Santíssima Trindade – Ano C

(Pr 8,22-31; Sl 08; Rm 5,1-5; Jo 16,12-15) *

1. “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, ao Deus que era e que vem”. Assim cantamos na aclamação ao Evangelho, fazendo ecoar e ressoar a doxologia trinitária mais conhecida e diariamente várias vezes repetida, porque amada. Hoje completada com as palavras do Apocalipse 1,8.

2. Nos textos que hoje a liturgia da Palavra nos oferece como alimento escolhido e abundante, Deus deixa-Se entrever, de diversos ângulos, de modo sutil, no seu mistério trinitário. Esse fio de ouro que a atravessa, e quer atravessar e entrelaçar, por pura graça, a nós também.

3. O Evangelho é esse principal fio de luz que ilumina os outros textos e que quer iluminar a nossa vida. É Jesus que está reunido com os seus discípulos nesta última tarde de sua vida terrena. É a quinta vez que, no Evangelho de João, Jesus fala da vinda do Espírito Santo. Sempre apontando para o futuro.

4. “Quando vier”, diz Jesus. Na Bíblia, “vir” é um dos verbos próprios de Deus. É Deus que “vem” ao encontro do seu povo. Jesus é “Aquele que vem”. O Espírito “virá”, com liberdade soberana, divina, pessoal.

5. Ele é o “Espírito da verdade”. Jesus já havia se apresentado como Caminho, Verdade e Vida. O Espírito está, portanto, particularmente vinculado a Jesus. E sua ação consiste em “conduzir”, ao longo do íngreme Caminho, até a meta, que é o próprio Cristo. A relação dos discípulos com Jesus, e a adesão a Jesus é ainda parcial.

6. Revela-se que o Espírito vem de maneira autônoma, soberana, divina, mas não falará a partir de si mesmo, mas de Jesus, que o envia. Assim como Jesus não fala a partir de si mesmo, mas do Pai que o enviou. Mas o que é do Pai é também do Filho, assim o Espírito comunica o que é do próprio Deus.

7. Entre o Pai e o Filho tudo é comum: a Vida, a Divindade, a Glória. Três termos precisos e preciosos para indicar exatamente o Espírito Santo, que é a Vida, a Divindade, a Glória que une consubstancialmente o Pai e o Filho, sendo o Espírito Santo a divina Comunhão entre os três, o único Deus.

8. O Espírito age na interioridade da inteligência da fé, avivando as brasas do desejo da Palavra primeira e criadora no coração de cada ser humano. Esse ensinamento é comparado com a unção de óleo que penetra lentamente. É óleo derramado em nossos corações, como diz Paulo na 2ª leitura.

9. Assim podemos compreender um pouco dessa Sabedoria que nos fala o Livro dos Provérbios. Nesse maravilhoso hino, Deus e a Sabedoria entretecem um diálogo do qual brotam todas as maravilhas da criação, mas que tem como objetivo principal “os filhos dos homens”.

10. E foi precisamente a partir desse encontro feliz entre a divindade e a humanidade que a tradição cristã identificou na Sabedoria divina aqui celebrada o retrato do próprio Cristo. Aquele que João diz que “estava no princípio junto de Deus” (Jo 1,2-4), ou mesmo no dizer de Paulo: “Todas as coisas foram cridas por meio d’Ele” (Cl 1,15-17).

11. São pequenos traços ou pegadas da Trindade que os nossos textos revelam sobre esse mistério em torno do qual nossa vida gravita. Sim, Deus é Pai, é Filho, é Espírito Santo. É na comunhão das três pessoas que somos chamados a viver, e já vivemos.

12. Assim podemos concluir com as palavras admiradas de Paulo: “Ó abismo de riqueza, de sabedoria e de ciência em Deus! Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos! Dele e para Ele são todas as coisas. A Ele a glória por toda a eternidade! Amém” (Rm 11,33.36).

* Com base em texto de D. Antônio Couto.

Pe. João Bosco Vieira Leite