3º Domingo da Quaresma – Ano B


(Ex 20,1-17; Sl 18[19]; 1Cor 1,22-25; Jo 2,13-25)

1. Certamente estamos lembrados dos dez mandamentos quando nos foram apresentados e explicados na catequese. Eles traduzem esta página do Êxodo que nos é apresentada como 1ª leitura.

2. Voltar-se sobre eles pode nos ajudar nessa preparação para Páscoa, numa revisão pessoal daquilo que serviu de base para as relações de Israel com Deus e com as outras pessoas. Pontos que podiam ser encontrados também em códigos de conduta de outros povos.  

3. A maneira como foram formulados fazem soar como algo não dito de maneira generalizada, mas pessoal, como um diálogo que busca convencer que esse é o melhor caminho. Mas para nos convencermos dessa proposta, é preciso ter um mínimo de conhecimento de quem nos fala. Depois de experimentar a libertação do Egito e os cuidados no deserto, Israel sabia Quem lhe falava.

4. Longe de tratar-se de uma lista de proibições, Israel compreendeu que eram placas de sinalização espalhadas ao longo do caminho para quem não quer tornar-se escravo das próprias paixões e do próprio egoísmo que coloca em risco a própria existência e a dos outros.

5. Na Quaresma eles nos são repropostos, mesmo lembrados do resumo feito por Jesus: ‘Amarás a Deus e ao teu próximo’ (Mt 22,34-40), porque o amor engloba tudo, e é suficientemente exigente para entendermos que não se trata tanto de normas, mas da atenção contínua para não fazer nenhum mal ao outro. Se bem que isso exige um mínimo de discernimento entre o bem e o mal, que alguns parecem não ter.

6. E por falar em amor, Paulo nos convida a contemplar o maior sinal do amor divino na entrega de Cristo, que muitos não compreendem e não tomam como sinal que por si só deveria nos convencer. Naquele e no nosso tempo há muitos que buscam milagres e fenômenos e até convencimentos científicos, quando a experiência verdadeira da fé está para além de tudo isso.

7. O evangelho nos coloca diante de uma cena insólita de Jesus numa das festas da Páscoa de sua fase de pregador, onde o comercio em torno do Templo gerava transtorno e a sensação de que a religião entrava no mesmo pacote.

8. Professores de história vivem a jogar na cara da Igreja Católica esse tempo em que viveu envolvida em ‘tenebrosas transações’, esquecidos de todo esforço ao longo do tempo para corrigir os seus erros.

9. Mas o leitor atento vê logo que as ações de Jesus mudam rapidamente de sentido ao evocar a Sua ressurreição ao falar do templo do Seu corpo. Se os verdadeiros adoradores adorarão a Deus em Espírito e verdade, conforme seu diálogo com a Samaritana, a ressurreição de Jesus trará um tempo e um templo novo: cada ser humano que busca viver sua comunhão com o que Jesus ensinou. Daí podemos entender a inserção dos dez mandamentos em nossa liturgia de hoje.

10. Nossas celebrações, por mais bonitas e animadas que possam ser, estão longe de expressar aquilo que verdadeiramente Deus espera de cada um de nós: as boas obras que refletem a nossa compreensão de suas palavras, afinal de contas, a árvore é conhecida por seus frutos, e isso exige discernimento da nossa parte.

 Pe. João Bosco Vieira Leite