(At
2,42-47; 1Pd 1,3-9; Jo 20,19-31)
1. Como no ciclo quaresmal, os dois primeiros
domingos da Páscoa se repetem a cada ano na mesma temática: a manhã da
ressurreição e o encontro com Tomé. Atualmente batizado de domingo da
Misericórdia, esse domingo traz também um dos resultados da ressurreição de
Jesus: a organização da comunidade de fé para a vida e o testemunho.
2. É disso que nos fala a 1ª leitura. Em nossa
liturgia de hoje, a comunidade de fé tem uma importância particular. A
convivência e a formação comunicam a experiência pascal em todos os seus
aspectos. O ponto principal é a escuta da Palavra, que alimenta a fé. A
organização na partilha para a auto sustentação e ajuda aos pobres caracterizam
a nova relação com as coisas e com o dinheiro.
3. Estamos longe desse modelo ideal e quase
impossível de se aplicar, mas sempre somos lembrados do que é supérfluo em
nossa vida quando descobrimos a real necessidade do outro. A Eucaristia, a
oração, tornam-se o centro que alimenta a vida da comunidade; sem ela é
impossível a sobrevivência da mesma, sem desconsiderar o valor da oração
pessoal.
4. Aqui estava o testemunho que atraia outros a
viver a experiência. A fé em Cristo foi dando um novo sentido à vida daqueles
que se uniam para viver a experiência cristã.
5. A nova vida em Cristo tem seu início a partir do
batismo; os adultos de então que eram incorporados a comunidade cristã,
passavam por uma séria formação. É disso que trata a 2ª leitura. Nós
acompanharemos essa grande pregação, atribuída a Pedro que, carregado de
emoção, fala desse novo nascimento, por misericórdia de Deus.
6. Não desconsidera as dificuldades do caminho que
muitas vezes coloca em cheque a fé. Mas nada substitui a alegria e a certeza de
sermos filhos de Deus. Pedro salienta a fé em Cristo, mesmo não tendo a
experiência dos apóstolos. Essa realidade fará com que Jesus faça de Tomé uma
advertência para as futuras gerações cristãs.
7. O mesmo Jesus que aparecera na tarde da
ressurreição aos discípulos, retorna oito dias depois, para um encontro quase
que pessoal com Tomé, que duvidou da experiência da comunidade. A intenção do
autor sagrado também é lembrar o encontro dominical que caracteriza a
comunidade cristã e torna possível o encontro com seu Senhor de um modo
particular. Não é só visão que sustenta a nossa fé.
8. Na realidade, o pobre Tomé serve de referência à
dificuldade de muitos discípulos de acreditar na ressurreição de Jesus sem
terem feito a experiência dos apóstolos. No entanto, o nosso autor quer deixar
claro que o mistério da ressurreição foge aos nossos sentidos. O jeito novo de
ser e de estar entre nós de Jesus, não pode ser tocado com as mãos ou vista com
os olhos. Somente pode ser percebido ou vivido pela fé.
9. Se o essencial é invisível aos olhos, a bem
aventurança de Jesus se aplica a uma fé mais genuína, pois não é feita tanto de
fatos, mas de certezas que carregamos conosco. O testemunho de João vem do
texto que nos deixou e que a cada proclamação traz de volta a presença do
ressuscitado, para que reafirmemos, diante de tantas as coisas e pessoas que se
impõem nesse mundo a nós, só Ele é Senhor e Deus.
Pe. João Bosco Vieira Leite