Transfiguração do Senhor – Ano A

(Dn 7,9-10; Sl 96[97]; 2Pd 1,16-19; Mt 17,1-9)       

1. No Ocidente, a festa da Transfiguração foi introduzida em 1457 pelo Papa Calisto III, como agradecimento pela vitória sobre os turcos no ano anterior. Entre nós, essa narrativa sempre aparece no II domingo da Quaresma na compreensão comum de que Jesus prepara o coração dos seus discípulos para o mistério da Cruz, mas que essa não é um fim em si mesma.

2. Os Orientais a celebram não só na perspectiva pascal, mas na revelação da beleza do Reino que se espera, e também sobre sua segunda vinda gloriosa... ao mesmo tempo que revela aquilo que seremos e nossa configuração a Cristo. Mais que o aspecto pedagógico, prevalece o mistagógico.

3. A transfiguração é um nó que reúne em si todos os mistérios, o Antigo e o Novo Testamento ganham fortes referências nesse quadro: Deus Pai, o Sinai, a Lei, os Profetas, o mistério da Ressurreição, a segunda vinda e o esplendor final dos justos. Cristo aqui aparece como o centro dos tempos e também dos mundos: o humano e o divino. 

4. Então, não se trata somente da transfiguração de Cristo, mas da nossa própria transfiguração e com ela toda a criação, como comentávamos as palavras de Paulo em sua Carta aos Romanos. Mais que um texto a ser dissecado, a festa de hoje nos convida a uma atitude de contemplação do mistério.

5. Contemplando, vamos nos transfigurando na imagem que contemplamos. Permitindo que se imprima em nós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus. Uma contemplação que transforma. O objetivo de Jesus é conduzir os seus discípulos e a nós, para além do que simplesmente vemos.

6. O objetivo de tal contemplação é reviver dentro de nós os sentimentos e o estado de ânimo de Jesus, dos apóstolos e do próprio Deus quando pronuncia: ‘Este é o meu Filho amado’.

7. A narrativa evangélica da Transfiguração constitui já, ao seu modo, uma contemplação do mistério, isto é, uma tentativa de recolher o sentindo profundo deste evento na vida de Cristo e também dos discípulos.

8. Certas experiências na vida dos santos e dos crentes tornam-se um momento de revelação, de contato profundo e determinante com o divino, cuja compreensão vem pouco a pouco pelos frutos gerados ou mesmo ao longo de uma existência.

9. O nosso Tabor, nossa experiência de Transfiguração se encontra nas palavras do Evangelho. Cada vez que subimos em direção a esse monte, o próprio Jesus se transfigura a nós se nos deixamos conduzir por seu Espírito, pois não basta a inteligência humana ou a leitura científica.

10. Ele se transfigura também diante de nós em cada celebração Eucarística sob o véu dessa partícula branca de farinha de trigo e água, se o soubermos reconhecer. É o mesmo que um dia apareceu sobre o monte em toda a sua glória.

Pe. João Bosco Vieira Leite