Sexta, 30 de dezembro de 2016

(Eclo 3,3-7.14-17; Sl 127[128]; Mt 2,13-15.19-23) 
Festa da Sagrada Família.

No calendário litúrgico desse ano não há nenhum domingo dentro da oitava de Natal antes do dia primeiro de janeiro, assim a festa da Sagrada Família cai na semana e na contabilização das semanas do Tempo de Natal verificaremos que há uma a menos, pois o batismo de Jesus, que encerra esse período será numa segunda-feira.

Na primeira leitura contemplamos o ser família a partir da visão do Antigo Testamento que lembra a autoridade dos pais sobre os filhos e o respeito que esse lhes deve, como parte do mandamento divino. O texto toca o aspecto humano do amparo na velhice, na paciência praticada, pois ‘a caridade cobre uma multidão de pecados’, nos diz Tiago. O salmo complementa o sentido desse mandamento que traz consigo as bênçãos de Deus para quem o vive.

O medo de Herodes do desconhecido rei que havia nascido, conforme Mateus, teve como consequência a fuga para o Egito, para cumprir a profecia e levar a Sagrada Família, tempos depois, de volta para a Galileia.  Tudo se realiza dentro da tradição profética do povo judeu e da vontade divina. A narrativa pode até ser simbólica, mas traduz o modo como Jesus ‘mergulha’ nas tragédias humanas que nos tocam de alguma forma, direta ou indiretamente.

Vivemos uma crise do significado na ‘honra’ devida aos pais por parte dos filhos. Uma nova mentalidade que equipara as relações humanas nos impõe o desafio das mudanças e também prepara uma armadilha para o futuro. Temos colhidos frutos amargos em meio às novas formas de relacionamentos familiares. Não que tudo seja ruim, apenas não encontramos o equilíbrio. Nossas mudanças radicais têm nos custado muito. Aceleramos os passos, mas não preparamos o coração para essas batidas mais rápidas. Perdemos o compasso, às vezes. Jesus experimentou junto a José e Maria essa instabilidade humana que deve se adaptar as mudanças, mas sem perder o essencial. Mesmo sendo quem era, ‘era-lhes submisso’; não no sentido negativo da palavra, mas de quem respeita o ritmo da história, para lentamente trazer novas luzes ao caminhar humano.


 Pe. João Bosco Vieira Leite