(Is 7,10-14; Sl 23[24]; Rm 1,1-7; Mt 1,18-24)*
1. Há algo em comum entre as três leituras deste domingo. Em cada uma delas se fala de um nascimento/origem. Está na profecia de Isaías: “... uma virgem conceberá”; Paulo anuncia Jesus como “descendente de Davi segundo a carne”; por fim, Mateus nos fala como foi a origem de Jesus Cristo.
2. O nascimento de uma criança se reveste de grande importância na Bíblia. Em todas as suas grandes histórias há uma criança nascendo, trazendo consigo uma missão: Isaque, Moisés, João Batista, o próprio Jesus. Feita essa breve introdução coloquemo-nos diante do Evangelho com os problemas e instâncias do nosso tempo.
3. Comecemos com a pergunta: por que nascem cada vez menos crianças nos países ocidentais? O Natal era uma festa por excelência, das crianças. Hoje, cada vez mais dos adultos. É só observar as vitrines. Elas estão voltadas para os adultos. Antes o objetivo era fazer feliz uma criança, hoje queremos fazer felizes a nós mesmos.
4. O número de asilos ou casa de repouso vem aumentando. Sei que estou tocando num assunto delicado e para muitos representa um drama particular. O faço “pisando em ovos”, e com todo respeito de que sou capaz, consciente de que nesse campo entram muitos fatores e não se pode dar um juízo único que seja válido para todos os casos.
5. Podemos honestamente dizer que a dificuldade econômica e socias são maiores que em outros tempos? Se vivemos um momento de “crise”, em qual momento do passado, antigo e recente, não houve alguma crise? O motivo é mais profundo.
6. O problema verdadeiro é a aridez espiritual, a perda do impulso vital, da alegria, da capacidade de projetar-se no futuro. É a perda de uma certa inocência e ingenuidade, e, portanto, da capacidade de admiração, do maravilhar-se diante da vida e das coisas. A perda da poesia.
7. Somos como uma árvore que vai perdendo suas raízes mais profundas e se alimenta agora só de raízes superficiais. Talvez o motivo de tudo isso esteja relacionado a falta de esperança. Se casar-se é sempre um ato de fé, colocar um filho no mundo é sempre um ato de esperança. Nada se faz no mundo sem esperança. Precisamos de esperança como de oxigênio para respirar.
8. Quando uma pessoa se levanta pela manhã e não tem nada que esperar, nada de nada, é bom estar atento: há um grande perigo há vista... é assim que amadurecem os propósitos de suicídio. Os jovens precisam de esperança. Os filhos voltam espontaneamente, ou ficam, em casa, se nessa se respira ares de esperança. Se não, eles fogem, evadem. E esse evadir-se aqui tem muitos significados que passam pelas drogas e outros subterfúgios para simplesmente não “pensar” ...
9. Quando em uma situação humana renasce a esperança, tudo parece diverso, ainda que nada de fato tenha mudado. A esperança é uma força primordial. Faz literalmente milagre. Assim os cristãos são chamados de peregrinos de esperança, por causa da força do Evangelho. Ele nos oferece a esperança com letra maiúscula, a Esperança como virtude teologal.
10. Sabemos que as esperanças terrenas, as tantas conquistas que nós realizamos, muitas vezes geram desilusão, se não há algo mais profundo que nos sustenta e nos levanta. A esperança teologal é uma capacidade nova, doada a quem crê. Ela vem inserir-se naquela capacidade natural de projetar-se ao futuro, que é a simples esperança humana, dando a essa um novo motivo e um novo conteúdo.
11. O Natal pode trazer consigo o renascimento da esperança. Ele traz consigo uma promessa, aponta um caminho para sairmos do escuro e do pântano espiritual em que nos encontramos. E o caminho é redescobrir quem é aquela Criança mencionada pelo profeta e que coisa nos veio trazer.
12. Um natal sem Jesus Menino é como uma moldura sem um quadro dentro, como uma Missa sem consagração, como uma festa sem o festejado. É Ele que nos disse: “quem acolhe uma criança em meu nome é a mim que acolhe”. Que os casais se abram à vida; que sejamos atentos às crianças que vivem em situação de pobreza, pelas quais é sempre possível fazer alguma coisa. Devolver ao Natal a alegria das crianças e daquela Criança.
* Com base em texto de Raniero Cantalamessa.
Pe. João Bosco Vieira Leite