Quinta, 19 de junho de 2025

(Gn 14,18-20; Sl 109[110]; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11-17) Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.

“Então Jesus tomou os cinco pães e dois peixes, elevou os olhos para o céu, abençoou-os, partiu-os

e os deu aos discípulos para distribuí-los à multidão” Lc 9,16.

“Hoje a Liturgia apresenta esta solenidade do Corpo e Sangue de Cristo em relação ao Sacerdócio de Cristo, cujo dom supremo é a Eucaristia: Sacrifício oferecido ao Pai e banquete apresentado aos homens. A 1ª leitura (Gn 14,18-20) recorda a mais antiga figura de Cristo Sacerdote: Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus altíssimo. Em ação de graças a Deus, pela vitória de Abraão, oferece Melquisedeque um sacrifício de ‘pão e vinho’, símbolo da Eucaristia. Desta misteriosa personagem, nenhuma indicação dá a Bíblia, quer acerca de sua origem, quer da sua morte. Por isto, escreve S. Paulo: ‘Sem pai, sem mãe, sem genealogia, a sua vida não tem começo nem fim; comparável... ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre’ (Hb 7,3). Melquisedeque é chamado ‘sacerdote eterno’ porque dele não se conhece princípio nem fim. Com maior razão pertence tal título a Cristo, cujo sacerdócio não tem origem humana e, sim, divina: é, por conseguinte, eterno no sentido mais absoluto. A Igreja aplica a Jesus o versículo de hoje, repetido no salmo de meditação: ‘Sois sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque’. No Novo Testamento, terminado o sacerdócio levítico, é unicamente o eterno de Cristo que se prolonga no tempo através do sacerdócio católico. A 2ª leitura (1Cor 11,23-26) apresenta Cristo Sacerdote no ato de instituir a Eucaristia, Sacrifício do Novo Testamento. A narração é transmitida pelo Apóstolo conforme a tradição e o que ele mesmo ‘recebeu do Senhor’ (ibidem, 23). Como Melquisedeque, Jesus oferece ‘pão e vinho’, mas sua bênção realiza o grande milagre: ‘Isto é meu Corpo que é dado por vós... Este cálice é a Nova Aliança no meu Sangue’ (ibidem, 24-25). Não mais pão, e, sim, o verdadeiro Corpo de Cristo; não mais vinho, e, sim, o verdadeiro Sangue. Jesus antecipa na Eucaristia o sacrifício que fará no Calvário, em seus membros dilacerados; antecipadamente o deixa em testamento aos seus, como vivo memorial da Paixão: ‘Fazei isto... em memória de mim’ (ibidem). Pelo que conclui S. Paulo ‘todas as vezes que comeis deste pão e bebeis deste cálice, anunciais a morte do Senhor’ (ibidem, 26). Não é ‘memória’ que se limita a evocar um fato passado, nem é anúncio com simples palavras, porque a Eucaristia torna atualmente presente, embora em forma sacramental, o sacrifício da cruz e o banquete da última ceia. Aos fiéis de todos os tempos Nosso Senhor oferece a mesma realidade para que se possam unir ao Sacrifício de Cristo e se alimentar com seu Corpo e Sangue ‘até que ele volte’ (Missal Romano). A Eucaristia, como banquete, é o argumento do Evangelho do dia sob a transparente figura da multiplicação dos pães (Lc 9,11b-17). Não já o longínquo simbolismo do pão e do vinho oferecidos a Deus por Melquisedeque, e, sim, um ato de Jesus, evidente prelúdio da Ceia eucarística. Jesus toma os pães, ergue os olhos ao céu, benze-os, parte-os e os distribui, gestos estes que repetirá no cenáculo quando transubstanciar o pão em seu Corpo. Outro gesto particular chama-nos a atenção: multiplicam-se os pães em suas mãos, e delas passam às dos discípulos que os distribuem à multidão. Igualmente será sempre ele que fará o milagre eucarístico; mas se servirá dos sacerdotes que serão os ministros e tesoureiros da Eucaristia. Por fim, ‘todos comeram e ficaram fartos’ (ibidem, 17). A Eucaristia é baquete oferecido a todos os homens para saciarem a fome de Deus, de vida eterna. A solenidade de hoje é convite a despertar a fé e o amor para com a Eucaristia, para que, mais famintos dela, cheguem os fiéis com maior fervor à Comunhão e saibam suscitar esta fome salutar nos irmãos indiferentes” (Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD – Intimidade Divina – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite