(Is 66,10-14; Sl 65[66]; Gl 6,14-18; Lc 10,1-12.17-20)
1.
O envio em missão dos 72 discípulos, que é exclusivo de Lucas, para ser
entendido em todo seu alcance exige sublinhar brevemente alguns elementos do
texto.
2.
O número dos enviados oferece uma indicação significativa. Segundo a antiga
tradição judaica, este era o número dos povos dispersos pela face da terra.
Sendo assim, a mensagem de Cristo não exclui ninguém. Todos os povos são
chamados a fazer parte do Reino.
3.
Devem ir “dois a dois”. Segundo o costume hebraico, para que haja uma
testemunha válida segundo a Lei. Além de ajudar-se mutuamente. Na prática, a
comunidade cristã, não o indivíduo, é que deve ser missionária.
4.
“Como Cordeiros para o meio de lobos”. Não é uma perspectiva alegre. A
fragilidade, a mansidão, representam componentes essenciais ao estilo que deve
caracterizar a missão cristã. É proibido iludir-se. Não se trata de triunfo,
mas de uma perspectiva de dificuldades. Não faltará a ajuda do Pastor.
5.
“Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias...”. São expressões que não devem
ser tomadas ao pé da letra, mas que indicam, sem possibilidades de equívocos,
que esta deve ser vivida sob o sinal da liberdade. Os discípulos não devem
buscar outro apoio que não próprio Cristo.
6.
O discípulo é forte unicamente na fragilidade da Palavra de Deus. O Evangelho
não precisa de meios adequados e muito chamativos. O que precisa aparecer é a
força que está no Evangelho, não nos meios. Não confundamos eficácia com
eficiência. Incidência evangélica e possibilidades humanas caminham em direções
contrárias.
7.
“... não cumprimenteis ninguém pelo caminho”. O discípulo é alguém que tem
pressa de levar a boa nova; é nessa perspectiva que devemos compreender a
recomendação de Jesus. É a urgência da missão. Tenhamos em conta os usos
impostos pelo cerimonial oriental para uma saudação, curvar-se, ajoelhar-se,
prostrar-se. Muito salamaleque. A importância da notícia vale mais que
galanteio.
8.
“Quando entrardes numa cidade e não forem bem recebidos...”. Jesus assinala
tarefas, mas não garante o sucesso. A atividade missionária encontra
necessariamente várias dificuldades e oposições. Não há porque admirar-se, nem
desanimar. O anúncio do Reino é compatível com certo sofrimento e tempos
longos. Não com a facilidade e a impaciência.
9.
“A paz esteja nesta casa”. O mensageiro do evangelho deve ser portador de paz.
Cristo traz a plenitude, a alegria, não o luto, desventura ou castigo. O seu
representante não pode ostentar outra coisa. Não devemos cansar de anunciar a
paz. A palavra proclamada é já palavra eficaz. É acontecimento.
10.
O envio em missão não diz respeito a uma categoria de pessoas, quase um grupo
especial de expedição. Faz parte da vida de todos os batizados. Essa página do
Evangelho diz respeito a todos nós. Ser cristão não significa acolher uma
alegre notícia tão somente para si. Significa assumir a responsabilidade de levá-la
a outros.
11.
Cristão não é um que simplesmente sabe. É um que faz saber, comunica,
transmite. Antes de partir, Jesus envia seus discípulos a anunciar o evangelho
ao mundo, a todas as criaturas. É preciso caminhar. Não se trata de conquistar.
Simplesmente caminhar. O cristão é um que se caracteriza pelo gosto da estrada.
Seguir adiante, avançar...
Pe.
João Bosco Vieira Leite