(At 2,14a.22-33; Sl 15[16]; 1Pd 1,17-21; Lc 24,13-35)
1. Retomamos o discurso de Pedro
iniciado no Domingo de Páscoa. A fala de Pedro coincide em parte, com o
discurso de Cléofas que no evangelho explica o que aconteceu a Jesus. É
provável que Lucas transcreva nos seus dois livros uma espécie de resumo aprendido
por aqueles que se preparavam para receber o batismo. O que parecia uma
derrota, esconde o agir de Deus e sua vitória sobre a morte.
2. E já que estamos falando sobre
batizados, Pedro segue com sua catequese lembrando que tomar a Deus como Pai é
uma experiência extraordinária, mas que traz consigo a responsabilidade de
viver a partir dessa consciência. O objetivo do Apóstolo é motivá-los a uma
vida de santidade, em meios aos desafios que essa comporta, para fazer valer o
sacrifício de Cristo.
3. Tratamos brevemente as duas leituras
anteriores para debruçar-nos um pouco melhor sobre o evangelho que retoma a
tarde do dia da ressurreição. Dois discípulos de Jesus que tinham ido passar a
páscoa em Jerusalém retornam decepcionados com o que lá aconteceu, mesmo tendo
ouvido dizer que o sepulcro foi encontrado vazio. Eles precisam retornar a suas
vidas.
4. Eles partilham com um desconhecido a
inquietação que carregam consigo. Ao partilharem com esse desconhecido também a
mesa, eles reconhecem o caminhante e retornam a Jerusalém. Essa bela página do
evangelho trouxe algumas dificuldades aos estudiosos, até se darem conta que
estavam diante de um texto bem construído por Lucas e com uma finalidade
específica.
5. Como fazer a experiência do
ressuscitado, nós que não estivemos no acontecer dos fatos? Devemos nos
contentar apenas com o que nos contaram? Assim pensa a comunidade para a qual
Lucas escreve. O Autor parece deixar um espaço de inserção do leitor quando não
dá nome ao segundo discípulo. A própria perseguição que sofrem os cristãos
deixa margem para dúvidas e frustrações.
6. Por vezes nós também nos encontramos
assim diante do caminho que fazemos. Há muitas situações desfavoráveis ao nosso
redor em relação a presença divina que procuramos. A incerteza diante das lutas
e da própria morte, vai esvaziando o conteúdo da fé. Lucas deixa claro que eles
se encontram assim por terem deixado a comunidade, caminham sozinhos, e nem se
deram ao trabalho de verificar o que haviam dito sobre Sua ressurreição.
7. Lucas lança luzes sobre a Palavra de
Deus e o modo como a interpretam. Se bem acolhida e lida, vai lançando luzes em
nosso caminhar, faz arder o coração. Mas é no encontro eucarístico que nossos
olhos cansados são estimulados a reabrirem. Lucas traduz, nessa história, o
itinerário que fazemos para chegar até aqui.
8. Chegamos com todo cansaço e
incertezas do caminho. Somos introduzidos por um outro nesse ambiente de
silêncio e escuta e só assim a Eucaristia retoma seu lugar de presença
invisível. Depois retomaremos nosso caminho de volta, com a certeza de não
caminhamos sozinho. O próprio fato de nos encontrarmos para a celebração já nos
dá um pouco de ânimo para seguirmos em frente.
9. Lucas conserva o fato da nova
condição de ressuscitado de Jesus não ser algo de identificação imediata,
conforme as experiências dos discípulos e das mulheres. Em síntese: a Palavra
pode iluminar os nossos passos na compreensão não só do mistério de Jesus, mas
também da vida. Jesus quer ser o alimento do caminho. O encontro para celebrar
a fé pode ser o diferencial, quando nos encontramos em dúvidas ou desanimados.
Pe. João Bosco Vieira Leite