Domingo de Páscoa – 2017

(At 10,34a.37-43; Sl 117[118]; Cl 3,1-4; Jo 20,1-9)

1. Nesse domingo em que celebramos a ressurreição de Jesus a liturgia da palavra inicia com uma recordação da atividade púbica de Jesus, mesmo tendo ao centro a sua ressurreição. Ele quer nos ajudar a perceber a dinâmica que levou a essa conclusão. ‘Passou fazendo o bem’, o bem foi pago com o mal; ele continuou sua missão sem opor violência à violência.

2. ‘Mas Deus o ressuscitou’, lembra-nos Pedro. O ‘mas’ de Deus está presente em toda a Bíblia, do 1º ao último livro, e está presente ainda hoje mostrando como Deus inverte as situações injustas. Quantos hoje se encontram nalguma ‘sexta-feira santa’ e são encorajados a esperar no Senhor e a confiar-se nas suas mãos, Senhor e juiz da história?

3. Paulo fala da sua nova condição pós ressurreição: Cristo está no céu, mas também aqui, caminha conosco, como um desconhecido, pela experiência de Emaús. As coisas que nos ensinou e mostrou para uma vida de comunhão com Deus é o que devemos buscar sempre. Nossa vida é um processo em ascensão, na tomada de consciência da perenidade das coisas. Que o pensar de Cristo seja também o nosso.

4. Aquele que nos mostrou o que pode ser a nossa vida futura não nos aliena da nossa realidade, deseja que lutemos por uma vida mais humana. Somos cidadãos da cidade terrena e celeste, cumprindo os deveres terrenos, deixemo-nos guiar pelo Espírito do Evangelho. Como canta o Pe. Zezinho: ‘Sou cidadão do infinito, e levo a paz do meu caminho’.

5. Se ontem Madalena aparecia acompanhada de outra Maria, João a apresenta sozinha nessa aventura de buscar o Senhor, que julga estar morto, por isso a menção ao escuro. Mas a intenção de João é destacar o afeto que ela tem pelo Mestre, tanto que lhe dará mais presença nos versículos que se seguem ao texto proclamado.

6. O texto dá a entender que ela entrou no sepulcro antes de anunciar a ausência do corpo a Pedro e João. O texto parece respeitar a hierarquia de Pedro, mas é sobre o discípulo amado que recai toda a atenção. No modo como se vive a fé e a experiência da ressurreição podemos encontrar maneiras diversas dentro da comunidade cristã, como veremos esses dias. Para além das Escrituras está o amor que nos move à fé.

7. A experiência da ressurreição pode ter dois movimentos: um ascendente, onde partimos de uma situação negativa até acreditar na ressurreição. O outro e descendente: de quem, mesmo acreditando na ressurreição, vê o túmulo esvaziar-se. Os dois percursos integram-se.

8. Para nós o mais comum é o descendente, que parte de um testemunho que recebemos, mas que só vamos entender, quando pela fé, encontramos forças para vencer, pela paciência e pelo amor, as dificuldades que encontramos cada dia.

9. A páscoa, se bem vivida e compreendida, nos fornece uma visão de fé que transfigura até as experiências dolorosas em lugares onde o amor de Deus se revela. Foi nesse sentido que vivenciamos o tríduo pascal. 
(Reflexão com base no livro “Lecionário Comentado” de Giuseppe Casarin – Paulus)


Pe. João Bosco Vieira Leite