(2Cr 36,14-16.19-23; Sl 136[137]; Ef
2,4-10; Jo 3,14-21)
1. O autor do Livro das Crônicas
atribui a ação divina, as desventuras vividas por Israel naquele período, mas
deixa claro que Deus não agiu assim por capricho, como quem retribui na base do
‘olho por olho’. Israel enveredou pelo caminho da negligência, como o nosso
país, não fazendo aquilo que é correto. Deus até que tentou advertir, mas
se viu ‘vencido’ pela opção do seu povo.
2. O que está por trás do nosso texto
não é tanto a ação de Deus, mas as consequências de uma escolha atrapalhada.
Deus deu um tempo, diz o texto, depois o trouxe de volta à sua terra. Assim ele
responde, anos depois, às perguntas que se faziam os que tinham retornado, uma
nova geração, de como tudo isso pode acontecer.
3. A celebração da Páscoa exige de nós
esse olhar retroativo de onde estamos para o caminho que fizemos, o que
aprendemos ao longo do mesmo para não repetirmos certos erros. Mas a mensagem
final é certa: Deus nunca abandona, ainda que soframos por um tempo as nossas
escolhas.
4. Se notamos, a segunda leitura é
quase um refrão nessa quaresma cantando a ação redentora de Deus em Cristo
Jesus ao ressuscitá-lo, a nosso favor e por pura bondade. Que resta se não
esperar que nos motivemos pelo gesto divino a uma resposta amorosa?
5. O evangelho nos lança a um encontro
noturno que Jesus teve com um notável judeu chamado Nicodemos. Um trecho desse
diálogo nos é proposto como reflexão.
6. A certa altura, Jesus fala de sua
morte que irá acontecer, comparando com um episódio do passado em que Moisés
ergueu uma serpente de bronze como sinal ao povo que havia sido picado no
deserto. Esse evento do passado está carregado de simbolismos e explicações,
mas o que Jesus está propondo não é um simples olhar miraculoso para o
crucifixo.
7. A cruz de Jesus é a expressão máxima
do amor de Deus e que exige muitas leituras para entendermos sua mensagem e nos
deixemos também curar. A salvação que se busca com o olhar se deve traduzir
numa identificação com o caminho de entrega a Deus que fez Jesus de si.
8. Como diz Ariano Suassuna, ver é uma
coisa, enxergar é outra bem diferente. Muitos olharão, mas não compreenderão
exatamente o que quer dizer tudo isso. Um gesto que a Igreja repete a cada
Sexta-feira Santa e a cada instante de nossa vida exige releituras.
9. É na segunda parte que o evangelho
se encontra com a 1ª leitura. Deus não condena ninguém, nós nos condenamos a partir
das escolhas que fazemos, por não aceitarmos ou não compreendermos. Não se
trata de um juízo de tribunal ou de prestação de contas, mas de uma mudança de
rota ao pesarmos o caminho que estamos fazendo com aquilo que Ele nos propõe.
10. Assim, parafraseando Pe. Zezinho,
um Deus apaixonado mandou o seu recado, em Jesus aprendemos a ler ou enxergar o
rosto do Pai e sua amorosa e insistente proposta de salvação que se torna luz,
um olhar que se dilata.
Pe. João Bosco Vieira Leite