Santíssima Trindade – Ano A

(Ex 34,4-6.8-9; Sl Dn 3; 2Cor 13,11-13; Jo 3,16-18)

1. Nesse pequeno trecho da 2ª leitura, encontramos uma das saudações de Paulo que utilizamos em nossas celebrações: “A graça do Senhor Jesus, o amor de Deus e comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós”. Aqui ele menciona as três pessoas divinas cuja festa celebramos nesse dia.

2. Nossa vida cristã se desenvolve sob o sinal e a presença da Santíssima Trindade. Do nosso batismo, cujo sinal foi traçado em nossa fronte e da água derramada, até nossa partida dessa vida, o nome do Pai que nos criou, do Filho que nos redimiu e do Espírito Santo que nos santifica, foi proclamado sobre nós.

3. E entre esses dois momentos extremos, se colocam outros momentos de ‘passagem’, em que nossa vida cristã é marcada pela invocação trinitária. É em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo que os noivos se dão um ao outro, que os sacerdotes Veem consagrados pelo bispo. Em nome da Trindade, no passado se iniciavam os contratos, as sentenças, todo ato importante da vida civil e religiosa.

4. A Trindade é o seio onde fomos concebidos e o porto para o qual navegamos. Portanto, não é um mistério remoto, irrelevante para a vida de cada dia. Estas são as Pessoas mais íntimas na nossa vida. Nós somos o seu templo, a sua morada.

5. Talvez alguém nos pergunte: Por que os cristãos acreditam na Trindade? Já não é bastante difícil crer que existe Deus, para ajuntar ainda essa ideia de ‘uno e trino’? Isso não prejudica ainda mais nosso diálogo com Judeus e Mulçumanos que professam a fé num Deus rigidamente único?

6. A nossa resposta seria que acreditamos que Deus é trino, porque cremos que Deus é amor. Essa revelação nos vem do próprio Jesus. Não é uma invenção humana. Não estamos aqui para explicar o que é a Trindade, racionalmente é impossível fazê-lo, pois ela não é fruto da razão humana.

7. Se a Bíblia nos diz que Deus é amor, então quem ama, ama alguém. Não existe o amor vazio, não direcionado. Quem Deus ama, para ser definido como amor? A nossa 1ª resposta seria: ama os seres humanos. Mas estes só existem há alguns milhares de anos, não mais.

8. Então, quem Deus amava antes, para ser definido como amor? Amava o cosmo, o universo. Mas esse também existe a alguns milhões de anos. E antes, quem amava Deus para ser definido como amor? Não podemos dizer que amava a si mesmo, porque amar a si mesmo é egoísmo ou, como diz a psicologia: narcisismo.

9. A Igreja recolhe a resposta dos seus teólogos: Deus é amor em si mesmo, antes dos tempos, porque desde sempre há nele mesmo um Filho, o Verbo, que ama com amor infinito, isto é, no Espírito Santo. Em cada amor estão sempre três realidades ou fontes: um que ama, um que é amado e o amor que os une.

10. O Deus cristão é uno e trino porque é comunhão de amor. A doutrina cristã sobre a Trindade não é um retrocesso, um acordo entre monoteísmo e politeísmo. Ao contrário, é um passo avante que só Deus mesmo poderia realizar na mente humana.

11. Isso pode nos soar um pouco difícil de entender? Não nos preocupemos. Quando nos encontramos na margem de um lago ou do mar, se queremos saber o que está na outra margem, a coisa mais importante não é aguçar o olhar perscrutando o horizonte, mas subir na barca que nos levará à outra margem.

12. Com relação ao mistério da Trindade, a coisa mais importante não é especular sobre o mistério, mas permanecer na fé da Igreja que é a barca que nos leva à Trindade. As comunidades com as quais interagimos, as nossas famílias, buscam, nessa relação da Trindade um modo de viver também suas relações, permitindo que a dinâmica do amor se sobreponha sobre as nossas diferenças.   

 Pe. João Bosco Vieira Leite