(Sb 11,22—12,2; Sl 144[145]; 2Ts 1,11—2,2; Lc 19,1-10)
1. De modo quase poético se introduz a
nossa liturgia da Palavra com esse texto do livro da Sabedoria. Um olhar sobre
a criação e sobre o amor e o querer de Deus em tudo que fez. Um olhar que não
coincide com o nosso, que respeita a liberdade humana e nos faz conviver com
pessoas e situações que julgamos: o mundo seria melhor sem elas.
2. É próprio do coração de Deus amar
tudo e a todos. Ainda que às vezes tenha que corrigir o ser humano, o faz por
desejo de que acerte o caminho. Assim o texto nos prepara para a
incompreensível atitude de Jesus, de entrar na casa de Zaqueu, o cobrador de
impostos e dar atenção e esse homem “baixo”, em todos os sentidos.
3. Antes de chegarmos ao evangelho
propriamente dito, a liturgia nos introduz na 2ª carta de Paulo aos
Tessalonicenses. Sempre, ao final de cada ano litúrgico, alguns
textos nos conduzem a uma reflexão sobre os fins dos tempos, que para os
cristãos coincide com a volta de Cristo.
4. A preocupação de Paulo é com algumas
cartas que circulam na comunidade como se fosse dele. É um chamado do apóstolo
a prestarem atenção e se manterem atentos ao que ele ensinou, evitando certos
fanatismos. Não olhem tanto o fim, mas o presente, onde a nossa relação com
Deus se define a partir de nosso compromisso pessoal com Deus e com as causas
do Reino.
5. Como dizíamos ao início, o olhar de
Deus não coincide com o nosso. Assim, Jesus foi capaz de avistar esse homem que
sobe numa árvore para vê-lo. Mal visto pela comunidade local por ser chefe dos
cobradores de impostos, recebe de Jesus a atenção inesperada, como o pastor
busca a ovelha perdida.
6. Apesar do exterior de muitas pessoas
que vemos e convivemos, há no coração um desejo de salvação ou de ‘se
encontrar’ que desconhecemos, apesar do estilo de vida que levam. Jesus busca
apenas amá-lo e acolhê-lo a partir de sua realidade. Uma vez sentindo-se
acolhido e amado, ele toma decisões em sua vida que muda todo o seu estilo de
vida.
7. Nada foi pedido ou exigido por
Jesus, apenas lançou sobre ele o seu olhar de misericórdia para que se
convencesse, que apesar da vida que levava, era também um filho de Deus. Quem
sabe, com essa narrativa, Lucas queira nos convidar a ‘desarmar’ o nosso olhar
sempre voltado para os defeitos, sem perceber o bem que ali pode habitar, não
tão evidente aos nossos olhos.
Pe. João Bosco Vieira Leite