Domingo de Páscoa – Ano B

(At 10,34a.37-43; Sl 117[118]; Cl 3,1-4; Jo 20,1-9)

1. A partir desse domingo iniciamos o tempo pascal com seu prolongamento até a festa de Pentecostes. Depois de celebrarmos o Tríduo Pascal, prolongamos nossa reflexão em torno do mistério da Ressurreição de Cristo, fundamento da nossa fé, e da nossa participação nesse mesmo mistério, nos lembrava a celebração da Vigília a partir da realidade do batismo.

2. Particularmente fico a pensar se podemos ter uma clara significação desse domingo sem termos participado das celebrações que o antecedem, pois não se trata de uma simples celebração de um acontecimento do passado, mas da atualização do mistério central da nossa fé.

3. “A fé em Cristo ressuscitado transforma a existência, realizando em nós uma ressurreição contínua” lembra Bento XVI. É dessa cotidianidade da vida que nos fala Paulo na 2ª leitura.

4. Ele nos diz que se de fato compreendemos essa experiência de ressuscitados em Cristo, devemos fazer um esforço por alcançar as coisas do alto. Uma leitura apressada pode nos fazer parecer que o Apóstolo sugere o desprezo das realidades terrenas, como se pudéssemos esquecer os sofrimentos, as injustiças e o pecado vivendo numa espécie de Paraíso.

5. O Apóstolo tenciona alertar a comunidade para certas coisas da Terra das quais se deve precaver, para viver essa dimensão nova da fé ou deixar-se renovar. Versículos depois ele fala do que deve ser evitado: devassidão, impureza, paixões, maus desejos e a cobiça. Ele usa o termo mortificar, fazer morrer, para que uma vida nova possa nascer a partir da compreensão e do esforço de viver a fé.

6. Em outras palavras, ele fala do desejo insaciável de bens materiais, o egoísmo, raiz de todo pecado. Ele fala do tal “homem velho” que tentamos sepultar em nós, para revestir-nos do homem novo, que é Cristo em sua palavra.

7. Versículos mais adiante, ‘para não dizer que não falei das flores’, ele recorda os sentimentos que traduzem as coisas do alto: ternura, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportando-se uns aos outros na dinâmica do perdão. Um texto aplicado na celebração do matrimônio lembrando aos noivos que o céu que eles desejam não vem pronto, é conquistado com muitas mudanças ou trocas de ‘roupas’...

8. É claro que desde agora habita em nós a consciência de que somos ‘cidadãos do infinito’, no dizer do Pe. Zezinho, mas no cotidiano de nossa existência aqui na Terra, caminhamos num renascer a cada dia. O caminho que fazemos não é só para transformar a nós mesmos, mas para transformar as realidades que nos cercam. Nada muda se eu não mudo.

9. É essa passagem profunda e total que celebramos hoje, no contexto de outras páscoas que virão. “De uma vida sujeita à escravidão do pecado para uma vida de liberdade, animada pelo amor, força que abate todas as barreiras e edifica uma harmonia no próprio coração e na relação com os outros e com as coisas” (Bento XVI).

10. Cristo nos renova sem tirar-nos do mundo, pois sabe que a história se constrói pelo testemunho luminoso de quem se deixou renovar pela vida nova que Sua Ressurreição nos trouxe.  Assim o anúncio dessas coisas do alto se faz sentir no cotidiano que nos envolve ao fazer ressurgir no coração do próximo a esperança onde há desespero, alegria onde há tristeza, a vida onde há morte. Uma alegria dessa presença contínua do Senhor que caminha conosco, que faz novas todas as coisas: uma feliz Páscoa hoje e sempre.


Pe. João Bosco Vieira Leite