Imaculada Conceição de Maria
(Gn 3,9-15.20; Sl 97[96]; Ef 1,3-6.11-12; Lc
1,26-38)
1. Esse ano a festa da Imaculada se dá
sob o chamado do Papa Francisco a vivenciarmos esse Ano Santo extraordinário da
misericórdia.
* Dois motivos se escondem por trás
desta data: primeiramente o encerramento do Concílio Vaticano II em 1965; um
abrir-se da Igreja para as novas realidades do mundo moderno; manter o diálogo
e renovar as estruturas evangelizadoras e ao mesmo tempo motivar a continuidade
desse processo iniciado com o Concílio.
2. Mas a celebração da Imaculada
Conceição de Maria é, para nós cristãos, o início da realização das promessas
divinas, onde a misericórdia de Deus se manifestou após o pecado humano.
* O autor do Gn quis deixar para nós,
através de uma narrativa simbólica, como Deus, desde sempre vem em busca do
homem, manifestando o seu amor incansável.
3. O autor sagrado quis lançar luzes
sobre várias questões da existência humana, das relações e da sobrevivência. É
um texto que vale a pena debruçar-se como reflexão e estudo.
* O trecho que nos é oferecido vem
depois do pecado de Adão e Eva, da não aceitação dos seus próprios limites.
Eles queriam ser como Deus.
4. A serpente personaliza a insensatez
humana, as astúcias que o homem emprega para alcançar a felicidade. Em síntese,
diz ele, erramos cada vez que rejeitamos a luz divina para seguir nossos
caprichos.
* Enquanto não nos desfizermos dessa
imagem do Deus legislador para entendê-lo como Deus amor, não compreenderemos
seus mandamentos. Só se pode confiar em Deus se estivermos convencidos do
seu amor.
5. Caso contrário, tornamo-nos vítima
da serpente: confiamos em nossas próprias intuições, nos nossos vãos
pensamentos. A nudez é apenas símbolo de nossa condição criatural e natural que
devemos aceitar.
* Desses processes humanos da fome, da
dor, do cansaço, da ignorância sobre tantas coisas. Se não aceitamos,
buscamos esconder o que nos parece uma derrota.
6. A pergunta de Deus “onde estás?” é
sempre atual. Pode ser que nesse momento eu não esteja onde deveria estar.
Talvez fechado em meu mundinho, Deus e os outros me são indiferentes ou uma
ameaça.
* A proposta de Deus, diz o autor
sagrado, é colocar-nos em luta contra tudo aquilo que nos afasta da proposta
divina, a vitória será de Deus, ao final; o texto nos lança ao coração do
evangelho.
7. Essa vitória de Deus é cantada por
Paulo já na 2ª leitura. Ele fala da nossa vocação a sermos santos e
irrepreensíveis; algumas traduções trazem: imaculados.
* É sob esse título que invocamos o
nome de Maria nesse dia. No projeto divino ela foi a escolhida para ser um
sinal do triunfo de Deus sobre o mal.
8. Na totalidade de sua existência,
suas escolhas sempre estiveram em sintonia com as de Deus. É justa a alegria de
Paulo, pelos inúmeros benefícios já concedidos e por aqueles que ainda
concederá.
* Sim, é verdade que às vezes a vitória
em nossa vida é da serpente, são muitos os dramas e sofrimentos nessa vida, mas
suas mãos criadoras ainda tecem os fios da história e nos conduzirá a vitória
final.
9. Esse ano da Misericórdia tem Lucas
como o grande ilustrador do rosto misericordioso do Pai em Jesus Cristo. Ele se
inspira nas antigas narrativas de nascimentos extraordinários para nos dizer
como Jesus entrou em nossa história.
* É Deus que mais uma vez intervém para
mudar o curso, mas diferentemente das outras vezes, é seu Filho mesmo que Ele
vai nos enviar.
10. Ele gosta de surpreender, e nunca
se repete. Longe dos palácios reais, dos grandes heróis de Israel, ele escolhe
uma virgem de um pobre e insignificante vilarejo.
* pobreza e virgindade, aqui,
significam abertura, capacidade de acolhimento. Lucas terá uma predileção pelo
pobre material, mas contempla também aquele que nada tem ou se esvazia para
deixar-se inundar pela graça.
11. O diálogo entre Maria está repleto
de referências ao Antigo Testamento, e não vou aqui entrar em detalhes. A intenção de Lucas é
deixar claro que no filho de Maria, todas as profecias se realizam.
* Tudo converge para a santidade do
Filho que trará em seu ventre, mas como ser inundada de santidade e não
tornar-se também santa?
12. O hino de Paulo ganha aqui sua
primeira fonte inspiradora. Antes mesmo de ter todas as respostas, ela resolveu
confiar naquilo que Deus é capaz de fazer: “Porque para Deus nada é
impossível...”.
* Maria é esse sinal de vitória que
hoje celebramos. Mesmo em nossa pobreza, medo, pecados, incertezas, ele
continua sendo o Deus do impossível, o Deus que nos procura: “Onde estás?”.
Pe. João Bosco Vieira Leite