(Nm 13,1-2.25—14,1.26-30.34-35; Sl 105[106]; Mt 15,21-28) 18ª Semana do Tempo Comum.
“Eis que uma mulher cananeia, vindo daquela região,
pôs-se a gritar: ‘Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim: minha filha está
cruelmente atormentada por um demônio! Mas Jesus não lhe respondeu coisa
alguma” Mt 15,22-23a.
“Existe uma negativa aparente de Jesus a socorrer a
mulher cananeia; com efeito Jesus aduz que foi enviado para os filhos de
Israel; porém, para mostrar que foi enviado para salvar todos os homens de
todos os tempos e de todos os povos, concede à cananeia o que ela lhe pede.
Estava nos planos de Deus que a evangelização dos filhos de Israel fosse feita
pessoalmente pelo próprio Jesus Cristo; para isso tinha sido enviado; depois os
apóstolos levariam a evangelização até os últimos confins da terra. Jesus não
podia abandonar o plano de Deus. Por outro lado, o messianismo universal já
tinha sido anunciado por todos os profetas. Contudo, a resposta de Jesus,
aparentemente não negativa e desesperadora, deixa um traio de esperança e,
assim, quando pela segunda vez, a cananeia suplica-lhe: ‘Senhor, ajuda-me’ (v.
25) apesar de tudo que disseste, apesar de reconhecer que deve ser assim como
disseste, Senhor, socorre-me! Jesus responde-lhe: ‘Mulher, grande é a tua fé!
Seja-te feito como desejas’ (v. 28). À pouca fé dos judeus, o evangelho
contrapõe a fé desta mulher que a expressa naquele grito emocionado: ‘Senhor,
Filho de Davi, tem piedade de mim’ (v. 22), grito que, por um lado, é a
confissão da necessidade que oprimia a mulher e, por outro lado, a clara e
nítida confissão do poder do Mestre a quem se acorre, dando por implícitos seu
poder e sua bondade. Jesus se calava, enquanto aquela mulher pedia-lhe auxílio;
é que Jesus buscava outra coisa: calava-se para que transbordasse a fé daquela
mulher e poder, assim, derramar sua misericórdia. Dessa maneira, a mulher
insiste e grita e acompanha Jesus e seus apóstolos, a tal ponto que eles se
sentem incomodados e pedem a Jesus que a atenda, a fim de que se vá e os deixe
em paz; talvez os apóstolos nesta ocasião não estivessem movidos pela caridade,
e assim agiram por comodidade. Isso deve levar você a, com frequência, analisar
os motivos de suas boas ações; porque, sendo boa a ação, pode não ser boa a
motivação que o impulsiona para essa obra” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado
para cada dia do ano – Ave-Maria).
Pe.
João Bosco Vieira Leite