11ª Semana do Tempo Comum – Ano A

(Ex 19,2-6; Sl 99[100]; Rm 5,6-11; Mt 9,36—10,8)

1. Dois fios condutores nos permitem ler esta página do Evangelho: A compaixão e o caminho. Por 5 vezes, Mateus usa o verbo ‘ter compaixão’. Incluso esse versículo de hoje: “vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas”. É por causa dessa compaixão que ele confia aos seus apóstolos uma missão.

2. É essa mesma compaixão que deve inspirar a vocação missionária da Igreja. A expressar a ternura de Deus. O seu amor gratuito pela humanidade. Não se trata de uma sensação interior ou passageira. Ter compaixão ou piedade significa exercitar a compaixão em ato, estamos diante de um ato a cumprir. Um amor-intervenção ante a miséria humana.

3. Tudo isso se desenvolve pelo caminho, pela estrada. Assim age Jesus ao longo das cidades e vilarejos. Para um pouco para ‘tomar pé’ da situação, vê as necessidades. Ver, escutar, captar, entender, interpretar as exigências. Para também para pregar (a necessidade mais urgente), dar oportunas instruções aos ‘enviados’. Depois retoma o caminho.

4. Jesus está a caminho com os doze, a marcha vem multiplicada. Isso nos lembra que o dinamismo missionário da Igreja vai numa linha que se dispersa em mil direções. A preocupação de Jesus não é feita só de discursos, mas de passos concretos. De uma busca pelo que está disperso.

5. Mateus nos diz que são ovelhas sem pastor. Marcos acrescenta que estão ‘cansadas e abatidas’. Israel tinha seus pastores a serviço: os sacerdotes, os escribas, fariseus... Sabemos da polêmica de Jesus com esses grupos, muito rígidos nas aplicações da Lei, mas sem misericórdia. O que significa: ‘sem pastor’.

6. Jesus deixa claro que o testemunho de Deus que seus apóstolos devem dar vem em palavras e atos. É preciso produzir sinais de que o Reino já está presente. Não é algo distante, pra depois. Jesus fala de sinais que pertencem ao campo dos milagres.

7. Sem excluir essa realidade, somos chamados não tanto ao excepcional, mas a sinais mais modestos. Também nos gestos ordinários, na solidariedade para com o outro, podemos ‘ensinar’ sobre o propósito do Reino e tornar credível as nossas palavras. O que conta não é o extraordinário, mas o autêntico que aponta para a possibilidade de um novo e diferente modo de viver e ver.

8. Nessa lista dos doze há uma surpreendente diversidade de temperamentos, condições sociais, mentalidade, talento. Mais surpreendente é a notificação sobre Judas: ‘que foi o traidor de Jesus’. Todo os evangelhos fazem questão de sublinhar. Poderíamos passar sem essa observação, mas parecem não ter vergonha de terem tido tal companhia.

9. Sempre nos perguntaremos por quê dessa escolha. É inútil pedir explicação. Deus age em sua liberdade amorosa. Judas é um dos doze. Chamado como os outros, não por ser traidor, mas se tornará, em sua liberdade. Judas é sempre uma possibilidade.

10. Assim somos lembrados deste inquietante mistério do mal. Uma presença nem sempre fácil de sistematizar, de separar. Por vezes procuramos um ‘judas’ fora de nós, sem nos darmos conta que ele cresce silenciosamente dentro de mim, pronto a vir fora no momento oportuno. O traidor mais perigo é aquele que está dentro, que se sente tranquilo e se convence da sua fidelidade observando as infidelidades dos outros.

11. Jesus limita a ação dos apóstolos. Não devem ir aos pagãos, ainda. Os israelitas são os primeiros destinatários de sua mensagem. A obediência é também desapropriação dos próprios projetos pessoais, para abraçar um projeto comum. E no mais, temos nossos próprios limites. A questão não é fazer muitas coisas, mas fazer a vontade de Deus, que nesse momento é o que me foi confiado.

12. Mas essa regra não vai interpretada de modo literal e não pode tornar-se algo absoluto. Sabemos que a porta aos pagãos logo se abrirá. Paulo viu outros horizontes. Enquanto Moisés sobe para encontrar Deus, em Jesus, é Deus que vem ao nosso encontro, caminha conosco, nos busca. Nem sempre somos nós a busca-lo. Por vezes nosso papel é deixar-se encontrar.

Pe. João Bosco Vieira Leite