12º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Jr 20,10-13; Sl 68[69]; Rm 5,12-15; Mt 10,26-33)

1. No grande discurso missionário de Mateus (9,36—11,1), nos vem apresentado o programa da missão, o estilo de pobreza que a deve caracterizar e o método que a deve animar. Jesus instrui e exorta os discípulos, preparando-lhes a enfrentar provas e perseguições.

2. O texto de hoje se coloca no contexto da perseguição e registra, junto com o convite a ter confiança no Pai, uma advertência sobre a confissão da fé em Cristo nas circunstâncias mais difíceis. ‘Não tenhais medo’ retorna com insistência para indicar essa necessidade de confiança, mas também de um testemunho corajoso.

3. É necessário registrar o primeiro dado fundamental: o envio em missão da parte de Jesus, mesmo com toda autoridade-poder que lhes confere, não garante necessariamente o sucesso, não os protege das tempestades. Eles devem levar em conta a possibilidade da rejeição e até mesmo da perseguição.

4. Aliás, não devem surpreender-se de tal situação, pois Jesus já havia dito que “o discípulo será como o mestre”. O modelo deles é o próprio Jesus que conheceu a rejeição, hostilidade, abandono e a prova mais atroz. Mas a participação ao sofrimento do Mestre só tem sentido na participação em sua glória de ressuscitado.  

5. A perseguição não é uma eventualidade remota, mas uma possibilidade sempre atual. Como não existe seguimento que não implique conflito e rupturas dolorosas, mesmo no âmbito familiar, assim não existe missão marcada pela tranquilidade. Mesmo sendo inevitável, o discípulo não vai atrás da perseguição para fazer-se de vítima.

6. A perseguição não impede que a missão siga adiante. Ela é um momento de verificação da autenticidade da própria fé. Mesmo na perseguição, o discípulo manifesta uma mentalidade filial. Deus é Pai e, se não dispensa da provação, assegura, porém, que não abandona os filhos no meio da tempestade. Essa é a única certeza que carregará consigo. 

7. O texto traz uma perspectiva de um juízo final, num encontro entre Deus e o ser humano, ao estilo ‘olho por olho’. Jesus havia dito que tudo que fizermos ao nosso semelhante, fará Ele por nós. Se o negamos, Ele nos negará. Devemos agir diferentemente de Pedro durante o processo da Paixão.

8. Para alguns discípulos do nosso tempo a perseguição pode ser aberta, declarada, mas também ela reside na indiferença. Em ser ignorado, não tomado seriamente. Há significado num testemunho, numa pregação que vai de encontro a uma parede blindada pela indiferença? Vale a pena continuar a falar?

9. E aqui tenho que me voltar sobre mim mesmo, como pregador. Muitas vezes é difícil falar. Sei que muitos veem a celebração porque falo pouco, e mesmo esse pouco me custa. Devo esperar contra toda esperança que esse pouco possa surtir algum efeito.

10. Gosto de falar olhando as pessoas, mesmo preso às minhas anotações, pois me dá a impressão de fazer chegar as palavras através dos olhos, não tanto dos ouvidos. Alguns olhares são sombrios, sérios, estranhos, cansados, incomodados, indiferentes ou mesmo hostis.

11. E me vejo obrigado, às vezes, a buscar, como um mendicante, um rosto acolhedor. Dois olhos que me ‘hospedem’. Me pergunto se vale a pena insistir sobre determinado assunto, quando se tem a sensação de que nada muda. Me vem o desejo de renunciar. A palavra parece inútil.

12. No entanto, é propriamente esta inutilidade a prova decisiva da palavra. Continuar a semear, nos ensina Jesus, mesmo quando nem um broto aparece. Continuar a esperar, mesmo se os fatos contradigam. A palavra deve seguir, mesmo em meio a obscuridade, a rejeição, a incompreensão. O preço da paciência é o preço da esperança.

13. Nem sempre estou inspirado. Há momentos em que fico a ruminar o que foi dito. Mas já foi dito. Peço a Deus que acalme o coração e me dê a certeza de que quando parecer que as palavras não mudam nada, parecerem ditas ao vento, elas cheguem longe e iniciem a sua silenciosa ação revolucionária, transformadora, fecunda, que só o Espírito de Deus pode realizar. A mim cabe o papel de pregador, falar, valendo a pena ou não.

 Pe. João Bosco Vieira Leite