(Mc 11,1-10; Is 50,4-7; Sl 21[22];Fl 2,6-11; Mc 15,1-39)
1. A cada ano em nossa liturgia os
textos litúrgicos se repetem mudando apenas o evangelho que antecede a
procissão e a narrativa da paixão conforme o evangelista do ano. É sob o olhar
de Marcos que caminhamos. Assim acompanhamos a narrativa de sua entrada em Jerusalém,
até o ponto culminante da sua existência entre nós.
2. Como ouvimos no domingo anterior, ao
ser elevado na cruz, Ele atrairá a si toda a humanidade, oferecendo-se a si
mesmo num ato redentor.
3. Na sua subida com os doze, pouco a
pouco se foi unindo a eles outros peregrinos. Antes de chegar a Jerusalém, um
fato acaba por suscitar ainda mais a atenção das pessoas sobre Ele. Trata-se de
um cego que sabendo de sua passagem, lhe implora por piedade, chamando-o de
“Filho de Davi”. O cego é curado, mas a nomenclatura “Filho de Davi” reacende a
esperança messiânica naquela multidão
4. Isso cria um alvoroço a respeito de
quem era Jesus e se perguntam se por acaso não era agora que Deus iria
restaurar o reino de Davi. A isso se soma o próprio percurso escolhido
por Jesus para entrar na cidade, a estrada por onde deveria vir o Messias.
5. O entusiasmo se apodera dos
discípulos e da multidão e com expressões do salmo 118, expressam a sua
compreensão de que em Jesus Deus visitou o seu povo. Assim, na luz de Cristo, a
humanidade reconhece a bênção divina. E nós somos convidados a reconhecer esse
olhar sapiencial e amoroso de Cristo, capaz de captar a beleza do mundo e
apiedar-se de sua fragilidade.
6. Mas a grande questão está na
expectativa daqueles que aclamavam a Jesus. Que pensavam a respeito dele? Que
esperavam em termos de ação? Tal como os discípulos, a multidão esperava por
alguém que agisse como o rei prometido pelos profetas e há muito esperado. Não
foi por acaso que a multidão dias depois, não o aclama, mas pede para
crucifica-lo.
7. Na celebração de hoje retorna a
pergunta: para nós, quem é Jesus de Nazaré? Que ideia temos do Messias,
que ideia temos de Deus? Ao acompanha-lo no processo da paixão, não podemos
evitar essa pergunta. Jesus se guia pelo caminho da cruz e não nos garante uma
felicidade terrena fácil, mas deixa claro que só será plena em Deus.
8. Com que motivações faremos esse
caminho de seguimento? Que esperamos? Quais desejos nos animam a vir aqui e
iniciar essa Semana Santa?
9. Nosso louvor nesses dias deve
expressar nossa gratidão, por isso cantamos também “Hosana” àquele que vem em
nome do Senhor! Recordamos sua vida entregue não só na cruz, mas no dom maior
de Seu amor no Corpo e Sangue que comungamos.
10. Mas todo dom exige que saibamos
retribuir de maneira adequada, pois Jesus espera o dom de nós mesmos, do nosso
tempo, da nossa oração, do nosso compromisso com a vida em suas múltiplas
expressões.
11. Bento XVI nos lembra que os Padres
da Igreja, os primeiros teólogos cristãos, comentavam que esse gesto de
estender os mantos diante do Senhor poderia nos sugerir uma reflexão sobre o
que estenderíamos diante de Jesus em sinal de gratidão e adoração e cita Santo
André, Bispo de Creta: “Em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de arbustos
que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu vigor,
prostremo-nos nós mesmos aos pés de Cristo, revestidos da sua graça, ou melhor,
revestidos d’Ele mesmo (...); sejamos como mantos estendidos a seus pés (...),
para oferecermos ao vencedor da morte já não ramos de palmeira, mas os troféus
da sua vitória. Agitando os ramos espirituais da alma, aclamamo-lo todos os
dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras: ‘Bendito o que
vem em nome do Senhor, o Rei de Israel’”. Amém.
Pe. João Bosco Vieira Leite