(Eclo
35,15b-17.20-22a; 2Tm 4,6-8.16-18; Lc 18,9-14)
1. “Deus é justo”, é uma expressão do mundo bíblico que não se
aplica ao senso de justiça que reina em nosso mundo, cheio de contradições e
interesses. O nosso texto da primeira leitura omite os versículos anteriores em
que o autor sagrado deixa claro que Deus não se deixa comprar ou corromper com
presentes e sacrifícios...
2. Agrade-nos ou não, a justiça de Deus se volta para o pobre, o
pequenino, o humilde. Certas posições elevadas a que os homens se atribuem lhe
diz muito pouco. O coração de Deus se deixa levar pelas necessidades humanas,
que lhe chegam em preces e lamentos. A liturgia da Palavra quer nos levar ao
coração de Deus e nos convida a imitá-lo em sua atenção aos sofrimentos
humanos.
3. Encerramos a leitura da carta de Paulo a Timóteo com esse seu
texto de despedida. Depois de ter exortado Timóteo a manter-se firme, ele
testemunha o que foi a sua vida de evangelizador. Compara-a a vida de um atleta
que vislumbra o fim da corrida e receberá a coroa da vitória. Reconhece que não
foi fácil, mas o Senhor esteve com ele nesse trajeto. Seu testemunho de vida é
tão forte quanto suas palavras.
4. A 1ª Leitura nos situou no campo da justiça divina. Com estes
óculos podemos ler a parábola que Lucas nos apresenta. O fariseu da parábola
não é um sujeito ruim. Ao contrário, cumpre bem todos os deveres que a religião
lhe pede. Mas se apresenta cheio de si, como se Deus devesse reconhecer seus
méritos.
5. O publicano não é flor que se cheire, diante das nuances
obscuras e injustas de sua profissão, por isso sabe não ter nada de bom para
apresentar a Deus a não ser a consciência de seus pecados. Entre um que se
apresenta cheio de si e o outro que se esvazia de si, realmente, só um poderia
sair justificado, pois colocou-se em atitude de abertura e pobreza.
6. O texto nos lembrar que diante de Deus deveríamos sempre nos
apresentar numa atitude humilde e despojada, sem contar vantagens. A prática da
fé, a prática do bem deve ser algo que dá sentido à nossa vida e não uma
tentativa de angariar méritos diante de Deus.
7. Nossa sociedade é marcada pelos grupos sociais, que se
distinguem por várias razões. Na religião corremos o risco de nos distinguirmos
entre justos e pecadores. Não corramos o risco de acharmos que somos melhores
que os outros, podemos ser humilhados pela inevitável escolha de Deus pelos
pobres e pecadores. Diante d’Ele somos todos necessitados do seu amor, da sua
acolhida misericordiosa. É preciso esvaziar-se para permitir que Deus nos
preencha com o que Ele julgar necessário.
Pe. João Bosco Vieira Leite