(Jn 3,1-5.10; Sl 24[25]; 1Cor 7,29-31; Mc 1,14-20)
1. Ao tom do ‘chamado’ que hoje se
repete no evangelho, a liturgia nos traz a história de Jonas, uma espécie de
crônica escrita 450 anos antes de Cristo. Por trás dessa pequena obra literária
está a história de Israel e sua mágoa com relação aos povos vizinhos que um dia
lhes espezinharam e dos quais deseja ver o fim.
2. Deus pensa diferente, diz o autor e
na figura de Jonas se representa um Israel resistente a acreditar que um dia
esses povos possam mudar de atitude. Deus insiste e Jonas obedece e vê o
milagre acontecer. Deus enviou o seu Filho e o Filho enviou os seus para recuperar
e que consideramos irrecuperável. São nossas resistências a superar a mágoa e
não permitir a Deus agir com misericórdia.
3. Seria interessante darmos uma lida
neste livro. Certas coisas não mudam nos sentimentos humanos. Esse autor que
nem conhecia o cristianismo, nos convida a refletir sobre a nossa comunhão com
os sentimentos divinos.
4. Quando ouço esse texto de Paulo me
recordo da comédia ‘A Festa de Babete’, sobre uma mulher que faz um banquete
para uma comunidade religiosa, num convite a repensar toda a austeridade levada
por eles. É uma deliciosa e bem humorada contemplação do amor, da fé e da arte.
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5. Mas Paulo não está falando de
austeridade, apenas que aprendamos a dar o justo valor às coisas, pois afinal
de contas, tudo um dia passa, só o amor permanece. Portanto, se tivermos que
fazer alguma renúncia, que seja para o bem do outro, não por desprezo ao
matrimônio ou por falta de equilíbrio na apreciação dos bens materiais.
6. Foi nessa intenção que Jesus convidou
aqueles pescadores a abrirem mão de seu ofício para um bem maior. É assim que
Marcos já coloca em cena Jesus já adulto e ao início do seu ministério. Ele
anuncia um novo reinado, longe de toda a história e dinastia vivida por Israel,
para um reinado exercido pelo próprio Deus. Essa é a boa notícia, ainda que
nunca se tenha concretizado de modo pleno.
7. Essa novidade só pode ser percebida
e vivida a partir de uma atitude de conversão, de uma mudança de parâmetros,
onde a lógica divina passa a direcionar o nosso modo de pensar. Tudo isso pela
fé, que nos move em outra direção, mas como Jonas, temos nossas resistências
que faz que nossa alegria, na fé, fique a meio caminho.
8. Para auxiliá-lo nessa expansão da
boa nova, temos o chamado dessas duas duplas de irmãos. Sem muitos detalhes,
Marcos nos lembra esse Jesus que passa constantemente pelas estradas do mundo.
A Igreja lembra esse ano os milhares de homens e mulheres que em meio aos seus
afazeres também responderam positivamente ao chamado da fé.
9. Mas nenhum chamado se concretiza sem
que haja de nossa parte um ‘deixar’ para abraçar algo maior e mais importante
ou significativo. Aqui estão representadas todas as vocações, religiosas,
ministeriais e leigas. Aqui se fala de uma prontidão em atender o chamado e de
uma alegria que só se descobre ao longo do caminho, com todas as implicações
que seguir a Jesus pode significar ao longo do evangelho.
10. Nossa vocação é um dom a ser
cultivado, enquanto muitos não responderam de maneira positiva, mas como Jonas
e os primeiros discípulos, somos convidados a criar condições favoráveis a
partir de nós mesmos, para que outros se convençam desse amor insistente de
Deus que nos busca sempre e em todas as realidades e nesse amor podemos ser
felizes.
Pe. João Bosco Vieira Leite