5º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Is 6,1-8; Sl 137[138]; 1 Cor 15,1-11; Lc 5,1-11)

1. O Evangelho desse domingo é conhecido como o Evangelho da pesca milagrosa. Diante de uma multidão crescente, Jesus é obrigado a servir-se de uma barca de recém chegados pescadores para continuar a sua pregação; certamente notou que não havia peixes e lança um desafio a esses homens.

2. Há uma resistência e uma obediência que culmina numa grande pesca e expressão de Jesus: “Não tenhas medo! De hoje em diante, tu serás pescador de homens”. Aqui Jesus se serve de duas imagens para ilustrar a missão dos seus colaboradores: a do pescador e do pastor.

3. Para tempos sensíveis como o nosso, nessa imagem, sabemos que o peixe e a ovelha estão mais para a serventia do pescador e do pastor. Nada muito agradável. No significado evangélico, se dá o contrário: é o pescador que serve ao peixe; é o pastor que se sacrifica pela ovelha, ao ponto de dar a vida por ela. 

4. Ser ‘pescado’ aqui não é desgraça ou humilhação, mas salvação. Como alguém que está boiando em águas profundas e perigosas e é resgatado por uma boia. Mas aí poderia vir uma questão: considerando que precisemos de pastores e de pescadores, por que alguns são pescadores e pastores e outros tão somente peixe ou ovelhas? Tudo isso parece descrever uma relação de desigualdade, de superioridade.

5. É importante desfazer certo equívoco. Na Igreja ninguém é só pescador, ou só pastor e ninguém é só peixe ou ovelha. Todos somos, em momentos diferentes, um ou outro. Cristo é o único a ser somente pescador e somente pastor.

6. Antes de tornar-se pescador de homens, Pedro foi pescado e repescado muitas vezes. Ele mesmo experimenta o que significa ser uma ‘ovelha perdida’, para aprender o que significa ser um bom pastor. Ser repescado do abismo em que se meteu, para entender o que significa ser pescador de homens.

7. O próprio Santo Agostinho sabia o que isso significava ao afirmar: “Para vocês sou bispo, mas com vocês sou cristão”. O próprio Jesus deixa claro aos seus discípulos que quem quiser ser o primeiro, seja o servidor de todos.

8. Sabemos que a indicação de Jesus nem sempre foi seguida à risca. Desde a reprovação que faziam os profetas no Antigo Testamento aos maus pastores, também nossa Igreja reconhece falhas nesse campo. Jesus queria o clero para sua Igreja, não clericalismo.

9. Mas o abuso de autoridade não deve levar-nos a esquecer o heroísmo de tantos ‘pescadores de homens’ que deram a sua vida e continuam a oferecê-la no exercício de sua missão. Esse ano celebramos os cem anos do nascimento de Dom Luciano e fazemos memória de seu pastoreio.

10. E entre os sucessores de Pedro, como não recordar João Paulo II, que soube lançar suas redes para águas mais profundas, percorrendo o mundo para anunciar o Evangelho?

11. Todos nós batizados, ainda que de maneira diversa, somos pescados e pescadores ao mesmo tempo. Há muitos ambientes em que a Igreja, enquanto instituição, não chega ou se faz presente. Os leigos têm um papel fundamental também no anúncio do Evangelho seja na família, no ambiente de trabalho ou na própria sociedade.

12. Cada conversão autêntica é a história de uma passagem de pescado a pescador. Uma vez despertados para vivência da fé, podemos ajudar outros a chegar onde chegamos. Se julgamos seguro o que encontramos. Amém.

Pe. João Bosco Vieira Leite