto que a alegria que lhe proporciona a ovelha desgarrada é do momento em que a encontra, e é tanto maior quanto maior foi sua tristeza ao saber que se tinha extraviado. Mas sucede também frequentemente que os arrependidos levam vantagem sobre muitos que sempre foram justos, ainda que, como adverte São Gregório Magno: ‘Não se deve esquecer que existem muito justos, cuja vida santa causa no céu uma alegria superior à que pode produzir a conversão de qualquer pecador’” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 09 de dezembro de 2024

(Is 35,1-10; Sl 84[85]; Lc 5,17-26) 2ª Semana do Advento.

“Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem,

é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar” Is 35,4.

“O Profeta que escreve o texto de hoje viveu num período difícil da história do seu povo. Em toda a parte, reinavam o silêncio e a morte. Perante essa desolação, quem teria a coragem de anunciar uma festa, convidar ao júbilo, à alegria? Pois bem, diante das ruínas, Isaías profere um oráculo de regozijo, de esperança. [Compreender a Palavra] O profeta começa com um convite à alegria porque está para acontecer um prodígio: o deserto vai tornar-se uma planície fértil, como a do Saron, ao longo da costa do Mediterrâneo. Ei-lo que cobre de árvores frondosas e resistentes como os cedros do Líbano; em Primavera perene, transforma-se um tapete de ervas aromáticas e de flores. Há um grupo de testemunhas deste milagre, e o texto identifica-as: são os fracos, os vacilantes, os pusilânimes. Há, depois, alguns mais fortes, encarregados de encorajarem os mais fracos, anunciando-lhes que o Senhor está perto. Segue-se um quadro de curas maravilhosas; os olhos dos cegos descerram-se, os ouvidos dos surdos abrem-se, o coxo salta como um veado e o mudo grita de alegria. Deste oráculo nasceu em Israel a convicção de que, à sua vinda, o Messias iria realizar uma transformação extraordinária do mundo. Realizando os sinais profetizados, curando todas as paralisias do homem, Jesus apresentou-se como o Messias esperado” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Advento - Natal] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Imaculada Conceição – Solenidade

(Gn 3,9-15.20; Sl 97[98]; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38)

1. Na esteira dessa Palavra que acabamos de escutar, devemos perguntar-nos: o que significa ‘Maria, a Imaculada’? Primeiramente a liturgia quer nos lembrar, como ouvimos na 1ª leitura, que Deus não fracassou, como podia parecer já no início da História com Adão e Eva, ou durante o período do Exílio babilônico, e como novamente parecia no tempo de Maria, quando Israel se tornou definitivamente um povo sem importância, numa região ocupada, com poucos sinais reconhecíveis de santidade.

2. Na humilde casa de Nazaré vive o Israel santo, o resto puro. Deus salvou e salva seu povo. Do tronco abatido resplandece de novo a sua história, tornando-se uma nova força que orienta e impregna o mundo. Maria é o Israel santo; ela diz ‘sim’ ao Senhor. Coloca-se plenamente à sua disposição e assim torna-se templo vivo de Deus.

3. Tudo isso está nessa imagem difícil e obscura que nos deixa a 1ª leitura. Prediz-se que durante toda a história continuará a luta entre o homem e a serpente, ou seja, entre o homem e os poderes do mal e da morte.

4. Mas também se diz que a ‘estirpe’ da mulher um dia vencerá e esmagará a cabeça da serpente, da morte; pronuncia-se que a linhagem da mulher e nela a mulher e a própria mãe vencerá e que assim, mediante o ser humano, Deus vencerá.

5. De que se trata esse pecado original? Segundo o texto sagrado, é essa desconfiança do ser humano de que Deus tira algo da sua vida, que Deus é concorrente que limita a nossa liberdade e que nós só seremos plenamente seres humanos, quando o tivermos posto de lado; em síntese, somente deste modo podemos realizar na plenitude a nossa liberdade.

6. A liberdade de um ser humano é a liberdade de um ser limitado e, portanto, ela mesma é limitada. Só a podemos possuir como liberdade compartilhada, na comunhão das liberdades: a liberdade pode desenvolver-se unicamente se vivermos de modo justo uns com os outros, e uns para os outros.

7. Essa história do princípio, é a história de todos os tempos, em que trazemos dentro de nós uma gota do veneno daquele modo de pensar explicado nas imagens do Livro do Gênesis. A esta gota de veneno, chamamos pecado original.

8. Precisamente na festa da Imaculada Conceição manifesta-se em nós a suspeita de que uma pessoa que não peque de modo algum, no fundo seja tediosa; que falte algo na sua vida; pensamos que o mal no fundo seja bem, que dele temos necessidade, pelo menos um pouco, para experimentar a plenitude do ser.

9. Contudo, quando olhamos para o mundo à nossa volta, podemos ver que não é assim, ou seja, que o mal envenena sempre, que não eleva o ser humano, mas abaixa e humilha, que não enobrece, que não o torna mais puro nem mais rico, mas o prejudica e faz com que se torne menor.

10. No dia da Imaculada, aprendemos que aquele que se abandona totalmente nas mãos de Deus não se torna um fantoche de Deus, ele não perde sua liberdade. Somente quem confia em Deus totalmente encontra a verdadeira liberdade, a grande e criativa vastidão da liberdade do bem.

11. Quanto mais próximo de Deus está o ser humano, tanto mais próximo estará dos outros. Vemo-lo em Maria. O fato de Ela estar totalmente junto de Deus é a razão pela qual se encontra também próxima de nós.

12. Por isso, pode ser a Mãe de toda a consolação e de toda a ajuda, uma Mãe à qual, em qualquer necessidade, todos podem dirigir-se na própria debilidade e no próprio pecado, porque ela tudo compreende e para todos constitui a força aberta da bondade criativa.

13. Neste dia de festa, queremos agradecer ao Senhor o grande sinal da sua bondade, que nos concedeu em Maria, sua Mãe e nossa Mãe. Queremos pedir-lhe que ponha Maria no nosso caminho, como luz que nos ajuda a tornar-nos também nós luz e a levar esta luz pelas noites da História. Amém!

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 07 de dezembro de 2024

(Is 30,19-21.23-26; Sl 146[147ª]; Mt 9,35—10,1.6-8) 1ª Semana do Advento.

“Vendo Jesus as multidões, compadece-se delas, porque estavam cansadas e abatidas

como ovelhas que não tem pastor” Mt 9,36.

“A vinda de Jesus ao mundo decorre da compaixão de Deus pela humanidade. Sua missão consiste em manifestar esta misericórdia, por meio de gestos concretos. A expulsão dos espíritos imundos e a cura de toda doença e enfermidade manifestam essa preocupação. As multidões foram objeto da atenção de Jesus. Elas revelavam cansaço e abatimento, por falta de líderes para conduzi-las, e pela opressão que sofriam. Que fazer? Jesus passou da constatação à providência concreta. Sua iniciativa consistiu em escolher doze discípulos e enviá-los com a mesma missão: proclamar a chegada do Reino dos Céus e realizar gestos indicadores desta presença. Assim, eles teriam a missão de difundir a misericórdia divina ‘às ovelhas desgarradas da casa de Israel’. Como acontecia com Jesus, também os apóstolos sentiriam esse mesmo amor compassivo. Tanto na ação de Jesus quanto na dos discípulos, antecipava-se a chegada do Reino esperado. O Reino que haveria de manifestar-se em todo seu esplendor, na segunda vinda do Messias, já estava dando sinais de sua presença e revelando seu caráter particular de meditação da bondade de Deus. Aliás, tudo quanto diz respeito ao Messias Jesus traz o selo da compaixão. Eis por que sua vinda deve ser motivo de alegria. – Espírito de amor compassivo, faze de mim uma mediação da misericórdia divina para a humanidade, de modo que, aos últimos deste mundo, possa chegar o amor de Deus (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite  

Sexta, 6 de dezembro de 2024

(Is 29,17-24; Sl 26[27]; Mt 9,27-31) 1ª Semana do Advento.

“...partindo Jesus, dois cegos o seguiram, gritando: ‘Tem piedade de nós, filho de Davi!’” Mt 9,27.

“O título de ‘Filho de Davi’ é um título messiânico, comumente aceito no judaísmo e aplicado, às vezes, a Jesus, como vemos em Mateus 12,23; 15,22 e outros textos. Este título era, entre os judeus contemporâneos de Jesus Cristo, comum para designar o Messias que todos esperavam, e se fundamentava nas antigas previsões, nas quais se descreve o Messias como outro Davi; ou como descendência que Deus há de suscitar a Davi; assim diz Javé em Jeremias 23,5: ‘Dias virão – oráculo do Senhor – em que farei brotar de Davi um rebento justo’. No entanto Jesus aceita-o com reservas, porque implicava uma concepção humana do Messias, e prefere o misterioso título de ‘Filho do Homem’. Os dois cegos pedem sua cura a Jesus e o seguem repetindo o pedido. Jesus pergunta-lhes se realmente acreditavam que ele pudesse curá-los. Essa pergunta tinha como objetivo mostrar, aos próprios cegos e àqueles que se encontravam presentes, que para conseguir uma graça de Deus exige-se como condição prévia uma fé cheia de confiança. Eles respondem afirmativamente, com o que demonstram ter as condições que Cristo lhe pede, para receber a cura. Assim deve perseverar na oração. Somente dessa maneira você poderia obter o que pede, pois não poucas vezes Deus, para provar nossa fé, demora em conceder-nos suas graças” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite  

Quinta, 5 de dezembro de 2024

(Is 26,1-6; Sl 117[118]; Mt 7,21.24-27) 1ª Semana do Advento.

“Abri as suas portas, para que entre um povo justo, cumpridor da palavra” Is 26,2.

“Um profeta anônimo, que viveu nos últimos séculos antes de Cristo, reflete sobre os acontecimentos históricos do Médio Oriente antigo. Tem debaixo dos olhos a cidade de Jerusalém. Contempla-a ressurgida dos escombros a que tinham reduzido os exércitos de Nabucodonosor: é uma cidade forte, bem protegida, inabalável. Pelo contrário, Babilônia, a grande, a soberba, a maldita já não existe, é um monte de ruínas. Destinos opostos de duas cidades que colocaram sua esperança, uma em Deus e outra no Homem. [Compreender a Palavra] Na Bíblia, a imagem da rocha é aplicada a Deus (Dt 32,4). A rocha e símbolo de estabilidade e Israel fez a experiência de só encontra estabilidade no seu Deus; só quando se afastou d’Ele é que decretou ruína. O cântico proposto pela leitura de hoje é um hino que o povo canta ao Senhor, ‘rocha eterna’, na qual Israel colocou sua confiança e não ficou desiludido. Caiu Nínive, ‘a grande cidade’ (Jn 1,2); desapareceu Assur; Babilônia foi destruída; pelo contrário, Jerusalém, repetidas vezes devastada e reduzida a ‘uma cabana numa vinha, como choça num pepinal’ (Is 1,8) está agora rodeada de muros e baluartes, tornou-se a cidade da paz e mantém as suas portas abertas para consentir a entrada a todos aqueles que pretendem professar a fé no Deus verdadeiro. O profeta referia-se à Jerusalém terrena e não podia imaginar o significado mais profundo que Deus pretendia dar ao seu oráculo. Hoje os cristãos podem lê-lo e compreendê-lo `luz de toda a revelação: a rocha sólida é Cristo e a cidade firme e compacta é a comunidade dos discípulos que formam as pedras vivas do novo edifício construído por Deus” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Advento - Natal] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite  

Quarta, 04 de dezembro de 2024

(Is 25,6-10; Sl 22[23]; Mt 15,29-37) 1ª Semana do Advento.

“Os discípulos disseram: ‘Onde vamos buscar, neste deserto, tantos pães para saciar tão grande multidão?” Mt 15,33.

“Os discípulos, na relação com o Mestre, reconhecem suas carências e a necessidade de serem ajudados por ele. A experiência da multidão no deserto, à escuta de Jesus, revela esta situação. Aí, o povo foi duplamente alimentado: com o pão da Palavra e com o pão. Como a multidão, os discípulos necessitam ser alimentados pela Palavra, que abre seus horizontes para compreender a presença do amor misericordioso do Pai na história humana, por meio de Jesus, e suas exigências. A Palavra liberta-os das trevas do erro, abrindo-lhes um caminho de luz; move-os a aderir ao Reino, com sinceridade de coração, e a superar todos os empecilhos; educa-os para a humilde obediência à vontade divina. Já o pão eucarístico alimenta os discípulos, inserindo-os numa perfeita comunhão com Jesus. Este alimento leva-os a assimilar o modo de ser do Mestre, cuja a abertura para o Pai é perfeita. Move-os a buscar a comunhão com o próximo, que se torna destinatário de seu amor e de sua atenção. Impede que se deixem levar pelo egoísmo, sensibilizando-os para a solidariedade e a reconciliação. Esta é a forma como pão revigora as forças dos discípulos, em sua longa marcha para o Pai. Sem esses alimentos, os discípulos tornam-se vulneráveis, podendo desfalecer pelo caminho. Só Jesus pode proporcionar-lhes forças para chegar até o fim. – Espírito de força, que a Palavra e o pão eucarístico revigorem minhas forças na longa caminhada ao encontro do Senhor (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite  

Terça, 03 de dezembro de 2024

(Is 11,1-10; Sl 71[72]; Lc 10,21-24) 1ª Semana do Advento.

“Libertará o indigente que suplica e o pobre ao qual ninguém quer ajudar. Terá pena do indigente e do infeliz, e a vida dos humildes salvará” Sl 72,12-13.

“O salmo 72 é um daqueles que podem ser lidos de várias maneiras. É um salmo sobre o rei e seu reinado. [...] Este salmo é também um cântico pessoal, pois nos mostra como é a vida onde Jesus reina.  Jesus ainda não está reinando sobre a terra, mas reina em nosso coração. Pelo menos, é isso que declaramos: ‘Jesus é o Senhor da minha vida’. Ele é? Se ele é o Rei, então a evidência do seu governo será óbvia. O salmo 72 nos ensina como agir na presença da realeza. [...] Uma das evidências do reinado de Jesus em nossa vida é o sentimento de compaixão pelos pobres e necessitados. Eu me pergunto quanto de compaixão do Rei se reflete na forma como vivemos. Será que uma avaliação honesta do nosso talão de cheques revela compaixão pelos pobres, ou será que revela apenas avareza? Não é suficiente orar: ‘Venha o teu Reino’; não é suficiente acreditar no futuro Reino de Cristo. Temos de começar neste exato momento a viver sob seu justo senhorio. O que mudará nosso mundo é o estabelecimento de seu Reino em nosso coração hoje” (Dougla Connelly – Guia Fácil para entender Salmos – Thomas Nelson).

Pe. João Bosco Vieira Leite  

 

Segunda, 02 de dezembro de 2024

(Is 2,1-5; Sl 121; Mt 8,5-11) 1ª Semana do Advento

“Senhor, o meu empregado está de cama, lá em casa, sofrendo terrivelmente com uma paralisia” Mt 8,8.

“São de notar-se os sentimentos humanísticos do oficial romano para com um dos seus serviçais, visto que o doente não era propriamente um membro da família, mas simplesmente um servidor ou membro do serviço doméstico; no entanto, preocupa-se com a saúde dele, sofre por ele e intercede perante Jesus com o mesmo empenho como se fosse um de seus filhos. A caridade não aceita limites, vai além de todas as fronteiras, além do racismo e além das classes sociais. É esta a verdadeira e, por sua vez, a única caridade cristã. Nossa caridade não deve querer saber quem é que está sofrendo, mas simplesmente saber se alguém sofre. E se devemos admitir alguma preferência em nossa prática da caridade e do amor cristão, essa preferência tem de ser exatamente em favor dos doentes, dos idosos, dos desamparados, e em geral em favor dos pobres e necessitados. Porque, não podendo esperar deles nenhuma retribuição material, nosso amor será, dessa maneira, mais desinteressado e mais evangélico” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite  

1º Domingo do Advento Ano C

(Jr 33,14-16; Sl 24[25]; 1Ts 3,12—4,2; Lc 21,25-28.34-36)

1. Nesse primeiro domingo do Advento a liturgia nos traz o texto do Evangelho de Lucas no qual Jesus, já próximo de sua morte, fala do fim do mundo, do juízo que se seguirá e do preparar-nos bem para esse grande evento.

2. Certamente, você, tanto quanto eu, esperaria um Evangelho diferente para iniciar esse tempo tão curto que precede e prepara para o Natal. Mas penso que não seja assim tão inadequado introduzir-nos no contexto da preparação espiritual para o encontro com Jesus Menino, refletir sobre o fim da história humana.

3. Celebrar a primeira vinda de Cristo no Natal tem sentido na medida em que nos ajuda a superar o medo de sua segunda vinda em qualidade de Juiz.

4. É um convite a voltar-nos sobre nós mesmos e, na espera de participar plenamente do anúncio de paz que vem da manjedoura de Belém, verificar seriamente como estamos nos dispondo para o encontro definitivo com o Senhor.

5. Não tenhamos dúvida que Cristo, além de querer a nossa salvação, se serve de todos os meios à sua disposição para convertê-la em realidade, em prazeroso evento.  Mas Ele exige também o nosso esforço, a nossa contribuição.

6. Exige sobretudo que reflitamos de forma sensata sobre as palavras com as quais, no Evangelho de hoje, nos exorta a viver responsavelmente o tempo presente: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós. Portanto, ficai atentos e orai a todo momento” (Lc 21,34.36).

7. Ouvindo esses apelos e essas advertências, nos sentimos verdadeiramente em ordem com a nossa consciência? Olhando o passar dos nossos dias e como os atravessamos ou vivemos, não haveria nada que reprovar ou rever? O nosso coração é realmente livre diante do brilho do ouro e da irrefreável mania de possuir sempre alguma coisa mais do que aquilo que já se possui? E diante desse convite a ser atento, vigilante e orar a todo momento, qual é a nossa posição?

8. Santo Agostinha advertia: “No dia do juízo não lhe será de nenhum proveito aquilo que não fizeste em vista do juízo” e mais: “Se vives dormindo, quando morreres tu despertarás e será para ti desconcertante te encontrares de mãos vazias”.

9. Na Carta a Diogneto, de um cristão anônimo do séc. II d.C., faz essa observação: “Os cristãos vivem na carne, mas não segundo a carne; moram sobre a terra, mas como cidadãos do céu”. Como responderíamos a essa descrição do nosso ser cristão?

10. Essa reflexão ao início de nossa preparação ao Natal não tem por objetivo provocar agitação ou inquietar-nos, mas colocar-nos atentos a esses interrogantes que brotam do evangelho, e que nos ajudam a caminhar melhor em direção àquele que vem.   

Pe. João Bosco Vieira Leite  

 

Sábado, 30 de novembro de 2024

(Rm 10,9-18; Sl 18[19ª]; Mt 4,18-22) Santo André, apóstolo.

“Jesus disse a eles: ‘Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens’” Mt 4,19.

“A primeira característica que chama a atenção em André é o seu nome: não é judeu, como seria de esperar, mas grego, indício significativo de que a sua família tinha certa abertura cultural. Encontramo-nos na Galileia, onde a língua e a cultura grega são bastantes presentes. Na lista dos Doze, André ocupa o segundo lugar, como em Mateus (10,1-4) e em Lucas (6,13-16), ou então o quarto lugar, como em Marcos (3,13-18) e nos Atos (1,13-14). Seja como for, sem dúvida gozava de certo prestígio dentro das primeiras comunidades cristãs. O laço de sangue entre Pedro e André, bem como o chamado comum que lhe faz Jesus, são assinalados explicitamente nos Evangelhos. Lemos: ‘Sigam-me e eu farei de vocês pescadores de homens’ (Mt 4,18-19; Mc 1,16-17). No quarto Evangelho recolhe-se outro detalhe importante: num primeiro momento, André era discípulo de João Batista; isto nos mostra tratar-se de um homem que buscava, que compartilhava a esperança de Israel, que queria conhecer mais a respeito da palavra do Senhor, a realidade do Senhor presente. Era um homem de fé e de esperança; e um dia ouviu João Batista proclamar Jesus como o ‘Cordeiro de Deus’ (Jo 1,36); então mobilizou-se e, juntamente com o mencionado discípulo, seguiu Jesus, aquele que era chamado por João de ‘Cordeiro de Deus’. O evangelista menciona: ‘eles foram e viram onde Jesus morava. E começaram a viver com ele naquele mesmo dia’ (Jo 1,37-39). André então gozou de preciosos momentos de intimidade com Jesus. O relato prossegue com uma menção significativa: ‘André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. Ele encontrou primeiro seu próprio irmão Simão, e lhe disse: ‘Nós encontramos o Messias (que quer dizer Cristo)’. Então André apresentou Simão a Jesus’ (Jo 1,40-43), demonstrando um espírito apostólico fora do comum. André foi, portanto o primeiro dos apóstolos chamados a seguir Jesus. Precisamente por esta razão a liturgia da Igreja bizantina o honra com o título de ‘Protóklitos’, que significa justamente ‘o primeiro chamado’. E, por causa da relação fraterna entre Pedro e André, a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla se sentem irmanadas de uma forma especial. Para estreitar esta relação, meu predecessor, o papa Paulo VI, devolveu em 1964 a notável relíquia de Santo André, até então custodiada basílica vaticana, ao bispo metropolitano ortodoxo da cidade de Patras, na Grécia, onde segundo a tradição o apóstolo foi crucificado” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 29 de novembro de 2024

(Ap 20,1-4.11—21,1-2; Sl 83[84]; Lc 21,29-33) 34ª Semana do Tempo Comum.

“Vós também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto” Lc 21,31.

“As comunidades primitivas viviam preocupadas com o dia do fim do mundo. Jesus, porém, não lhe ofereceu um calendário com indicações precisas, mas exortou-as a estarem constantemente preparados para o encontro com o Senhor. O discípulo deve discernir a História, para poder captar, aí, os sinais da vinda do Filho do Homem. Trata-se de um expediente possível. Assim como o agricultor detecta a proximidade do verão, quando as árvores começam a frutificar, também o discípulo perceberá a aproximação do Reino, observando os sinais históricos indicados por Jesus. Por outro lado, o discípulo está absolutamente certo de que a humanidade caminha para o encontro com o Senhor, pois nisso está empenhada sua palavra que jamais passará, ou seja, não ficará sem se cumprir. Encarando o futuro com confiança, o discípulo não tem por que ter medo do presente, nem se acomodar. A exortação de Jesus supunha uma espera ativa, já que não queria encontrar os discípulos na ociosidade. A comunidade cristã, por sua vez, não deveria fechar-se em si mesma, formando um gueto de fanáticos destacados do mundo. A espera cristã dar-se-ia na vivência empenhada da missão e no esforço de preparar toda a humanidade para o encontro com o Senhor. Será conhecido por ele quem luta para transformar o mundo pelo amor, e não quem se fecha egoisticamente em si mesmo” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite