1. Queridos irmãos e irmãs, a Igreja
divide em três dias, ou três celebrações o mistério central da nossa Redenção:
Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Começamos hoje pela Última Ceia do
Senhor; a Missa Crismal que ocorre pela manhã, de caráter diocesano, os
sacerdotes, junto ao Bispo local renovam as promessas de Ordenação, tem uma
certa ligação com tríduo, mas não faz parte do mesmo. Três elementos ganham
destaque nessa celebração da Última Ceia: a instituição da Eucaristia e do
Sacerdócio ministerial junto com o mandamento novo: o amor fraterno.
2. O Senhor antecipa a Sua entrega na
Cruz se dando a cada um de nós de modo mais íntimo, ligando nossa vida com a
Sua. Com o gesto do Lava-pés somos convidados a imitá-lo no amor concreto que
se faz serviço ao outro. João não narra a Instituição, mas ela está subtendida
no contexto da narrativa e para melhor iluminar nossa compreensão, o texto da 2ª
leitura nos ajuda nesse ‘memorial’. Encerramos a celebração prestando uma
pequena homenagem a essa presença sacramental numa atitude de vigília e oração.
3. A entrega vivida e antecipada no
mistério sacramental se faz sensível ao nosso olhar contemplativo quando
acompanhamos a narrativa da paixão juntamente com os outros textos que lhe
fazem referência. Mesmo não tendo a celebração Eucarística, nos reunimos para
rezar pelas necessidades da Igreja e do mundo, tentamos tocar o mistério pelo
gesto de aproximação da Cruz e comungamos do santo ‘resto’ da última Ceia. Cada
local acrescentará a essa oração algum gesto que compõe a piedade popular por
uma procissão ou representação teatral. Quem estiver impedido de participar
desse ato pode rezar, em casa, a Via Sacra meditando as suas estações. A
celebração se encerra em silêncio, pois busca meios externos de mergulhar no
mistério.
4. O silêncio do dia anterior se
prolonga pelo sábado durante o dia, aguardando o grande acontecimento da
Ressurreição. A vigília Pascal, celebrada ao pôr do sol, antecede o domingo da
ressurreição. A comunidade reunida em torno da fogueira, abençoa o fogo que
acenderá o Círio Pascal, presença luminosa do Ressuscitado que nos ajudará a
compreender esse grande mistério que já estava contido nas páginas do Antigo
Testamento e que o Novo proclama na vitória de Cristo sobre a morte. Pedimos ao
Senhor Jesus que com sua força de ressurreição afaste as trevas do coração e do
espírito, iluminando cada ser humano. Em meio aos elementos simbólicos dessa
noite renovamos a nossa fé batismal e acolhemos aos novos membros que serão
batizados. Um clima de alegria nos envolve e renova a fé que deve ser vivida e
difundida, como uma luz que não se pode reter.
5. Uma palavra final do nosso Papa
Emérito Bento XVI: “Reviver os Mistérios de Cristo significa também
viver em profunda e solidária adesão ao hoje da História, convictos de que
quanto celebramos é a realidade viva e atual. Tenhamos, portanto, presente em
nossa oração a dramaticidade de fatos e situações que nestes dias afligem
tantos irmãos nossos em todas as partes do mundo. Sabemos que o ódio, as
divisões, as violências nunca têm a última palavra nos acontecimentos da
História. Estes dias reanimam em nós a grande esperança: Cristo crucificado
ressuscitou e venceu o mundo. O amor é mais forte que o ódio, venceu e devemos
associar-nos a esta vitória do amor. Portanto, devemos partir de novo de Cristo
e trabalhar em comunhão com ele para um mundo fundado sobre a paz, sobre a
justiça e sobre o amor. Neste empenho, que a todos compromete, deixemo-nos
guiar por Maria, que acompanhou o Filho divino pelo caminho da Paixão e da Cruz
e participou, com a força da fé, na concretização do seu desígnio salvífico” (Audiência
Geral – praça de São Pedro, 19 de março de 2008).
6. Para mais algum outro detalhe sobre
o Tríduo podemos ver os anos anteriores. A todos desejo uma vivência santa
desse mistério central da nossa fé, e me antecipo nos votos de uma Feliz
Páscoa! Voltamos no domingo com nossas reflexões diárias.
Pe. João Bosco Vieira Leite