(Ef 2,19-22; Sl 116[117]; Jo 20,24-29) São Tomé, apóstolo.
“Tomé, chamado Dídimo, que era um dos
doze, não estava com eles quando Jesus veio” Jo 20,24.
“Conhecidíssima
e até proverbial é a cena de Tomé incrédulo, realizada oito dias depois da
Páscoa. Num primeiro momento, não acreditou que Jesus tivesse aparecido em sua
ausência e disse: “Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus, se eu
não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não colocar a minha mão na
ferida dele, eu não acreditarei” (jo,25). Do fundo destas palavras emerge a
convicção de que Jesus agora são, antes de tudo, suas feridas, nas quais se
revela até que ponto ele nos amou. Nisso o apóstolo não se equivoca. Como
sabemos, oito dias depois Jesus volta a aparecer entre os seus discípulos, e
desta vez, Tomé está presente. E Jesus o interpela: “Estenda aqui o seu dedo e
veja as minhas mãos. Estenda a sua mão e toque a minha ferida. Não seja
incrédulo, mas tenha fé” (Jo 20,27). Santo Agostinho comenta a este propósito:
Tomé ‘via e tocava ao homem, mas confessava a sua fé em Deus, que não via e nem
tocava. Mas aquilo que via e tocava o induzia a crer naquilo de que até aquele
momento duvidava” (In Iohann, 121,5). O evangelista continua com uma última
palavra de Jesus a Tomé: ‘Você acreditou porque viu? Felizes os que acreditaram
sem ser visto!’ (Jo,29). Esta frase também pode ser transportada para o
presente. Aqui Jesus enuncia um princípio fundamental para os cristãos que
viram depois de Tomé, quer dizer, para todos nós. É interessante observar como
outro Tomás, o grande teólogo medieval de Aquino, compara esta forma de
felicidade com aquela aparentemente oposta que transmite Lucas: ‘Felizes os
olhos que veem o que vocês veem’ (Lc 10,23). Mas o de Aquino comenta: ‘Merece
muito mais quem crê sem ver do que quem crê vendo’ (In Iohann, XX lectio
VI,2566). De fato, a Carta aos Judeus, quando refere toda a série de antigos
patriarcas bíblicos, que acreditaram em Deus sem ver a realização de suas
promessas, define a fé como uma ‘forma de possuir o que se espera, um meio de
conhecer as coisas que não se veem’ (Hb 11,1). O caso do apóstolo Tomé é
importante para nós ao menos por três motivos: primeiro, porque nos consola de
nossa insegurança; segundo, porque nos demonstra que toda dúvida pode desembocar
numa saída luminosa livre de qualquer incerteza; e, por último, porque as
palavras que lhe dirige Jesus nos lembram o verdadeiro sentido da fé madura e
nos anima a continuar, apesar das dificuldades, em nosso caminho de adesão a
Ele” (Bento XVI
– Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).
Pe. João Bosco Vieira Leite