31º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Sb 11,22—12,2; Sl 144[145]; 2Ts 1,11—2,2; Lc 19,1-10)

1. De modo quase poético se introduz a nossa liturgia da Palavra com esse texto do livro da Sabedoria. Um olhar sobre a criação e sobre o amor e o querer de Deus em tudo que fez. Um olhar que não coincide com o nosso, que respeita a liberdade humana e nos faz conviver com pessoas e situações que julgamos: o mundo seria melhor sem elas.

2. É próprio do coração de Deus amar tudo e a todos. Ainda que às vezes tenha que corrigir o ser humano, o faz por desejo de que acerte o caminho. Assim o texto nos prepara para a incompreensível atitude de Jesus, de entrar na casa de Zaqueu, o cobrador de impostos e dar atenção e esse homem “baixo”, em todos os sentidos. 

3. Antes de chegarmos ao evangelho propriamente dito, a liturgia nos introduz na 2ª carta de Paulo aos Tessalonicenses.   Sempre, ao final de cada ano litúrgico, alguns textos nos conduzem a uma reflexão sobre os fins dos tempos, que para os cristãos coincide com a volta de Cristo.

4. A preocupação de Paulo é com algumas cartas que circulam na comunidade como se fosse dele. É um chamado do apóstolo a prestarem atenção e se manterem atentos ao que ele ensinou, evitando certos fanatismos. Não olhem tanto o fim, mas o presente, onde a nossa relação com Deus se define a partir de nosso compromisso pessoal com Deus e com as causas do Reino.

5. Como dizíamos ao início, o olhar de Deus não coincide com o nosso. Assim, Jesus foi capaz de avistar esse homem que sobe numa árvore para vê-lo. Mal visto pela comunidade local por ser chefe dos cobradores de impostos, recebe de Jesus a atenção inesperada, como o pastor busca a ovelha perdida.

6. Apesar do exterior de muitas pessoas que vemos e convivemos, há no coração um desejo de salvação ou de ‘se encontrar’ que desconhecemos, apesar do estilo de vida que levam. Jesus busca apenas amá-lo e acolhê-lo a partir de sua realidade. Uma vez sentindo-se acolhido e amado, ele toma decisões em sua vida que muda todo o seu estilo de vida.

7. Nada foi pedido ou exigido por Jesus, apenas lançou sobre ele o seu olhar de misericórdia para que se convencesse, que apesar da vida que levava, era também um filho de Deus. Quem sabe, com essa narrativa, Lucas queira nos convidar a ‘desarmar’ o nosso olhar sempre voltado para os defeitos, sem perceber o bem que ali pode habitar, não tão evidente aos nossos olhos.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite