(Ex 17,8-13;
Sl 120[121]; 2Tm 3,14-4,2; Lc 18,1-8)
1. O tema da oração é retomado em nossa liturgia sob a perspectiva
da perseverança, da necessidade de rezar sempre. Ilustra esse tema essa
narrativa do combate de Israel aos amalecitas, um dos povos que ele teve que
enfrentar ao longo da travessia pelo deserto e pela conquista da terra
prometida.
2. O foco da narrativa é essa intercessão de Moisés que permanece
com os braços erguidos em oração; mas a batalha persiste e seu cansaço se faz
sentir. Em situações parecidas da vida, experimentamos o cansaço, mas a oração
de Moisés era importante, tanto quanto a nossa.
3. São muitas as situações em nós e ao nosso redor que precisa
desse combate contínuo pela oração. Não deixar cair os braços. Muitas coisas na
vida precisam de nossa oração. Nossa oração e nossa vida, ou ao menos em que
direção rezar brotam também de nossa comunhão com a Palavra de Deus. Por isso
Paulo insiste com Timóteo sobre as coisas que ele recebeu como ensinamento e
base da fé.
4. Uma palavra que não só inspira a oração, mas também a vida. Daí
essa preocupação com a pregação e o estudo da Palavra. Um recado não só para
ele, mas para todos.
5. Na minha última participação no programa da Rádio Cultura, uma
mãe perguntava por que Deus não curava o câncer de seu filho. Uma pergunta
desconcertante e ao mesmo tempo próxima de nossa experiência de fé. Apesar de
nossa perseverança, parece que nem sempre Deus atende aos nossos pedidos. Seria
Ele como esse juiz da narrativa de Jesus?
6. Não, diz Jesus a nós. Israel, tanto quanto nós rezamos em nosso
tempo, pedimos a vinda do Reino de Deus, que parece nunca se concretizar. Essa
realidade está por trás da parábola narrada. Ao nos ensinar a rezar, Jesus
tinha plena consciência que o agir e o tempo de Deus estava distante da
compreensão humana. Ele pede que rezemos, mas que saibamos esperar.
7. Se a pressa é inimiga da perfeição, ela também o é da nossa
oração. Já ouvimos sobre essa paciência necessária com a narrativa do joio e do
trigo: é preciso esperar o tempo certo de separá-los. Como há um tempo para
tudo nessa vida, a perseverança na oração deverá nos levar a uma abertura de
coração sincera para Deus. E cada um tem seu tempo e sua hora.
8. Se é verdade a expressão de que ‘quando Deus não muda a
tempestade, muda o coração de quem conduz a barca’, rezar nos coloca numa
atitude de comunhão com Ele e nos ajuda a acolher a sua vontade. A questão
final do evangelho é a mesma que perpassa a nossa liturgia: será que no andar
da carruagem não nos cansaremos e desistiremos de Deus? O senhor pede não só
perseverança, mas vigilância sobre nós mesmos.
Pe. João Bosco Vieira Leite