Sexta-feira da Paixão do Senhor - 2017

(Is 52,13—53,12; Sl 30[31]; Hb 4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1—19,42).

1. Esta nossa sexta-feira santa é uma celebração pascal, não queremos celebrar um funeral. Essa morte é ‘passagem’, uma paixão que é bem-aventurada. Não se pode esquecer a ressurreição; nossa cor não é de luto ou de penitência, como o roxo quaresmal, mas o vermelho do martírio e da realeza.

2. A morte de Cristo é a morte gloriosa porque traz a vida para todos, é uma paixão salvífica, por isso se lê a narração da Paixão do Evangelho de João para o qual a cruz de Jesus é um trono e Sua morte um triunfo. Na mesma linha estão as outras duas leituras: a do 4ª cântico do servo sofredor de Isaias no qual se unem a máxima humilhação e o triunfo, e a Carta aos Hebreus na qual a morte de Cristo é vista como causa de salvação.

3. Assim, todos os demais elementos de nossa celebração, a oração universal, a veneração da Cruz gloriosa e a eucaristia que recebemos, na memória de Sua morte, vivenciaremos na perspectiva e certeza da ressurreição.

4. O nosso jejum de hoje deveria ser vivido não tanto como um jejum quaresmal, em tom penitencial e ascético, mas como um jejum pascal. Um jejum que se celebra na expectativa do encontro com o esposo que, depois de ter sido tirado, agora é restituído. Um jejum mais místico do que ascético.

5. É dentro desta mística que muitos fizeram a leitura dessa expressão de Jesus na cruz: “Tenho sede”. Como entender esse brado daquele que se intitulou fonte de água viva? Certamente não ficou imune a sede que um condenado ao suplício da crucifixão padece pela perda de sangue. Suportar a fome é menos doloroso do que passar sede.

6. Esses dias têm contemplado o triste espetáculo da seca, das mobilizações para levar um pouco de água para algumas pessoas. É difícil recusar um copo de água a quem nos pede.

7. Pois agora é o próprio Jesus quem está à porta de nosso coração e diz “tenho sede!”. Esse sofrimento não podia faltar à paixão do Senhor Jesus. Uma sede que um copo de água alivia e outra sede que só tu, só eu, podemos aliviar: sede de ser amado por aqueles por quem está dando a vida.

8. Hoje podemos nos perguntar sobre o como podemos saciar essa sede que Deus tem de nós, na vida de oração, na busca de um conhecimento melhor de Sua pessoa, de Sua palavra, no testemunho concreto que não damos, na paciência, tolerância e caridade que não praticamos. Senhor, você tem sede de quê? 


Pe. João Bosco Vieira Leite